quinta-feira, 26 de março de 2009

Formas de dizer...


Nem tempo tenho tido para "regar as minhas flores"...



Por outro lado, tenho tido imenso tempo para apontar, riscar e sublinhar...
ainda que não propriamente com esta mesma criatividade:



...à espera de tempo para descansar e para vos visitar. À espera de viver a Primavera!



Imagem: pesquisa do Google


sábado, 21 de março de 2009

Vanitas



-Auto-Retrato com Símbolos de Vanitas de David Bailly-



Deparei-me com este enigmático auto-retrato, quando lia o capítulo final de um livro sobre a memória. Fez-me pensar, mas também me transmitiu uma certa serenidade. Na verdade, acho-o interessantíssimo. E explico o motivo (o meu):

A necessidade de cumprir prazos... nunca deixa de me provocar ansiedade. Na verdade, tudo depende de prazos, ou seja, de limitações temporais. Se a vida decorre (e assim segue...) marcada pelo ritmo de prazos, tudo acontece de forma bem mais organizada. Sem prazos, cumprir-se-iam as tarefas, os trabalhos, as obrigações, até as devoções?!

O que realmente me ocorre, pela contemplação do auto-retrato de Bailly, é que a própria vida é um prazo. Disso se segue que deverá existir algo para cumprir dentro dele. Em última análise, esse algo que suponho pode ser um absoluto nada. Mas há um prazo. E é inevitável olhar para trás e recordar o que dele já decorreu, ou se gastou. Também parece difícil evitar fazer a projecção do que ainda se dispõe do prazo, para melhor o aproveitar.

Parece dizer-nos Bailly (em silêncio): "O prazo (a vida) decorre repleto(a) de vanitas. No entanto, não podemos prescindir disso." Cada detalhe da pintura parece mostrar o carácter absolutamente efémero da vida, incluindo o confronto entre o retrato do Bailly jovem e o do Bailly já grisalho.

E o quadro? Porque o pintou? É ele uma superação deste modo de ser transitório da vida? Afinal de contas, o pintor já cá não está. Eu estou. E, por enquanto (tal como eu), o quadro também está.

Se a reflexão com base na consciência da vacuidade da vida me parece importante, e até produtiva, não sou totalmente pessimista. Talvez seja a arte a "alimentar" o meu relativo optimismo. Pois, é verdade: este ano, os Dias da Música no CCB vão homenagear Bach. Não sei se por isso, certo é ter-me parecido que o David Bailly ficava muitíssimo bem na companhia deste violino.




Imagem e mais sobre vanitas AQUI

terça-feira, 17 de março de 2009

O fascínio de Leonardo da Vinci


Não é tão labiríntico quanto O Código da Vinci. Em contrapartida, parece-me bastante mais credível.





«Levado pela minha desejosa vontade, vagueio para ver a grande cópia das várias e estranhas formas feitas pela natureza artificiosa, retorcendo-me ainda mais por entre os sombreados escolhos, cheguei à entrada de uma grande caverna, ante a qual, fiquei assaz estupefacto e ignorante de tal coisa, os meus rins dobrados em arco, e posada a mão cansada sobre o joelho, e com a direita fiz sombra às pestanas baixas e fechadas; e continuamente dobrando-me aqui e ali para ver se dentro se discernisse alguma coisa; e isto vetando-me a grande obscuridade que lá dentro havia.»
in Código Arundel, Leonardo da Vinci



sexta-feira, 13 de março de 2009

Que estranho...


Pensando numa série de coisas, desde ontem que uma certa interrogação se impõe de modo recorrente ao meu pensamento. Por isso, tudo o que venha a dizer, só pode estar aqui, depois de dizer isto. Não é nada do "outro mundo", evidentemente. Aliás, devo ser uma das pessoas mais cépticas acerca de certo tipo de especulações. A minha mente racional e carregada de exigências de rigor nas provas, levanta sempre muitos obstáculos a questões/respostas no domínio do "desconhecido". Embora seja muito curiosa acerca de ...

Mas deparo-me com uma extraordinária coincidência. Daquelas que parecem estranhíssimas e muito improváveis. Uma noite, falava eu a um grupo de alunos (adultos), relembrando o caso de uma aluna (adulta) do ano anterior. Alguém que pude acompanhar de uma forma muito gratificante: alguém que queria introduzir uma grande mudança na sua vida, dando-lhe uma reviravolta, introduzindo novas metas, etc. Um caso admirável de desenvolvimento pessoal que se traduziu no prosseguimento dos seus estudos numa área totalmente diferente da sua actual área profissional. E citei eu, portanto, este caso, como exemplo a ter em conta no que toca a acreditar que podemos ir sempre mais além... se quisermos. Cheguei mesmo a afirmar que gostaria muito que ela estivesse ali para lhes falar ela própria de tudo isso... sabendo do entusiasmo que colocava nas suas palavras, quando falava dessa sua tão importante motivação para evoluir e conquistar o que parecia inacessível. E, assim, resumo em muito este caso. Mas fica o essencial.

Ora, eu não tinha tido mais notícias desta aluna desde Julho de 2008. Apesar de ter ficado falado que comunicaríamos. Mas as vidas a correr... tantas vezes não vão permitindo... Como é possível que precisamente no dia seguinte, após a minha referida conversa, eu receba um telefonema dela, a dar-me notícias da sua vida, em especial do curso que está a frequentar, a sugerir-me que participe num seu trabalho de investigação... enfim, a mostrar-me de novo o seu imenso entusiasmo pelos temas, pelas ideias e autores acerca dos quais eu e ela costumavamos estar em grande sintonia?!! Digo-o tal e qual como lho disse: "Como é possível?! Isto parece telepatia! Ainda ontem falei de si a um grupo de alunos!!"

Bom... há coisas extraordinárias! E gratificantes na sua simplicidade. Pois a verdade é que ela vai aparecer para falar de si e do seu curso aos colegas. Aceitou logo entusiasticamente a minha sugestão. Não consigo deixar de pensar nisto, nesta espécie de comunicação à distância sincronizada... após tantos meses de silêncio.

Procuro uma explicação. Mas ainda não a encontrei. Acho que sei muito pouco!

A propósito, é de ouvir esta voz tão especial:





Imagem: DAQUI

segunda-feira, 9 de março de 2009

Antes da Primavera




Ah esse tempo transitório que é mas também já não é. Esse tempo que queremos que passe e não passa. E às vezes queremos que perdure na sua transição e mesmo assim ele corre... Um tempo que ainda não é o que esperamos e se escoa na queda vertiginosa da esperança. O tempo que antecede a Primavera...

Assim se vive no meu país...




sábado, 7 de março de 2009

Estrela Polar


O estado do mundo, já se sabe, é preocupante. Sempre o foi. Sempre o será, certamente. A perfeição não é dom do ser humano. Mas impressiona-me demais o acréscimo da violência que nos é transmitida diariamente. Dizem que sempre existiu. Pois sim, acredito. Mas, hoje, faz parte das nossas vidas diárias e concretas. Se, por um lado, isso é positivo, porque nos alerta para o que vai por esse mundo fora; por outro, transporta-se, de facto, para o nosso convívio diário com a realidade.

Ainda hoje vi algumas imagens de inacreditável barbaridade: algures nos E.U. A., a condutora de um autocarro foi brutalmente espancada por alguém que nele entrou, ou nele viajava, não posso precisar. Não consegui ver tudo. A forma louca e transtornada como era espancada... uma violência que me pareceu vir do mais fundo (reprimido) daquele ser... o facto de aquela mulher estar totalmente exposta à brutalidade e sem protecção... desviei o olhar... Terrível! Estamos bem longe do progresso!

Pode ser considerado evasão, é possível que o seja, mas também pode ser simplesmente a necessidade de alguma serenidade: dou por mim sempre muito fã de olhar o firmamento, qual Sócrates nas Nuvens de Aristófanes. Mas Kant também afirmou ser o céu estrelado uma das duas coisas que nunca deixou de lhe provocar espanto e admiração (sendo a outra a existência de uma lei moral). Olhar os céus, muito provavelmente, não resolve os problemas na terra. Mas ajuda a relativizar factos, acontecimentos e actos que podem parecer, então, totalmente desnecessários e irrelevantes.

Por tudo isto, qual não foi a minha alegria quando uma das minhas filhas me surpreende com esta pergunta difícil (para mim): "Porque é que a estrela polar indica o norte? Mas porque é que o indica sempre?" A verdade é que o espanto e a interrogação podem ser tremendamente espontâneos e desconcertantes. Confrontada com este problema, para não a desiludir, foi preciso perder bastante tempo a clarificar ideias, e a elaborar uma explicação relativamente simples e plausível de algo que não o é propriamente. Mas valeu a pena! Passei umas horas excelentes às voltas com a Estrela Polar( Polaris)!

Aqui fica ela:



Mais sobre a Polaris


Imagem: Women observing stars, Chou Ota


quinta-feira, 5 de março de 2009

Tentativa 3: Cinzento




Há-de ser um copo partido

e uma dor consertada

Eis um copo poisado

e uma dor deitada

Ciência do oculto

névoa deslizante

o copo percorre

e ele não me diz nada

Uma boca fechada

que fala p'ra dentro

dada a condição

diz asfixiada

...e na loucura telepática

estava assim quem a ouvia

e intimamente escutava...

na dor cedo entendia

que o silêncio era cinzento

da exacta cor do cimento

onde almas são sepultadas

voando desperdiçadas

cinzas espalhadas ao vento

poeiras universais

E eu na terra aqui sentada

pergunto se o copo fala

se tem o dom da palavra

literatura oralidade

goteja um estranho veneno

cordas vocais articulam

língua rola céu da boca

loucas os sons desembrulham

alfabeto caos explosão

Eis o copo: era um vazio

cinzento da cor do chão

e é este mundo que treme

se as palavras têm frio

se os verbos não se conjugam

desenfreadas galopam...

...ataque de coração

silêncio!

um copo caiu no chão.



Imagem Daqui


Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...