segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

estamos tristes?

estamos. o país está triste. as pessoas estão tristes. o céu está triste e o vento amainou. e nada sopra como soprava antigamente. aos nossos ouvidos chegam os sons das contas sempre negativas: menos temos tira mais tira tira tira falta falta... e o horizonte não deixa ver nenhum rasto do raio verde da nossa esperança num futuro melhor. a noite cai e deixa o seu murmúrio. um adeus. partir. largar. deixar. talvez amanhã ou depois. nada esperamos como antigamente. não. 
mas este país tem jovens e tem crianças. sim.

a Europa e o tempo - I

A situação da Europa, na realidade, nunca deixou de ser medonha. (...) Tem-no sido em todos os séculos, desde que os Árias aqui chegaram, cantando os Vedas e empurrando os seus rebanhos para oeste. A «crise» é a condição quase regular da Europa. E raro se tem apresentado o momento em que um homem, derramando os olhos em redor, não julgue ver a máquina a desconjuntar-se, e tudo perecendo, mesmo o que é imperecível - a virtude e o espírito. Já o velho cronista medieval murmurava com infinita desconsolação: - «Tudo se desconjunta, e mesmo entre os homens se vai embotando a ponta da sagacidade.» Já o mais velho poeta clássico, o comedido e satisfeito Horácio, cantara tristemente, quando sobre o Mundo começara a espalhar-se a imensa majestade da paz romana: - «Tudo se afunda, e, mais que nenhum outro, este tempo é fecundo em misérias.»
Naturalmente não se queixavam de deficits ou de crises industriais, mas daquilo que então mais preocupava os homens cultos - o enfraquecimento da virtude, da moral, da religião, do patriotismo, da segurança pública. (...)
Mas o que são no fundo estes lamentos? São apenas, num tom mais solene e amplo, aquele queixume familiar que cada ano redizemos, quando as folhas caem e os céus se recobrem de névoas: - «Aí vem o Inverno e a noite!»

Eça de Queiroz, A Europa in Notas Contemporâneas

[Tomara que o Eça tenha razão!]

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

círculo

As únicas variantes que me são concedidas, ao regressar ao círculo, são os diferentes momentos do regresso ao próprio círculo: que pode ser o primeiro dia da nossa história, o segundo, o último, ou uma noite qualquer. E assim sucessivamente, até ao infinito. E sempre da mesma maneira.
Antonio Tabucchi, Está a fazer-se cada vez mais tarde 




Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...