domingo, 4 de março de 2012

Há o cansaço de ver e o impossível de não o fazer

Robert Longo, Untitled (2007)

«Basta que eu veja qualquer coisa para saber aproximar-me dela e atingi-la, mesmo sem saber como tal se faz na máquina nervosa. O meu corpo móbil conta no mundo visível, faz parte deste, e por isso posso dirigi-lo no visível. Por outro lado, não é menos verdade que a visão está suspensa do movimento. Só se vê aquilo para que se olha. (...) O mundo visível e o dos meus projectos motores são partes totais do mesmo Ser. (...)
Visível e móvel, o meu corpo pertence ao número das coisas, é uma delas, está preso na textura do mundo, e a sua coesão é a de uma coisa. Mas, posto que vê e se move, ele mantém as coisas em círculo à sua volta, elas são um seu anexo ou prolongamento, estão incrustadas na sua carne, fazem parte da sua definição plena, e o mundo é feito do mesmo estofo do corpo. (...)
Uma vez que as coisas e o meu corpo são feitos do mesmo estofo, é necessário que a sua visão de alguma maneira se faça nelas, ou, melhor, que a visibilidade manifesta das coisas se desdobre nele numa visibilidade secreta: a natureza está no interior, disse Cézanne.»
Merleau-Ponty, O olho e o espírito


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