sábado, 19 de junho de 2010

Memória

«Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer." Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada.»
José Saramago, Discursos de Estocolmo - 7 e 10 de Dezembro de 1998




Imagem: pesquisa do Google

10 comentários:

resta07 disse...

Hellooo...

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Benjamina disse...

Olá Ana Paula

Essa linda frase da avó de Saramago também está no livro "Pequenas Memórias". Gostei tanto da frase, e o do modo como Saramago descreveu o contexto em que a avó a proferiu que também não pude deixar de armazenar esse pedacinho.

Tenho tanta pena que Saramago não escreva mais!

Beijinhos

Violeta disse...

Muito bonito o texto e que acaba por ser uma bela homenagem a um homem que desencadeou sentimentos extremos: ou se gosta ou se odeia!

Ricardo António Alves disse...

Bem escolhido.

anamar disse...

Sublime...
Bom domingo.
Ana com beijinhos

analima disse...

A Benjamina tem razão. O texto não é exactamente assim mas muito semelhante. É logo a seguir àquele em que fala do avô.

José Manuel Marinho disse...

Olá, Ana Pula! Muito bem escolhido, principalmente quando afirmam que não ligava à terra natal e não só. Este país não gosta de pessoas seriamente polémicas. Tudo de bom.

Eliete disse...

Lindo este pensamento.Foi muito bom conhecer um pouquinho mais de Saramago.bjs, Eliete

via disse...

significativo, também acredito que não teve medo.

vbm disse...

Morrer é realmente uma pena...
Um texto muito belo.

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