segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Instinto maternal



Foi por estes dias últimos que tive notícias de uma amiga, da qual não sabia nada há bastante tempo.
Soube que se encontra algures no Nepal. Claro que fiquei surpreendida. Mas a surpresa foi ainda maior ao saber do motivo que a tinha levado para tão longínquas paragens: acompanhar a filha. Através da faculdade e no curso de Economia (em fase de conclusão), participando de um programa qualquer do tipo Erasmus, eis que tem a possibilidade de deslocar-se à Índia, numa estadia de um mês. Soube há tempos que tinha feito Erasmus na China, o que já tinha soado a enorme aventura para uma jovem de 20 anos sozinha. Mas a experiência deve ter sido marcante, no bom sentido, uma vez que decidiu avançar agora de novo para a Ásia, num mesmo contexto profissional.
Acontece que a mãe, pouco depois de ela lá ter chegado, decide juntar-se-lhe. Motivos? Pois... eu julgo que entendo. As notícias eram algo inquietantes, por um lado; por outro, existia certamente muita vontade de partilhar com a filha esta exótica viagem. Na verdade (soube-o entretanto), uma vez na Índia, e penetrando no seu interior, foram várias vezes perseguidas pelos campos e pelas aldeias. Parece que queriam raptá-las, além de as roubar no que pudessem. Em fuga, recorreram já diversas vezes à polícia, embora muitas vezes tenha sido a aventura total. É que nos locais mais isolados nem polícia há. Entretanto, parece que estão a salvo destas peripécias. Porque surgiram outras...
Mochilas às costas, caminhando as duas por montes e vales, ora verdejantes, ora pedregosos, acontece a filha da minha amiga decidir avançar algo mais: até ao Nepal, passando pela mítica Kathmandu, mas seguindo rumo às montanhas...
Finalmente, agora, a minha amiga encontra-se num convento de monges budistas que lhe ofereceram estadia; enquanto a filha decide subir (escalar) uma montanha. Além dela, apenas um guia. Compreendo uma e outra, mas não posso deixar de pensar na minha própria filha. Há pouco tempo atrás, esteve também no topo de uma montanha, algures nos Alpes suiços. Mas a subida foi de teleférico, e várias pessoas a acompanhavam. No entanto, claro que me preocupei... Claro que não estava lá porque não podia... De qualquer modo, é preciso deixar os filhos, quais pássaros, bater asas e voar... Mas custa tanto!

Tenho pensado nisto: acho que se tivesse possibilidade, e a situação fosse igual... também eu ia atrás da minha filha, partilhar com ela a descoberta, e tentar protegê-la um pouco. Ainda que tivesse que correr eu própria os mesmos riscos. Mas, hoje, é quase inútil esperar para os filhos um futuro com os mesmos horizontes que foram os nossos. A nossa casa é cada vez mais global. E o longínquo está cada vez mais perto.

Imagens: pesquisa do Google

23 comentários:

Frioleiras disse...

Gostaria de ter uma grande família, gostaria, talvez de ter tido uma filha cumplice mas, na verdade, nunca tive filhos porque não quis. E não estou arrependida, só se fosse como investimento para a velhice... É duro dizer isto mas nunca me sensibilizei para me privar em favor de um pequeno ser que, na altura devida, achei que me empataria a doce vida... frivolidades sempre me acompanharam.........e pelo que contas agora, experiências de amigas minhas também, sinto-me sempre noutro planeta, sem saber nem sentir o que me transmitem.
Oiço coisas como as que uma mãe sente... e sinto que em vez de ser eu a perder são as mães que perdem coisas da vida porque não a vivem em função dos filhos.
Viajei muitas vezes sózinha, quando fazia outro tipo de viagens menos burguesas e acho que senti que se tivesse um filho ele me empataria e tiraria o sabor da liberdade....
franquezas a que só nos permitimos, anonimamente, na net...............

Ana Paula Sena disse...

Frioleiras, também tenho as minhas frivolidades e faço questão de as preservar.
Tenho uma grande amiga que nunca teve filhos, por opção. Falei muitas vezes do tema com ela. São escolhas a que temos todo o direito, portanto, não há que questionar a sua legitimidade.

Ser mãe tem aspectos do mais complicado. Não o ser terá seguramente outros. Mas tenho alguma "inveja" desse sabor da liberdade que pudeste experimentar. :)

Tens razão: é preciso não viver em função dos filhos, ainda que sem deixar de os acompanhar.

Mesmo nas circunstâncias que referes, aprecio a tua franqueza.

observatory disse...

entretanto há uma verdade que nao se apaga: todos as mulheres sao maes. todas.

muito interessante. que mae essa. muito cooperante essa filha.

Bandida disse...

que doce vida...


beijo ana paula!

em azul disse...

Casos de amor incondicional...
numa história bonita e muito bem escrita.

Um abraço

Violeta disse...

Pois é. A aventra deve ter sido única, aproximou-as muito; ma so mundo naõ é mais o mesmo. O eterno dilema: deixar os filhos voar bem alto, mas será que não existe um cordel, um fio que possamos segurar????
Feliz dia.

isabel mendes ferreira disse...

o C. tem razão:

TODAS AS MULHERES sÃO MâeS...!!!!!




______________________E A CASA é mesmo o ninho....que se faz a cada momento em cada lugar.



-beijoooooooooooo-te.

manhã disse...

o teu texto emocionou-me, fez-me ter saudade de qualquer coisa que nunca vivi mas que imagino, o amor por um filho e a aventura de o acompanhar, que não na Índia em Lx porque acompanhar transcende o lugar, é uma coisa por dentro, por dentro da compreensão, por dentro do que se sente e transborda. Mas é verdade que os filhos numa certa altura batem asas e as dos pais já não voam tão alto. bjo

D. Maria e o Coelhinho disse...

A SRA POR ACASO VIU POR AQUI O MEU COELHINHO?


Dª MARIA

angelá disse...

Ana Paula
Desculpa-me, mas eu não consigo ficar calada. Nem perante os comentários, nem perante a tua história.
C., desculpe-me, mas não é verdade que todas as mulheres sejam mães. Onde raio foi buscar semelhante ideia? são tão mães como os homens pais. Há os que são e os que não são. A mulher procriadora, isso é coisa de fundamentalismos. E também há as que sendo mães porque têm filhos, o não são de facto, nesse sentido de uma "espécie" de instinto do qual eu não tenho nenhuma prova.
Quanto à história, garanto que eu NÃO iria atrás das minhas filhas. Como não fui. Não se trata ainda do Nepal, ou qq país longínquo. Mas eu quero mesmo q elas partam sozinhas e quero saber q são auto-suficientes para se desenrascarem sozinhas. E não custa assim tanto, se nos compenetramos desde o início que não são uma propriedade nossa. Devo estar a parecer uma mãe desnaturada, mas não me importo. Eu tinha que dizer que outras formas são possíveis. Que a minha relação com as minhas filhas é da maior cumplicidade, sendo que cada uma (eu incluída) temos as nossas vidas, os nossos caminhos a percorrer.
Peço desculpa por este arrazoado todo, mas tenho medo dessa suposta nova relação de "companheirismo" entre pais e filhos. Eles têm mesmo que ter direito a irem sozinhos.
bj

angelá disse...

ah...esqueci-me de dizer à Frioleiras que não tem que se sentir minimamente culpabilizada pelo que diz. É pena que numa sociedade de suposta liberdade de comunicação ela reconheça que tem que recorrer ao "anonimato" da net para dizer o que sente.
Um abraço para si, frioleiras!

SMA disse...

E eu em viagem… penso e peço imensas desculpas aos ilustres comentadores que me antecederam, mas não posso deixar de não concordar com afirmação que “todas as mulheres são mães.” Por coerência ao que eu defendo, por pertencer a geração que pertenço, por ter a formação que tenho… prefiro dizer (desejar) que “todas as mulheres abracem a dimensão ontológica de Mulher” .
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Já é tempo de quebrar com a herança do filho mal amado ou rebelde, de vinculação pobre em diade, que procura uma mãe em qualquer ente feminino ou bem como a mãe que morre de medo do corte do cordão umbilical como sinonimo da perda total da sua identidade. Cortar com esta herança absorvida quase 1000 anos (senão por toda evolução ontogenetica transversal a todas as culturas), de raiz heráldica personalizada tão aproximadamente de nós por D. Afonso Henriques
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Alguma vez, alguém pensou dizer “todos os homens são pais”… NÃO! Porque afinal somos todos órfãos.
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Bjo
E mais uma vez as minhas desculpas.

Ana Paula Sena disse...

A este propósito, cabe-me ainda acrescentar alguma coisa...

Primeiramente, o meu agradecimento a todos os comentadores que tiveram a gentileza ou a "necessidade" de comentar o meu post, participando no que mais aprecio: a troca de ideias.

Depois... esclarecer a minha posição relativamente a alguns aspectos:

Não há que pedir desculpa por pensar diferente dos outros. Mas agradeço esse sinal de consideração. Ainda bem que há quem esteja de acordo comigo (e com outras pessoas) e quem esteja em desacordo comigo (e com outras pessoas). Se há algo que tenho bastante certo é que um mundo onde todos pensassem igual, seria um mundo, não só entediante, como, sobretudo, infértil. Quero dizer que uma "boa" discussão de ideias é fundamental para nos fazer pensar. E é só assim que o mundo (mal ou bem) avança.

Pelo contrário, acho que é de pedir desculpa, quando em vez de "atacarmos" uma ideia ou um argumento, "atacamos" a pessoa que a (o) defende, só porque não está de acordo com o que pensamos. Embora seja de evitar tal, ninguém está isento de o fazer, e aí, sim, é de pedir desculpa. Esta é, pura e simplesmente, a minha posição.

E nunca fiquei "zangada" com ninguém por pensar de modo diferente de mim. Em casos sérios e graves (dependendo das consequências), pode implicar um afastamento da(s) pessoa(s).

Ainda em relação ao tema da maternidade: o título pelo qual optei foi, de algum modo, provocador. Ou seja, obviamente que pode defender-se que o ser humano não possui instintos, e, portanto, não há também instinto maternal. De resto, a existir, há muitos casos nos quais ele se revela totalmente ineficaz, e outros onde consegue ser muito contraproducente.

Por outro lado, podemos consultar muitos estudos que apontam para a sua existência enquanto "arma" biológica, um recurso da natureza que a espécie possui para assegurar a sua sobrevivência. Mas que pode falhar em certos casos.

Agora... todos sabemos que somos seres sociais, e, como tal, os instintos já não o são, rigorosamente falando. O meio, a educação, a cultura, etc, tudo condiciona e subverte os nossos comportamentos básicos e primitivos.

Enfim...

A afirmação de que todas as mulheres são mães, quanto a mim, terá a ver com a sua natureza biológica, por um lado, educacional e cultural, por outro.
Mas a emancipação feminina prefere ver a mulher como um ser que transcende a sua condição maternal. Algo que também eu defendo em absoluto. Mas penso igualmente que ser mulher não implica ter que deixar de ser mãe. Digamos que é uma potencialidade de que dispomos, tão forte e legítima como a de ser pai. Só que, enquanto ser mãe tem restringido a liberdade feminina, ser pai não tem tido iguais consequências. Embora tudo esteja em grande mudança...



Eu optei por ser mãe. Tal como em todas as nossas opções, isso trouxe-me responsabilidades. E em relação à educação, não existem fórmulas científicas absolutamente exactas. É uma aventura e um desafio. É a vida na sua dimensão ontológica mais perfeita. E aplica-se às mães e aos pais.

Pessoalmente, sou um bocadinho mãe-galinha (nada de muito exagerado, mas suponho que tenha a ver com níveis de occitocina, a hormona que cria laços). :)
Mas fomento a independência. Gosto de acompanhar as minhas filhas, mas nunca esquecendo quem é mãe e quem é filha. Adoro conviver com a juventude, e é evidente que as minhas filhas são mais jovens do que eu.

"Invejo" a liberdade de não ter filhos, mas sinto-me gratificada por ter o confronto com outras gerações permanentemente comigo.

Tenho amigas que optaram por não ser mães e nunca as admirei menos por isso. Adoro-as.

Em relação ao anonimato, tal como em tudo, é uma opção legítima. E defendo que o anonimato responsável é possível e um direito. O anonimato irresponsável também é possível mas não é um direito, na medida em que ofenda os outros gratuitamente (o que também pode acontecer sem anonimato).
Não aceito no meu blog comentários de anónimos irresponsáveis, mas aceito os de todos os que, nessa condição (ou na de não anónimos) me merecem respeito. Desde que a argumentação não seja ad hominem, mas sim uma "contradição" legítima que faz parte do viver em democracia. Sistema que, apesar de muitos calcanhares de Aquiles, continuo a defender.

Considero-me uma pessoa tolerante e defendo a tolerância. Uma das fraquezas das sociedades democráticas. Porque a dificuldade reside em estabelecer limites à tolerância.

Estes são os meus limites.

O meu muito obrigada a todos pela "discussão" e apreciação! :)

Lauro António disse...

Ora parece que alguém colocou um pouco de sensatez nesta questão. Ou nestas questões que, entre muitas, são duas essenciais:
1ª - Compreendo perfeitamente a Ana que quer proteger as filhas. Eu que sou um pai galinha, não tenho outro remédio senão deixá-lo (a ele, ao meu filho) ter a sua vida, partir e regressar, optar pelo que quiser, fazer as suas escolhas. Muitas vezes me apetece ir também, mas tenho de me conter. Quando era como ele também parti, cortei as amarrei, “matei psicanaliticamente o pai.” E continuei a amá-lo cada vez mais, assim como espero que aconteça como o meu filho. A libertação dos filhos do cordão umbilical é um momento, ou um processo, essencial para a conquista da sua maturidade e da sua identidade.
2ª “Todas as mulheres são mães” enfim, acho uma liberdade poética que não tem nada de racional, ou de actual. Há mulheres que querem … Não, não devo escrever assim, mas de outra maneira: há “pessoas” que querem ser pais (mães e pais) e assim deve ser. Quem não quiser está no seu direito. Há pessoas que não foram feitas para procriar e nada poderia ser mais contraproducentes (para elas e os possíveis filhos) do que fazê-lo, contrariadas. Por isso não me surpreende o texto da Frioleiras. O que me admira é ainda ser necessário dizê-lo sob anonimato (para mim a confissão não contem nada de censurável) e haver quem ache que “todas as mulheres são mães”, ainda que julgue perceber a alusão a um poético misticismo (de raiz católico-judaico) ao ventre materno gerador da vida. Mas, mesmo nesta acepção me permito discordar: pais são a mãe e o pai, mesmo quando alguém discorda com um sonante “Vai chamar pai a outro.”

Lauro António disse...

PS- Quando enviei o comentário anterior, não estava ainda publicado o comentário da AP, mas nada muda, apenas mais interessante se mostra esta "discussão".

Mié disse...

Vim no fim...depois de já terem dito tudo.

Estou do mesmo lado da Frioleiras,
nunca quis ser mãe embora seja filha de uma mãe de muitos filhos. Uma boa mãe ou melhor uma grande Mulher, não por ter tido filhos mas pelo seu carácter. Portanto não posso falar do instinto maternal ou do amor incondicional dos pais para com os filhos, embora pense que esse amor incondicional se possa sentir por alguém que não tenha obrigatoriamente para connosco o laço de filhos.
Como diz o Lauro António nem todas as mulheres nasceram para serem mães.

Julgo que é um erro avaliarmos quem perde o quê ou quem ganha o quê. São maneiras diferentes de estar na vida...apenas.

Quanto à aventura desta mãe que apanhou boleia no espírito aventureiro da filha, se estivesse no lugar dela, acho que faria o mesmo. Por amor e pela oportunidade da aventura.

um beijo

grande

Frioleiras disse...

Interessante este diálogo... senti-me à vontade com todas as nossas franquezas......

E é verdade... talvez nunca o tivesse bem consciencializado!

Um facto é que nunca tive o mínimo interesse em ser mãe nem em "tarefas" domésticas... adoraria viver num hotel!
contudo, passeio-me por 3 casas sem viver "realmente" em nenhuma.

E o pior é que o mesmo se passa em relação a animais.

Assumidamente não gosto de animais
... sou uma desnaturada!

Mas......adoro, desmesuradamente a natureza, e música...
excessivamente .............

Mas... adoraria ter uma família grande e unida (irmãos, tios, cunhados, sobrinhos etc = clã mas sem filhos...).

Nada disto tenho e sofro por isso, não por não ter querido ter filhos.
nunca teria tido a mínima paciência.

Admirei TODAS as vossas respostas mas

Vocação de Mãe não acredito que todas as mulheres possam ter!

Eu não! Nunca a tive ... apenas isso me gerou um medo de que, na velhice, não ter quem "tome conta" de mim... egoista, assumo, perfeitamente..........

Disto é que me referia que, só anonimamente o posso confessar pois reconheço ser uma perfeita putice... o que sinto mas é o que sinto..............................



e.... Ana paula... és um ser muito delicado e correcto. Bem hajas!

Lauro António disse...

Frioleiras: achei tocante o seu depoimento e muito interessante esta conversa à volta de temas que nos dizem respeitos a todos. A vida é muito complexa e diversificada, mas é isso que lhe dá cor. É necessário sempre um esforço íntimo de cada um para compreender o próximo.
O fanatismo, o dogmatismo, a vontade de ter razão sempre nunca ganhou guerras, apesar de ter vencido batalhas.
Nunca apreciei mundos a preto e branco, a não ser no cinema, quando o preto e branco é de todas as cores.

Maria Eduarda Colares disse...

Ora aqui está um tema onde eu não poderia deixar de "meter a colherada"! À Ana Paula, as minhas felicitações por o ter desencadeado, aos outros interveninetes, as minhas felicitações por serem coerentes, o que nem sempre se encontra por aí. Por isso tive vontade de vir dizer qualquer coisa da minha lavra.
Não ter filhos, para mim, como diria o saudoso Jack Bauer, "was not an option". Os filhos estavam no meu programa (anárquico) de vida como estava respirar, ler, comer, meter-me dentro de água, enfim, essas coisas que "são". Não sei dizer se ser mãe destes dois filhos que tenho é bom, mau ou assim, assim, simplesmente da mesma forma que não posso dizer se viver, respirar, comer, ler ou estar dentro de água é bom, mau ou assim, assim.É a própria vida naquilo que ela tem de mais essencial, instintivo, ou lá o que lhe quiserem chamar. Acho que tive uma sorte do caraças com os filhos que me couberam em rifa. Mas se calhar, se eles fossem diferentes eu achava-os igualmente fantásticos. Não digo que a minha vida não teria sido mais calma se eles não tivessem existido, é possível, mas efectivamente, uma vez mais, it's not an option, nunca foi. Não seria vida, a vida sem eles, seria sempre uma coisa triste e amputada. Nunca me deram qualquer problema. A minha filha foi repórter de guerra e bateu todo o médio oriente e às vezes nem sabia por onde andava; o meu filho teve um problema de saúde grave e anda na guerrilha da cultura em Portugal, que provoca mais baixas na auto-confiança do que qualquer ameaça global. E eu sou a mãe mais galinha do universo! Imaginem o que me vai às vezes na cabeça! Gostava que tivessem tido outras profissões? Nunca! O que quero mesmo é que eles façam o que gostam, sejam quais forem as suas opções.
Resumindo: ter filhos para mim é tão natural como ter braços ou pernas, não se discute as vantagens ou desvantagens (há certas situações em que "sobra" sempre um braço, mas o mesmo braço é tão indispensável noutras...).
Agora esta minha forma de sentir não sofre a mais pequena beliscadura quando alguém diz que não lhe interessou nunca ter filhos, ou ter gatos, ou cães. Acho isso muitíssimo respeitável. "Ser mãe" é apenas uma adjectivação, como ser activa, preguiçosa, inteligente, sonhadora, prática, etc, etc. Cada qual é como é e gosta do que gosta, sem ter de sentir "culpado" por isso. Ninguém nasce para "ser mãe" ou ser trabalhadora, ou ser inteligente, ou ser cretina, nasce, é tudo, depois de cá estar, faz o melhor possível pela vida!Eu gosto de filhos, de gatos e de cães, mas, por exemplo, detesto campo, sombras, mosquitos, frio, outono, entardecer e... DETESTO SOPA! Não é por isso que me vou esconder no anonimato para confessar estas "faltas"! Benvindos os que gostam de sopa, de florestas, de paisagens bucólicas, de frio e... os que por opção não têm filhos! Respeito-os tanto como os outros.
Obrigada, Ana Paula pelo acolhimento! Soube-me bem entrar na conversa.

angelá disse...

Que bom que é falar em liberdade e com seriedade!
Acho relevante salientar a afirmação do Lauro António (obrigada pelos filmes seus que vi:)) de que nunca apreciou os mundos a preto e branco. Eu diria mais: o mundo não é a preto e branco, por mais que isso conviesse a alguns poderes. É que acabei ontem mesmo de ler um livro fabuloso do Arturo Perez Reverte, A Tábua de Flandres, onde isso fica demonstrado à evidência.

Bom fim de semana a todos.

Helena disse...

Cada vez mais cada um de nós é um Citizen of the World!
Depois quem disse que não aprendemos - se o quisermos -com os nossos filhos?

Beijinhos
Druiel

Mar Arável disse...

Até o país precisa de pontes

Ana Paula Sena disse...

Obrigada também a todos os que comentaram mais tarde, participando e enriquecendo o pequeno debate: M.Mec. e L.A.; Mié; Frioleiras; Ângela; Druiel; Mar Arável.

:)

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