quinta-feira, 31 de março de 2011

Horizonte longínquo

Crying Girl, Roy Lichtenstein (1964)

Aquilo que se espera, além de sacrifícios, penitências e outras coisas que tais, é uma visão alargada para o futuro deste país. Como é uso dizer-se hoje, e correctamente, uma visão sustentável. Mas este horizonte é ainda longínquo, porque se não há dinheiro, o problema agora é o como obtê-lo no imediato, pelo menos para manter o regular funcionamento das instituições. Em suma, para que o país ande regularmente para a frente, mesmo que devagar... Espera-se tudo isto, a solução do agora e a do depois, e não a prática continuada do pseudo-debate de ideias e de soluções, refém da destruição sistemática do opositor. Mas, porque se espera, não significa que venha. No entanto, nada disto que se espera é um aguardar por D. Sebastião. Espera-se porque é um horizonte possível e concretizável. Espera-se porque se sente no dia-a-dia que há dificuldades. E a esperança é de que elas não estejam a cair num saco sem fundo. Estarão? Vão estar? Como também é uso dizer-se, quem espera, sempre alcança, quanto mais não seja, um... Vamos ver o que aí vem: se um pontapé, se um dar a mão. Com os juros da nossa dívida a chegar acima dos 9%, suspeito que o ambiente é mais o do primeiro caso.
Digamos que há muitas maneiras de fazer política. Mas falar melhor disso fica, hoje, para outra altura qualquer...
E tudo isto também porque eu preciso de comprar rímeis e batôns, para fazer jus à minha condição, da qual ainda não me tinha apercebido (ver comentários à publicação anterior). Tudo coisas que eu não uso. Mas para uns cremes anti-age e um pequenino blush, será que há direito? Já nem digo para livros, ambição e soberba!, sobretudo ao preço a que eles estão!

segunda-feira, 28 de março de 2011

Muito é perspectiva

Mark Rothko, Untitled, 1969

Estive a ler umas coisas de Freeman Dyson a propósito de energia nuclear. Dyson fez parte de um projecto de viagens espaciais (o projecto Orion) que propunha a utilização de um sistema de propulsão nuclear. Isto, há umas quantas décadas atrás. Mas, entretanto, a ideia foi abandonada, atendendo ao perigo das explosões nucleares na nossa atmosfera, e mesmo no espaço. Felizmente, digo eu (que sou a favor da exploração espacial como destino futuro da humanidade), o projecto foi abandonado (porque também considero o nuclear perigosíssimo para esse futuro da humanidade)! Assunto curioso, mas não é bem o que quero agora focar.
Acontece que acabei por ficar presa a umas quantas outras palavras de Dyson, sem dúvida, uma mente brilhante - e também bastante polémica. Ao fazer estas afirmações progressistas, ele depositava, certamente, grande confiança na espécie humana:

«O facto central da nossa situação é que vivemos em muitas escalas de tempo diferentes. A humanidade sobreviveu no passado e tem de aprender a sobreviver no futuro lidando com problemas em muitas escalas de tempo simultaneamente. (...) Esta é a principal razão da complexidade da natureza humana. Somos a única espécie que tem consciência da passagem do tempo e da nossa mortalidade, a única espécie com uma consciência do futuro. (...)
Numa escala de tempo de cem anos, cada um de nós estará morto como indivíduo. Sobreviver numa escala de tempo de cem anos significa sobreviver como família, como nação, como escola de ciência ou de arte, como empresa industrial ou como comunidade religiosa. Visto que a nossa espécie evoluiu para sobreviver numa escala de tempo de centenas de anos, temos lealdades para com estas unidades sociais mais amplas que transcendem as nossas vidas individuais. As lealdades para a família, tribo e instituição estão profundamente enraizadas na nossa natureza. Sem estas fortes lealdades a causas maiores do que nós próprios não seríamos humanos. Quando olhamos para o futuro numa escala de tempo de cem anos, a questão central que devemos colocar é a seguinte: a que causas devem dirigir-se as nossas lealdades?»
in Freeman Dyson, Mundos Imaginados

[o sublinhado é meu]

Posto isto, o que há a acrescentar talvez seja algo assim: que a humanidade anda a dirigir cada vez mais as suas lealdades a estranhas causas, transformadas em "curtas" causas. É que a questão não se aplica só ao nuclear, mas sim a muitíssimo mais... Por este andar, a perspectiva a cem anos pode ser a nossa pré-extinção (sim, eu sei que sou uma optimista). Que pena ainda ninguém ter inventado um "alargador de horizontes temporais"... O problema é que isto não vai lá só com aparelhos, implica também (e de que maneira!) mentalidades. Coisas bastante humanas, portanto.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Antídoto

Spring Landscape, David Hockney (2004)

Se escrever é uma forma de afirmação, manter este espaço também o é. Portanto, cumpre-me dizer que continuo preocupada. Motivos não faltam, apesar da super-lua e da chegada da primavera, sempre tão desejada. Mas, as preocupações não pagam dívidas. Em contrapartida, fazem cabelos brancos. O que me faz pensar logo na bela madeixa branca no cabelo da Susan Sontag, que ando a ler. Vidas vividas, cabelos prateados, posso concluir. E parece-me bem. Aliás, neste nosso tempo, temos muita coisa para viver. Há sempre muita coisa para viver em todos os tempos. E nós temos isto isto e até isto ainda. Não faltaria acrescentar... Poderá manter-se a ilusão de que nos dizem tudo quanto a esta situação? Sobretudo, será que lhes dizem tudo? Mas, enquanto nos confrontamos com casos bicudos e nada compreensíveis (passe a ironia), daqueles em que os amigos se volvem inimigos e os inimigos amigos, é recomendável ir preparando o ânimo para tempos mais instáveis. Refiro-me ao que há a acontecer por aqui mesmo, neste cantinho à beira-mar plantado. Se é que há um modo previsível de tudo, ele é o da ferocidade tão característica da vida na selva, digo, da vida na polis.
Apesar de tudo, podemos festejar, já que a natureza ainda se cumpre no equinócio da primavera.

terça-feira, 15 de março de 2011

Gravidade

Ando preocupada com muitas coisas. Entre elas, ando muito preocupada com isto. Sobretudo quando nos chegam imagens repletas de cenários trágicos, a par da solene dignidade de um povo.
E este sonho, que mais nos envolve enquanto pesadelo, tem qualquer coisa de premonitório. No mínimo, é um  gritante alerta, e o legado de um grande artista. É ver, pensar, e, acima de tudo, se possível, ajudar os outros, que é como quem se ajuda a si mesmo.  

 


quinta-feira, 10 de março de 2011

A solução do peixe amarelo

Golden Fish, Paul Klee

...e o melhor que a gente tem a fazer, por estes tempos que correm, é começar já a pintar um peixe amarelo, seguindo o exemplo do pintor... mas, primeiro, é preciso escutar: 




segunda-feira, 7 de março de 2011

"Pérolas", para que vos quero?

Rapariga com Brinco de Pérola, Johannes Vermeer

Apercebi-me hoje: contamos com mais um ilustre comentador no terreno fértil da nossa comunicação social: o Dr. Alberto João Jardim. Ora, este Senhor, político ilustre, desde sempre mostrou propensão para o comentário fácil, quiçá prosaico, mas agora, agora é hora de lhe darem a palavra num contexto muito mais profissional. E é este o do comentador (de tudo, suponho) com certificado virtual, cuja obtenção não requer acções de formação nem nada (para quê?, perante o talento inato!).
Verdade seja dita, esta actividade floresce... a olhos vistos. Talvez constitua uma das melhores portas para o futuro das saídas profissionais, actualmente tão complicadas e difíceis de conquistar. É que... observando a quantidade de gente dedicada a tão nobre tarefa - a de configurar o pensamento dos demais, e no caso concreto que cito, quase certo, sem um único pingo de imparcialidade (ainda que esta possa ser uma quimera, nunca deveria deixar de ser referência, uma espécie de norte, enfim!), começo a pensar, a pensar, a pensar... que quando a escola pública estiver ainda mais esquecida e mal-amada, esta pode ser uma cativante alternativa profissional. Claro, a questão que se impõe é a do critério na selecção destes profissionais... Acho que eu teria realmente poucas hipóteses, quando o que conta é o populismo, a ausência de rigor e o jeito para dizer umas larachas. E, para isso, caramba, não tenho jeito nenhum! A não ser que existam p´raí uns cursos disso. O que me leva a pensar de novo: se um político pode (e deve) ser questionado (sendo que não é disso que estou agora a falar); porque não poderá (e deverá) ser posta em causa a condição de comentador, sobretudo televisivo? Afinal, o que é propriamente comentar? Quem deve ter poder para o fazer com honras de 1ª página? Que tipo de preparação deve esse comentador ter? Porque é preciso não esquecer que a estas pessoas tão ilustres é-lhes dado o poder de estruturar mentes, pensamentos e intervenções de outras pessoas. Que, por sua vez, farão o mesmo a outras, talvez num contexto mais familiar, por exemplo, o dos pais que assistem a estas "pérolas" da educação para a cidadania, e, imbuídos de tais visões, falam depois com os seus filhos... Que poder pode ter, de facto, a escola, à qual tanto se exige, perante isto?  É caso para perguntar. Jacques Derrida problematizou, e bem, o estatuto do "professor-repetidor". Seria bastante profícuo interpelar também, agora que isto assim floresce, o do "comentador-formador" na construção do futuro, já que parece ser este, indubitavelmente, o novo estatuto da dignidade humana.
Acontece ser às segundas-feiras que se dá a especial intervenção do Dr. Alberto João Jardim. Quem quiser (des) (in)formar-se, tem no dia de hoje, mais uma oportunidade. Aprender (des)compensa.




Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...