segunda-feira, 18 de abril de 2011

Questões existenciais

Cindy Sherman, Untitled Film Still (1979)

Ontem, na TV, Clara Ferreira Alves alertou para a falta de ideologia na política actual, considerando esta situação como um perigo real quanto ao aparecimento de "salvadores da pátria" (se a expressão não foi então utilizada, é aqui adicionada por mim, porque a ideia era esta). O mesmo é dizer (digo eu) que estamos a aproximar-nos de um ponto em que uma visão totalitária ameaça e espreita o melhor momento para se implantar em terreno propício. Esta questão faria correr rios de tinta, mas interessa-me insistir sobretudo no perigo que este vazio representa. À medida que o mundo da alta finança mundial domina, o universo do poder político tende a perder sentido. E que mais pensar e adivinhar quando observamos o ritmo vertiginoso de utilização maciça, em todo o espectro político, de uma série de dispositivos de propaganda? Se é de reconhecer que não há poder sem propaganda, a questão é agora sobretudo uma nova questão: propaganda a quê?! Espero ainda, embora já impaciente, que me digam. Sim, porque não se espera que o voto seja na cor da gravata, ou no mero romantismo balofo de conseguir acabar com a fome dando uma esmolinha de vez em quando. Porque é que eu digo isto?, e porque é que o digo aqui? É simples: sou cidadã e voto; este é um dos meus lugares para dizer. Mas acredito: há mais quem possa dizê-lo, e fazê-lo, sem dúvida, muito melhor.

(...e até agradecia que me dissessem tudo muito devagarinho, como se eu fosse muito burra...)


Adenda - o post do RAA no Abencerragem pode (e deve) ler-se Aqui



13 comentários:

Anónimo disse...

Eu sou mais bolos...

Ana Paula Sena disse...

Torta de laranja?

Unknown disse...

Seguramente não sou eu quem diz melhor, Ana Paula. Mas parece-me que até que nos próximos tempos a propaganda vai ser justamente à cor da gravata, porque ainda não houve tempo de recriar nada depois da falência das ideologias do séc. XX. O que é mau para nós, claro. Bem ou mal, já me conformei que não vou ser eu a ver a saída do vazio. Resta-me esperar que sejam as minhas filhas.
beijo

Mar Arável disse...

Existe claras

que tornam a noite mais escura

Ricardo António Alves disse...

E ao questionar-se em público, ajuda-nos a todos a pensar.
Para mim, só há um adquirido: quanto mais instáveis são os tempos, mais necessário se torna fazer uso da razão. A Europa, na década fatídica 1929-1939, deixou-se toldar pela irracionalidade. Mas houve povos (e líderes políticos cheios de defeitos) que se mantiveram razoáveis e lúcidos: os povos do Norte da Europa. De Churchill, o homem certo na hora certa, ao rei da Noruega (ocupada pelos alemães), que ostentava à lapela a estrela de David, solidário com os seus concidadãos judeus.
(Acho que vou tranformar o comentário em post...)

Ricardo António Alves disse...

P.S.: a fotografia é linda.

Paulo disse...

Ana Paula, olá.Duas ou três notas a propósito do seu excelente e oportuno post.
Começo pela ausência de ideologia na actividade política.
É uma evidência. Por influência dos mídia e uma, já conhecida, ausência de valores de cidadania e cultura democrática, o debate de ideias e projectos em Portugal foi tomado de assalto e o que temos hoje é a discussão clubística sobre se "A" é menos mau do que "B", se “C” disse ou não disse, se “D” telefonou ou enviou sms… Como vc disse, as cores da gravata.
Por outro lado, “isto”, que é tido como a actividade política, não acompanha a dinâmica social. O poder político está capturado por um grupo de gente que se serve dele para os seus negócios pessoais ou de grupo e que não responde a não ser aos seus mandantes.
Pode existir fome e discordância a crescer no país, manifestações massivas de jovens, de desempregados, de descontentes de todo o tipo, exprimindo, subjectiva e objectivamente, uma vontade de mudança e de políticas, que isso não afecta o Poder, não afectará, nem tem qualquer reflexo nas soluções que se vão encontrar.
Neste momento isto tem uma clareza cristalina.
Os donos do dinheiro, o capital financeiro, estão a impor as regras que devem reger o futuro dos portugueses. Têm como interlocutores os que serão os seus capatazes na execução das decisões que, certamente, já tomaram.
A pergunta óbvia é: de que nos adianta votar em Junho? Não será, evidentemente, para definir políticas, pois essas estão já definidas. Tudo leva a crer que o que haverá em 5 de Junho é uma disputa clubística para decidir qual a cor da gravata do personagem que colocará mais amigos no Aparelho de Estado para os próximos anos. Tudo o resto está, entretanto, decidido.
Ana Paula, se isto não são soluções totalitárias, já não sei nada… e sem ser preciso abrir prisões nem criar censura. Pelo menos por enquanto.
Abraço

Teresa Santos disse...

Propaganda?
Propaganda igual a mentira?
Ana Paula, mas propaganda a quê?
Clarificar quais as medidas políticas tomar?
Para além de "mais do mesmo" haverá algum político (ainda haverá alguns dignos desse nome?) que tenha uma orientação, um rumo a seguir?
Pois, e as eleições estão aí!
Beijinho.

Nilson Barcelli disse...

Também não sei dizer melhor que tu, que aliás disseste bem (eu percebi... eheheh...).
Eu resumo a coisa do seguinte modo: a nossa cultura é má, sempre foi. Não temos valores nem apreciamos quem os tem. Cidadania, civismo, idem... e por aí adiante. Ou seja, somos uma sociedade rasteirinha... com políticos rasteirinhos... para não dizer pior...
As excepções (poucas) confirmam a regra.
Não vão aparecer ditadores (talvez populistas...) pporque quem dita é o capital (selvagem).
Ana Paula, tem uma boa Páscoa.
Beijos.

José Marinho disse...

Concordo; oportuna postagem. Eu explicar não consigo; apenas digo que a ganância chegou ao limite extremo. É imperioso sairmos cada vez mais para a rua. Os esbirros da morte gostam do pânico e do medo - semeian-nos. Saiamos para a rua com a raiva de um sorriso franco, este derruba tudo. Os sinistros algozes não sabem nem gostam de ver sorrir. Abraço. Bom renascer nesta Páscoa.

Manuela Araújo disse...

Olá Ana Paula

Outros dirão melhor? Não sei! Para mim foi muito bem dito!

Nota: eu estou estupefacta e incrédula com o que se tem passado e com a anestesia colectiva. Tanto que me sinto mesmo muito burra por não compreender!

Sofá Amarelo disse...

O problema foi as Américas terem criado uma economia virtual, onde as coisas não existem, apenas existem números, interesses e grupos de pressão, a que se juntaram nas últimas décadas jovens gestores cujo único objectivo era (é) enriquecerem o mais depressa possível sem olhar a meios... o resultado está à vista!

E infelizmente Portugal tem muitos seguidores desse género... muitos deles na política!!!

Muitos beijinhos e uma boa Páscoa >:o)))

Alexandre

anamar disse...

Ana Paula,
pego nas palavras de MA, "anestesia política"... aflitiva.
Veremos qual a cor da gravata que os nossos filhos irão escolher ou se criar um novo modelo...
Beijo e boa Páscoa
Ana
Obrigada pela visita e comentário que engrossou o "ego" :))

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