Edouard Manet, Woman Writing (1862-64) |
Quando há um bocadinho mais de tempo para ler, encontram-se coisas assim, digamos, do tipo "um certo beliscão". Por isso, toca a acordar. Digo eu. «"Mr. Barnes, estudámos o seu caso e concluímos que o seu medo da morte está intimamente ligado aos seus hábitos literários que não passam, como para muitos da sua profissão, duma reacção banal à sua condição mortal. Inventa histórias para que o seu nome e uma incalculável percentagem da sua individualidade continue após a morte física, e essa esperança traz-lhe algum consolo. E mesmo que intelectualmente tenha percebido que pode perfeitamente ser esquecido antes de morrer, ou logo a seguir, e que todos os escritores acabarão por ser esquecidos, assim como toda a raça humana, ainda assim parece-lhe que vale a pena. Não podemos ter a certeza se escrever é para si uma reacção visceral ao medo racional ou uma reacção racional ao medo visceral. Mas tem aqui uma coisa para pensar. Aperfeiçoámos uma nova operação ao cérebro, que elimina o medo da morte. É um procedimento simples que não necessita de anestesia geral - pode, aliás, seguir o resultado no seu monitor. Não perca de vista o ponto luminoso cor de laranja e veja-o esbater-se gradualmente. Mas é claro, descobrirá que a operação lhe tira a vontade de escrever; muitos dos seus colegas, porém, optaram por este tratamento e acharam-no muito benéfico. No geral, a sociedade também não se queixou por haver menos escritores."» in Julian Barnes, Nada a Temer |
2 comentários:
Olá Ana Paula. Como diria a Duras "A dúvida é escrever. É, portanto, também o escritor."
Mas... e se isso for um desígnio?
Bj
Gostei Ana...
Poderá ser assim mesmo, o lado perverso dos medos... e a morte assusta mais do que se pensa.
As férias estão a se boas?
Tenho aparecido pouco para leituras...
mais para debitar... à momentos assim, que ás vezes passam por medos pelos quais somos apanhados.
Beijoca
Ana
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