"O infinito, meu caro, é bem pouca coisa; é uma questão de escrita. O universo só existe no papel."
Paul Valéry, Monsieur Teste
Sim, o tempo foge, mas eu não fugi com ele, embora também vá passando... Ultimamente, tenho andado absorvida com a sensação de que a vida é uma Grande Leitura - o que me suscita uma crise do tipo síndrome de Bartleby, tanto mais aguda, quanto mais há para ler: aquele livro, aquela opinião, aquele comentário, aquele jornal... mas, também e cativantes, aquele rosto, aquela expressão, aquele movimento dos astros, esse constante ondear do mar, aquele riso e aquelas lágrimas... na verdade um imenso infinito de escritas, em papel ou não (até porque o papel hoje é outro), e que está aí para ser lido. Tudo se escreve, porque tudo se escreverá, mas nem tudo se lê, e não sei se tudo virá a ser lido. Por mim, não, pelo menos. Mas esta predisposição para ler, decifrar e interpretar tem como correlato incontornável uma espécie de recolhimento e de silêncio que procura escrever, sem conseguir, essa crescente densidade do universo que criamos. O universo é uma imensa e contínua criação, um feito de infinitas galáxias e constelações, onde cada um procura orientar-se (quando quer) a partir de uma grande leitura. Acontece termos que deixar de ler, para escrever. E, depois, ler... Uma vezes planeta, outras satélite.