quinta-feira, 30 de agosto de 2012

literatura policial nórdica, fico-me pelo Larsson, até ver...

Em busca de um bom livro policial actual, um que fosse cativante em termos de suspense e de alguma novidade na criação de ambientes - à semelhança dos de Stieg Larsson -, lá comprei um exemplar deste género de uma autora islandesa. No dia exacto em que o comprei, uma simpática leitora, super fá de policiais nórdicos, meteu conversa comigo ao ver-me com uma pilha de livros do tipo, tentando decidir-me: qual deles?! Eu gosto de policiais e nas férias sinto sempre o seu apelo. Mas encontrar assim de repente alguém mais aficcionado(a) do que eu, foi uma surpresa! Fiquei a saber tanto sobre os autores de policiais nórdicos só com esta mini-conversa!: que uns mais frios, outros mais americanizados, uns incompreensíveis, outros claros e de devorar, etc... Realmente, há muita coisa na vida que precisa de entusiasmo, oh se há! e eu gosto de leitores entusiasmados.
Posto isto, comprei um tal Cinza e Poeira, de Yrsa Sigurdardóttir, na esperança, confesso, de que fosse assim uma leitura bem nórdica, originária da Islândia, portanto, uma mistura de gelo e de neve com fumos e cinzas provenientes de vulcões... Pois, pois, está-se mesmo a ver. O livro não é mau de todo, mas de resposta a Stieg Larsson - segundo o anunciado na capa como estratégia de marketing - não tem nada. Estou "farta" de tentar descobrir essa tal correspondência e... só se resultar do facto de ambas as histórias terem ilhas como cenário para os seus crimes. De resto, há é diferenças notórias.


Falta completamente a este Cinza e Poeira o impacto do ambiente criado por Larsson. Uma vez transportados para as Ilhas Westman, o que se sente é bastante superficial: ilhas, mar, paisagem maravilhosa e pouco mais. Enfim, há alguma coisa histórica: estas Ilhas foram lugar de tragédia no ano de 1973, devido a uma violenta erupção vulcânica; perderam-se terras e casas e o terrível acontecimento marcou para sempre aquela região. Mas falta o olhar contemplativo, nostálgico e sério. O que é capaz de criar o ambiente adequado (ou desadequado). O que conduz o leitor até aos subterrâneos da alma humana. Não basta criar um bom puzzle que se vai completando... Nisso, o livro até é relativamente bem construído. Sobretudo, penso, as personagens devem ser mais do que meros instrumentos da acção, sendo pacientemente trabalhadas até adquirirem uma real densidade, ou seja, até serem personagens cuja complexidade psicológica possa apresentar-se tão convincente quanto problemática. Enfim, capazes de criar essa tal alguma coisa estranha e inexplicável que nos arrebata e leva a virar as páginas... Com muita pena minha, não foi o que encontrei nesta leitura, agora em vias de chegar ao fim.
Mais ainda: um livro tão bonito, mas tão cheio de gralhas, imprecisões e erros de tradução, acaba por aborrecer qualquer um. Seria de esperar um trabalho de texto mais cuidado e rigoroso numa edição [apenas] aparentemente cuidada, como é o caso desta. Capas bonitas e papel caro não são suficientes para produzir boas leituras.
 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

é isto: o movimento



We embody the spirit of motion.
We're bodies in motion. We're bodies in motion.

We dig down in the ocean. Swing up to the stars.
We own the moon and the earth. We're masters of Mars.
We're bodies in motion. We embody the spirit of motion.

Our ancestors cowered in caves
Afraid if the dark and the thunder.
Wrapped tip in black magic and rage
They were slaves to their hunger.
Now we fly across mountains in planes
We know aII about time and big numbers.
We're bodies in motion.
We embody the spirit of motion.

I love you with aII my heart. You have my devotion.
I loved you from the start. We're bodies in motion.
We embody the spirit of motion.

Ooo the weight of the world. Eternal spin.
Puts a dent in my shoulder.
A burn in my spin. A burn in my spin.

Some say the future is crowds fighting for water and space.
Chaotic and dark and loud, everything used up and taken.

But I say the future's within the still point of the mind
Where we escape the bounds of earth
And break the bonds of time.

If somebody asked me to design a religion
I would make it aIl about snow.
No good or evil and no suffering.
Just perfect crystals spinning
In ecstasy ecstasy ecstasy ecstasy.

Ooo the weight of the world. Etemal spin.
Puts a dent in my shoulder.
A burn in my spin. A bum in my spin.

Ooo the weight of the world. Etemal spin.
Puts a dent in my shoulder.
A burn in my spin. A bum in my spin.

We dig down in the ocean. Swing up to the stars.
We own the moon and the earth. We're masters of Mars.
We're bodies in motion. We embody the spirit of motion.
We're bodies in motion. We embody the spirit of motion.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

o meu blogue-outro

ao olhar para este blogue que anda carregado de preguiça de escrita, dei comigo a pensar no blogue paralelo que lhe corresponde. naquele que contém virtualmente tudo o que pensei dizer e não disse, tudo o que senti e não tentei objectivar aqui com absolutamente nada. e tenho a certeza de que esse outro blogue é muito mais extenso e cheio de publicações do que este. mas como não chegou a ver a luz do post it, talvez não conte para nada. ou talvez seja o contrário: o blogue-outro é constituído por tudo o que não foi escolhido por mim (?). sem ele, este não conseguiria existir.
pensava eu tudo isto, e também no quanto sou uma pequena escritora muito dependente de humores para pegar nas palavras e fazer delas qualquer coisa... acontece que a ideia não me agrada por aí além... dizer/escrever deveria ser um acto mais livre. pois devia, lá isso... digo.

...e por falar em social


...qual será o ideal social actual? 
 

- números?

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

just Drive

Aproveitar para ver alguns filmes que ficaram para trás nas minhas prioridades: foi o que me conduziu a Drive (2011), de Nicolas Winding Refn. O filme conta com este rapaz bem giro no papel principal - o Ryan Gosling. É um dos actores da moda e consigo perceber a razão. Além de giro, tem um certo carisma. Mas o filme é mais do que ele? Como sempre, uns dirão que sim, outros (as) dirão que não. E há quem afirme que o filme não vale nada. Eu encontrei-lhe algum interesse, apesar de ser extremamente violento. Lamentável, portanto, para não dizer muito pior.


Drive é um filme mas é também um homem. Aquele que encontra a sua identidade ao volante de um carro, manobrando-o perigosamente. O Driver. O carro é a sua arma, tão fatal como as mais fatais. Quanto ao resto, é um anónimo. É um como outro qualquer, perdido na imensidão da cidade... Silêncios, diálogos escassos, olhares desinteressados. Desencanto, sobrevivência, violência e horror. A inocência perdida e... quase reencontrada. O que valerá mais: um saco cheio de dinheiro, ou uma vida tranquila? E essa vida, será possível? A violência depende apenas das armas? Ou é um estado de espírito, uma espécie de inevitabilidade própria da selva na qual o mundo se transformou?
Trata-se de um filme sem grande densidade, um verdadeiro filme acerca do vazio, mas carregado de nostalgia. Que é também a das cores e dos adereços a lembrar os 80's.


Não fosse o meu interesse por automóveis e sua simbologia, podia ser tempo perdido. Mas, vendo bem, não. O público-alvo do filme é o dos jovens. Vale sempre a pena saber o que domina o seu universo. E porquê? Pois, porquê... porquê...

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

de policiais e mais além...

Vi há dias o filme que é adaptação da 2ª parte da trilogia Millennium de Stieg Larsson. Ou seja, The Girl who Played with Fire. Conclusão: se é facto que os livros de Larsson são realmente bons, o filme em causa é uma autêntica porcaria. Lamento dizê-lo. Até porque simpatizo com a Noomi Rapace.
Em contrapartida, pareceu-me interessante este documentário: Nordic Noir: The Story of Scandinavian Crime Fiction.


voar é permitido?

ando a ler um livro que a dada altura reza assim:

- Sentes-te bem, Sophele? - pergunta, largando-me a mão.
- Às vezes, gostava de não ter peso. Gostava de poder simplesmente subir até ao Sol. 
- E ser levada por Hermes até ao cimo do Monte Olimpo?
- Por quem?
- Hermes, o mensageiro dos deuses gregos. No nosso mundo, ele aparece sob a forma da luz do Sol. - Numa voz enfeitiçante, acrescenta: - Até pode estar a dizer-te alguma coisa. 
- O quê?
- Que talvez não estejamos presos à terra, afinal de contas! - declara.
- Acha possível que sejamos capazes de voar? - pergunto, entusiasmada.
(...)
Richard Zimler, A Sétima Porta

muito gostei do pequeno diálogo.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

um resumo do universo

uma coisa tão bonita como o céu imenso nunca poderás dar-me
e é por isso que te quero
ao raiar da manhã as cortinas quedam-se estupefactas
e eu impávida no desejo que voltes mais tarde sem nada
a não ser esse tu que és reinventado ao minuto
pelo eu que sou

depois as nuvens desmancham-se à noite
por nós
e não há beijos ou toques envoltos em promessas
somente a terra que se abre para nos recolher
os sonhos
e eu pergunto-te: porque é que a lua é só uma brincadeira para rolar
no corpo?

AP

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

a arte nas ruas daqui


ou: as coisas interessantes que se encontram ao cirandar p'la nossa terra


o tempo do contexto

«Mas tu falas como se eu não tivesse a expectativa, a esperança, agora, que é quando eu julgo tê-las. Como se o que acontece agora, não tivesse um sentido profundo». - Mas o que é que quer dizer: «o que acontece agora tem sentido» ou «tem um sentido profundo»? O que é uma sensação profunda? Poderia uma pessoa ter uma profunda sensação de amor ou de esperança, com a duração de um segundo? Independentemente do que se passa antes ou depois deste segundo?  - O que acontece agora tem sentido, neste contexto. É o contexto que lhe dá a importância que tem. E a expressão «ter esperança» refere-se a um fenómeno da vida humana. (Uma boca que sorri, só sorri no rosto de uma pessoa).
Ludwig Wittgenstein, Investigações Filosóficas

domingo, 12 de agosto de 2012

pois é


grandes questões

«Ouvi dizer que ela vem; estou todo o dia à espera dela». Isto é um relato sobre a maneira como passei o dia.  - No decorrer de uma conversa descubro que se tem que esperar um determinado acontecimento e tiro esta conclusão com as palavras: «Tenho então agora de esperar que ela chegue.» A isto pode chamar-se o primeiro pensamento, o primeiro acto desta expectativa. - À expressão «Espero-a com saudade» pode chamar-se um acto de espera. Mas também posso pronunciar estas palavras como o resultado da minha introspecção, caso em que significam : «Assim, dado tudo isto, espero-a ainda com saudade.» A questão é esta: como é que se chega a estas palavras?
Ludwig Wittgenstein, Investigações Filosóficas

um mas que nada


gosto de acompanhar uma boa crítica. de reconhecer a força dos argumentos mas também a sua habilidade. a boa crítica não vem do nada embora existam críticas mais do que nulas. as críticas enfatuadas conseguem provocar desmaios no mais comum mortal assim atacado por elas na sua capacidade de discernimento. ah como me são fatais misturas sulfurosas de dasein e ich liebe dich ou poesias desfalecidas ao menor despontar da res cogitans... mas também as críticas automáticas de serviço que ao raiar de tudo o que possa apoquentar é só fazer enter na arma apontada ao inimigo. 
mas quem escreve isto sou eu que até tenho um certo mau feitio e gosto de escolher o menú do pensamento. e confesso uma certa inclinação por raízes mesmo que invisíveis. 


Fotozinha de A.P.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

a saudade é um lugar familiar


em pleno Agosto podem sentir-se as maiores saudades. do que já foi já era e não volta mais. saudades do meu pai. parece que o vejo mesmo aqui neste velho postal sentado no seu banco escolhido olhando a baía de Luanda - o verso está escrito pela mão dele para o meu avô. conversar com o meu pai foi uma das melhores experiências da minha vida. começou aqui onde nasci.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

música que me cai bem (pelo menos) em Agosto



em homenagem ao Curiosity


...releio estas [por mim consideradas] sábias palavras:

A separação crescente entre tecnologia e necessidades humanas só pode ser preenchida pela ética. Nos últimos trinta anos vimos muitos exemplos do poder da ética. O movimento ambiental à escala mundial, baseando o seu poder na persuasão ética, registou muitas vitórias sobre o poderio industrial e a arrogância tecnológica. (...) Foi o movimento ambientalista que fechou fábricas de armas nucleares nos Estados Unidos, desde a unidade de produção de plutónio de Hanford até à fábrica de ogivas de Rocky Flats. A ética pode ser uma força mais poderosa do que a política e a economia. Infelizmente, o movimento ambientalista até agora tem concentrado a sua atenção no mal que a tecnologia tem causado, e não no bem que deixou de fazer. Tenho esperança de que a atenção dos Verdes se desvie do negativo para o positivo no próximo século. Vitórias éticas que põem fim a loucuras tecnológicas não bastam. Precisamos de vitórias éticas de um tipo diferente, que ponham o poder da tecnologia ao serviço da justiça social de um modo positivo. 
Se concordarmos com Thomas Jefferson em que estas verdades são auto-evidentes, que todos os homens são criados iguais, que são dotados de certos direitos inalienáveis, que entre estes está a vida, a liberdade e a busca da felicidade, então também devia tornar-se auto-evidente que o abandono de milhões de pessoas ao desemprego e ao desamparo nas sociedades modernas é uma poluição da Terra pior do que as centrais nucleares. Se a força ética do movimento ecologista pode vencer os fabricantes de centrais nucleares, a mesma força deveria também ser capaz de promover o crescimento de tecnologia que satisfaça as necessidades dos pobres a um preço que eles possam suportar. Esta é a grande tarefa para a tecnologia no próximo século. O mercado livre, por si só, não produzirá tecnologia aliada dos pobres. Só uma tecnologia orientada positivamente pela ética pode fazê-lo. O poder da ética deve ser exercido pelo movimento ecologista e pelos cientistas, educadores e empresários preocupados em conjunto. 
Freeman Dyson, «Ética» in Mundos Imaginados (série de conferências realizadas em Maio de 1995)

[sublinhado meu]

busílis

É sempre interessante - mas também inquietante - verificar que, ideologicamente consideradas, as extremas esquerdas tendem a encontrar-se com as extremas direitas (com vice-versa, claro). E calcula-se que seja na recta final.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

ai teachers



involução

Como já percebeu quem passa por aqui, eu sou a favor da exploração espacial. Uma interessante discussão pública, entre outras, seria acerca desta temática. Em vez das discussõezinhas inférteis e do "vira o disco e toca o mesmo" com que tantas vezes a CS se auto-satisfaz até à exaustão. Em relação a este ponto, agradou-me verificar que a TSF dedicou algum tempo ao tema, através de uma pequena conversa com o Director do Observatório Astronómico de Lisboa - que escutei há umas poucas horas atrás.
Mas... a questão é ainda outra. A exploração espacial custa dinheiro. Em rigor, custa muito dinheiro. Ora, será de o gastar neste tipo de investimento? Será que de facto estamos perante um investimento? Evidentemente, a minha resposta é afirmativa. E devem fazer-se sacrifícios (termo agora muito em voga) para avançar com missões do tipo da que tem estado em curso, para colocar um jipe-robô na superfície de Marte, em busca de um maior conhecimento? Bom, eu estaria disposta a fazer alguns, sem dúvida.
Facto é também que a fome no mundo não acaba se pouparmos (mundo/humanidade) na exploração espacial... Se assim fosse, seria relativamente fácil resolver tão grande problema, e eu seria das primeiras a deixar as missões espaciais para trás. No entanto, a mim parece-me algo diferente: se um bom dinheiro está na exploração espacial, é porque não está nos bolsos de muitos corruptos deste mundo.
O mundo é complexo e as teias com as quais ele se tece são minuciosas e labirínticas. É por isso que sinto certa aversão a afirmações simplistas tais como: acabe-se com a investigação espacial, acabe-se com a investigação científica, acabe-se com a cultura, acabe-se... enfim... com tudo (e há tanto!) o que não é de lucro imediato, pois assim poupamos imenso. Acabe-se também, claro está, com a educação.
É, pois, uma circunstância muito desagradável (para não dizer pior), essa de descobrir constantemente que o mundo está infestado de Velhos do Restelo - e que parecem estar em crescimento exponencial... Por esta ordem de ideias, nunca teríamos ido além do Bojador! Apre!
 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

viagem a Marte - 2

Imagem: Aqui

O Mars Science Laboratory está quase, quase, a chegar a Marte - chegada prevista a 5/6 de Agosto. O que resta da viagem pode acompanhar-se em tempo real neste lugar fantástico: Eyes on the Solar System.

Curiosity -MSL está preparado para averiguar de possíveis condições de vida numa área conhecida como Gale Crater. Ora... mesmo que não se trate ainda de colocar humanos na superfície do planeta vermelho, este é um momento emocionante para quem acredita que o futuro passa por horizontes muito mais longínquos.

da boa música portuguesa: Diabo a Sete



em queda livre

«Para se nascer de novo», entoou Gibreel Farishta, caindo dos céus, «é preciso primeiro morrer. Ho ji! Ho ji! Para se poisar na terra acolhedora, é preciso primeiro voar. Tattaa! Takathun! Como tornar um dia a sorrir, sem se chorar primeiro? Como conquistar o amor da mais querida, meu senhor, sem um suspiro? "Baba", se queres renascer... »
Pouco antes da alvorada, numa manhã de inverno, por alturas do Ano Novo, dois homens adultos, vivos, de carne e osso, caíram de uma grande altitude, vinte e nove mil e dois pés, em direcção ao canal da Mancha, sem o auxílio de asas ou paraquedas, atravessando um céu límpido.
Salman Rushdie, Os Versículos Satânicos

prodigiosa imaginação...

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...