terça-feira, 25 de agosto de 2009

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Genética e evolução

Michael Ruse é um filósofo da ciência, entusiasta e cativante para as grandes questões. Tem a capacidade de comunicar, dirigindo-se ao grande público. No seu estilo descontraído, embora rigoroso, coloca, por exemplo, a questão: "Pode um darwinista ser cristão?", sendo este o título de um dos seus livros. Esteve em Lisboa, em Janeiro de 2009, para uma conferência integrada nas comemorações do Ano Darwin.
De referir que Michael Ruse veio a tornar-se mais conhecido do grande público, sobretudo pelo seu determinante testemunho num interessante caso que opôs evolucionismo e criacionismo, designado por "McLean contra Arkansas". Em concreto, este processo judicial averiguava acerca da legitimidade de ensinar, nas escolas públicas norte-americanas, uma teoria que se propunha ser ciência, sem respeitar os critérios que determinam se algum tipo de conhecimento é ou não científico: o chamado Projecto (ou Design) Inteligente. Neste caso, Ruse posicionou-se a favor das exigências da ciência. No entanto, continua a aprofundar toda esta problemática, já que soluções simplistas não são aqui possíveis, no seu entender.
Neste processo, entre muitos e interessantes aspectos acerca da ciência nele abordados, interessou-me a perspectiva (e respectivas provas) da genética. É assim que podemos verificar que o nosso parentesco com os grandes primatas ficou provado, algures no par de cromossomas 2 do nosso código genético (genoma humano). Na verdade, ao compararmos o n.º de cromossomas do ser humano com o deles, verifica-se que apenas nos separa a diferença entre 46 cromossomas (organizados em 23 pares), contra 48 (24 pares) dos gorilas, chimpanzés, orangotangos. O que nos é explicado - se, em rigor, existe uma relação entre ambos os códigos genéticos (um antepassado comum) -, é o facto de ter ocorrido a união de 2 pares de cromossomas no homem, no decurso do seu passado evolutivo. Portanto, o cromossoma que falta (simplificando), não desapareceu, fundiu-se com outro.
Como se chegou a tal conclusão, é isso que pode ver-se neste excerto de um interessante documentário (ver video), que reconstitui todo o processo "McLean contra Arkansas".
Em consequência das provas apresentadas, a decisão final foi a de impedir o ensino da perspectiva criacionista, enquanto teoria fundamentada cientificamente, aqui designada por Design Inteligente.
Quanto à questão colocada por Michael Ruse, "Pode um darwinista ser cristão?", a sua resposta é: "Sim". Evidentemente, o tema constitui uma história interminável... E ainda bem.






Mais sobre Michael Ruse AQUI

Mais sobre "McLean V. Arkansas" AQUI

Nota: embora tendo nascido em Birmingham, Michael Ruse é canadiano por naturalização.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Beleza de Verão - 1



«A imagem da praia, este vislumbre dos representantes da cultura que gozam despreocupados à beira-mar os prazeres dos sentidos, distraiu-o e alegrou-o como sempre. (...)
Quero ficar, pensou Aschenbach. Que outro lugar seria melhor? E com as mãos cruzadas no colo, deixou que os olhos se perdessem na imensidão do mar, deixou que o olhar fugisse, se fundisse e diluísse na neblina monocórdica do espaço deserto. Amava o mar por razões profundas: a necessidade de repouso do artista fatigado que tenta encontrar abrigo na vastidão não complexa para as muitas formas e caprichos da sua fantasia; uma inclinação, contrária ao seu trabalho e logo também mais apetecível, para o desmedido, para o incomensurável e eterno, para o nada. Repousar na perfeição é o desejo de todos os que procuram a excelência; e não será o nada uma forma de perfeição?»
in Thomas Mann, A Morte em Veneza


Imagem DAQUI

sábado, 8 de agosto de 2009

Biblioteca Joanina

Não sei se tudo o que é importante fica registado e guardado nos livros. Certo é que eu adoro bibliotecas. De um modo geral, gosto de todas, desde que na sua atmosfera se possa respirar algum amor pelos livros e pela leitura. Mas, há algumas que têm história e constituem autênticas relíquias. É o caso da Biblioteca Joanina, situada na Universidade de Coimbra.



Por lá estive, ao longo do meu pequeno passeio por terras de Portugal. Confesso que adorei. Difícil é descrever um maravilhoso contraste como este que experimentei: no exterior, há um edifício pesado, cuja porta esperamos e desejamos se abra, enquanto se respira o ar doce do verão, agitado nas folhas brilhantes das árvores; no interior, há a atmosfera de recolhimento da biblioteca, a par da sua ornamentação em talha dourada, com todos os seus belíssimos e riquíssimos detalhes. Cá fora, o límpido céu azul que nos oferece uma espécie de infinito; lá dentro, as lombadas antigas dos livros assinalam a dimensão de leituras inalcançáveis, por mais que sejamos incansáveis: e é um outro infinito que nos escapa... Fora, há uma luz clara e brilhante que tudo vivifica; dentro, o jogo misterioso de sombras, de luz e de cores. E a pesada porta - ora se abre, ora se fecha, fazendo a ligação entre dois mundos do mesmo mundo...



A minha impaciência era grande, enquanto aguardava pela visita. Mas, quando decidi fingir bater à porta (e que porta!), como que por magia, ela abriu-se! Finalmente!
A Biblioteca Joanina merece toda a atenção. Ela é, de facto, um lugar maravilhoso. Na informação disponibilizada durante a visita, pode ler-se o seguinte (detalhes interessantes para amantes de livros!):

«A Casa da Livraria, nome por que era conhecida a Biblioteca Joanina, recebeu os primeiros livros depois de 1750, sendo a construção do edifício datável entre os anos de 1717 e 1728. O edifício tem três andares e alberga cerca de 200.000 volumes, havendo no piso nobre cerca de 40.000 volumes. Estas colecções bibliográficas podem ser consultadas, bastando para isso fazer um pedido, justificando os motivos pelos quais se quer consultar, e o exemplar é levado para a Biblioteca Geral, por um funcionário, ficando aí à disposição do investigador. Estes cuidados prendem-se com o facto de estarmos perante livros antigos - estas colecções datam dos séculos XVI, XVII e XVIII - que na sua maioria representam o que de melhor havia na Europa culta do tempo.
Todos estes exemplares bibliográficos estão em boas condições porque o edifício é uma perfeita caixa-forte, proporcionando um ambiente perfeitamente estável, ao longo de todo o ano, seja Verão ou Inverno. Com efeito, a construção do edifício foi pensada para ser uma "casa de livros»", tendo a protegê-los paredes exteriores com 2 metros e 11 centímetros de espessura. A porta deste "cofre" é feita em madeira de teca, o que permite ter uma temperatura constante de 18º a 20º. Para ajudar a manter este ambiente estável, também os níveis de humidade relativa se mantêm nos 60%, factor que é mantido pelo facto de todo o interior da biblioteca estar revestido a madeira. Como é do conhecimento geral, os livros, além de terem como factor de degradação as diferenças de humidade e temperatura, têm também um outro "inimigo": os papirófagos (insectos que se alimentam de papel). Neste edifício não há qualquer problema com os insectos uma vez que as próprias estantes são feitas de madeira de carvalho, que, para além de ser extraordinariamente densa (dificultando a penetração destes bichinhos), exala também um odor que os repele. Os livros contam ainda com mais um aliado neste combate diário pela conservação; com efeito, no interior deste templo de livros, habita uma colónia de morcegos, que, durante a noite, se vai entretendo a comer os insectos que por aqui aparecem, mantendo, portanto, todos estes volumes livres do seu ataque. Naturalmente que a presença destes mamíferos requer um cuidado adicional para prevenir qualquer dano causado pelos dejectos nas madeiras preciosas das magníficas mesas: todos os dias, ao fechar da biblioteca, o funcionário cobre os "bufets" (mesas) com umas toalhas de couro, e de manhã limpa a biblioteca.»
(fonte: Universidade de Coimbra)

Não é possível tirar fotografias no interior da biblioteca. Interdito este que, naturalmente, respeitei. No final da visita (não guiada), conversei um pouco com o simpático senhor que estava à entrada. Então, ele argumentou que, além das fotos danificarem, a longo prazo, nunca fazem justiça ao lugar, pois não conseguem reproduzir o verdadeiro interior deste espaço. Para lá da imensa devoção que demonstrou ao falar da biblioteca, tenho que concordar com ele: é preciso ir lá; as fotos não captam a atmosfera intemporal e os efeitos de luz que ali se encontram. Mas não resisto a como que guardar aqui um exemplo aproximado do que vi.


(clicar na foto para aumentar)

Nota menos positiva: o preço do bilhete é elevado e, na bilheteira, ao meu lado, alguém escrevia no livro de reclamações, porque não tinha um folheto em português. Enfim, eu contentei-me com um em francês, e com uma fotocópia da informação na minha língua materna.





Mais informação sobre a Biblioteca Joanina AQUI

Visita virtual AQUI

Imagens: fotos de Ana Paula e Marta - também daqui

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Viagens Na Minha Terra

"Eu muitas vezes, nestas sufocadas noites de estio, viajo até à minha janela para ver uma nesguita de Tejo que está no fim da rua, e me enganar com uns verdes de árvores que ali vegetam sua laboriosa infância nos entulhos do Cais do Sodré. E nunca escrevi estas minhas viagens nem as suas impressões pois tinham muito que ver! Foi sempre ambiciosa a minha pena: pobre e soberba, quer assunto mais largo. Pois hei de dar-lho. Vou nada menos que a Santarém: e protesto que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se há de fazer crónica. (...)

Pois por isso mesmo vou: pronunciei-me."
in Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett

...que não vou só a Santarém, mas ainda mais além... (re)conhecer a minha terra. Em busca de algum descanso e também de um pouco de felicidade estival, durante uns dias.
Por cá, votos de boas férias para todos! Até já...




Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...