domingo, 22 de janeiro de 2012

Filosofia prática

O professor fala. Noventa minutos sobre noventa minutos. Diariamente. Ouve-se permanentemente a si mesmo. Olha o que disse. Vê o que disse. Pesa-o. Até questionar o seu próprio discurso. Mas eis que noventa minutos vêm para o melhorar. Para o re-interrogar. Para o repetir. Para o modificar. Para o levar para casa. Para o dissecar. Para o reorganizar. Para acrescentar. Para subtrair. Para repetir. E continuar. Sem descansar. Vem um pequeno intervalo na vigília do pensamento. O que é só o instante em que o sol se põe. Mas eis que a noite prepara o dia. Para repetir. Para questionar. Para interrogar. Para corrigir. Para perder sentido. E encontrar sentido. No discurso. Nas afirmações. Nas negações. Nas interdições. E a liberdade. Impossibilidade. Reconhecimento. Mais o estranhamento. O professor navega no movimento incessante do ser. No silêncio cheio de discursos. No momento entre. No instante agora. No inevitável de proferir palavras. O que o professor diz é sempre à hora. Sem demora. Diz.
Mas não há becos sem saída - e o professor sorri.


[dedicado a todos os companheiros(as) de profissão, presentes no meu dia-a-dia, com a minha maior admiração]


2 comentários:

Unknown disse...

Verdade que sim... mas o maior problema acontece qd deixamos de pensar, interrogar, qd entramos na rotina de um quotidiano que se queria e desejaria mais liberto... por vezes, o cansaço é tanto, mas tanto que nos deixamos ir

Ana Paula Sena disse...

Sem dúvida que esse é um dos maiores problemas: o desgaste que esta profissão envolve; a mecanização a que estamos sujeitos. Pensar, questionar, interrogar, com o seu lado frágil e humano, torna-se uma espécie de resistência. Mas só às vezes é possível. Talvez cada vez menos possível...

Grata pela visita. Um Bom Ano para a Escola!

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