quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Baralhar e voltar a dar

Decepcionada, ou mesmo entediada, com os debates que a vida política portuguesa nos oferece, venho a lembrar algumas mais sábias palavras. Que há naqueles um jogo argumentativo cujo brilho decai mesmo antes de acontecer, tenho poucas ou nenhumas dúvidas. Que esta alternativa para uma conversa se situa no reino das quasi-impossibilidades, também duvido pouco. No entanto, é bom pensar, e pensar para lá dos limites do que se pressente como um jogo onde as cartas se baralham mal. Depois dele, a única percepção nítida é a de que fica tudo na mesma. Que tanto mais nos baralhe e que tanto ainda nos espante perante tamanho desconserto do mundo, ainda vá - não somos, não sou, quero dizer, assim tão clarividente. Mas, que nos baralhem tão mal... isso é mais difícil de aceitar. Ou, por outra, não se aceita. 

Brain Storming: como libertar-me do pensamento, no sentido tradicional do termo, pelo qual nutro tanto apego? 



e... o eterno retorno ao amor... 






quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

No limiar de um portal

"(...) nem as circunstâncias da justiça nem os seus canais são os do amor. E menos ainda são os do amor os argumentos da justiça. Para dizer a verdade, o amor não argumenta (...)." - Paul Ricouer, Amor e Justiça

Eric White, Portal (2010)

Dizem que o inverno é reflexivo e que convida a pensar, talvez mais devagar. E eu tendo a concordar - quando saio à rua e o ar frio parece queimar o meu rosto, ou quando a chuva fustiga a minha efémera existência para lá do casaco que sabe a protecção... A lentificação provocada pelo frio é uma espécie de lugar onírico que potencia as sensações. Por força dessa maximização, há  também uma difusa percepção de tudo: há Natal, é verdade, há festa, compras e multidões, há afectos e desafectos, encontros e desencontros, e tanto mais, no movimento apressado da preparação dos rituais. O movimento interior, no entanto, é lento. Em tempos, também os rituais o eram. Imersos agora nesta duração e nos lugares da época, levados na corrente, todos parecem apressar-se em busca de alguma coisa urgente... Talvez de certo mágico lugar onde possa enclausurar-se o afecto que combate a finitude, fugindo à dispersão.
Aos afectos é costume chamar-se amor, qualquer que seja o seu carácter particular. Mas, na procura de tudo, há também uma espécie de corrida para chegar a um certo limiar no qual sempre se afronta o desconhecido. Transpor o portal, uma vez aí, é o derradeiro acto que nos consome no desejo de arder como eterna chama. Essa porta que é preciso abrir para o que nos faz felizes, encerra mistérios e segredos, parece-nos, assim o sentimos. Mas, ao abri-la, é bem possível que nos espere tão somente uma grande exigência: a de viver por inteiro. E isso é o mais difícil. De cada parte, pode ser fácil dar conta. Mas do todo...! Aí, acontece ser bastante mais complicado. Tudo isto para dizer, é claro, imbuída desta atmosfera invernosa, reflexiva e natalícia, que o amor não é fácil. Nem sequer o amor universal, apesar do seu carácter abstracto. Estará o amor, enquanto imperativo maior, acima da própria justiça? Em que ponto poderão encontrar-se? Ou incompatibilizar-se? A verdade é que se o amor não é fácil, a justiça parece sê-lo menos ainda. Viver esta dialéctica e trazê-la para o lugar concreto de cada vida é um dos maiores desafios.
Transpor um limiar para descobrir algo importante, é quase como dar um salto para um precipício. Lá em baixo, o desconhecido... Pensamos antes de dar o salto, ou saltamos, e depois logo se vê...? Argumenta-se pela justiça, ou segue-se o imperativo do amor? Também podemos considerar que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Mas, será mesmo assim? Por outro lado, amar de forma justa, ou ser justo por amor, parece uma verdadeira utopia. No entanto, sinto que ela está comigo neste Natal...

Um grande abraço a todos os amigos/as do Catharsis. 
Obrigada pela vossa preciosa companhia.
Feliz Natal!
 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Solstício

inventa-me um natal
e longos afectos preciosos
para guardar junto ao que nasce e luz
suave-escrito no céu é dito
que tudo o que for por si virá de ti...

e todo o espaço habita no tempo que o produz 

(A.P.- 21/12/2010)





segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Sempre a aprender...


Em toda esta badalada história Wikileaks, há certamente muito a aprender com o fenómeno. Ao tentar perceber "o que é que está a passar-se?", deparei-me quer com a minha relativa ignorância, quer com a minha curiosidade, acerca da terminologia informática. Pois o certo é que mais dois interessantes termos passaram a fazer parte integrante do meu universo conceptual: mirror e lamer (este último também designado por  Script kiddie). Vale a pena pensar nisto, foi o que me pareceu... Em especial nesta nova forma de clonagem virtual, na qual a noção de espelho, com o poder da metáfora, introduz um certo brilho. Portanto, mais uma vez, impõe-se reconhecer: sempre a aprender...



Imagem daqui

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Uma aula é um cubo; um espaço-tempo de contínuo entusiasmo

Considerar estas pequenas pérolas que encontramos no youtube é motivo de entusiasmo. Há quem as disponibilize, partilhando-as, neste tempo que tanto vive de efémero e circunstancial.
Não sou deleuziana, até porque, como o próprio Deleuze dizia, tal postura desvirtuaria toda a sua filosofia. Não deixo por isso de ser susceptível ao fascínio que as suas ideias conseguem provocar-me.
E depois disso, afinal, retomar a aprendizagem da inevitável solidão do pensar... (algo a considerar no contexto do testemunho do filósofo - é preciso ouvi-lo: parte III) - e, sobretudo, o retomar do constante desafio na diferença e na repetição, no ensaio recorrente e no momento único. O desafio do que nos apaixona, onde quer que se encontre.

 
 

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...