revi hoje, pela... não me recordo exactamente... talvez quinta ou sexta vez, o filme Noites Brancas, um dos magníficos de Visconti. quando começou, fui olhando vagamente, enquanto ia pensando que não o iria ver todo de novo. a constante antecipação parecia inevitável. mas, a pouco e pouco, o encanto dos diálogos e aquela luz branca a crescer devagarinho tornaram-se irresistíveis.
quando o final chegou, tudo no filme me luzia como se fosse a primeira vez. o branco a comer as sombras mais e mais. revejo: os enamorados caminham encostados um ao outro. o casaco dele pelos ombros dela. a neve mansa em redor... os saltos nos sapatos negros a desaparecer na brancura do chão. a ponte é pequena e aproxima o momento da separação. percebe-se um vulto. um homem alto vestido de negro. e ela larga tudo - o sobretudo caído e aberto sobre a neve. corre para a ponte. o homem mito espera. basta-lhe emanar a sua aura. está tudo mais que determinado. beijam-se. um doce e intenso branco oscila no ar. o homem real chora. aconchega o casaco escasso junto ao corpo. o frio entra-lhe nos ossos. lentamente caminha sem rumo vagueando pelas ruas brancas numa noite branca. e eu sem deixar de pensar o tempo todo no casaco largado sobre a neve. no quanta falta ele lhe faria. no frio que devia estar. na loucura de esquecer o casaco. na importância dele. na... tudo isso, sim. até que finalmente ele volta. apanha o casaco. sacode-lhe a neve. veste-o, para meu alívio. agora pode passear quente pelas ruas brancas numa noite branca com um companheiro branco ao lado dele.
há filmes que nunca se vêem da mesma maneira.
2 comentários:
Há filmes que têm que se rever e sempre trazem algo de novo, no contexto psicológico que vivemos. Há filmes e livros para rever e reler, são obras que pela sua qualidade motivam várias leituras!
É como a música de Mahler, que tem sempre algo para descobrir... e ouço, volto a ouvir e ouvirei sempre!
Beijinhos,
Manuela
há coisas que nunca cansam, Manuela!
beijinhos :))
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