Pensar a Europa com a provocação de Peter Sloterdijk:
«O nome de Europa designa uma região do mundo na qual, de forma indiscutivelmente singular, impera uma interrogação sobre a verdade e a qualidade de vida. Nem na época contemporânea os Europeus deixaram de acreditar totalmente que só o que é justo e digno do ser humano possui a longo prazo direito ao êxito. Não é por acaso que eles, nos seus conceitos de ciência, de democracia, de direitos humanos e de arte, introduzem algo da sua ideia característica da verdade. Estes conceitos focalizam-se no desafio europeu lançado à espécie: criar formas de vida que considerem o ser humano como uma criatura fundamentalmente rica e capaz de grandeza. É nesse desafio, que serve de referência aos bons Europeus, que a paixão europeia desde tempos imemoriais tem o seu ponto de focalização. Só quando ele entra em jogo podem os Europeus querer obstinadamente os seus êxitos e apreciá-los duradouramente. Só então escapam à sua lassidão e ao seu niilismo. Poder ter êxito é saber-se animado por uma verdade que resiste às depressões. Após mil e quinhentos anos de experiências sobre as asceses, as piedades, as nostalgias, as investigações e os esforços, os Europeus sabem - ou julgam saber - que ser pobre, deserdado e abandonado não é de maneira nenhuma uma característica intrínseca do ser humano. Na medida em que o saibam, são capazes de maiores esforços. Quando esquecem este saber, ficam mais perdidos e mais desprovidos de motor do que ninguém nesta terra. Os Europeus, na medida em que produzem esforços, são pois também e sempre rebeldes à miséria. Com um pathos que lhes é perfeitamente específico, sonham com as artes - na medida em que a arte, garante da abertura das criações, constitui para eles o grande contraveneno de todas as tentações induzidas pela miséria. (...)»
«O nome de Europa designa uma região do mundo na qual, de forma indiscutivelmente singular, impera uma interrogação sobre a verdade e a qualidade de vida. Nem na época contemporânea os Europeus deixaram de acreditar totalmente que só o que é justo e digno do ser humano possui a longo prazo direito ao êxito. Não é por acaso que eles, nos seus conceitos de ciência, de democracia, de direitos humanos e de arte, introduzem algo da sua ideia característica da verdade. Estes conceitos focalizam-se no desafio europeu lançado à espécie: criar formas de vida que considerem o ser humano como uma criatura fundamentalmente rica e capaz de grandeza. É nesse desafio, que serve de referência aos bons Europeus, que a paixão europeia desde tempos imemoriais tem o seu ponto de focalização. Só quando ele entra em jogo podem os Europeus querer obstinadamente os seus êxitos e apreciá-los duradouramente. Só então escapam à sua lassidão e ao seu niilismo. Poder ter êxito é saber-se animado por uma verdade que resiste às depressões. Após mil e quinhentos anos de experiências sobre as asceses, as piedades, as nostalgias, as investigações e os esforços, os Europeus sabem - ou julgam saber - que ser pobre, deserdado e abandonado não é de maneira nenhuma uma característica intrínseca do ser humano. Na medida em que o saibam, são capazes de maiores esforços. Quando esquecem este saber, ficam mais perdidos e mais desprovidos de motor do que ninguém nesta terra. Os Europeus, na medida em que produzem esforços, são pois também e sempre rebeldes à miséria. Com um pathos que lhes é perfeitamente específico, sonham com as artes - na medida em que a arte, garante da abertura das criações, constitui para eles o grande contraveneno de todas as tentações induzidas pela miséria. (...)»
in Peter Sloterdijk, Se a Europa Acordar
O autor é um dos mais importantes filósofos alemães da actualidade.
Relativamente à Europa, defende uma visão não-imperialista. Uma Europa imperialista estaria impregnada, em grande medida, do modelo dos Estados Unidos da América. Ressuscitaria também essa espécie de síndrome imperial que remonta ao Império Romano.
O seu apelo, se assim se pode falar, refere-se antes ao renascer de uma cultura europeia naquilo que ela tem de melhor, por exemplo, a perene consciência dos direitos humanos que anima uma postura anti-miserabilista.
Uma leitura que se faz para reflectir, interrogar, concordar ou contra-argumentar...
«Mal a Europa acordar, as questões da verdade regressarão à grande política. A prazo, os êxitos da Europa dependerão da capacidade de os Europeus acreditarem nos seus direitos ao êxito. A formulação dos direitos humanos inclui uma cifra que designa o direito ao êxito e que eles opõem a todo o mundo. Quando os tempos mudam, há que exprimir de nova maneira a significação desses direitos. O pensamento mais profundo da Europa é o de que se deve resistir ao desprezo. Se esta reflexão é inescapável, é porque continua também verdadeira para os seres cansados e vencidos. Na última translação do Império na Europa, a sua recusa do desprezo do humano, desprezo que habita todos os imperialismos, deve assumir pois uma forma política. O direito da Europa é a sua grande declaração sobre o ser humano: a sua injustiça prendia-se e prende-se ainda com a exclusão da maioria daquilo que representa o melhor de nós. (...)»
Relativamente à Europa, defende uma visão não-imperialista. Uma Europa imperialista estaria impregnada, em grande medida, do modelo dos Estados Unidos da América. Ressuscitaria também essa espécie de síndrome imperial que remonta ao Império Romano.
O seu apelo, se assim se pode falar, refere-se antes ao renascer de uma cultura europeia naquilo que ela tem de melhor, por exemplo, a perene consciência dos direitos humanos que anima uma postura anti-miserabilista.
Uma leitura que se faz para reflectir, interrogar, concordar ou contra-argumentar...
«Mal a Europa acordar, as questões da verdade regressarão à grande política. A prazo, os êxitos da Europa dependerão da capacidade de os Europeus acreditarem nos seus direitos ao êxito. A formulação dos direitos humanos inclui uma cifra que designa o direito ao êxito e que eles opõem a todo o mundo. Quando os tempos mudam, há que exprimir de nova maneira a significação desses direitos. O pensamento mais profundo da Europa é o de que se deve resistir ao desprezo. Se esta reflexão é inescapável, é porque continua também verdadeira para os seres cansados e vencidos. Na última translação do Império na Europa, a sua recusa do desprezo do humano, desprezo que habita todos os imperialismos, deve assumir pois uma forma política. O direito da Europa é a sua grande declaração sobre o ser humano: a sua injustiça prendia-se e prende-se ainda com a exclusão da maioria daquilo que representa o melhor de nós. (...)»
in Peter Sloterdijk, Se a Europa Acordar
Imagens: pesquisa do Google com Lady Godiva (1897) de John Collier
18 comentários:
O questionamento tem sido uma característica da civilização europeia,a capacidade de se pôr em causa -- de Sócrates à Revolução Francesa, do Império Romano à União Europeia. A liberdade individual é, porventura, a sua maior conquista.
E o conceito de pólis! E a democracia! O respeito pelo Outro, individual e colectivo.
:))
Olá Ana Paula
É uma reflexão muitissimo pertinente, eu concentro-me neste aspecto do seguidismo da Europa em relação à cultura estadudinense. É certo que essa cultura partiu da Europa, com a premência da Palavra e em demanda da utopia, mas desenvolveu formas próprias que nos são exteriores.
Por isso, penso que a Europa deve repensar-se e com urgência. Para mim seria ideal que Rousseau deixasse de ter tanta influência e Locke começasse a ser mais considerado.
Beijinhos e um óptimo fim de semana:)
Isabel
Querida, Ana Paula, tenho muitas reticências, quanto à ideia de uma qualquer Europa una. É um continente muito diversificado, um grande mosaico, com imensas culturas próprias. Nasceu a ideia de uma Europa para, idealisticamente, fazer face ao poderio EUA e deu no que deu, por que a pensem - livre mercadoria e o modelo americano a vingar; eles têm os seus seguidores em todos os cantos e movem as sias influências em todos os sentidos. Na Europa, um "segredo" e uma estratégia chama-se Rússia. Imagine-se a vergonha e arrogância: o "hino europeu" ser um texto de Beethoven... que parvoíce, arrogância alemã, subserviência dos estados membros. Se quisessem uma verdadeira europa una e múltipla, convocavam-se diversos compositores de todos os estados e far-se-ia um hino ecléctico. Que pinderiquice, foi - está andar que o que interessa são os bancos e a mercadoria a rolar. Talvez esteja a ser apressado, mas... Então BArroso, presidente... Esse?... Que mandou POrtugal às urtigas e por ele estamos no que estamos. A Eurpoa está nas mãos de patos-bravos como ele e Sócrates. Mas lutar é lutar; no entanto não chega encontros conferências. Esfregam as mãos; acção directa - não às eleições europeias, por exemplo.
Bom, desculpa o alongamento das palavras. O teu blogue está lindo; este tema fascina, porém... O teu blogue está lindo. Um beijinho e bom domingo; estou a fechar o trabalho. PS- A Isabel anda com beleza a mais ? Não estará a arranjaroutro esgotamento. Cria-se assim, quando a vigília diminui. às vezes preocupa-me. Bom vou deitar, senão quem fica esgotado sou eu.
li com atençao o que escreveu
bom...
seguidismo ...
será noam chomsky americano?
se nao é....
diga-me pf :)
na verdade somos um velhissimo continente
com tudo o que isso tem de bom e de mau
eu vou gostando de aqui estar
carregar uma informaçao genetica indo europeia nao me desagrada de todo
achaque estou a ficar louco?
que merda de orgulho é este?
sao 5:43
deve ser disso :)
É verdade que o ideal europeu respeita o indivíduo e repudia o miserabilismo. Mas valoriza a produção de bens comercializáveis, sem distinção da sua utilidade ou desutilidade relativa, o que não favorece a valorização dos bens intangíveis gratuítos ou não facilmente transacionáveis. De qualquer modo, é preferível esse defeito materialista ao esoterismo charlatão das religiões alienantes.
Olá Ana Paula
Hoje estou pouco inspirada para responder ao teu belíssimo post que nos pede uma verdadeira reflexão . Fiquei a pensar "E porque demora tanto a Europa a acordar?"
Bom domingo
Como velho continente... talvez a Europa tenha algumas obrigações no que concerne à sabedoria do Homem e da Humanidade... logo, outras tantas em relação a olhar criticamente para a cultura norte-americana... (nomeadamente, com a devida desconfiança, como um velho sábio olha para um jovem arrogante e emproado, julgando-se detentor da verdade); acho que fazemos parte de um continente com todo o potencial para colocar uma certa ordem na balbúrdia... e isso não tem de implicar menos êxito, muito pelo contrário. É mesmo uma questão de acreditar no direito ao êxito... Concordo com as ideias deste filósofo... aliás, a cultura europeia sempre me agradou muito e sinto orgulho de poder fazer parte dela... :) Claro que existem os reversos da medalha (sempre...); talvez... maior conservadorismo? Enfim, isso terá as suas vantagens e desvantagens...
Beijinhos!
Esquecem a Alma do Homem, com todo avanço no tempo...
Belo espaço,onde a reflexão se faz...
|)’’()
| Ö,)
|),”
|Terno beijo
ölhår_Îñðîscrëtö...Å ¢µ®¡ö§¡dädë
De acordo, há certos conceitos que estão estafados e outros como este de desprezo que anunciam e exaltam. Absolutamente contra todo o tipo de desprezo!
boa semana bjo
A Europa está a ser uma ideia complicada.
Cumprimentos
para mim.............
o mundo começa e acaba na europa....................
sei absolutamente que para si é uma tremenda asneira o que estou a dizer mas......
adoro esta civilização (judaico-cristã) ... estes 2000 anos.
As minhas preferências vão,
em absoluto,
para as artes, para a música, para a religião que dominou este continente e sinto que a mais nenhum poderia pertencer pelas apetências, pela empatia por tudo...............
Sou europeia por raça e, sobretudo, por vocação..........
lastimo, imenso o "amolecer" desta civilização, desta cultura, deste continente, destas raças ..........
um bj ,
grd, Ana Paula..................
Olá Ana Paula
Sempre que me cruzo com o Jota fico logo bem disposta, que diz ele?:)) Pronto, lá foi ele apressado!
Passo só para lhe desejar um excelente início de semana.
Beijinho grande
Isabel
Oxalá não nos apercebamos tarde demais dos valores que temos vindo a esquecer em nome de dinheiros e aparências. No ocidente todo, bem entendido. Beijo!
gostei muito de ler, ana paula. penso que é importante pensarmos na nossa posição no mundo, enquanto portugueses e europeus. um grande beijinho.
Ana Paula,
Eu acho que a Europa já acordou!
Porém, já percebeu que acordou tarde demais!!!
BjOss
Conquanto ela (Europa) se julgue um pouco mais formiga e menos cigarra, talvez nos entendamos todos estes nós descendentes de outros sim esses merecedores de tais confiança, elogios e orgulho.
Até lá,
não resisto, porque prefiro olhar para o mundo novo ou novo mundo,
marte, vénus, jupiter ou américa,
porque pelo menos por lá algo muda!
obrigado no entanto pelo post anti- velho do restelo, que é hoje e aqui o meu papel,
"it's a dirty job but somebody has to do it!"
a ideia não é nova, n sabia é que havia um europeu q tivesse "filosofado" nesse sentido.
esta ideia costuma estar associada a "ocidentalismo" pq de facto é o que temos a mania de impor ao mundo, por exemplo: a burka, a poligamia e outros costumes que os ocidentais criticam à priori. A vida tribal, a nudez e a tantas outras caracteristicas que olhamos e avaliamos como ocidentais quando não pior com preconceitos judaico-cristãos.
o que me espanta é que ainda haja filosofos e pior ainda cientistas (ok estes são normalmente mais ingénuos sobre as coisas do Homem) que ainda não tenham percebido que o mundo NÃO gira à volta do ocidente
os europeus estão a precisar de escutar as outras ideias, o mundo não acaba na europa, mas não acaba mesmo!!!!
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