quinta-feira, 19 de maio de 2011

Vai um joguinho?


 «A angústia é a disposição fundamental que nos coloca perante o nada.» in Martin Heidegger, Da Essência da Verdade

O bluff é uma coisa gira. Leva-se alguém a crer que as coisas são de uma certa maneira, faz-se a parte de que sim, de que é mesmo assim e tal... de que, por exemplo, até há uma certa ameaça no ar... e depois espera-se o correspondente efeito. Há pessoas que gostam muito deste tipo de estratégias de manipulação. Adoram, e acham-se o máximo, porque acreditam ser exímias na sua execução. E eu digo que é uma coisa gira, enfim, porque só consigo situar este tipo de representações, algures no plano do mero divertimento superficial. Diverte, e até entretém, enquanto artimanha psicológica. Levada a cabo com alguma arte, pode tornar-se esteticamente interessante, ainda que bastante oca. A parte menos gira do bluff é quando há pretensão de que o outro, ou outra, é estúpido(a). Em rigor, talvez do bluff sejamos todos sabedores, mas uns apenas ocasionais entertainers, enquanto outros são verdadeiros profissionais da coisa. 
Pode mesmo acontecer, no convívio com certas pessoas, ou em certos ambientes, uma pessoa começar a pensar... até que ponto não será que uma grande parte da vida é muito semelhante a um ludibriante jogo de cartas...? Daqueles ao longo dos quais... encontramos quem nos faça crer que tem grandes trunfos para jogar, quando, na verdade, não tem nada!
Talvez a vida possua várias camadas de existência. Desde a primeiríssima, apenas porque a mais acessível e mais fácil de habitar, ali mesmo à superfície; até uma outra, que ocupa zonas dolorosamente profundas e se torna, regra geral, inacessível. Provavelmente, certas pessoas são felizes nesse lugar mais "leve" (porque com menos "ser em cima", digamos) e, por mais que alguém as queira "puxar" para outros lugares, nunca conseguirá levá-las até lá... Pode argumentar-se - e é de lembrar - que nada garante vantagem a planos mais profundos da existência. Bem sabemos, um dia todos terão um fim. Antes dele, para quê preocupações?! "Sejamos preocupadíssimos, que o tempo foge!". Poucas hipóteses contra "Sejamos levíssimos, que a vida é breve!". Mas não, isto não é um qualquer pretenso manifesto hedonista. Só que, vendo bem, até o podia ser. Qualquer outro tipo de causa parece perdida, perante a possibilidade do puro prazer. Até mesmo, quem sabe?, do prazer de conseguir enganar um outro.
Assim sendo, esta minha pequena reflexão é pura retórica. Humm... ou será que estou a fazer um certo bluff?


7 comentários:

Manuela Freitas disse...

Olá Ana Paula,
Gostei muito de ler as suas reflexões sobre o bluff...concordo em absoluto e nada há a acrescentar!
Beijos,
Manuela

Kai Edgeworth disse...

O bluff traz guito...

Ana Paula Sena disse...

Muito obrigada pela atenção, Manuela!

...e aqui ficam, sem bluff :), beijinhos amigos, para si.

Ana Paula Sena disse...

Bom, Fernando, pensando nisso, é de ter em conta o bluff dos mercados :)

Há.dias.assim disse...

o bluff é tramado... :)

Ana Paula Sena disse...

lá isso é! trama! :)

beijinhos, Há dias....

anamar disse...

O bluff é uma arma de arremesso usada por muitos sem dó nem piedade...
Bela reflexão... e há que usar escudos...
Beijoca
Ana

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...