domingo, 29 de junho de 2008

The Show Must Go On!


Assisti ontem à transmissão do concerto em homenagem dos 90 anos de Nelson Mandela (uma bela idade, a completar no próximo dia 18 de Julho). Passou na RTP1 e gostei bastante de alguns dos momentos musicais que por lá aconteceram...

O meu destaque vai para a exibição dos Queen, esse grande grupo da história do rock. É realmente fantástico observar a capacidade que continuam a ter de contagiar o público com a sua ainda tremenda energia, vitalidade e alegria! Ouvir alguns dos seus grandes êxitos continua a ser um enorme prazer. De assinalar a participação do actual vocalista do grupo, Paul Rodgers. Consegue dar continuidade ao projecto com grande nível. Uma certa tristeza por quem não está... fica, claro que fica... Uma grande nostalgia também... Mas, acima de tudo, e embora não a tenham tocado, veio-me logo à ideia uma das minhas músicas preferidas dos Queen: "The Show Must Go On" !



É isso, tal e qual. É preciso continuar. Foi sempre essa a vontade de Freddy Mercury. Também deverá ser a nossa, mesmo com a perda que representou o seu desaparecimento.

Parabéns ao grupo por manter vivo o projecto! Parabéns a Paul Rodgers, pelo digno contributo para a continuidade do mesmo!
"Go On!"

E, desde já, parabéns a Nelson Mandela!


quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ser ou não ser



O dilema de Hamlet, na minha livre interpretação, continua a perpassar os instantes da existência, até mesmo ao nível das situações mais elementares.

O dilema do ser apenas se resolve temporariamente num longo sono recuperador de não ser. Até que o acordar exija o retomar da longa cadeia de decisões e tomadas de posição inerentes ao ser. Porque é isso a vida que não se quer perder... depois do mergulho no inconsciente que é imprescindível ao ente.

Ser ou não ser, eis a questão.
Ser. Depois dos intervalos (...)

«Ser ou não ser, eis a questão:
Se é mais nobre no espírito sofrer
As fundas e flechas da fortuna ultrajante,
Ou brandir armas contra um mar de agravos,
E, opondo-os, fazê-los cessar. Morrer -
dormir,
Mais nada; e num sono dizer que cessou
O torno no peito e os mil choques naturais (...)»

Shakespeare, Hamlet



Imagem: "O sono da razão produz monstros", Goya


domingo, 22 de junho de 2008

Trabalho


Em pleno solstício de verão o que não falta é trabalho. Às voltas com ele... sem lhe vislumbrar o fim... só dá ânimo a perspectiva deste summertime que se inicia...

Se eu soubesse de artes marciais, tudo seria mais fácil. Resta-me a inspiração.


A imagem é daqui


domingo, 15 de junho de 2008

Aritmética Emocional



"Se me perguntarem se acredito em Deus, sou forçado a responder: Deus acredita em mim?"

Este é um filme com assinaláveis qualidades e algumas limitações. Adapta o romance de Matt Cohen com o mesmo título e a realização é de Paolo Barzman. Suspeito que o livro será melhor do que o filme, como muitas vezes sucede. Mas esta exposição da narrativa, segundo linguagem cinematográfica, poderá ter um impacto mais imediatamente dilacerante face ao problema que aborda.
Assim que surgiu a primeira imagem no écran, senti um toque de Bergman. Um leve toque apenas... Mas que me deliciou. Um desenrolar centrado em diálogos foi mais um elemento de uma certa atmosfera que não pude deixar de reter.

Numa primeira análise, aquela que nos é dada a conhecer mediante a sinopse, o tema é o do Holocausto. E suas consequências. A partir das consequências, estamos mais próximos da verdadeira questão. Mas não exactamente ainda com ela.

A problemática que este filme trata é actual e, provavelmente, para muito boa gente, tem carácter de urgente: Até que ponto é legítimo esquecer o passado, particularmente, esquecer um certo passado? Deitá-lo para trás das costas? E seguir em frente...?

Esta questão desdobra-se em inúmeras outras, igualmente provocadoras: O sofrimento humano deverá ser glorificado, considerado sagrado, fonte de continuado sentimento de culpa? Culpa não só dos que cometeram e cometem crimes contra a humanidade, mas culpa também, sobretudo, daqueles cujo destino não foi sofrer de igual modo? Os que tiveram sorte, e não foram vítimas, terão direito a viver ignorando as atrocidades infligidas a outros? Por outro lado, terão que viver carregando sempre o peso do horror que as vítimas inevitavelmente transportam consigo?

O direito ao esquecimento (le droit a l'oubli) é a problemática que esta história encerra. Aquela que tem estado no centro de um aceso debate no nosso mundo dito civilizado, especialmente na Europa e, nomeadamente, em França. Uma ideia que parece ter nascido a partir da informatização da sociedade. Com repercussões a vários níveis...



Este suposto e polémico direito ao esquecimento está, portanto, no centro do filme, para lá das emoções e sua aritmética. A dada altura, torna-se óbvio que o objectivo é rejeitar este direito a esquecer o sofrimento e o horror das vítimas do Holocausto. Será preciso manter vivo na memória o passado para as futuras gerações. É preciso fazer História e transmiti-la. Apesar desse claro posicionamento, o filme alerta para o preço a pagar que a memória (e esta memória, em especial) implica: a dificuldade de conviver com o passado, e com a responsabilidade que toda a condição humana tem que assumir por tal crime, entre tantos outros que haveria a assinalar.



É possível viver sem tantas sombras e tantos fantasmas? Ou os fantasmas terão que (re)viver connosco? É possível ser feliz, mesmo com eles? Encontrar a felicidade numa aritmética das emoções, parece ser a via a seguir... Ou seja, racionalizar o que sentimos sem ignorar a força e a densidade dramática das nossas emoções; vivê-las sem deixar que nos destruam... comunicar para exorcizar... acima de tudo, sentir inteiramente mas não destrutivamente. Talvez essa a razão pela qual o filme nos apresenta um olhar ora distanciado, ora aproximado.

Um grande elenco com excelentes interpretações. Uma realização com alguns entraves e obstáculos significativos, mas de que gostei. Interessante e, por vezes, belíssima fotografia.
Fica a sensação de que as emoções em causa tinham mais para dizer no filme...
O magnífico Max Von Sydow a marcar a presença da memória no cinema e a compor uma memória humana a reter.
A ver!

Mais informação sobre o filme e o realizador aqui

Mais informação sobre memória e esquecimento aqui



quinta-feira, 12 de junho de 2008

Um certo estilo

«O estilo é uma questão não de técnica mas de visão.»
Proust


Não é de agora, não. É algo antigo e imemorial. Agora, tem só novos contornos.

Olho à minha volta e vejo, disseminado, um certo estilo. O estilo bem. Culto mas viperino. Porque quem não tenha um toque de malvadez julga que fica insonso. E, tal como no cravo bem temperado (perdoe-me Bach a comparação), crê necessário afinar o seu discurso, temperando com esse raffinement (à la Marquis de Sade quiça... ) todas as suas opiniões, críticas e intervenções. Julga que fica bem. Acredita que assim revela grande bagagem cultural e ... mais importante que tudo... julga-se diferente por isso.

Críticas contundentes, acho bem, desde que assumidas. Gente informada, aprecio. Gente culta, admiro. Gente de faz de conta que... tenho pouca paciência e dá-me tédio. Mas sou pela liberdade de expressão.

E aqui... exactamente neste ponto, é de recuperar o blablabla da liberdade. Ou seja, ela não existe sem responsabilidade. Chegados a este ponto, muitos recuam. Quem quer responsabilidades?! O ideal é encontrar um espaço onde seja possível dizer tudo e não assumir nada. Fazer a catharse na incógnita. O que é legítimo. Pena que tantas vezes descambe para o pedantismo...

Interessante também e de destacar é o facto de serem muitos daqueles que tiveram oportunidade de aprender mais e que trazem na sua tal bagagem um sem número de conhecimentos, um savoir faire de quem costuma mover-se em determinados ambientes...; esses a quem se deverá atribuir uma maior responsabilização...; tantos deles são os tais com um certo estilo...

Afinal, o que é a ignorância?!

O que eu faço relativamente a pessoas com tanto estilo é ignorá-las e não me misturar com elas. Porque eu não estou à altura. Sou mais simplezinha. Respeito-as e deixo-as no seu espaço próprio. A que têm direito, pois claro.

Pessoalmente, gostaria de ver um pouco mais de interesse efectivo acerca das questões e pseudo-questões. Mas quando A Questão é usada e abusada, quando ela serve de mera catapulta lá para a frente e para abrilhantar afirmaçõezinhas pessoais... aí... que posso dizer? Desagrada-me. Acho que é tudo quanto a isso. Desagrada-me.

Agora, atenção: isto é só uma opinião. Gratuita, livre e pouco elaborada. Mas responsável. Que nasceu do simples desagrado face a muito do que se vê por aí... E o é muito vasto...

A imagem é daqui


terça-feira, 10 de junho de 2008

Mix total


Isto agora é assim! Muita mix com muita tecnologia!
Transportada ao mundo ensurdecedor do groove, do house, etc... oiço excertos quase irreconhecíveis de música daqui e dali... misturados e combinados com sobreposições improváveis ou enquanto sons que se perdem ainda sussurrantes, lá ao fundo neste universo quase irreal.

Como fui aqui parar?! Seguindo os passos de um grupo de alunos, em jeito de festa de despedida, a fechar o ano lectivo prestes a terminar, incitam-me a que os acompanhe e partilhe da sua alegria e juventude com muita música, muita gente e muita confusão. A verdade é que aprendo imenso com eles, nestas incursões algo estranhas para o meu mundo e respectivas coordenadas, as que me orientam e "arrumam" todas as coisas no seu lugar certo.
Não deixo de me surpreender e até de me sentir algo alien no meu próprio espaço...

O cansaço só compensa pela aprendizagem. Sim, porque o universo mix e (re)mix exige uma dose elevada de energia suplementar, mesmo permanecendo nele como visita e por pouco tempo!



Qual o evento? A vinda de Bob Sinclar (até agora, desconhecido para mim) a Carcavelos numa festa gigante, multidão compactada ao longo da praia numa larga faixa de areia totalmente oculta. E o mar calmo de uma noite quente, sem vento, lá ao fundo mostrando uma ou outra luzinha a piscar, totalmente alheio a este fantástico ritual musical.

Quanto a Bob Sinclar (pseudónimo), a única informação que pude obter foi: é um DJ excelente! Mais nada! Informação obtida posteriormente põe-me a par: trata-se de um francês cujo nome verdadeiro é Christophe Le Friant.

Esta festa, verdadeiro fenómeno de massas e digno de profunda reflexão, espelho do mundo actual e do conceito de lúdico de grande parte das gerações mais recentes... bom, esta espécie de discoteca ao luar - em espaço amplo, livre e aberto - está inserida no âmbito do «Ano Europeu do Diálogo Intercultural: Juntos na Diversidade» e organizado pela Câmara de Cascais.

O diálogo intercultural é uma ideia e uma prática que apoio empenhadamente. Um espectáculo deste tipo, no entanto, coloca-me certas dúvidas. Mas suponho que possa dever-se a um algum desfasamento cronológico. Se é certo que vivo neste tempo, trago um passado comigo que não foi vivido por estes jovens. E o princípio tecnológico se me atrai, também me choca. Apesar disso, sempre curiosa em relação ao futuro...

O poder que amplifica o som faz parte da nossa civilização tecnológica. A dimensão dos acontecimentos é, agora, impressionante. Queiramos ou não, o rumo do futuro está traçado a uma outra escala. Na qual o ser individual de cada um corre o risco de ficar submerso, à semelhança do perfeito anonimato e da quase total indiferenciação do existir entre a multidão.

Este é um olhar, o meu, à escala (menor) do meu mundo. Para utilizar a expressão de João Barrento.


quarta-feira, 4 de junho de 2008

Em tom de escatologia



Ler é uma constante da vida de muitos. Da minha também. Pegar num livro é um momento importante. Um instante de escolha e de decisão. Misturar leituras também gosto. Mas há sempre o livro principal, aquele ao qual determino dar prioridade. As razões são pessoais, é claro.

Em busca de uma leitura com algum poder de distracção, mas que não caísse numa entediante superficialidade, fui conduzida ultimamente a uma publicação da Paralelo 40º, cujo título é algo nauseabundo e que numa primeira abordagem pode repugnar quer como ideia, quer como leitura: "O Grande Fedor" ou "The Great Stink". A autora é Clare Clark, formada em História (Cambridge) e a viver em Londres.

Uma certa estratégia de marketing indica que se trata de um Perfume do avesso. O de Patrick Süskind. Mas não creio que possua a mesma qualidade literária. Nem que seja exactamente uma história invertida da outra. Tem, no entanto, algumas características assinaláveis e de reter.
Por outro lado, se os aromas agradáveis merecem ser tematizados, porque serão de ignorar os desagradáveis?! Eles existem. E se não são desejados, é preciso eliminá-los.

Pois é esse mesmo o aspecto que encontrei de grande interesse neste livro. A partir de uma pesquisa histórica que se apresenta séria e rigorosa, a autora transporta-nos até uma época e um lugar onde as pessoas conviviam de modo escandalosamente íntimo com um ambiente conspurcado pelos piores cheiros imagináveis, provenientes do precário e ineficaz sistema de esgotos da cidade de Londres, centro urbano em acelerado crescimento durante o século XIX. Até que o Tamisa começa a ficar atolado de todo o tipo de porcarias. O ar é irrespirável. As águas de consumo doméstico são contaminadas e é também o próprio ar que propaga a terrível ameaça da cólera. As pessoas morrem umas atrás das outras devido a esta implacável epidemia.... A situação é insustentável e é preciso tomar medidas urgentes e eficazes para salvaguardar a cidade e a saúde pública.



É nesta atmosfera do submundo de uma Londres vitoriana que tudo acontece, nesse ar que se respira ao longo de um labirinto de esgotos decadentes e cheios de armadilhas. Tudo o que é importante nesta narrativa é aí que se passa, incluindo um crime que dá a este romance histórico um toque de policial.
Ocorre-nos Dickens e as suas descrições daqueles tempos e daqueles lugares. Os ambientes evocados transportam-nos para realidades chocantes: sobreviventes da guerra da Crimeia cuja vivência traumática resulta numa destruição do próprio corpo, através de rituais solitários praticados algures nos túneis da cidade, dominados pelas trevas e pelos odores mais repulsivos; espectáculos de lutas de cães com ratos caçados nos esgotos por antigos respigadores reconvertidos então para um novo negócio, realizados à porta fechada em tabernas e lugares infectos, onde os apetites mais sanguinários dão lucro aos seus proprietários e, por vezes, a clientes entorpecidos pelo álcool que arriscam uma aposta.

Mas a maior virtude deste romance é a de trazer até aos leitores a história de um dos mais notáveis empreendimentos de engenharia de todos os tempos: a construção do moderno sistema de esgotos da cidade de Londres. O engenheiro responsável foi Joseph Bazalgette.



Tomar conhecimento desta obra grandiosa, dos custos de todos os tipos nela envolvidos, dos resultados que com empreendimentos desta natureza se podem obter para a nossa civilização e para a vida nas grandes cidades; tudo isto não deixou de me causar admiração por todos aqueles que têm a visão dos projectos que constroem o futuro. No qual, muitas vezes, já não estarão presentes. É vital ter ideias para longos prazos, desenvolvê-las e implementá-las. É destas mentes cujo horizonte é longínquo algures no tempo, é dessa matéria construtiva e empreendedora que todo o progresso se faz... As grandes obras de engenharia são importantes, pois é delas que resultam (quando bem pensadas e concretizadas) as infra-estruturas necessárias para que a nossa vida decorra no bem-estar a que todos temos direito.

É todo este tipo de trabalho de bastidores da vida social, aquele que acontece e está por trás dos actos mais elementares do quotidiano; é ele que me poderá permitir estar tranquilamente sentada num sofá a ler "O Grande Fedor" ou um belo livro de poesia.

É verdade que nem tudo é perfeito, mas também é certo que há obras admiráveis!


terça-feira, 3 de junho de 2008

O desafio do Eu



A Saxe fez-me um óptimo desafio que muito agradeço. Levou-me a pensar no que poderá melhor definir-me. É sempre bom fazer um esforço e ficar "de fora" a ver o nosso eu... Seis palavras e seis imagens, essa a regra. Mas, hoje, não consegui senão rever-me nesta construção visual de Mondrian.

Quanto às palavras, sempre difíceis de aplicar... seja, serão seis... numa:
h u m a n a (com defeitos e qualidades).
Só consigo rever-me, citando Terêncio, naquela sua afirmação:
"... nada do que é humano me é alheio."

Obrigada Saxe!


Passo a mesma ideia a todos os que queiram pensá-la...

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...