quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2010 com Mack The Knife

Um Excelente 2010!

(com muita alegria!)








[Acho que só vou reflectir a partir de dia 2 ou 3, mais coisa, menos coisa. Até lá, fico com esta magnífica diva e esta música intemporal. Afinal, um Ano Novo chega sempre melhor quando chega assim: com a soberba Ella e muito jazzy :) ]


(Mack The Knife ou The Ballad of Mack The Knife, originalmente Die Moritat von Mackie Messer, é uma música composta por Kurt Weill, com letra de Bertolt Brecht)


terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Dez livros que não mudaram a minha vida

(sabe-se lá por quê!)


Do Machina Speculatrix recebi o convite para dar resposta a este desafio - um verdadeiro desafio! Assim, passo a indicar os dez livros em questão (e posso acrescentar que me diverti a pensá-los):

- Apologia de Aristóteles, de Platão

- Ao Encontro de Damásio, de Spinoza

- A República, de Sócrates

- Meditações Husserlianas, de Descartes

- Em Busca do Tempo de Proust, de Henry James

- Afinidades Não Electivas, de Zola

- O Dourado e o Verde, de Stendhal

- A Trilogia de Lisboa, de Paul Auster

- Crítica da Razão Impura, de David Hume

- Anti-Freud, de Santo Agostinho


A proposta original do desafio pode ser lida e consultada AQUI. Agradeço ao Porfírio Silva este interessante repto. Há também dez blogues que devo indicar para resposta ao mesmo, caso desejem fazê-lo:













Boas leituras!




Imagem: The Yellow Silk Dress, de Robert Hope (1869-1936)


segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

De olhos postos no Irão - I



«(...) foi a "persianização" do Islão que salvou a herança dos grandes escritores clássicos. Após a pilhagem de Roma e da destruição da Biblioteca de Alexandria, a tradição do conhecimento clássico e dos trabalhos de Aristóteles, de Ptolomeu e de muitos outros, foram levados para o Ocidente, parcialmente preservados por monges que viviam em remotas comunidades celtas. No entanto, foi também acarinhada nas bibliotecas da Pérsia sassânida - até à chegada do Islão. Os invasores árabes viram estas bibliotecas como idólatras. (...) De uma só vez, todas as bibliotecas foram pilhadas e o seu precioso conteúdo queimado - todas as bibliotecas, isto é, excepto uma. Na longínqua região de Fars, em Jundi-Shapur, uma única biblioteca, por sinal bem recheada, sobreviveu à purga. Mais tarde, um califa de mente mais aberta ordenou que todos os livros de Jundi-Shapur fossem traduzidos para árabe e guardados em Bagdade para criar a base da famosa Bait al-Hikma, A Casa da Sabedoria. Foi a partir daí que os livros, a pouco e pouco, viajaram para ocidente e serviram para inspirar o Renascimento. Se não fosse a Biblioteca de Jundi-Shapur, pouco saberíamos sobre as grandes obras da antiguidade clássica - e o Renascimento não teria existido.
»
in O Irão, John Farndon










Que Irão em 2010? Que mundo para o Novo Ano?



Imagem: fotografia de Shirin Neshat



segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Amor à fatia - I

A época natalícia está à porta. Por sinal, os dias são bem pequenos, o friozinho de Inverno já vem saudar-nos - brrrrrr..., há luzes douradas e coloridas a piscar por aqui e por ali... Mas, não há consumos nem artificialismos que possam fazer um Natal. O espírito da época, a existir, só pode ser o espírito do amor. E como fica bonito dizer isto, quando eu sou avessa a coisas demasiado bonitinhas. Mas o amor, aquele que subsiste às devastadoras intempéries do mundo, afinal, existe? Pode esse eterno tema e desejo de... confortar as nossas esperanças? Uma coisa é certa, não é só viver o amor que pode ser excelente. Reflectir sobre ele pode revelar aquela pequena faísca de quase-divino que há nos seres humanos (será?). Já que o dito e célebre amor costuma encontrar-se misturado com uma série de pseudo-arquétipos amorosos, a depuração quer-se necessária.
Deve ser por tudo isto, e não só, que os filósofos não podem fugir do amor. Desde Platão, com o seu Banquete, por exemplo, que ele constitui uma das mais perenes questões filosóficas. Em rigor, viver o amor não implica deixar de o pensar, como costumam defender alguns. Talvez pensando-o um pouco mais, ele possa ser efectivamente impulso de uma plenitude e de um progresso realmente vívidos e vividos. Digo-o eu, enfim, com os meus idealismos da maturidade.
Devo confessar que os anjinhos da minha infância continuam a acompanhar-me... e até a proteger-me. Mas, agora, esses anjos são tão humanos como eu. Um deles consegue realizar a insólita façanha de estar sempre a sorrir-me. Quando o olho de frente, dá-se como que uma espécie de encantamento. Tem a forma algo vaga e indefinida de uma deusa de outros tempos. Se os anjos têm sexo ou não, fica para outra vez. Sei claramente e vejo-o, esse anjo só pode ser a minha amada filosofia (estranhamente, ou não, reveste-se quase sempre da forma masculina dos grandes filósofos, embora não seja caso para esquecer que por trás de um Sócrates, ou de um Platão, estava uma fantástica Diotima!).
Desejo que neste Natal, apesar dos males deste nosso mundo, os vossos anjos vos sorriam!


Filosofia do Amor - tópicos

«O desejo, ou ainda mais o amor, é a possibilidade dada ao homem de entrar em posse do seu bem.
Este amor transforma-se em medo (metus): "As pessoas não têm dúvidas de que o medo tem apenas por objecto a perda do que amamos, se o obtivemos, ou a sua não-obtenção, se o esperamos obter." Do querer possuir e do querer manter o desejo nasce o medo da perda. No instante em que é possuído, o desejo transforma-se em medo. Assim como o desejo deseja o bem, o medo receia o mal. O mal, que afasta o medo, ameaça a vida feliz que consiste em possuir o bem. (...)
Se é verdade que todo o homem particular vive isolado, ele tenta no entanto ultrapassar sempre este isolamento através do amor; (...). Mas porque é que o mundo pode ser um deserto para o homem que procura? Como e por que o homem pode viver no questionamento que é a sua procura, sem nada exigir ao mundo? (...)
Como vemos, o que é preciso amar é, tanto depois como antes, a ausência de medo, assimilada à auto-suficiência; o que é verdadeiro não é o que não tem necessidade. A atitude concreta que daí deriva é a ausência de medo. O que especifica o ser humano é precisamente o medo que procede da dependência. A libido não é má porque o de fora é mau, mas sim porque é dependência daquilo que por princípio não está no seu poder; é má, isto é, não livre. Isto não contradiz, no entanto, o que foi dito acima: o desejo é determinado pelo seu objecto, que se transforma, segundo os casos, em cobiça ou caridade. (...) Não é pelo facto de ser amado que o mundo é mau e que o desejo se transforma a si mesmo em cobiça, porque orienta-se para o de fora; é este, o de fora enquanto de fora, que o torna escravo. A liberdade é ser livre do medo e reside na autonomia. Veremos mais tarde que a caridade é livre precisamente porque não tem medo (timorem foras mittit).»
in Hannah Arendt, O Conceito de Amor em Santo Agostinho



Imagem: pesquisa do Google

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Playtime


Tudo tem o seu tempo e as suas formalidades. Entretanto, enquanto se espera, é possível inquirir e avaliar pequenos detalhes da realidade, aparentemente sem importância: a ergonomia das cadeiras, a consistência dos seus materiais, ou mesmo a segurança do chão que vamos pisando... Assim o entendeu Monsieur Hulot. De facto, há preocupações indubitavelmente preferíveis à observação de uma série de hipocrisias do mundo.

Playtime de Jacques Tati (1967)







domingo, 6 de dezembro de 2009

Porquê katharsis? - 1

«A katharsis é uma purificação da alma, efectuada, dizem-nos {os pitagóricos} (Iâmblico, Vita Pyth. 110), através da mousike {música, a arte das Musas}, i.e., tornando-a harmoniosa; na verdade, isto é filosofia (ibid. 137).»
in Termos filosóficos Gregos - Um léxico histórico, F. E. Peters, Fundação Calouste Gulbenkian



Rameau - Rondeau des Indes Galantes - "Air des Sauvages"


Forêts paisibles,
Jamais un vain désir ne trouble ici nos coeurs.
S'ils sont sensibles,
Fortune, ce n'est pas au prix de tes faveurs.

Choeur des sauvages

Forêts paisibles,
Jamais un vain désir ne trouble ici nos coeurs.
S'ils sont sensibles,
Fortune, ce n'est pas au prix de tes faveurs.

Zima, Adario

Dans nos retraites,
Grandeur, ne viens jamais
offrir de tes faux attraits!
Ciel, tu les as faites
pour l'innocence et pour la paix.

Jouissons dans nos asiles,
Jouissons des biens tranquilles!
Ah! Peut-on être heureux,
Quand on forme d'autres voeux?


----------//------------


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Do Desassossego - I


Rua Pascoal de Melo, 119, 3º, Dto.
Lisboa, 3 de Maio de 1914

Meu caro João:


Releve-me o ser tão pouco estético o papel em que lhe escrevo. Mas é o que tenho à mão e eu sinto absoluta a necessidade de lhe escrever.
Neste dia de sol, claro e simples, assaltou-me um tédio de tal maneira profundo que não o posso exprimir senão expondo-lhe que sinto uma mão a estrangular-me a alma.
Li hoje, pela não-sei-que-éssima vez, parte do seu livro e fez-me bem, como sempre me faz, por tão bem me falar do seu mal.
Escuso de empregar o vulgar «não imagina» para lhe descrever o abismo de torpor de todo o Eu em que estou caído; sei de sobra que v. imagina isso muito bem, para mal da sua felicidade.
Estou num destes momentos em que tudo perde o sabor a vida que tem e em que adoece dentro de nós o nosso modo de sentir as coisas; repare que eu digo que adoece, não as sensações, mas o modo como elas são sensações.
Estou talvez fatigando-o com isto. Desculpe-me que o faça. Sou impelido a fazê-lo. 
A propósito de tédios, lembra-me perguntar-lhe uma coisa... Viu, num número do ano passado, de A Águia, um trecho meu chamado Na floresta do alheamento? Se não viu, diga-me. Mandar-lho-ei. Tenho imenso interesse em que v. conheça esse trecho. É o único trecho meu publicado em que eu faço do tédio, e do sonho estéril e cansado de si-próprio mesmo ao ir começar a sonhar-se, um motivo e o assunto. Não sei se lhe agradará o estilo em que o trecho está escrito: é um estilo especialmente meu, e a que aqui vários rapazes amigos, brincando, chamam «o estilo alheio», por ser naquele trecho que aparece. E referem-se a «falar em alheio», «escrever em alheio», etc.
Aquele trecho pertence a um livro meu, de que há outros trechos escritos mas inéditos, mas de que falta ainda muito para acabar; esse livro chama-se Livro do Desassossego, por causa da inquietação e incerteza que é a sua nota predominante. No trecho publicado isso nota-se. O que é em aparência um mero sonho, ou entressonho, narrado, é - sente-se logo que se lê, e deve, se realizei bem, sentir-se através de toda a leitura - uma confissão sonhada da inutilidade e dolorosa fúria estéril de sonhar.
Tenho-lhe falado de mim demasiadamente. Queria ter agora, neste momento, ao mesmo tempo em que as estou desejando, extensas novas suas. O que v. tem feito? Tem escrito? E tem escrito versos?

Espero para breve notícias suas. Se me pudesse escrever, não um postal, mas uma carta...!
Como vê pelo en-tête desta carta, mudei de residência. Mudei há três dias apenas.
É para aqui que me deve escrever agora.
Adeus. Um grande e fraterno abraço do

Muito e sempre seu
Fernando Pessoa


14 de Maio.


Escrita a 3 de Maio, esta carta vai para o correio a 14. Como v. vê continua aquela minha característica de atrasar mesmo aquilo que parece impossível que se atrase.
Enfim...


[A João Lebre e Lima]


Imagem: pesquisa do Google

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...