Que podemos fazer quando alguém escreve tão bem? Certamente, ler e reler - indiferentes a essa outra forma de tirania, a da eterna juventude.
«Como parte da consciência da sua existência, enquanto a velhice assaltava a mente outrora infantil, fez esforços ocasionais para visionar a sua situação tal como a ciência mostrou que ela era. Olhava para a meia-lua e tentava vê-la, não como a deusa Diana ou uma decalcomania de uma revista de banda desenhada, mas como uma esfera suspensa no vazio, com o seu lado iluminado como uma infalível indicação de onde o Sol brilhava, no outro lado da enorme massa redonda da Terra. Tentou imaginar a superfície sob os seus pés como sendo curva e a deslocar-se para trás, em direcção ao nascer do Sol. Com um esforço maior, tentou imaginar o vazio como algo parecido com a sua verdadeira vastidão, com cada estrela a anos-luz da seguinte e o vácuo quase-absoluto do espaço interestelar contendo partículas virtuais que, de alguma forma, geravam uma energia contrária à gravidade, empurrando e afastando as estrelas e as galáxias cada vez mais depressa, até o Universo se tornar invisível para si próprio, frio e escuro para todo o sempre, ámen. (...) As coisas eram como eram e tendiam a ser sempre iguais, geração após geração.»
John Updike, Os Guardiões in As Lágrimas do Meu Pai (colectânea de contos)
Uma conversa com John Updike
4 comentários:
Admiro quem tão bem escreve!
É Updike no seu melhor.
Bem apontado
Bj
Abraços aos meus amigos.
Obrigada pela atenção :)
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