Rapariga com Brinco de Pérola, Johannes Vermeer |
Apercebi-me hoje: contamos com mais um ilustre comentador no terreno fértil da nossa comunicação social: o Dr. Alberto João Jardim. Ora, este Senhor, político ilustre, desde sempre mostrou propensão para o comentário fácil, quiçá prosaico, mas agora, agora é hora de lhe darem a palavra num contexto muito mais profissional. E é este o do comentador (de tudo, suponho) com certificado virtual, cuja obtenção não requer acções de formação nem nada (para quê?, perante o talento inato!).
Verdade seja dita, esta actividade floresce... a olhos vistos. Talvez constitua uma das melhores portas para o futuro das saídas profissionais, actualmente tão complicadas e difíceis de conquistar. É que... observando a quantidade de gente dedicada a tão nobre tarefa - a de configurar o pensamento dos demais, e no caso concreto que cito, quase certo, sem um único pingo de imparcialidade (ainda que esta possa ser uma quimera, nunca deveria deixar de ser referência, uma espécie de norte, enfim!), começo a pensar, a pensar, a pensar... que quando a escola pública estiver ainda mais esquecida e mal-amada, esta pode ser uma cativante alternativa profissional. Claro, a questão que se impõe é a do critério na selecção destes profissionais... Acho que eu teria realmente poucas hipóteses, quando o que conta é o populismo, a ausência de rigor e o jeito para dizer umas larachas. E, para isso, caramba, não tenho jeito nenhum! A não ser que existam p´raí uns cursos disso. O que me leva a pensar de novo: se um político pode (e deve) ser questionado (sendo que não é disso que estou agora a falar); porque não poderá (e deverá) ser posta em causa a condição de comentador, sobretudo televisivo? Afinal, o que é propriamente comentar? Quem deve ter poder para o fazer com honras de 1ª página? Que tipo de preparação deve esse comentador ter? Porque é preciso não esquecer que a estas pessoas tão ilustres é-lhes dado o poder de estruturar mentes, pensamentos e intervenções de outras pessoas. Que, por sua vez, farão o mesmo a outras, talvez num contexto mais familiar, por exemplo, o dos pais que assistem a estas "pérolas" da educação para a cidadania, e, imbuídos de tais visões, falam depois com os seus filhos... Que poder pode ter, de facto, a escola, à qual tanto se exige, perante isto? É caso para perguntar. Jacques Derrida problematizou, e bem, o estatuto do "professor-repetidor". Seria bastante profícuo interpelar também, agora que isto assim floresce, o do "comentador-formador" na construção do futuro, já que parece ser este, indubitavelmente, o novo estatuto da dignidade humana.
Acontece ser às segundas-feiras que se dá a especial intervenção do Dr. Alberto João Jardim. Quem quiser (des) (in)formar-se, tem no dia de hoje, mais uma oportunidade. Aprender (des)compensa.
10 comentários:
Olá Ana Paula! Das-te ao trabalho de escrever de tal coisa?... É de louvar a paciência, em escrever sobre e em ver. Há que ver para crer, não é? Tudo de bom.
Um dos argumentos mais utilizados para o arranque das TVs privadas em Portugal era, ao tempo, o "pluralismo" e a subida do nível da Programação.
A evolução da situação tornou evidente que, hoje, as Televisões (a Televisão) é uma das armas mais poderosas do pensamento único e da queda do nível de debate: em profundidade, no contraditório,no estímulo à formação de opinião, etc.
Logo, nada a dizer sobre a contratação de um cidadão que representa o que há de pior na vida pública para ser "comentador / formador" em programas de grande audiência.
Uma pérola rara, sem dúvida...
Olá, Jota :)
É verdade! Há os que andam por aí a bradar aos céus, há os que escrevem canções auto-críticas, e eu escrevo sobre estas coisas que me irritam!
Boas mini-férias, para ti.
Pois é, Paulo. Tem toda a razão ao fazer esse ponto da situação.
Agora, eu que sou pelo pluralismo, começo a ver um plural que é singular na escolha do que nos é dado ouvir/ver. Claro, podemos sempre desligar. Mas, não deveria ser assim. A televisão, em si mesma, é um excelente meio de informação/formação.
Esta moda do comentador residente, por outro lado, parece-me questionável, e sintomática da pobreza de espírito a que estamos votados. Apesar de tudo, prefiro mesas-redondas, enfim... :)
:)))
Um beijinho, Há Dias...!
Prometo ver o programa quando o Jardim convidar a Moura Guedes e, já agora o Pulido Valente. Um trio fatal,concerteza.
:)
Grande LOL, Joana!
Beijinhos :)))
OS QUE LÁ ESTÃO E OUTROS QUE VÃO CHEGANDO GANHAM LUGAR CATIVO e ,ao contrario,do que normalmente acontece, não pagam!
Debitam o que os partidos ou interesses pessoais,vaidades tambem,ditarem,( sem balizas morais,científicas,estéticas,) as supostas análises independentes ,enganando um povo analfabeto,depente das intrigas e dos insultos...
O QUE SE PASSOU NO COMÍCIO DO P.S.
É TB. O REFLEXO DOS COMPORTAMENTOS INENARRÁVEIS DOS OPINADORES, COMENTADORES, CANDIDATOS A CATIVOS,,,
A Democracia tem destes casos ,inofensivos qdo. sao poucos e maus. É inútil gastar energias a combatê- los porque fazem parte do ramalhete que traz espinhos.
Só que o que se passa em Portugal, o efeito, pelo número e ausencia de qualidade ,já é tão extenso e nefasto que pôr-lhe cobro é uma exig~encia moral ,ética e estética. A BEM , SOBRETUDO ,DOS NOSSOS JOVENS,cujas acçoes já cheiram a fascismo.
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