quinta-feira, 29 de abril de 2010

Preocupações

Música à parte, notícias preocupantes não faltam. Sinceramente, não sei com o que hei-de preocupar-me mais: se com a situação financeira do nosso país, se com o que se vai passando na Comissão de Ética no Parlamento (daqui resultam certas informações vindas a público que chegam a ter um efeito estupefaciente nas mentes dos menos avisados). Por outro lado, preocupações mais abrangentes parecem surgir da possível inversão do campo magnético da terra. Dizem-me colegas das ciências que há alguma base científica para este fenómeno. Foi assim que decidi investigar melhor a questão. Para lá das visões catastróficas que alguns consideram relacionadas com o calendário Maia, em especial para o ano de 2012, tentei vencer o meu cepticismo. Claro, fiquei preocupada: não sei se esta inversão do campo magnético da terra é para já, ou para muito mais tarde; não sei se terá efeitos moderados ou graves; verifiquei que pouco se sabe sobre o interior da terra; apercebi-me (se dúvidas ainda tinha) de que é tudo muito frágil, inclusive o nosso planeta; e por aí fora, numa preocupação sem limites...
Num plano imediato, uma pessoa preocupa-se com os filhos e consigo mesma, ou seja, com as gerações mais próximas, onde ainda se incluem os netos (reais ou hipotéticos); mas, a partir de uma certa altura, a preocupação transita para o domínio da espécie. Pensar que este planeta é a nossa casa, e que não temos outra... parece extraordinário não ponderarmos nisso diariamente e a cada instante.
Posto isto, o que eu gostava era de não me preocupar, mas, por outro lado, só um ser indiferente e inconsciente não se preocupa. E a uma ética do cuidado (aquela que nos leva a cuidar de alguma coisa) talvez não faça mal uma boa dose de preocupação.

 No entanto, depois de ver este vídeo, fiquei bastante mais descansada. Se ao menos em relação a outras preocupações, tudo fosse também assim inofensivo...




 Imagem  Daqui

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Todas as paixões

Love's Messenger (1885), Marie Spartali Stillman (1844-1927)


O dizer de todas as paixões pela música de Vivaldi e a voz de Jaroussky. Ou de quando se consegue dizer tudo (?).

 
Vedro con mio diletto, Antonio Vivaldi (1678-1741) - Versão de Philippe Jaroussky e Ensemble Matheus


Vedro con mio diletto

I' alma dell' alma mia,
il cor del mio core
pien di contento.
E se dal caro oggetto
convien che sia,
sospirero penando
ogni momento...


Traduções aqui 
 Imagem: pesquisa do Google

terça-feira, 20 de abril de 2010

Antecipação da Paixão

La Pia de' Tolomei (1868-80), Dante Gabriel Rossetti (1828-1882)


A prova de que um lamento pode ser infinitamente belo ... ainda que doloroso?


Lamento della Ninfa, Claudio Monteverdi (1567-1643) - Versão de Jordi Savall


"Observei que entre as nossas paixões ou afecções da alma há três principais que são: a cólera, a temperança e a humildade ou suplicação, como afirmam os melhores filósofos assim como a própria natureza da nossa voz, que pode ser aguda, média ou grave, e a arte da música valoriza-as a todas igualmente com três palavras: agitado (concitato), suave (molle) e temperado (temperato)."
in Claudio Monteverdi, Oitavo Livro de Madrigais (Prefácio)


23,24 e 25 de Abril


Imagem: pesquisa do Google

terça-feira, 13 de abril de 2010

Um lugar para pensar

Pode o pensamento livre assumir um carácter institucional? Livre só pode significar "com um horizonte de liberdade". Provavelmente, é no seio das instituições que o pensamento pode germinar produzindo consequências mais directas no tecido social. Ainda que muitas ondas e marés proliferem nas franjas da sociedade... O nosso país precisa de mais instituições deste tipo - lugares que eu vejo como espaços de abertura, espaços de liberdade. E é aí, que o próprio conceito de instituição pode ser pensado...

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Primavera e Esplendor na Relva

Para reflectir? Ainda mais para os sentidos...
Diz (no sentir de alguns) uma primavera antes a uma primavera depois:

What though the radiance
which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendor in the grass,
of glory in the flower,
We will grieve not, rather find
Strenght in what remains behind;
In the primal sympathy
Which having been must ever be;
In the soothing thoughts that spring
Out of human suffering;
In the faith that looks through death,
In years that bring the philosophic mind.

William Wordsworth, "Splendour in the Grass" in Intimations of Immortality from Recollections of Early Childhood

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Apesar de a luminosidade
outrora tão brilhante
Estar agora para sempre afastada do meu olhar,
Ainda que nada possa devolver o momento
Do esplendor na relva
da glória na flor,
Não nos lamentaremos, inspirados
no que fica para trás;
Na empatia primordial
que tendo sido sempre será;
Nos suaves pensamentos que nascem
do sofrimento humano;
Na fé que supera a morte,
Nos tempos que anunciam o espírito filosófico.

William Wordsworth, "Esplendor na Relva" (Tradução de Catarina Belo - Aqui)









Imagem de David Hockney:  pesquisa do Google

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Risos

Ela faz hoje anos e está tão crescida... Para mim, é ainda tão pequenina! Desta vez, a escolha é dela - um livro que leu num ápice. Pois... e como eu fico feliz com o facto de ter interesse pela leitura. Mas a melhor parte vai ser quando me explicar porque é que gostou tanto do "Sonho de Uma Noite de Verão"... (aposto que vão ouvir-se risos).

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«Canelas - Ó cavalheiros, isto tem de ser muito bem pensado. Deus nos livre de levar um leão para ao pé das senhoras. Não se podia fazer coisa pior. Não há criatura mais assustadora do que um leão. Temos de ter cuidado.
Biquinho - Então tem que se fazer mais outro prólogo para explicar que não se trata de um leão.
Canelas - Ná, há é que se dizer o nome dele e mostrar-se metade da sua cara por trás do pescoço do bicho; e ele mesmo há-de falar de lá de dentro e dizer uma coisa deste género: "Minhas senhoras" ou "Excelentíssimas senhoras, eu gostaria...," ou "queria pedir-lhes" ou "queria implorar que não tivessem medo, que não tremessem, por minha vida! Se pensassem que eu vim para aqui feito leão, coitadinho de mim. Ná, senhoras, não sou leão coisíssima nenhuma. Sou um homem, tal qual os outros homens." E então ele vai e diz o nome dele, e explica bem explicado que é o Atarrachado, o carpinteiro.
Marmelo - Está combinado. Mas há coisas mais difíceis de resolver. Por exemplo, achar maneira de pôr o luar dentro do salão. Porque, como se sabe, Píramo e Tisbe encontram-se ao luar.
Canelas - Não há problema. Vai haver lua cheia.
Marmelo - Está bem, mas nós estamos no palácio.
Canelas - Essa agora, é questão de se deixar uma janela aberta. E assim, o luar entra na sala.
Marmelo - Pois. Ou então vem alguém com umas silvas e uma lanterna e declara que vem arrepresentar a personage do Luar. Mas há ainda outro problema. Temos de ter uma parede lá no salão. A peça diz que Píramo e Tisbe falaram um com o outro pela fenda de uma parede. (...)»
in Sonho de Uma Noite de Verão, William Shakespeare (Versão Infantil de Hélia Correia) 



Imagem: pesquisa do Google

Foto de A.P.

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...