quarta-feira, 27 de maio de 2009

Vertigem argumentativa

É costume dizer: "Contra factos, não há argumentos". Na realidade, há. Em última análise, tudo pode ser objecto de argumentação. Até o que é negado pelos factos. Houve um tempo em que julgava que não; os factos eram incontestáveis. Verifiquei mais tarde que não é bem assim. Repare-se, por exemplo, na arte da retórica. Embora esse campo não seja o que me preocupa mais. O que pode atingir proporções esmagadoras é o poder de uma argumentação bem construída, mas totalmente dissociada da realidade. Ou seja, o plano de uma hiper-retórica, onde se torna difícil encontrar os falsos raciocínios, neste caso, argumentativos. Como é sabido, validade e verdade não coincidem necessariamente. Um raciocínio pode ser válido e não ser verdadeiro, mas apresentá-lo enquanto válido (mesmo sem o ser), abre uma porta para a possibilidade de o ser, já que não há verdade no raciocínio sem essa condição necessária, a da sua validade. Este aspecto é sobremaneira importante. Daí que, encarar apressadamente uma inferência, aumenta a probabilidade de tomarmos como válido o que o não é, e, consequentemente, a probabilidade de aceitarmos a sua pseudo-verdade. Quer dizer, se o cremos válido, poderá ser tomado como verdadeiro. Eis a questão. Logo, é fundamental, a bem da transparência, apresentar a verdade que se quer provar de forma sólida, ou seja, efectivamente válida e com premissas verdadeiras.

Neste ponto, podemos estar perante as (des)conhecidas falácias. E é muito fácil deixá-las passar despercebidas, sobretudo quando estamos num plano hiper-real. Sem que este seja confundido com o domínio das hipóteses, inequivocamente fértil, consideradas as hipóteses como tais. Nem mais, nem menos. Trata-se antes do equívoco de tomar o que só pode ser hipótese, por um facto existente, quando o que se criou foi um pseudo-facto enquanto facto. E é esse o ponto de partida: o de um facto artificial, fictício. O que é muito diferente de argumentar a partir de uma hipótese.
Com esta plataforma de análise assim criada, trata-se a seguir de discorrer de modo convincente. Surgem dois tipos de problemas: por um lado, há a questão do falso ponto de partida (ou pseudo-problema); por outro, a correcção lógica que é ou não adoptada para discorrer.

Claro que há domínios onde ultrapassar a lógica como limitação é importante: no domínio do sonho, da criação, da ficção, etc... Extrapolar o lógico é, aliás, algo que muito me apraz. No entanto, quando nos situamos num plano rigoroso de análise, ela pode ser determinante. Para o bem e para o mal. Esta questão, se é que o é, leva-me ao paradoxo de ser necessário transcender a lógica para verificar que, na sua base, do que se trata é de intenção. É esta que condiciona o respeito pelas regras do raciocínio, ou, ao contrário, o seu desrespeito. Claro que pode argumentar-se que toda a intenção obedece a uma lógica. O que, por sua vez, mostra que é sempre possível argumentar e contra-argumentar... Mas, então, eu diria que a questão, se é que o é, reside na lógica da intenção. Daí a distinção, que vem a propósito, entre um erro de raciocínio involuntário (paralogismo), e um que é cometido voluntariamente (sofisma). E por aí fora... Continuando, o que nos espera é a vertigem argumentativa...

Tome-se como amparo, no abstracto da queda, um exemplo. Imagine-se que alguém diz: "Exclusividade". Com este conceito apenas, quase nada se faz. É preciso afirmá-lo ou negá-lo para entrar no verdadeiro raciocínio. Assim, alguém diz: "A exclusividade é boa". Que é quase o mesmo que dizer: "Posiciono-me a favor da exclusividade", na medida em que se defende o que é bom. Imagine-se que um interlocutor desta afirmação adopta a mesma posição. Até aqui, tudo bem. Há acordo. Mas acrescente-se que o outro acusa: "Tu não respeitas a exclusividade que defendes". Aqui, o raciocínio é bem mais complexo. Entra-se na verdadeira argumentação. Suponha-se que, no caso em análise, esta afirmação não tem qualquer correspondência com a realidade. Das duas, uma: ou estamos no domínio das hipóteses académicas, ou estamos no domínio da má intenção (vulgo má-fé). No último caso, na medida em que se toma como verdadeiro um pseudo-facto, estamos, então, na dimensão hiper-real: a discutir, a discorrer sobre uma não-verdade, sobre um não-facto, considerado como verdade e como facto. Nesta fase, há que assinalar o tal problema do ponto de partida, ao qual subjaz uma intenção... Primeira objecção.
Quanto à segunda: imagine-se que, comprovadamente, há contradição entre o que se defende ("Sou a favor da exclusividade") e o que se faz (por ex., sabe-se que houve quebra de exclusividade no dia tal, no lugar tal...). Como sustentar a defesa da tese?! Talvez eclipsando o facto de se assumir (ainda que não explicitamente) que a exclusividade, apesar de ser defensável e praticável por muitos dos que se conhecem, só é boa para alguns, mas não para outros, consoante as conveniências (que assim modelam a intenção). O mesmo é dizer, consoante os desejos, os quereres e os benefícios. O que fragiliza, se é que não derruba, a referida tese. Ainda mais, se com ela se quer convencer alguém de falsos factos. Inexistentes, portanto. Tese refutada, no caso de ser defendida assim: com uma falácia por omissão de dados relevantes.

O mais interessante de todos estes aspectos algo formais, é que eles podem aplicar-se a tudo, até ao que se revela contra nós. Deve ser por isto (e outras coisas mais...) que a lógica não é uma batata. Se esta alimenta o corpo (vital), a lógica alimenta o espírito (civilizacional). Parece de concluir que a coerência é difícil, e o mundo um lugar estranho!



Imagem: pesquisa do Google

sábado, 23 de maio de 2009

Catharsis musical




... e resposta ao simpático desafio da GRANDE JÓIA :

aqui ficam seis séries que escolho assinalar. Algumas do passado e inesquecíveis; outras são umas quantas a que assisto presentemente, de acordo com preferências pessoais, que vão desde o puro entretenimento, até à brilhante análise social e humana. Embora raro as siga de verdade - prefiro apreciá-las ao acaso.

SERVIÇO DE URGÊNCIA
É só a melhor série sobre a fragilidade e complexidade do ser humano, sujeito a pressões muito reais.

ALERTA COBRA
Uma brincadeira muito bem feita com perseguições inacreditáveis de automóveis em auto-estradas: velocidade, acção e entretenimento: também gosto!

RITUAIS ASSASSINOS
Interessante ao nível da análise psicológica da mente criminosa.

PERDIDOS (LOST)
Dimensão de aventura num ambiente de realidades paralelas, desorientação e enclausuramento. Psicologicamente interessante.

SETE PALMOS DE TERRA
Brilhante! Cativante!

AS AVENTURAS DE SHERLOCK HOLMES
O prazer de pensar com o mestre da dedução. Inesquecível interpretação de Jeremy Brett!


Mas vou fazer como o RAA do Abencerragem: de vez em quando hei-de falar de séries. Ficam muitas por assinalar...

Não resisto à sétima:

FAWLTY TOWERS
Não há como ficar mal-disposto. Adoro!




quinta-feira, 21 de maio de 2009

Vindo de um nada que é tudo


Olhar à volta significa muitas vezes um teste de coragem. O mundo, do qual não há como escapar (e nem se quer), mostra tarefas intermináveis, notícias que preocupam e entristecem, factos que deitam abaixo o mais eventualmente imune.
Ocupada com as minhas desilusões pessoais, das quais não faço drama, mas que vivo, sinto que elas são tão pouco! - porque situadas num contexto mais amplo, mesmo que definido pela posição geográfica concreta do meu ser particular no mundo.
Na verdade, nem posso precisar ao que vem tudo isto. São as sensações difusas as que mais me atingem, normalmente. Dizê-las, traduzi-las em palavras é sempre a consciência de um limite que todo o dizer implica pela sua invasão e pela sua arrogância. Há no silêncio uma espécie de pudor que é preciso cultivar, não obstante a necessidade de dizer alguma coisa para tornar o motivo de inquietação existencial verdadeiramente real. Objectivado pelo acto de verbalizar, não só se separa do eu (artificialmente, sem dúvida), mas sobretudo permite o confronto com aquilo em que se transformou. Então, muito mais claro. Ainda que algo se perca irremediavelmente na tradução...
Há, portanto, necessidade de calar, porque o silêncio possui também um profundo significado. Há, todavia, necessidade de dizer, porque esse acto permite uma dinâmica do eu que produz, inúmeras vezes, bons resultados. No limite, é a possibilidade desse dinamismo do ser que se torna libertação.

Mas tudo isto gira à volta, afinal, da importante ideia de Breuer, a de uma terapia pela palavra. Deste modo, é assim que aproveito para elucidar a escolha que fiz quando intitulei este espaço Catharsis. É uma pretensão modesta, evidentemente, realizada à minha medida. A de uma habitante deste planeta, que vive em Portugal e pertence a um modo de ser português, que é afectada pelas consequências de uma existência globalizada, que sente, que pensa, etc... Mas que não é importante. No sentido das importâncias duplamente entendidas, interpretação que deixo ao critério de quem tiver a gentileza de me ler. Para mim, a des-importância reveste-se, antes de mais, do facto de não ter realizado nenhum trabalho verdadeiramente importante na área do processo catártico.
Assim sendo, esta é uma catharsis pessoal, ainda que transmissível por efeito comunicacional. Enquanto inspiração, é antes uma homenagem a Aristóteles, a Breuer, a Freud, a Jung, a Lacan, e a tantos outros (impossível nomear todos...); à totalidade dos que abordaram a temática, desde a origem até ao momento actual. Sendo que o termo terapia, aqui, aplica-se sobretudo com um sentido lúdico e pouco sistemático.
Em jeito de conclusão ( porque os fins são sempre algo flutuantes...): passam por aqui instantes pessoais, momentos de reflexão, tópicos de análise, gostos, pareceres, sentimentos, etc... numa metamorfose blogosférica partilhada. E a partilha é fundamental para toda a catarse.
Obrigada!


[Aproveito também para agradecer ao lugar - AQUI - onde pude tomar conhecimento de possíveis novas imagens (fundos) para blogues, a partir de thecutestblogontheblock.com. Foi muito divertido experimentar possibilidades de renovação. Descobri, entretanto, CuteandCoolBlogStuff, também divertido, noutro estilo.]


Imagem: The Merciless Lady - Dante Gabriel Rossetti

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Momentos filosóficos - 5


Apesar de convidado, Michel Onfray não passa férias com Sarkozy.

Ouvi hoje na TSF uma interessante entrevista de Carlos Vaz Marques a Michel Onfray. Politicamente, o filósofo assume uma posição claramente contrária à actual Presidência da República francesa. Ao longo desta conversa, Onfray explica o que o afasta de Sarkozy e justifica algumas das suas opções de vida, nomeadamente a sua recusa em candidatar-se ao mesmo cargo político pela esquerda-radical do seu país. Neste sentido, pode dizer-se que reconfigura o filósofo-rei da «República» de Platão: o poder que deve exercer situa-se preferencialmente no terreno, em contacto directo com as pessoas. Em vez de um Parlamento, o seu lugar de eleição será antes o de uma Universidade Popular, disfrutando aí de novos Jardins de Epicuro. Numa perspectiva polémica mas muito actual, fala-nos da importância dos pequenos poderes. Todos juntos, podem fazer muito, na medida em que cada um faça por intervir no seu pequeno espaço, com o objectivo de contribuir para uma vida boa.


É assim que o verdadeiro sentido do hedonismo ascético, defendido e ensinado por Epicuro, ressuscita - a busca do prazer no seu sentido mais elevado, e não a do mero prazer pelo prazer. Só desse modo é possível encontrar um sentido para a vida e escapar de facto ao niilismo...
Apesar de divergir em relação ao autor, considerando certos pontos de vista, e em relação a alguns aspectos especificamente filosóficos, não posso deixar de salientar o interesse e a actualidade do seu pensamento. Particularmente, a sua preocupação relativa a uma dimensão prática do pensar filosófico.

Um pouco de Michel Onfray escrito-lido:

- "Como é que se pode falar de forma a entendermo-nos, pensar uns nos outros sem interferirmos na vida alheia - pensar na possibilidade de nos tocarmos, talvez - ou tomar um contacto com o outro sem o brutalizarmos? De que forma amar sem renunciar à liberdade, à autonomia e à independência - e tentando preservar os mesmos valores no outro? Pode evitar-se e fugir da luta e da guerra para gozar actividades mais alegres e agradáveis? Como é que se pode impedir que a relação sexuada caia na atracção da violência?"

- "A vida filosófica obriga a que se tente - às vezes sem se conseguir - fazer a adequação entre as afirmações teóricas e os comportamentos práticos. O verbo visa a carne, a palavra tende para a obra activa, a ideia contribui para a atitude. Da mesma forma, a carne visa o verbo, a obra activa tende para a palavra, a atitude contribui para a ideia. Nada de essencial se efectua fora deste movimento perpétuo de ida e volta entre viver e filosofar."

- "Os fins do epicurismo visam o desaparecimento dos desejos que torturam, das ausências que atormentam, das necessidades que fustigam.
Assim, estar diante de uma mesa sumptuosa não obriga o epicurista discípulo do Mestre a fugir espavorido, ninguém o obriga a refugiar-se numa cela monacal para expiar a sua tentação. (...) O sábio deve simplesmente saber usar desta possibilidade como se fosse um bem, e ele fosse um homem livre. A sua força e o seu poder consistem em aproveitar sem se deixar aprisionar, a ter prazer sem cair na escravatura da volúpia alcançada. Ter, mas continuar a ser, sem sucumbir à tirania de um querer que lhe escapa. (...)
Epicuro sabe que a via ascética é mais simples, mais eficaz e mais segura, por ser a menos perigosa e a menos arriscada. Com ela, não se tenta o diabo, não se caminha sobre o fio da navalha, não se põe em risco uma serenidade que se alcançou com esforço, não se expõe um bem tão precioso.
Contudo, ser epicurista não significa ser Epicuro, ser como ele, viver de forma mimética. A fisiologia frágil do criador do Jardim obriga-o a isso, constrange-o a viver de forma ascética, mas os seus discípulos com um corpo mais livre inclinam logo a sua teoria para um declive mais hedonista."
in Michel Onfray, Teoria do Corpo Amoroso


Um pouco de Michel Onfray falado-ouvido - entrevista na TSF



Imagens: pesquisa do Google

terça-feira, 12 de maio de 2009

Atchim!


Enquanto espero pelo momento de inspiração para uma prosa pessoal anti-alérgica, deixo aqui este divertido e inócuo anti-histamínico. Também pode ser tomado segundo terapêutica e prescrição homeopática.


Bendita Primavera!





sábado, 9 de maio de 2009

Se a Europa Acordar


Pensar a Europa com a provocação de Peter Sloterdijk:

«O nome de Europa designa uma região do mundo na qual, de forma indiscutivelmente singular, impera uma interrogação sobre a verdade e a qualidade de vida. Nem na época contemporânea os Europeus deixaram de acreditar totalmente que só o que é justo e digno do ser humano possui a longo prazo direito ao êxito. Não é por acaso que eles, nos seus conceitos de ciência, de democracia, de direitos humanos e de arte, introduzem algo da sua ideia característica da verdade. Estes conceitos focalizam-se no desafio europeu lançado à espécie: criar formas de vida que considerem o ser humano como uma criatura fundamentalmente rica e capaz de grandeza. É nesse desafio, que serve de referência aos bons Europeus, que a paixão europeia desde tempos imemoriais tem o seu ponto de focalização. Só quando ele entra em jogo podem os Europeus querer obstinadamente os seus êxitos e apreciá-los duradouramente. Só então escapam à sua lassidão e ao seu niilismo. Poder ter êxito é saber-se animado por uma verdade que resiste às depressões. Após mil e quinhentos anos de experiências sobre as asceses, as piedades, as nostalgias, as investigações e os esforços, os Europeus sabem - ou julgam saber - que ser pobre, deserdado e abandonado não é de maneira nenhuma uma característica intrínseca do ser humano. Na medida em que o saibam, são capazes de maiores esforços. Quando esquecem este saber, ficam mais perdidos e mais desprovidos de motor do que ninguém nesta terra. Os Europeus, na medida em que produzem esforços, são pois também e sempre rebeldes à miséria. Com um pathos que lhes é perfeitamente específico, sonham com as artes - na medida em que a arte, garante da abertura das criações, constitui para eles o grande contraveneno de todas as tentações induzidas pela miséria. (...)»
in Peter Sloterdijk, Se a Europa Acordar


O autor é um dos mais importantes filósofos alemães da actualidade.
Relativamente à Europa, defende uma visão não-imperialista. Uma Europa imperialista estaria impregnada, em grande medida, do modelo dos Estados Unidos da América. Ressuscitaria também essa espécie de síndrome imperial que remonta ao Império Romano.
O seu apelo, se assim se pode falar, refere-se antes ao renascer de uma cultura europeia naquilo que ela tem de melhor, por exemplo, a perene consciência dos direitos humanos que anima uma postura anti-miserabilista.
Uma leitura que se faz para reflectir, interrogar, concordar ou contra-argumentar...

«Mal a Europa acordar, as questões da verdade regressarão à grande política. A prazo, os êxitos da Europa dependerão da capacidade de os Europeus acreditarem nos seus direitos ao êxito. A formulação dos direitos humanos inclui uma cifra que designa o direito ao êxito e que eles opõem a todo o mundo. Quando os tempos mudam, há que exprimir de nova maneira a significação desses direitos. O pensamento mais profundo da Europa é o de que se deve resistir ao desprezo. Se esta reflexão é inescapável, é porque continua também verdadeira para os seres cansados e vencidos. Na última translação do Império na Europa, a sua recusa do desprezo do humano, desprezo que habita todos os imperialismos, deve assumir pois uma forma política. O direito da Europa é a sua grande declaração sobre o ser humano: a sua injustiça prendia-se e prende-se ainda com a exclusão da maioria daquilo que representa o melhor de nós. (...)»
in Peter Sloterdijk, Se a Europa Acordar


Imagens: pesquisa do Google com Lady Godiva (1897) de John Collier

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Frémitos






Dante e Virgílio no Inferno, William Bouguereau


Que os frémitos só possam ser gerados por devoradores...
Discordo. Cansado de
déjà vu, o mundo precisa de outras emoções.


sábado, 2 de maio de 2009

Pausa para cafezinho


É verdade que por vezes penso na tranquilidade da vida fora do bulício (e das notícias) da cidade. Já me aconteceu admirar a vida de eremita. Quando ouço Arvo Pärt, por exemplo. Mas, ainda que possa parecer-me o verdadeiro significado de "umas férias", dificilmente seria capaz de me sujeitar a tal provação. Acho bastante desagradável o puro hedonismo como forma de vida: parece-me superficial. Do mesmo modo, fico muito aquém da verdadeira admiração do sacrifício pelo sacrifício. O isolamento (e tudo o que lhe está associado) exige motivos bem mais profundos.

Na realidade, sou muito citadina. E depois, o retiro para os confins do mundo colocar-me-ia um problema enorme: como poderia tomar um bom café?! Não daqueles de copo, beberagem, mas uma bica como deve ser? Não estou a ver uma Nespresso num retiro de fim do mundo. Não condiz nada. Um bom café faz parte do ruído, da pressa e da confusão. Num outro registo, faz parte do relax no estilo lounge.
Constata-se nestes pequenos detalhes o assimilar de uma efectiva segunda natureza.





Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...