quarta-feira, 24 de outubro de 2012

ah Camilo!

É meia-noite e um quarto no relógio da Lapa.
(...) Os poetas, que amam em verso, são uns puros desinfectantes da pútrida impureza. Se todos fizéssemos versos, e nos amássemos em oitava rima, eu lhes asseguro que este globo era um viveiro de anjos. A teoria de Hobbes seria uma calúnia, e a de Malthus um absurdo. Não andaríamos travados em permanente luta, nem a exuberância da propagação assustaria os economistas. Havia só o risco de nos matar a fome; mas cada cisne teria um canto derradeiro com que esforçar a guerra à prosa que inventou os cereais, o boi cozido, as acções do banco, e a troca de um romance por quinhentos réis.
Isto ocorreu naturalmente da castidade da lua. 
Era, pois, meia-noite e um quarto no relógio da Lapa, e fazia luar como de dia.
 
Camilo Castelo Branco, O Que Fazem Mulheres

6 comentários:

vbm disse...

:))

José Ricardo Costa disse...

Livro delicioso. Camilo no seu melhor.
JR

Mar Arável disse...

O nosso eterno Camilo

Ana Paula Sena disse...

um abraço, Vasco :))

Ana Paula Sena disse...

Concordo, José Ricardo: delicioso!

Ana Paula Sena disse...

...alguns são eternos, felizmente, Mar Arável!

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