sábado, 30 de junho de 2012

STING

ontem foi dia de festa, aqui pelas minhas bandas. oportunidade para rever Sting ao vivo e lembrar um concerto de outros tempos: o dos Police.


a lua brilhava bem alto por entre umas nuvens esparsas. uma noite mágica: com a magia da música e a da amizade. enquanto Sting tocava The Book Of My Life...



Let me watch by the fire and remember my days
And it may be a trick of the firelight
But the flickering pages that trouble my sight
Is a book I'm afraid to write

It's the book of my days, it's the book of my life
And it's cut like a fruit on the blade of a knife
And it's all there to see as the section reveals
There's some sorrow in every life

If it reads like a puzzle, a wandering maze
Then I won't understand til the end of my days
I'm still forced to remember,
Remember the words of my life

There are promises broken and promises kept
Angry words that were spoken, when I should have wept
There's a chapter of secrets, and words to confess
If I lose everything that I possess
There's a chapter on loss and a ghost who won't die
There's a chapter on love where the ink's never dry
There are sentences served in a prison I built out of lies.

Though the pages are numbered
I can't see where they lead
For the end is a mystery no-one can read
In the book of my life

 There's a chapter on fathers a chapter on sons
There are pages of conflicts that nobody won
And the battles you lost and your bitter defeat,
There's a page where we fail to meet

There are tales of good fortune that couldn't be planned
There's a chapter on god that I don't understand
There's a promise of Heaven and Hell but I'm damned if I see

 Though the pages are numbered
I can't see where they lead
For the end is a mystery no-one can read
In the book of my life

Now the daylight's returning
And if one sentence is true
All these pages are burning
And all that's left is you

 Though the pages are numbered
I can't see where they lead
For the end is a mystery no-one can read
In the book of my life


[Sting é um excelente músico e a organização do concerto está de parabéns!]

Fotos: A.P. (antes do concerto)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

dissociação

o problema das grandes construções teóricas é serem quase sempre tão perfeitas e arrumadinhas que até chateia. mas este é só um aspecto a ter em conta. porque é claro que não podem reflectir a realidade ou ter nela verdadeira aplicação. servem, portanto, presumo, para alguns viverem no jardim das delícias auto-satisfatórias - e aí tudo corre às mil maravilhas. o terreno no qual as coisas efectivamente acontecem, porém, é outro. confrontados com ele, podem os donos da perfeição chegar a negar a sua existência. mas como é a ele que pertencem, seres iguais aos outros, de carne e osso, será necessário concluir que também eles pecam por imperfeição. ora, bolas!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

o belo enquanto sombra

Landscape, de Kumi Yamashita

(...) nós os Orientais criamos beleza ao fazermos nascer sombras em locais por si mesmos insignificantes.

Ramagens
se as juntarem e enlaçarem
uma cabana surge
desenlaçai-as e tereis
como antes a planura

diz o velho poema, e, afinal de contas, o nosso pensamento actua segundo um raciocínio análogo: creio que o belo não é uma substância em si, mas apenas um desenho de sombras, um jogo de claro-escuro produzido pela justaposição de diversas substâncias. Tal como uma pedra fosforescente que emite brilho quando colocada na escuridão e ao ser exposta à luz do dia perde todo o fascínio de jóia preciosa, também o belo perde a sua existência se lhe suprimirmos os efeitos da sombra.
Junichiro Tanizaki, Elogio da Sombra

domingo, 24 de junho de 2012

a imagem pode ser esbatida mas a lembrança é clara


Cosmopolis


Ora, aqui está: um homem à espera do nada. E é essa a sensação número um de Cosmopolis (2012), de David Cronenberg. Diga-se a verdade, se há horror maior para mim, é o do confronto com o nada, o de encarar o vazio - afinal, o verdadeiro horror consiste em afirmar a sua realidade. É que o nada não existe, e o mais parecido com algo dessa natureza só pode ser um momento de transição entre uma coisa e outra. Digo eu.
Cosmopolis é um filme desagradável e difícil de acompanhar até ao fim. Podem dizer-se muitas coisas sobre ele. Mas certos aspectos merecem ser sobretudo analisados pelos especialistas de cinema, e outros, não sei, talvez pelos que antecipam deterministicamente o futuro. Eu não gostei do filme, nem o considero uma obra maior do realizador. Também não gostei da mensagem transmitida, nem sou fã do tom absolutamente cáustico de Don DeLillo, embora lhe reconheça valor literário e o considere uma boa voz de diagnóstico do mal-estar da civilização. No entanto, este é um verdadeiro filme de Cronenberg. Está lá o horror, a paranóia, a metamorfose da realidade, a relação com a máquina, etc. Mas está presente também um projecto altamente intelectual do realizador - o de mostrar cinematograficamente o poder da palavra, e a sua profunda violência. Neste filme, ela consiste num emprestar ao que se diz um dos tons mais monocórdicos e desencantados de que tenho memória. Um verdadeiro mal-estar, uma limousine claustrofóbica e o sem sentido de tudo que nos remete para um estado zero da existência. É quase dilacerante, mas também muito aborrecido, o retrato de uma sociedade tão disfuncional. Mas está lá o talento de Cronenberg, e em muitos detalhes. Sem dúvida, o projecto era um daqueles difíceis de concretizar, incluindo grande dose de diálogos desencantados e esse delirante absurdo do vaguear estupidificante pelas ruas de uma cidade onde nem a revolta faz qualquer sentido. Porque não há alternativas. Porque nem o refúgio tão up to date na espiritualidade parece conseguir resistir, olhando a morte dessa figura simbólica de um rapper sufi. O seu funeral, reconstituído brevemente, fez-me lembrar, numa das cenas de que mais gostei, esse outro funeral, vivido de forma tão intensa e mortificadora, em Imitação da Vida (1959), de Douglas Sirk. Mas como estamos longe de todo esse kitsch e de todas essas emoções aí exacerbadas...
Não sei se o niilismo em que somos levados a mergulhar pretende suscitar uma visão reformadora do capitalismo, ou se reclama uma alternativa que permanece ainda numa qualquer zona desconhecida e envolta em sombras do conhecimento humano. Mas o filme não termina por acaso com as pinturas de Rothko, por entre as fichas técnicas. De todo o modo, comparando este filme com Era uma vez na Anatólia, que vi recentemente, apetece-me dizer, analisando um pouco os dois filmes com um olhar algo hegeliano, que este último mostra o mal-estar de uma sociedade, a qual, face às duras condições de vida, quer ser Europa, e ainda acredita no capitalismo como via para o bem-estar social; ao passo que Cosmopolis mostra uma sociedade numa fase posterior do tal desenvolvimento, e que, uma vez supostamente esgotado o modelo adoptado, agora em plena decadência, reclama transformação.
Resta-me ir ver O Cavalo de Turim, para reflectir um pouco mais sobre este "chamar a atenção" para o desencanto total que a civilização ocidental parece ter gerado, e que o cinema procura veicular artisticamente. Indubitavelmente, é preciso activar toda a esperança ainda disponível dentro de nós, para aguentar tanto niilismo. Mas ignorar não vale, pois não?
Cosmopolis fez-me lembrar, de certo modo, aquelas psicopatias que levam algumas pessoas a infligir a si próprias dor. Se a sociedade está doente e indiferente, a esperança é a de que acorde!, mas para algo melhor. O problema é que, disso, o filme nada mostra.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

a rosa é bela

ando eu a tentar arrumar papéis e mil e uma coisas acumuladas pelo tempo fora... não é fácil passear por entre tanto vestígio do que cai do tempo e se amontoa à volta, e ao mesmo tempo eliminar, deitar fora. um pequeno conflito que se vai resolvendo com algum empenho que é preciso cultivar. o engraçado, mas que não é novidade nenhuma - afinal, novidades absolutas não há -, é que subitamente dei comigo a pensar na quantidade imensa de coisas que acumulamos dentro de nós, ao longo desse mesmo tempo. portanto, nesta ordem de ideias, dei comigo a pensar que há certamente uma espécie de vistoria a fazer, porque tenho certamente uma data dessas tais milhentas coisas que não interessam para nada a ocupar-me o pensamento, a consciência e, quem sabe?, o inconsciente. não vou conseguir libertar-me de todas elas, mas se apagar umas quantas, talvez melhore o meu olhar sobre o mundo. pois, mas isso seria num outro universo, que não neste. aqui, a nossa memória retém tudo algures. mesmo sem darmos conta, fica tudo registado. já pensei na hipótese da reciclagem - reciclar conteúdos nocivos, tóxicos, e etc... induzi-los a uma metamorfose que é precisamente a do tempo que há em mim, e a que de mim há no tempo. vou investir mesmo aí, nessa actividade interior um bocadinho trabalhosa. que me permitirá (assim espero), à laia de exemplo que gosto de utilizar, olhar uma flor com prazer e encanto, mesmo sabendo que não tarda a flor vai morrer. afinal, é preciso não esquecer que também há flores secas. e essas duram muito mais.

humm... é bom

 

domingo, 17 de junho de 2012

Era uma vez na Anatólia

Imagine-se um filme lento e nocturno, onde nada de muito interessante parece acontecer. É assim que começa Era uma vez na Anatólia (2011), o mais recente filme de Nuri Bilge Ceylan, e vencedor do Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes 2011. Mas o facto de nada ter lugar de forma assombrosa pode ser bom sinal. São 150 minutos de filme e a aridez dos lugares parece vir a aborrecer. A pouco e pouco, por via dos diálogos vagarosos e da cinematografia sublime, ficamos perante uma Turquia profunda onde a vida é tudo menos fácil. Há uma viagem em busca de um corpo escondido. O percurso é algo vagueante e errante, um pouco como acontece na vida. O ambiente nocturno transforma as estepes turcas num espaço intimista que convida às confidências dos homens. O estilo road movie conduz-nos numa viagem também ao interior de cada um. A profunda escuridão é pontuada pelos faróis dos carros que serpenteiam ao longo da estrada. Até chegar a uma aldeia esquecida onde a morte se debate: é preciso construir morgues e cuidar dos cemitérios. A luz eléctrica falha onde falha o desenvolvimento. No lusco-fusco das lanternas o destino da viagem decide-se e prossegue a busca. Mas só pela manhã o corpo é encontrado.


O crime é humano, sabemos isso. O criminoso deve ou não ser tratado como tal? Como elaborar os relatórios que devem estar para além das paixões humanas, demasiado humanas? Como transportar um corpo sem o respectivo saco, esquecido negligentemente? Porque é que a ambulância está avariada? Como é possível realizar uma autópsia sem o kit adequado? Mas um computador portátil surge no deserto... O procurador é ou não parecido com Clarke Gable? É a Turquia Europa ou não?


Tudo oscila por entre visões astrológicas, fantasmas e mistérios, ou explicações racionais. A mulher está sempre presente mas invisível. Símbolo de luz e paliativo ali mesmo no centro da dureza da vida. Beleza simples e luminosa que assombra a crueza extrema do realismo.


É só o melhor filme que vi nos últimos tempos. Premeditadamente sério, é-o, mas esse é só um pequeno detalhe a considerar. Acima de tudo, sereno e belo como o conseguem ser os verdadeiros mestres.
 

sábado, 16 de junho de 2012

missão impossível


se fosse possível, não era a mesma coisa

Lalo Schifrin e James Morrison em Jazz Meets the Symphony


um talvez poema que só pode ser assim


ah o passar do tempo de outrora
plácido sossego de então
há quem diga de mim bucólica
e agora
que o tempo voa
ecoa na minha pele
como tamborilar de chuva
num dia sem mel

à hora da matéria do crepúsculo
ainda como nuvem me revejo
roçando o céu
arrisca-se um desejo
e em cima outro
esboço vagueante do meu desenho errante
que é sempre em vão a forma inteira

estranha sintaxe em tudo isto
que é pura sensação
de tarde ou noite
a hora mais parada
transforma-me a memória
e vou
ao espaço-tempo dessa áfrica
terra escura
tambores no coração
beber a imensidão de então
nas folhas sufocantes da matéria
na viscosidade multicolorida
na espessa textura denso toque
e um sonho verde tão verde asfixiante
transporta-me o cheiro do deserto
o ácido combustão a morte dos bravos animais
ao longe escondem-se velhos feiticeiros
vendem-se cestos nos lugares perdidos
e há macumbas que sopram proibidas
nos idiomas ferozes
ressuscitados por entre a escuridão

e mais não é preciso
abro a porta faço vento
o tempo passa por ela
as minhas mãos agora
com a força da intenção
largam exactamente à hora
barquinho de papel navega
e brinco contigo ao longo das colinas
espaços corridos doces
desvelam luminosos
a imaginação

pois esta é uma data no planeta terra
local portugal
modo digital
lugar virtual
regista-se afecto e sensação

assim


A.P.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

imagem 4

densidade:
ser capaz de dizer
com as mãos cheias
de palavras inventadas
"dedos para agarrar
o ser
contido no volante do carro
e eu
movimento do ente
por segundos existo
quando faço pisca-pisca"

alternativa:
conduzo
e em cada curva apertada
rumo ao centro
como amoras bem escurinhas
na incógnita do momento
toco-te demoradamente

(sei: quando escrevi estava escuro.
acende-se a luz depois.)


quarta-feira, 13 de junho de 2012

o evento e um busto de Freud

Oscar Nemon trabalhando no busto de Sigmund Freud (1931)



O doutor Cardoso começou a comer o linguado à moleira e Pereira seguiu o seu exemplo. Precisava de conhecer melhor estes últimos meses da sua vida, disse o doutor Cardoso, talvez tenha havido algum evento. Algum evento em que sentido, perguntou Pereira, que quer dizer com isso? Evento é uma palavra da psicanálise, disse o doutor Cardoso, não é que eu siga muito o Freud, porque sou um sincretista, mas no que respeita ao evento acho que ele tem toda a razão, o evento é um acontecimento concreto que se verifica na nossa vida e que abala ou perturba as nossas convicções e o nosso equilíbrio, enfim o evento é um facto que se verifica na vida real e influi na vida psíquica, o senhor deveria reflectir se na sua vida houve algum evento. Conheci uma pessoa, afirma ter dito Pereira, ou antes, duas pessoas, um rapaz e uma rapariga. Fale-me lá neles, disse o doutor Cardoso.
Antonio Tabucchi, Afirma Pereira

terça-feira, 12 de junho de 2012

um poema de Tomas Tranströmer


As pedras

As pedras que atirámos, ouço-as
cair, cristalinas, ao longo dos anos. No vale,
as confusas acções de um instante
voam chiando de
copa em copa e silenciam-se
e desvanecem-se mais que o agora, deslizam
como andorinhas de cume
em cume, até que tenham
atingido o mais afastado dos planaltos
ao longo da fronteira do ser. Onde todos
os nossos atos caem
cristalinos
sem mais sítio em que cair
que não em nós mesmos.

in Tomas Tranströmer,  17 Poemas (1954)


[fresco? ou será pesado?]

poesia e acesso à realidade

Tomas Tranströmer recebeu o Nobel da Literatura em 2011. trata-se de um poeta que me é desconhecido, e acerca do qual pretendo saber algo mais... por outro lado, pareceu-me interessante o motivo invocado pela Academia Sueca para a atribuição deste prémio: "... porque nos possibilita um acesso fresco à realidade". ora, esta designação de frescura, adjectivo que já li algures ser criticado por algumas pessoas, na medida em que faz lembrar legumes ou fruta fresca... bom, a verdade é que eu não desgosto do termo. e não quero discorrer muito sobre. mas a questão de um acesso à realidade interessa-me. o que pressupõe que, se calhar, estamos mergulhados na realidade, mas não a vemos tal e qual. coisa que o poeta será capaz de fazer. ou então, vemos a realidade, sim, mas sempre segundo o nosso prisma. que pode não ser tão fresco como o de Tomas Tranströmer. é mesmo tudo isto que penso gostarei de averiguar um pouco. este vídeo que aqui trago ajuda a conhecer melhor o autor.
  

mas que nada

ensaiei um olhar de resistência pacífica. olhei o abjecto e contive-me. na lama boiavam pedaços de espinha dorsal. dizem que o homem é sapiens sapiens e eu duvido. é devagar que se aprende a sustentar o brilho das luzes e o ruído sibilante das vozes. nunca se pode medir com precisão a quantidade exacta. ou o peso concreto. a parte do eu que pactua com o intolerável. rejeito a festa dos importantes ao cair da noite. não concebo perder nem mais um grama de ser. o peso maior sustenta-se no silêncio. amanhã cumprimenta-se a iniquidade vitoriosa. sustém-se a superficialidade levezinha da fama que singra nesta fábrica urbana de tiradas tóxicas. transportadas de cá para lá. e de lá para cá. há jovens descrentes. fazê-los sorrir é abrir a janela. o mundo inteiro concentrado numa flor. a única matéria que quero estudar. eu mesma na metafísica do sorriso. e os outros na biologia da flor.

sábado, 9 de junho de 2012

Prometheus

Ridley Scott está de volta com mais uma tremenda aventura situada num possível futuro da humanidade. Quem lembra Blade Runner, ou Alien - O 8º Passageiro (e sequências), tem agora oportunidade de encontrar em Prometheus as esperadas (ou não) reminiscências desses filmes de culto - a boa ficção científica fundida com o terror da saga Alien. Eu sou apreciadora do género, embora aqueles seres tremendos com os quais a Sigourney Weaver lutou me provoquem, obviamente, a maior repugnância e horror. Claro, quem os imaginou e criou para o cinema, não o fez por acaso. Mas isso é outra história. Em Prometheus, esses seres absolutamente repugnantes e horrendos dão um ar da sua graça. Quero dizer com isto: aparecem, mas não dominam em absoluto a narrativa. O que pode ser decepcionante para alguns. Para mim, é um aspecto positivo. O filme consegue ser mais profundo e problemático (e, até certo ponto, metafísico), ao colocar perante o espectador alguns temas de sempre, e outros cada vez mais pertinentes e actuais: desde logo, somos confrontados com a ilimitada curiosidade do ser humano, levados a questionar o papel da ciência no futuro da humanidade, e a inquietarmo-nos, curiosos, perante o mistério e o desconhecido: de onde viemos?, porque estamos aqui?, quem (ou o que) nos criou? - ou seja, também uma boa dose de criacionismo versus evolucionismo; mas o filme é igualmente um olhar sobre as possíveis relações entre humanos e robôs, na medida em que estes parecem tornar-se cada vez mais parecidos connosco - neste ponto, é de destacar a excelente interpretação de Michael Fassbender no papel do andróide David, actor de quem já tinha a melhor opinião, a partir da reconstituição do seu Jung em Um Método Perigoso de David Cronenberg.


Do ponto de vista da imagem, Prometheus é esplendoroso e perfeito. Vi o filme a 2D, mas os apreciadores do 3D têm possibilidade de entrar neste universo com maior impacto ainda, suponho.


No entanto, a grande cena, a que ficará certamente para a história, é protagonizada por Noomi Rapace - que já tinha chamado a atenção em Millennium 1. Os Homens que Odeiam as Mulheres. Trata-se de uma cena que envolve uma louca cirurgia, realizada em condições totalmente radicais, experimentando os limites da sobrevivência - só para quem consegue ver! eu tapei um pouco os olhinhos... mas, depois, abri-os!


O filme tem as suas limitações, assinalo. Nomeadamente, deixa as interessantes questões que coloca apenas a pairar, sem lhes dar a densidade esperada. A partir de certa altura, dá-nos a certeza de que ficou uma porta aberta para a continuidade da saga - um Prometheus 2, pois claro. Por mim, seriam dispensáveis algumas cenas e certos tiques do género ficção científica, quero dizer, tudo o que compromete a possibilidade de tornar este filme verdadeiramente inovador do ponto de vista da narrativa. Mas é preciso pensar no objectivo "sucesso de bilheteira" - dirão eles, certamente.


Uma nota ainda para o design dos cenários e dos seres fantásticos e horrendos: criado a partir dos delirantes pesadelos surrealistas (digo eu) de HR Giger (tal como na série Alien) - verdadeiramente fantásticas!, as naves espaciais, vedetas também deste filme.


quinta-feira, 7 de junho de 2012

é só um minutinho


para esticar o tempo



o eu dos médecins-philosophes


Queria fazer-lhe uma pergunta, disse o doutor Cardoso, o senhor conhece os médecins-philosophes? Não, confessou Pereira, não conheço, quem são? Os principais são Théodule Ribot e Pierre Janet, disse o doutor Cardoso, foram os textos deles que estudei em Paris, são médicos e psicólogos, mas também filósofos, defendem uma teoria que me parece interessante, a da confederação das almas. Explique-me essa teoria, disse Pereira. Pois bem, disse o doutor Cardoso, acreditar que somos uma unidade independente, destacada da incomensurável pluralidade dos próprios eus, representa uma ilusão, aliás ingénua, de uma alma única de tradição cristã; o doutor Ribot e o doutor Janet vêem a personalidade como uma confederação de várias almas, porque a verdade é que temos várias almas dentro de nós, uma confederação que aceita o domínio de um eu hegemónico. O doutor Cardoso fez uma pequena pausa e depois continuou: O que se chama a norma, ou o nosso ser, ou a normalidade, é apenas um resultado, não uma premissa, e depende do controlo de um eu hegemónico que se impôs na confederação das nossas almas, caso surja um outro eu, mais forte e mais poderoso, ele vai destronar o eu hegemónico e tomar o seu lugar, passando a dirigir a coorte das almas, ou melhor a confederação, e essa superioridade mantém-se até ser destronado por seu turno por outro eu hegemónico, por ataque directo ou por uma paciente erosão. Talvez, concluiu o doutor Cardoso, depois de uma paciente erosão haja um eu hegemónico que está a assumir a chefia da confederação das suas almas, doutor Pereira, e o senhor não pode fazer nada, o mais que poderá fazer é apoiá-lo. (...) talvez haja dentro de si um eu hegemónico que, depois de uma lenta erosão, depois de tantos anos passados no jornalismo a escrever os casos do dia crendo que a literatura fosse a coisa mais importante do mundo, (...) está a tomar a direcção da confederação das suas almas, deixe-o vir à tona, até porque não pode fazer de outra maneira, não o conseguiria e entraria em conflito consigo próprio (...).
Antonio Tabucchi, Afirma Pereira 

Ray Bradbury (1920-2012)


 


quarta-feira, 6 de junho de 2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Fly:


é o que quero fazer. mas só quando o trabalho abrandar. agora, é o tempo que voa: "this is your captain speaking" !




domingo, 3 de junho de 2012

pequenino e inútil


[é preciso não compreender. depois de não compreendido, está entendido]

Mas miniaturizar é também ocultar. Duchamp, por exemplo, também se sentiu sempre atraído pelo extremamente pequeno, quer dizer, por tudo o que exigisse ser decifrado: emblemas, manuscritos, anagramas. Para ele, miniaturizar significava também tornar inútil: «O que está reduzido encontra-se de certo modo livre de significado. A sua pequenez é, ao mesmo tempo, um todo e um fragmento. O amor pelo pequeno é uma emoção infantil.»
Enrique Vila-Matas, História Abreviada da Literatura Portátil

sábado, 2 de junho de 2012

(quase) tudo dito

encontrei a frase em destaque mais abaixo no Espaço Concas. nele está patente parte da obra plástica da pintora Concas, Maria da Conceição Nunes (1946-1991). o espaço está integrado no núcleo museológico Centro de Artes das Caldas da Rainha - Ateliers Municipais. 
ao entrar, o meu olhar procurava quadros, pinturas que me mostrassem olhares sobre o mundo - para aproveitar o momento, interregno de um quotidiano mais repetitivo. mas o que de imediato vi, foi isto. e gostei. continuo a ser atraída por palavras. sobretudo quando elas funcionam como palavras-íman. o caso destas. então, pareceu-me que ficariam bem aqui no Catharsis. conseguem condensar os motivos que continuam a levar-me a fazer um blogue.


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Thrihnukagigur

interior do vulcão Thrihnukagigur - Islândia




os vulcões são realmente interessantes. nunca observei nenhum entrar em erupção (in loco), mas talvez devido ao belo horrível que envolvem, sempre me interessei em saber alguma coisa sobre eles. os vulcões têm uma história. uns estão calminhos, e outros em fúria - permanente ou ocasional. nunca pensei, no entanto, que uma viagem ao interior de um vulcão pudesse converter-se num roteiro turístico, implicando uma verdadeira descida a um lugar oculto da terra (percorrem-se 120 metros). nunca me ocorreu... mas é precisamente isso que é agora possível. pelo menos, se tivermos como destino o vulcão Thrihnukagigur (complicado, escrever este nome), na Islândia. claro, este é um vulcão adormecido. e há uma equipa de especialistas que consegue tornar tudo isto possível. o passeio está a cargo do operador turístico 3H Travel.  
para quem goste, queira, e possa, fica a sugestão. eu só gostaria de... mais informações podem obter-se em Inside the Volcano. há alguns vídeos disponíveis sobre o local, e mesmo um que mostra a descida até à fantástica câmara magmática. deve ser uma sensação única! iluminando o local, tornam-se visíveis cores que ali mostram uma outra face deste nosso mundo.

here is a song for you


Olá Junho


Blue, songs are like tattoos
You know I've been to sea before
Crown and anchor me
Or let me sail away

Hey Blue, here is a song for you
Ink on a pin
Underneath the skin
An empty space to fill in

You've got to keep thinking
Well there're so many sinking now
You've got to keep thinking
You can make it through these waves
Acid, booze and ass
Needles, guns and grass
Lots of laughs, lots of laughs

Everybody's saying that hell's the hippest way to go
Well I don't think so
But I'm gonna take a look around it though
Blue, I love you

Blue, here is a shell for you
Inside you'll hear a sigh
A foggy lullaby
There is your song from me

 

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...