Ana Paula, Estupendo retrato de um homem que consegue chegar ao fim da vida conhecendo-se extremamente bem e que consegue determinar como quer viver a felicidade dentro do padrão que para si próprio estabeleceu. Quse 10 minutos de conversa magnificos. Quanto ao Deus é "desculpá-lo porque ele não sabe o que faz..." Já li isto em qualquer sítio...? Um abraço.
Poucas frases me têm feito pensar tanto, como esta do corrosivo Auden (poeta excelente!). Pensar nem sempre interessa, sobretudo se nos aprisiona na imobilidade. Mas sentir é inadiável. Eu sinto que esta frase me toca. Nem tudo é, portanto, questão de argumentar, pode ser só questão de um sentir mais lato que se insinua no raciocínio... No entanto, ocorre-me que Deus, se existe (questão de fé ou de suspeita), está em nós e não "fora". Logo, se julgamos pelas aparências, e se Deus está em nós (ou se Deus somos nós), é Deus que nos julga desse modo. Mas... a questão pode ser ainda mais radical: até que ponto existimos para lá do que parecemos? Até que ponto alguém existe se não parecer existir? Bergman retirou-se, isolou-se no fim da sua vida. Para quantos deixou ele de existir? Estará Deus (nós) certo(s)?
Interrogações, suspeitas, sentimentos legítimos, nada que desrespeite a fé de alguém. Alguns, como eu, não podem impedir-se de se questionar.
Acredito em Deus. Não sei com que forma, nem a quem pertence. Mas para mim existe um ser superior que nos rege. Esse com quem falo e, mesmo não me respondendo por palavras, ajuda-me a sentir que por vezes a minha vida mais leve do que julgo.
"Agora as estrelas não são necessárias; apaguem-nas todas; Emalem a lua e desmantelem o sol; Despejem o oceano e varram o bosque; Pois agora tudo é inútil."
Nunca tinha lido nada de W.H.Auden, mas descobrir aqui o nome deste poeta alimentou a minha curiosidade, e encontrei este poema, intitulado: "Blues Fúnebres".
Maior prazer ofereceu esta entrevista a Ingmar Bergman... =) Impressionou-me quando, logo ao início, ele disse: "Os demónios não gostam de ar fresco, o que eles gostam é quando ficas na cama com os pés gelados..." a natureza ajuda a curar certos males (inspiração artística?)
No final dos Morangos Silvestres há um espantoso grande plano do rosto do velho (não recordo o nome) ao adormecer. É o rosto de um homem em paz com a vida e que já fez as contas aos seus erros. Em nenhuma das imagens que vi de Bergman nos últimos anos de vida descobri uma expressão desse género. A inquietação acompanhou-o até ao fim.
Olá Ana Paula Se Deus existe, não sei, mas suspeito que sim. Inclino-me pela definição de Spinoza, a alma do universo. Se nos julga de algum modo, não sei, mas se julga, suspeito que não será pelas aparências. Como vê, são também só dúvidas e suspeitas. Gostei da entrevista, da paz interior de Bergman. E da sua vista desde a lareira. Um bom fim de semana
Olá, Ana Paula! :) Gostei muito do clip e a frase que destaca lembrou-me outra, do nosso José Gomes Ferreira. Dizia ele que, pelo menos para os outros, só somos verdadeiramente aquilo que aparentamos. Se calhar,... se o tal Deus não estiver dentro de nós, só poderá julgar-nos pelas aparências...
Ao ler o seu comentário travei a fundo. Porquê? Porque, de algum modo, responde a uma questão que lhe iria colocar. Mas, com aquele pensamento, H.W. Auden está a admitir a existência de Deus, não?... Confesso que raramente a visito mas este tema vai obrigar-me a lê-la com mais assiduidade. Os tumores externos que a Isabelinha tinha no pescoço desapareceram com a radioterapia. Ontem já brincámos e ela riu com as minhas baboseiras. É bom sinal, não é, amiga? Fiquei muito feliz. Abraço com ternura. António
por acaso acredito em Deus e.... por isso não comento.
Apenas te digo que, pela entrada da madrugada de hoje regressei a casa e .... tive a sorte de apanhar o Persona....................... (gosto imenso de Bergman..)
Deus ou a Natureza, assim designava Espinosa a substância que compõe os corpos e em que os viventes estão imersos... Ora Ingmar Bergman, no seu leito de pedra ao lado da lareira, contemplando pela janela, o mar, o vento, a neve e o horizonte por certo acentua a distinção entre o ser e a consciência do ser, entre a externalidade e a vivência do fluir contínuo das imagens. E o que é o real e o aparente, a res extensa e a inextensa sensação de percepcionar e sentir?... :) Difícil superar o dualismo...
19 comentários:
HUm... i doubt. Deve ser precisamente quem não o faz ;)
beijinhos amigos. Filme longo mas gostei de ver
Não sei se julga pelas aparências mas mais tarde ou mais cedo,acaba por julgar e... cobrar.
Bjs
Ana Paula,
Estupendo retrato de um homem que consegue chegar ao fim da vida conhecendo-se extremamente bem e que consegue determinar como quer viver a felicidade dentro do padrão que para si próprio estabeleceu.
Quse 10 minutos de conversa magnificos.
Quanto ao Deus é "desculpá-lo porque ele não sabe o que faz..."
Já li isto em qualquer sítio...?
Um abraço.
bergman, velhinho, solitário, mestre.sempre grata, a humanidade ao que deixou.
Obrigada pela atenção e pelos comentários :)
Poucas frases me têm feito pensar tanto, como esta do corrosivo Auden (poeta excelente!).
Pensar nem sempre interessa, sobretudo se nos aprisiona na imobilidade. Mas sentir é inadiável. Eu sinto que esta frase me toca.
Nem tudo é, portanto, questão de argumentar, pode ser só questão de um sentir mais lato que se insinua no raciocínio...
No entanto, ocorre-me que Deus, se existe (questão de fé ou de suspeita), está em nós e não "fora". Logo, se julgamos pelas aparências, e se Deus está em nós (ou se Deus somos nós), é Deus que nos julga desse modo.
Mas... a questão pode ser ainda mais radical: até que ponto existimos para lá do que parecemos? Até que ponto alguém existe se não parecer existir? Bergman retirou-se, isolou-se no fim da sua vida. Para quantos deixou ele de existir?
Estará Deus (nós) certo(s)?
Interrogações, suspeitas, sentimentos legítimos, nada que desrespeite a fé de alguém. Alguns, como eu, não podem impedir-se de se questionar.
Abraços
Acredito em Deus. Não sei com que forma, nem a quem pertence. Mas para mim existe um ser superior que nos rege. Esse com quem falo e, mesmo não me respondendo por palavras, ajuda-me a sentir que por vezes a minha vida mais leve do que julgo.
Um grande cineasta, uma boa homenagem.
Gostei de conhecer este seu espaço, parabéns!
Um abraço
Chris
Há.dias.assim: obrigada pelo comentário e pela visita :)
Chris: agradeço a visita e as simpáticas palavras :)
Voltem sempre.
Magnífico, o seu espaço.
Sinto-me bem, aqui!
Um abraço
"Agora as estrelas não são necessárias; apaguem-nas todas;
Emalem a lua e desmantelem o sol;
Despejem o oceano e varram o bosque;
Pois agora tudo é inútil."
Nunca tinha lido nada de W.H.Auden, mas descobrir aqui o nome deste poeta alimentou a minha curiosidade, e encontrei este poema, intitulado: "Blues Fúnebres".
Maior prazer ofereceu esta entrevista a Ingmar Bergman... =)
Impressionou-me quando, logo ao início, ele disse: "Os demónios não gostam de ar fresco, o que eles gostam é quando ficas na cama com os pés gelados..." a natureza ajuda a curar certos males (inspiração artística?)
como pode calcular, adorei!
No final dos Morangos Silvestres há um espantoso grande plano do rosto do velho (não recordo o nome) ao adormecer. É o rosto de um homem em paz com a vida e que já fez as contas aos seus erros. Em nenhuma das imagens que vi de Bergman nos últimos anos de vida descobri uma expressão desse género. A inquietação acompanhou-o até ao fim.
Olá Ana Paula
Se Deus existe, não sei, mas suspeito que sim. Inclino-me pela definição de Spinoza, a alma do universo. Se nos julga de algum modo, não sei, mas se julga, suspeito que não será pelas aparências.
Como vê, são também só dúvidas e suspeitas.
Gostei da entrevista, da paz interior de Bergman. E da sua vista desde a lareira.
Um bom fim de semana
Olá, Ana Paula! :)
Gostei muito do clip e a frase que destaca lembrou-me outra, do nosso José Gomes Ferreira. Dizia ele que, pelo menos para os outros, só somos verdadeiramente aquilo que aparentamos.
Se calhar,... se o tal Deus não estiver dentro de nós, só poderá julgar-nos pelas aparências...
Um abraço.
Olá cara amiga Ana Paula
Ao ler o seu comentário travei a fundo. Porquê? Porque, de algum modo, responde a uma questão que lhe iria colocar.
Mas, com aquele pensamento, H.W. Auden está a admitir a existência de Deus, não?...
Confesso que raramente a visito mas este tema vai obrigar-me a lê-la com mais assiduidade.
Os tumores externos que a Isabelinha tinha no pescoço desapareceram com a radioterapia. Ontem já brincámos e ela riu com as minhas baboseiras. É bom sinal, não é, amiga? Fiquei muito feliz.
Abraço com ternura.
António
Sem dúvida, sentir é inadiável. Gostei muito do filme.
Bjs
Este Deus é um aprendiz, não podemos criticá-lo!!!
Os deuses grandes estão destinados a outros planetas: a Terra está para o Universo como Portugal está para a Terra!!!
Que o breve não seja mais que um reflexo questionável momentaneamente pausado - pousado - nos contornos das cores e das formas!
por acaso acredito em Deus e.... por isso não comento.
Apenas te digo que, pela entrada da madrugada de hoje regressei a casa e
.... tive a sorte de apanhar o Persona.......................
(gosto imenso de Bergman..)
Deus ou a Natureza, assim designava Espinosa a substância que compõe os corpos e em que os viventes estão imersos... Ora Ingmar Bergman, no seu leito de pedra ao lado da lareira, contemplando pela janela, o mar, o vento, a neve e o horizonte por certo acentua a distinção entre o ser e a consciência do ser, entre a externalidade e a vivência do fluir contínuo das imagens. E o que é o real e o aparente, a res extensa e a inextensa sensação de percepcionar e sentir?... :) Difícil superar o dualismo...
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