A minha noite de 24 para 25 de Abril teve contornos de jazz. E não pode ser por acaso, pois ao entrar na vida adulta, nesse então ainda jovem pós-25 de Abril, estive bastante mergulhada nele. Também eu era jovem e um dos acontecimentos mais marcantes dessa época tinha lugar com o célebre Festival de Jazz de Cascais. Na verdade, eu já chegava um pouco tarde - para beber daquela aura fantástica, a dos anteriores festivais com o Luís Villas-Boas na sua fase mais dinamizadora. Mas ainda consegui beber um bocadinho desse inesquecível ambiente, com o melhor do free jazz e também do blues. Ouvi contar muitas histórias - e também vi e ouvi o B.B. King ao vivo! (mais tarde). Não consigo esquecer-me. Um dos episódios que se contava com certa paixão, era o do caso Charlie Haden, passado em 1971, no primeiro festival (em ambiente de Primavera Marcelista) - e que encontrei aqui bem documentado. Vale a pena conhecê-lo e relembrá-lo. É preciso recordar (para sempre) que o 25 de Abril nos trouxe liberdade. E o que é a liberdade? Também tudo o que é desejável para viver um ambiente cultural rico, diversificado e verdadeiramente frutífero. Aquele que semeia novas ideias e abre a porta à mudança para mais e para melhor.
Por exemplo, o mais interessante no chamado free jazz é o improviso. Por analogia, na vida, acontece anteciparmos o que vai acontecer, mas a nossa previsão é sempre incompleta e limitada. Na realidade, é preciso improvisar: não estamos completamente certos do que vem, mas o melhor de tudo é saber que vivemos como quem pode escolher e criar. A cada instante.
Este é o meu primeiro post pós-25 de Abril 2012. Portanto, sobre o mais difícil, o que continua... Infelizmente, o meu 25 de Abril foi sobretudo marcado pela morte do Miguel Portas. É em memória dele ainda que deixo ficar esta Song for Che (com Ornette Coleman e Charlie Haden).
Há Jazz!
2 comentários:
Não conhecia, a vida é verdadeiramente uma descoberta incessante. Uma óptima maneira de celebrar o 25 de Abril. A morte do Miguel Portas deixa claro que o mundo vai perdendo pessoas insubstituíveis. Apetece dizer em conformidade com aqueles versos do Zeca, "A morte saiu à rua":
"Aqui
Te afirmamos
Dente por dente
Assim
Que um dia
Rirá melhor
Quem rirá
Por fim"
neste estado de coisas a que chegámos é o que apetece dizer!
Abraços, e obrigado pela música sublime
... que bem lembrado por ti, Daniel!
"a morte saiu à rua" para amanhã celebrarmos a vida :)
um abraço!
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