sexta-feira, 29 de abril de 2011

Pistas, cálculos e riscos

Apetece-me recordar os argumentos típicos dos policiais, segundo os quais, há um crescente suspense na procura do criminoso, mas as pistas conduzem todas (ou quase todas) a um determinado suspeito. Entrando no universo destes enredos, rapidamente começamos a identificar neles a repetição da mesma fórmula, usada para construir a história. Faz parte dela, é sabido, desenvolver tudo... levando-nos a concluir que, afinal, o verdadeiro criminoso não era o primeiro suspeito, mas sim um outro (ou outra, claro) que até parecia super-inocente, mas que, mais tarde, pode até revelar-se um temível serial killer. Este é um enredo-padrão das histórias policiais - claro, pode florear-se, mais ou menos, com algumas variantes ficcionais ao nosso dispor. No caso de uma trama substancialmente mais complexa, trocam-se as voltas ao raciocínio, levando-nos a concluir que, afinal, o criminoso era realmente o suspeito que mais indícios apresentava para o ser, ou seja, aquele que realmente parecia sê-lo. Isto, depois de estarmos há já longo tempo convencidos da culpabilidade de um outro, no início altamente improvável. Mas, há outras variantes a estes enredos? Claro que sim. No entanto, se o argumento não estiver muito bem forjado, fica a sensação de ser demasiado rebuscado. Quer dizer: voltas e mais voltas, e que nos deixam desorientados entre artifícios completamente vazios. Conseguem-se, no entanto, peripécias bem arquitectadas, a conseguir surpreender pela positiva. Depois... há os casos geniais. A tudo isto deve acrescentar-se um importante ingrediente: os policiais andam sempre à volta do problema das provas e da sua autenticidade...
Ora, a questão é, e daí o vir aqui com tudo isto, frisar o quanto a realidade se assemelha à ficção, e também o inverso. O quanto, efectivamente, todas as nossas conjecturas se apoiam nesta ambiguidade entre o que parece ser e o que de facto é, entre o que é de facto e o que parece ser... Sem dúvida que este permanente caminhar em terreno pantanoso, imersos no universo das aparências, movendo-nos sobre as areias movediças das múltiplas e frequentemente equívocas representações sociais; sem dúvida, dizia, que esta espécie de limbo das muitas quase-certezas, misturadas com outras tantas quase-incógnitas, deve, deveria, creio eu, salvaguardar-nos sempre, ainda que num ínfimo recanto da nossa mente, a possibilidade do erro. E se isto não deve, nem pode, conduzir-nos à inacção, presos num mar de dúvidas, parece bastante provável que quando agimos o fazemos com base em factos, mas também, em larga medida, apoiando-nos em conjecturas. É por isso que todo o agir envolve riscos. Mais ou menos calculados, mas sempre riscos. No dia 5 de Junho, quem quiser, tem direito a arriscar mais uma vez. Sendo que já há pouco tempo para analisar factos e conjecturar possibilidades. Arriscar é mesmo assim: chegada a hora, impõe-se.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

a razão de um povo inteiro leva tempo a construir

«O 25 de Abril de 1974 representou para as mulheres portuguesas o acontecimento histórico mais marcante de todo o século XX, pelo reconhecimento de direitos fundamentais e por um aspecto essencial que só os períodos revolucionários permitem alcançar: a vivência quotidiana do exercício desses direitos que para as mulheres correspondeu a uma explosão de intervenção massiva até então inédita: da participação política à sindical, da gestão de escolas à de cooperativas, no acesso às novas profissões e carreiras...
As mulheres assumiram a palavra e agiram em liberdade.
Foram abolidas situações humilhantes a que durante décadas o fascismo sujeitou as mulheres. Registou-se uma radical alteração na sua situação de facto e no plano jurídico, transformação que lhes reconheceu direitos económicos, sociais, políticos, culturais e sobretudo o direito de participação em igualdade em todas as esferas da vida.
 (...)
Destacam-se pela sua importância a fixação do salário mínimo nacional (Maio/74); o aumento generalizado de salários; a garantia do emprego; a consagração de férias, subsídio de Férias e de Natal; diminuição das diferenças salariais; a abertura às mulheres de todos os cargos da carreira administrativa local (Junho/74), da carreira diplomática (Julho/74) e das carreiras da magistratura judicial, do ministério público e dos quadros de funcionários da justiça (Dezembro/74); abolição de todas as restrições baseadas no sexo quanto à capacidade eleitoral dos cidadãos (Novembro/74); alteração do artigo da Concordata, passando os casamentos católicos a poderem obter o divórcio civil (Abril/75); abolição do direito do marido abrir a correspondência da mulher (Junho/76); revogação das disposições penais que atenuavam as sanções aplicadas aos homens ou despenalizavam os crimes em virtude das vítimas desses delitos serem as suas mulheres ou filhas (Maio/75); o período de licença de maternidade passou para 90 dias (Fevereiro/76), 60 dos quais teriam de ser gozados após o parto e abrangendo todas as trabalhadoras. (...)»

D' Aqui (onde se pode ler, e relembrar, um tanto mais)

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Questões existenciais

Cindy Sherman, Untitled Film Still (1979)

Ontem, na TV, Clara Ferreira Alves alertou para a falta de ideologia na política actual, considerando esta situação como um perigo real quanto ao aparecimento de "salvadores da pátria" (se a expressão não foi então utilizada, é aqui adicionada por mim, porque a ideia era esta). O mesmo é dizer (digo eu) que estamos a aproximar-nos de um ponto em que uma visão totalitária ameaça e espreita o melhor momento para se implantar em terreno propício. Esta questão faria correr rios de tinta, mas interessa-me insistir sobretudo no perigo que este vazio representa. À medida que o mundo da alta finança mundial domina, o universo do poder político tende a perder sentido. E que mais pensar e adivinhar quando observamos o ritmo vertiginoso de utilização maciça, em todo o espectro político, de uma série de dispositivos de propaganda? Se é de reconhecer que não há poder sem propaganda, a questão é agora sobretudo uma nova questão: propaganda a quê?! Espero ainda, embora já impaciente, que me digam. Sim, porque não se espera que o voto seja na cor da gravata, ou no mero romantismo balofo de conseguir acabar com a fome dando uma esmolinha de vez em quando. Porque é que eu digo isto?, e porque é que o digo aqui? É simples: sou cidadã e voto; este é um dos meus lugares para dizer. Mas acredito: há mais quem possa dizê-lo, e fazê-lo, sem dúvida, muito melhor.

(...e até agradecia que me dissessem tudo muito devagarinho, como se eu fosse muito burra...)


Adenda - o post do RAA no Abencerragem pode (e deve) ler-se Aqui



quinta-feira, 14 de abril de 2011

Modena City Ramblers

Dizem que é "combat folk":



Western Union, qui chez Babylon
Got me money but really miss me home
Western Union, qui chez Babylon
Got me money but really miss me home
Giorni che passano, i say doberdan
Un sospiro rubato alla città
Giorni che passano, i say doberdan
Un sospiro lieve rubato alla città

 Positive thinking, nema problema
Festa e pomeriggio sopra una panchina
Si scaldano i racconti da un tè in compagnia
Una torta di papavero per volare via
Shpeit shpeit hayde, ritorniamo a casa
Uhda' e mbar, miredita a tutta la famiglia
Shpeti shpeit hayde, ritorniamo a casa
Giorni che passano, qui chez Babylon

Western Union come for me
Please take me home
Mia suerte es nada
Ma un giorno anch'io sarò regina

Il sole sorge, i say doberdan
La maison des fous is luna y soledad
Il sole sorge, i say doberdan
La maison des fous is luna y soledad
L'odore di straniero ti resta sulla mano
Occhi azzurri fuggono, sì... fuggono lontano
I say doberdan
Un sospiro rubato alla città
Occhi azzurri fuggono, fuggono lontano

Western Union come for me
Please take me home
Mia suerte es nada
Ma un giorno anch'io sarò regina
Western Union come for me
Please take me home
Mia suerte es nada
Ma un giorno anch'io sarò regina

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Falemos destas e de outras guerras (p'ra variar)

Imagem do filme House of Flying Daggers (2004), de Zang Yimou


«Pondera a situação e depois move-te.» 

Sun Tzu, A Arte da Guerra, VII.15



quarta-feira, 6 de abril de 2011

Falemos de amor (p'ra variar)



Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am home again
Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am whole again
Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am young again
Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am fun again

However far away I will always love you
However long I stay I will always love you
Whatever words I say I will always love you
I will always love you

Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am free again
Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am clean again

However far away I will always love you
However long I stay I will always love you
Whatever words I say I will always love you
I will always love you



sábado, 2 de abril de 2011

O poder e a glória

Em tempo de repensar o poder em democracia, Giorgio Agamben fala das modernas formas de o instituir, do papel determinante da opinião pública na sua criação e da função que ela tem na sua glorificação; da questão fulcral, hoje, do controle dos media para o condicionamento da opinião pública, mas também do como e do quanto eles alimentam a glória do poder.  
A interessante tese de Agamben é a de que a sociedade moderna dá continuidade às formas de glorificação  de diversos líderes do passado, fazendo-o agora ainda com maior intensidade e proliferação. Conclui, assinalando um possível esvaziamento da actividade de governação, na mesma medida em que se intensificam esses processos de glorificação. 
Não espantará, portanto, verificar que as opiniões circulantes nos meios de comunicação social possam cumprir uma singular metamorfose da opinião pública, ao mesmo tempo que a divulgam. O que é, sem dúvida, bastante interessante de analisar, mas nem por isso totalmente compreensível, no que se refere à sua consistência com a realidade. De facto, isso acontece porque os meios de comunicação social não se limitam a transmitir-nos a realidade. Antes de mais, o que fazem é criá-la.

Radical, profundo e polémico, mas, seguramente, incontornável. Fica a sugestão: acompanhar o fio do brilhante raciocínio, a partir dos restantes vídeos.

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...