Foi um dos livros mais interessantes e mesmo instrutivos que li nos últimos tempos. Refiro-me a O Grande Inquisidor de João Magueijo. Nele, há uma série de elementos diversificados que condimentam a agradável e estimulante leitura. Isto, para quem goste de uma espécie de mistura entre policial, mistério/suspense, física nuclear, etc. Um dos aspectos deveras enriquecedor do livro, é o que se prende com questões relativas a uma certa história da ciência. Os cientistas surgem-nos como seres verdadeiramente humanos, ou seja, repletos de contradições. Com defeitos a par da sua genialidade. E com inúmeras inquietações ou momentos de crise. Na verdade, para lá do tempo actual, crise não é um termo estritamente económico, como é óbvio. Por exemplo, situações de crise/fases problemáticas vividas por Ettore Majorana, ou por Franco Rasetti, e que aqui registo. Foram certamente reais momentos de dúvida - ou da espécie do que é uso designar por problemas existenciais. Terão pouca importância, para o curso da história? Não sei. Mas lá que existem, existem. Sobretudo, vivem-se.
Ettore Majorana (1906-1938) |
Já foi sugerido que Ettore teria perdido a fé na ciência, que se teria tornado sensível à suposta contradição entre a ciência e a religião; que a sua tragédia é como a de Pascal, o filósofo francês que rejeitou a ciência em nome da religião. Mas, a meu ver, Ettore pode ter perdido a fé em muito mais do que a ciência. Pode ter perdido completamente a fé na racionalidade.
João Magueijo, O Grande Inquisidor
Franco Rasetti (1901-2001) |
(...) Rasetti, o principal assistente de Fermi em experiências, estava a atravessar uma crise de fé científica (a primeira de muitas). Num capricho, abandonara recentemente as suas experiências para passar umas férias prolongadas em Marrocos, «em perseguição desse espectro esquivo, a esperança de encontrar algures algo que lhe desse satisfação e o preenchesse», de acordo com Laura Fermi.
João Magueijo, O Grande Inquisidor
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