Tenho ido ao cinema e apetece-me falar de filmes. Um filme de Almodóvar, por exemplo, promete, regra geral, uma sessão de nonsense bem "montado". Pois este La Piel Que Habito (2011) é um objecto cinematográfico híbrido que, se não consegue deixar a pairar no ar um verdadeiro drama (ainda que ele subsista), também raramente está imbuído de autêntico humor. Mas o caso é que não consegue igualmente ser uma tragicomédia. Digamos que é um pouco de tudo que resulta em muito pouco. Há pontos a favor, claro: o espírito original e o olhar inquieto de Almodóvar estão lá, mas numa metamorfose pouco convincente.
É compreensível e desejável que observemos a maturidade de um autor, mas para que ele nos mostre a sua evolução e o seu carácter multifacetado, é preciso um bom argumento. E é aqui que julgo estar a parte mais fraca do filme - um dos aspectos mais relevantes num filme que quer contar uma história (como é o caso) é contar mesmo uma, o que só é possível se ela estiver bem forjada. E esta podia ser uma boa história. Mas não é. Porquê? Não só porque consegue ser demasiado previsível, mas, sobretudo, porque é rebuscada, exageradamente rebuscada, não chegando sequer a ser barroca. É pena, até porque o tema da identidade sexual, tal como o da cirurgia plástica com a sua busca do elixir da eterna juventude, o tema da transexualidade, o da engenharia genética e das questões éticas associadas aos transgénicos; tudo isto consiste num conjunto de bons e actuais temas, mas aqui tratados superficialmente. Uma visão tão superficial quanto a de uma pele absolutamente perfeita, sem nenhum tipo de marcas, a não ser aquelas que a bela Vera inflige a si própria. De resto, diga-se em abono da verdade, uma Vera/Elena Anaya muito bela.
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