sexta-feira, 30 de maio de 2008

O Sonho



Numa ida ao teatro com os alunos, deparei-me com a Companhia de Teatro O Sonho, da qual já me tinham falado antes, mas que ainda não tinha tido oportunidade de ver representar. A peça a que assistimos foi Falar Verdade a Mentir de Almeida Garrett. Um texto que conheço bastante bem de trabalhos anteriores a nível de escola.



Ora, estes simpáticos artistas merecem um elogio, já que o seu trabalho é notável no que se refere ao apelo que conseguem fazer aos jovens para os atrair ao teatro, cativando-os e entusiasmando-os de forma simples, mas cheia de humor, e não isenta do rigor e seriedade exigíveis, sobretudo face ao respeito a observar na adaptação do texto original.



Se o grande Almeida Garrett fosse vivo, por certo gostaria de ver este trabalho. É que o seu texto cheio de nuances satíricas e repleto, ainda assim, de reflexões muito sérias (e que vale igualmente como retrato de uma época), transposto para esta sua representação, alcança um objectivo extremamente importante: fica na memória dos jovens que a ela assistem. Portanto, deste modo (e no mínimo), a literatura portuguesa é recuperada e permanece viva a caminho de um futuro que, conforme devemos assegurar, virá a ser culturalmente enriquecido pelo passado.

Um grupo de artistas com espírito de iniciativa e criatividade. Que trabalha com prazer e empenhamento. Que chama os jovens ao teatro. Artistas estes que merecem, sem dúvida, o nosso apoio...


quarta-feira, 28 de maio de 2008

Intervalo para... Chuva



Numa Primavera assim... o melhor é mesmo um pouco de singing in the rain...

RAIN SONG


O Sol... esse, brinca às escondidas. E não consigo apanhá-lo.



sexta-feira, 23 de maio de 2008

Universo kafkiano

Cada vez compreendo melhor Kafka...




As coisas só fazem sentido quando são absurdas...
e a palavra: a luta entre lógico e ilógico
no processo infinito de dizer



segunda-feira, 19 de maio de 2008

As cerejas


Vai correndo o mês de Maio... e com ele estes brincos lindíssimos começam a aparecer. Para simplesmente comer...
Ou, como melhor diria o escritor:

"O vento passa sobre os degraus da escada e não encontra nada que agitar; só as cerejas vermelhas daquela esbelta árvore parecem querer recordar-nos uma alegria, assim como o tique-taque da debulhadora nos sugere a ideia de que na espiga ceifada se encerra copiosa soma de alimento e vida."
Goethe, As Afinidades Electivas


quarta-feira, 14 de maio de 2008

Em série

«Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure»
Vinicius de Moraes



Às vezes, penso nisto:

Existir em série pode ser complicado. No entanto, é próprio do nosso tempo. Por todo o lado, o que se produz surge no mundo com réplicas suas em número elevado. O que implica, desde logo, duas facetas da questão: a réplica e o número elevado.
Claro que a maquinização do mundo é responsável por isso. Estou a pensar, por exemplo, na fábrica de Henry Ford e no célebre Ford-T. Com o seu modelo taylorista de produção. Como não apreciar a ideia de que todos tenham tido, então, a possibilidade de ter um carro idêntico, fabricado nas mesmas condições e usufruindo das mesmas vantagens?! Não um modelo exclusivo, acessível e permitido só a uns poucos, posicionando-se assim esses num lugar especial, para além de qualquer confusão com a maioria. Porque a produção em massa só é possível se houver consumo de massa, Ford dizia: "Quero que os meus trabalhadores sejam os meus primeiros clientes." Claro que estavam por trás interesses financeiros e estratégias de marketing, mas é esse tipo de ideias e de actuação que abre a porta a todos.

De lá para cá, esse processo de abertura a todos tem aumentado a uma velocidade alucinante e é irreversível, parece-me. Além da globalização que actualmente todos conhecemos, estamos também na era da clonagem. Num futuro talvez não muito distante, poderemos ter muitos de nós, iguais a nós, pelo menos com o nosso ADN igualzinho. Ele poderá, assim, ser algo a adquirir, caso prove ser um código genético vantajoso. Acessível a todos num banco de dados. Ou então, seleccionam-se algumas características e disponibilizam-se num mercado. Rumo à competitividade genética. E tudo isto se é surpreendente, não deixa de ser inquietante. Também é certo que são reconhecíveis enormes vantagens, tal como desvantagens. Vale a pena reflectir nas implicações positivas e negativas de todo este presente e do futuro que se avizinha...



Mas, para mim, desde já, a grande questão é: existe algum limite? É possível afirmar que há algum domínio onde o em série não possa aplicar-se? Bom, na verdade, só me ocorre um. E esse domínio não é o da alta costura, onde a exclusividade tem um preço muito elevado, mas sim o do especificamente humano, onde ainda sobrevive o que é gratuito. Para lá da questão da clonagem, com a sua réplica do ADN, há uma área que a transcende no humano: a dos sentimentos ou dos afectos. Não replicáveis?

Ou seja, chegaremos ao ponto de ter sentimentos em série? Afectos clonáveis? A ser assim, a dimensão do ser-se especial que todos desejamos, ainda que algo inconscientemente, desapareceria.
Um amigo(a) não é sempre alguém especial, único? Aquela pessoa que amamos não é especial, única? É possível amar vários seres de diferentes maneiras. Mas existe um limite ou é possível um amor em série, um afecto massificado, algo que também podemos designar por amor universal?



Claro que o amor universal é possível, mas será sempre uma realidade abstracta. Amar em série não é possível. A amizade em série também não existe. Porque não se produz, cria-se. Não se replica, vive-se. Neste aspecto, o domínio da arte aproxima-se do dos afectos. São investimentos diferentes do investimento industrial ou tecnológico, ainda que possam relacionar-se. Tudo é humano, sem dúvida, mas alguns aspectos são mais humanos do que outros. Na verdade, são mais humanistas.

Poderemos amar infinitamente em cada caso, mas a própria natureza (humana) dos afectos impõe um número finito de seres que nos são especiais. Os nossos limites são sentidos como desvantagens e como fraquezas. Mas é possível que eles constituam a nossa mais radical humanidade. Gosto de ser humana.

Imagens daqui

sábado, 10 de maio de 2008

Interpelação


É certo que este confronto existe no quotidiano... subliminarmente...
Quando exposto torna-se quase uma obscenidade.
Há quem diga que o grande tabu a ultrapassar neste século é esta exacta condição.
Tabu ou não, ela é nossa desde a origem. Não sabemos até quando. Mas pode vir a ser para sempre...

Existe. Existe sobretudo como a desejamos: na ausência. Mas há quem faça questão de colocar a máscara e (re)presentar. Um acto que pode ser vital.





À memória dos meus pais que já partiram rumo a esse desconhecido...

terça-feira, 6 de maio de 2008

Retrato do Blog quando menos Jovem


Quando o acto de fazer um blog já é praticado há algum tempo, parece que acontece uma fase algo estranha mas fértil. Quer dizer, passa-se à fase do repensar do acto, na medida em que já foi ultrapassada a fase do entusiasmo e da novidade. Onde é que eu já vi isto antes?! É que, na verdade, é sempre assim com quase tudo na vida. Nada pode ser permanentemente novidade.

Ouvia eu, um dia destes na televisão, um jovem designar a sua geração por geração fast. Ou seja, do conceito de fast food, passou-se ao fast tudo. E acrescentou ainda: actualmente, todos os jovens vivem, com grande intensidade, o conceito de descartável.
Este jovem que deixou ficar no ar uma aura de frescura e de inteligência up to date, pareceu-me muito interessante. Em especial porque foi capaz de fazer uma crítica bastante lúcida do tempo em que vive, de si mesmo e da juventude actual. Mas também foi capaz de traçar um esboço nítido e claro do que é este nosso tempo tão tremendamente fast...! Gostei de o ouvir e foi reconfortante confirmar que a juventude sabe pensar e fazer pensar.

Mas tudo isto para dizer que é aqui mesmo que se vive de modo radical esse ser descartável. Fazer um blog é rápido, apagá-lo também. É coisa de segundos. Vá lá...minutos. Na pior das hipóteses. Mantê-lo é bem mais difícil e demorado. Descobrir o seu sentido... talvez uma busca que se prolongue por muito tempo...

E apeteceu-me dizer que continuo a empreender a minha. É por isso que o mantenho vivo. É por isso que continuo a sentir interesse em comunicar por este processo. Do eu... ao(s) outro(os), esta espécie de espelho torna-se essencial. Um espelho de múltiplos reflexos, entre os quais aqueles que gosto de visitar...


quinta-feira, 1 de maio de 2008

O descanso


Dias... poucos mas existentes, onde o olhar procura perder-se na limpidez do que se olha... espreitar por trás da cortina e encontrar a lisura dos dias quando as superfícies calmas e sem sobressaltos transmitem a quietude do tempo que se escoa inexoravelmente... com o desejo guardado de encontrar o amanhã das realizações que ainda não foram conquistadas. Pelo trabalho que é a (re)criação continuada de uma tarefa interminável...



Imagem daqui


Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...