quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Quando hoje o tempo só pode ser de poesia


Ó mar azul meu actual paul
ó catedral de angústia ó pequena réstia
dessa feliz felicidade que sei que não há-de
haver sem eu correr o risco de a perder
(...)
Humano mesmo se demasiado humano
povoam-me cidades sossegadas
de sonhos que semeiam as semanas
onde só o silêncio é soberano
Dobra-se a brisa à mão do meio-dia
a fantasia é fértil em verdade
e do presente obscuro português
algum futuro há-de enfim nascer
Do salmo lúgubre da luz final do dia
que já há quatro séculos se entoa
hão-de rasgar a noite portuguesa
as raparigas da cidade de lisboa
E eu hei-de voar ao vento do momento
Dizias qualquer coisa? Esta manhã? Perfeitamente



Excertos do longo poema de Ruy Belo intitulado "Enganos e Desencontros" in O tempo das suaves raparigas e outros poemas de amor

Foto: A.P. 

12 comentários:

Mar Arável disse...

Lá estarei

se as tempestades acordarem

de preferência com relâmpagos

Bjs

vbm disse...

Sempre belos,
os versos
do poeta Ruy Belo!

Nilson Barcelli disse...

Belíssima escolha, querida amiga.
Gosto do teu gosto...
Beijos.

Miguel Gomes Coelho disse...

Perfeitamente !
Um abraço, Ana Paula.

C. disse...

Ruy Belo da minha perdição. Poema de uma actualidade espantosa, esta, de voarmos "ao vento do momento" a olharmos para a "catedral de angústia" em que o nosso país se tornou. Simultaneamente belo e triste.

Um abraço.

mdsol disse...

Ruy Belo, sempre.
Beijinho, Ana Paula.

Há.dias.assim disse...

Há dias assim... sem dúvida!

José Manuel Marinho disse...

A grandeza de Ruy Belo reside na simplicidade da sua linguagem poética. Este poema é de uma beleza rara. Bem hajas, Ana Paula, que o lembraste. Tudo de bom. Boa semsna.

via disse...

Excelente lembrança que talvez possa perdoar algum fortuito esquecimento.

anamar disse...

É bom haver dias assim...
Beijinho

Ana Paula Sena disse...

Ai, "via", tens razão!

Tenho que redimir-me. Foi sem querer.

Beijinhos amigos.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Gosto mesmo de Ruy Belo...

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