sábado, 9 de outubro de 2010

Actualizações e cogitações

Quando dei por mim, reparei que o blogue estava muito fora de prazo! Portanto, devo dizer alguma coisa aqui. Devo, porque quero, claro. Numa só semana, o mundo deu tantas voltas. E eu também. Continuo sem perceber grande coisa de economia, de agências de rating, da especulação dos mercados, essa que nos condiciona, e etc... mas tenho lido por aí que paira sobre nós o "fantasma" do FMI. Depois, gosto de ouvir de vez em quando uns debates na TV para descontrair, embrenhada nos percursos argumentativos das elites políticas, intelectuais, e agora também, sobretudo, gosto de perder-me na argumentação dos nossos ilustres economistas. Por ex., ouvir o Dr. Medina Carreira dizer que vamos bater com a cabeça na parede... Ai, ai, "vamos bater"... Mas o Secretário-Geral da CGTP, Carvalho da Silva, diz que há solução. E há?! ... Ou ouvir os políticos dizerem todos mal uns dos outros, esmiuçando, dissecando e refutando o discurso de cada interlocutor. Claro, sabemos, tudo isto tem uma grande dimensão retórica. De dialéctica erística, como diria Schopenhauer - "a arte de disputar, e isto de tal forma que se tenha sempre razão, quer seja ou não o caso - per fas e nefas (por qualquer meio)". Também sabemos, e até concordo, as ideologias estão mortas. Acontece dar por mim a admirar-me com a estranha proximidade entre PSD e BE. Agora, o que manda, sim, e para o que tudo converge, é o capital. Mas isto soa algo marxista. E Marx está fora de moda, diz-se. Na verdade, não sei se Marx teria pensado neste novo capital, o capital virtual. Tenho que reler. Mas, não há lá muito tempo. É preciso trabalhar. De resto, de verdadeira economia, agora, é preciso ler outros, bem mais actuais, para estar "por dentro". Isto é importante, não esquecer, o mundo não pára, muito menos fica à nossa espera uns tempinhos.
Facto é, eu e muitos vamos ganhar menos, pagar mais, os tempos estão difíceis. O país precisa de nós e nós precisamos dele. Estamos indissoluvelmente ligados. É preciso trabalhar mais e mais. Eu ainda acredito em nós. Mas não nestas explicações, muito além da minha compreensão, ocupada que estou a trabalhar. Agora, ainda por cima, chove tanto... Há um abrupto confronto com a depressão outonal. Tudo parece convergir. E isto recorda-me o título de  um livro, título de que muito gosto, sem quase saber explicar o por quê (?) - "Tudo o que sobe deve convergir", é da Flannery O'Connor. Mas, aqui, agora, parece que é tudo o que desce que está a convergir (é uma ideia...). 
Falando em literatura, mais uma volta o mundo deu - foi atribuído o Prémio Nobel a Mario Vargas Llosa. Eu gosto de literatura e gosto da de Mario Vargas Llosa. É um justo prémio. Isto seria simples, se fosse possível criar uma literatura onde nada tivesse dimensão política. Acontece que isso não existe. De resto, o autor em causa é exemplo disso, e declaradamente. Mas rapidamente se identifica um autor com direitas e esquerdas. Essas mesmas que actualmente são tão flutuantes. É realmente estranho. Sobretudo porque todos deveriam estar de acordo acerca do necessário combate a todo o tipo de totalitarismos. Combate de que este recente laureado é um dos mais vivos exemplos. A sua arma, a escrita. Deveriam, digo eu... Mas eu percebo pouco de tantas coisas... Vou mas é ouvir uma musiquinha. 

A propósito, é de ler, porque eu não diria certamente melhor, este texto do RAA no Abencerragem

Bom fim-de-semana!




21 comentários:

observatory disse...

o que pensa a srª de um país que nao cria metade da comida que mastiga?

será preciso ouvir tanta televisao?

Ricardo António Alves disse...

obrigado, Ana Paula!
a musiquinha é uma arma, contra a depressão :|

Ana Paula Sena disse...

César(observatory): possivelmente, penso o mesmo que o César, e que é o óbvio - tem que mastigar menos ou criar mais.

Pessoalmente, crio o que mastigo; mas acontece nem ter tempo para mastigar.

Oiço/vejo pouca. Certo é que também não vivo num mundo paralelo.

Guy Debord, bem sei...

Ana Paula Sena disse...

É uma arma, sim, RAA!

Miguel Gomes Coelho disse...

Ana Paula,
Estamos a viver numa época de fim de ciclos. Nada disto é novo, basta ler a História. A reacção dos povos é assim.
Existe uma prédisposição para a crítica exacerbada a que não faltam motivos mas em que não se vislumbram soluções.Poucos se preocupam com as soluções; quase todos fazem vir ao de cima os seus interesses individuais ou de grupo. Não é fácil viver em coerência nos dias de hoje; as motivações inundam-nos. Contudo...
É bom ler palavras serenas.
Gosto muito desta sua reflexão. Era bom que todos, digo todos, e também contra mim falo porque não é fácil desapaixonar-me dos meus combates, tivessemos essa capacidade de olhar calma e descomprometidamente.
Um abraço grande.

Há.dias.assim disse...

Querida Ana Paula
Andei esta semana louca com trabalho, para a semana também, mas isso pouco importa.
O facto de chegar muito tarde a casa faz com que ouça pouco esses senhores que agora entraram na moda de tanto falar sobre a economia -falam, falam mas não dizem nada.
Só com um governo de salvação nacional isto lá vai.
Da esquerda à direita não há um político que se aproveite. Já ouviste alguém da oposição exigir que a medida "reformas e salários não podem ser acumulados" deve ir para a frente?
O PSD é realmente responsável? quem pode vir a votar num homem que se quer fazer ouvir e deixa o país ainda arruinar-se mais?
que venha o FMI ou um qualquer político governar este país. Cá dentro, até prova em contrário nenhum presta. Resta-nos os comentadores que são os que, em conversa, mostraram saber governar o país ;).
Haja paciência!

Ana Paula Sena disse...

Miguel, muito obrigada pelo seu comentário, que também revela serenidade.

É certo que tudo se repete, ainda que não exactamente da mesma maneira. Mas a História muito pode ensinar-nos, é bem verdade.

A questão das soluções é a crucial, como o Miguel aponta. Essas é que não são esmiuçadas e debatidas como seria de fazer. Vezes demais, nem sequer são apresentadas.

Eu também tenho os meus combates e os meus compromissos. Aliás, encontro nessa matéria do compromisso enorme interesse. A questão que fica, para mim, é sempre a de saber comprometer-me em liberdade. É uma tarefa difícil.

Um grande abraço também, para si.

Ana Paula Sena disse...

Há dias...: o trabalho que nos ocupa, apesar do cansaço, tem as suas vantagens (e, olha que eu não fui educada segundo a ética protestante).

Portanto, venha ele :)

Também chego tarde e perco todo o período "nobre" dos acontecimentos. Tento ir acompanhando (em doses suaves), para conhecer melhor o mundo no qual estou inserida. Normalmente, o efeito é o inverso: confusão e escuridão. Mas também alguma compreensão intermitente...
Como ainda estamos em época de vindimas, ocorre-me a seguinte conclusão: 'muita parra, e pouca uva'.

Referes, e muito bem, a facilidade que há no governar de um país a partir de uma bela cadeira de comentador, onde o discurso ora se inflama, ora soa monocórdico, sem inflamar nada na economia do país, o qual até sente que cumpre o seu destino trágico.

Um beijinho, querida amiga.

vbm disse...

Só vi a tua referência à economia marxista que, parece, pode estar 'fora de moda' :).

Eu por acaso tenho muita curiosidade de conhecer como os economistas marxistas prosseguem a análise económica, agora, sem os estados do Leste e o poder comunista na Rússia; com os sindicatos claramente enfraquecidos, os países atrasados a industrializarem-se à base da mão-de-obra barata, mas saída da miséria; o progresso científico e tecnológico imparável, com massas imensas de cidadãos instruídos a terem de possuir ocupação, não na esfera de produção ou distribuição, mas na da pura interactividade social e cultural...

É que há um detalhe: a economia marxista é uma economia clássica, os seus enunciados teóricos são válidos hoje como o eram antes, e será interessante ver como os marxistas integram as novidades capitalistas no determismo do desenvolvimento do sistema social porque eu não creio que Marx, em si, enquanto economista clássico, e macroeconomista, esteja ultrapassado.

Quanto a mim, o problema de fundo é o de fortalecer a classe social portadora de maior efeito civilizacional e que pode não ser propriamente o operariado mas porventura a classe dos trabalhadores instruídos nas ciências da natureza e do homem.

mdsol disse...

Que bom vir aqui. E ler e ouvir...

Bom fim de semana, querida Ana Paula

Beijinho

Ana Paula Sena disse...

Vasco (vbm): muito obrigada pelo teu comentário, e por todas as pistas que deixas ficar para minha análise e reflexão...

...pois acontece que também eu tenho a maior curiosidade no assunto.

Sei que há uma corrente neo-marxista a proliferar por esse mundo fora, mas desconheço, em rigor, o teor das propostas.

Vasco, um novo proletariado?! :))

Ana Paula Sena disse...

Mdsol: Muito obrigada.

É também muito bom ter-te aqui!

Bom início de semana - com beijinho de volta.

partilha de silêncios disse...

De facto, quer queiramos ou não estamos ligados a esta crise. Confesso que também não consigo compreender as explicações que nos querem impingir ou a falta delas. O que sei é que trabalho mais, irei ganhar menos, pagar mais impostos e não se vislumbra um fim para este pesadelo em que o nosso país se encontra. É triste... muito triste !!! acho óptimo uma boa música para levantar o ânimo. beijinhos

analima disse...

Olá, Ana Paula. Só hoje consegui vir até aqui. Junto-me aos que gostaram de ler esta reflexão. Normalmente não vejo televisão, não porque não goste mas porque o tempo não chega e agora com esta coisa dos blogues... Medina Carreira, embora lhe reconheça algum discernimento face a uma realidade que conhece bem, já me cansa com a sua pose. Já Carvalho da Silva cada vez o admiro mais. Tenho a certeza que se não fosse o facto de estar "amarrado" ao PC já teria ido bem mais longe. E argumentação por argumentação prefiro a do segundo. :)
Quanto ao prémio Nobel da literatura deste ano vou ter que investir um pouco mais na sua leitura. Li, há muitos anos, a "Conversa na Catedral" e confesso que me custou muito...

vbm disse...

Gosto do teu sorriso! :)

O do 'novo' 'proletariado',
... e o do novo retrato :)

Beijos,
Vasco

Teresa Santos disse...

Ana Paula,

Sem dúvida, é mais importante ouvir uma musiquinha do que ouvir estes senhores.
Mas, diz-me, onde páram as elites políticas?
Um, entre muitos dos nossos problemas, reside precisamente no facto de não termos elites, não termos lideres, não termos políticos à altura.
Beijinho.

José Marinho disse...

Boa noite, ana Paula! Não, Marx não está fora de moda; é cada vez mais aplicado, mas permita-se-me, ao contrário do objectivo que ele previa para o seu pensamento - revolução, luta de classes, criação de uma "sociedade mais justa"... Os liberais e neo-liberais economicistas leram Marx, instituíram a sua análise do capitalismo nas universidades, para melhor poderem perpectuar o mercantilismo, já não é, há muito tempo, uma questão de capital e lucro, mas de uma demência completa da ganância e da orgia do poder; serviram-se e servem-se da sua análise do capitalismo para melhor saberem perpectuar-se e perpectuar o seu poder e o assombro demoníaco das suas fortunas absurdas e obscuras. Além disso, há, na obscuridade, algo que se assemelha a um governo sombra à escala mundial que tudo determina - golpes de estado, promoções, queda de governos, ascenção de outros, inflações e deflações, controlo da informação, enfim... Há bastante tempo que me parecia estranha tanta mediocriadade, tanto golpe baixo, tanta arrogância, tanto conluio do universo político instituído com o universo da alta finança, maniplulando CIA, FMI, Banco Mundial e demais organizações, apenas marionetas de sinistros "homens" que, na maior obscuridade, traçam os destinos da humanidade. De facto, há algo por detrás de tudo isso - talvez conheças o chamado Grupo de Bilderberg, que Martin Estulin tenta desvendar. Só há pouco conheci o seu "O grupo de Bilderberg - toda verdade". Li, mas não consegui ler mais, pois fiquei estarrecido, mas é meu dever divulgar, para quem não conheça esse título e esse autor. Deixo aqui informação
http://ferrao.org/2008/06/daniel-estulin-clube-bilderberg-os.html
http://www.danielestulin.com/
"download" do livro aqui http://inerte.horabsurda.org/?p=2122

É importante divulgar.

Vai longo este comentário, pelo que peço desculpa. Essa gente sinistra não conhece uma mão noutra mão enlevando nelas um ameno crepúsculo solar outonal; não gostam de um sorriso franco e luminoso, têm-lhe medo, sorriamos um sorriso com o que tu, Ana Paula, exprimes na tua foto do Perfil. Estás linda! Abraço e continuação de boa semana. José Marinho.

José Marinho disse...

Boa noite, Ana Paula! Desculpa se este é um comentário repetido, pareceu-me que o outro não ficou assumido. Considera este, pois alterei-o, estando um pouco melhor. Obrigado.
Não, Marx não está fora de moda; é cada vez mais aplicado, mas permita-se-me, ao contrário do objectivo que ele previa para o seu pensamento - revolução, luta de classes, criação de uma "sociedade mais justa"... Os neo-liberais economicistas leram Marx, instituíram a sua análise do capitalismo nas universidades, para melhor poderem perpectuar o mercantilismo. Actualmente, já não está em causa uma mera questão de capital e lucro, mas de uma demência completa da ganância e da orgia do poder; servem-se da análise marxista do capitalismo para melhor saberem perpectuar-se e perpectuar o seu poder e o assombro demoníaco das suas fortunas absurdas e obscuras. Além disso, há, na obscuridade, algo que se assemelha a um governo sombra à escala mundial que tudo determina - golpes de estado, promoções, queda de governos, ascenção de outros, inflações e deflações, controlo da informação, enfim... Há bastante tempo que me parecia estranha tanta mediocriadade, tanto golpe baixo, tanta arrogância, tanto conluio do universo político instituído com o universo da alta finança, manipulando CIA, FMI, Banco Mundial e demais organizações, apenas marionetas de sinistros "homens" que, na maior obscuridade, traçam os destinos da humanidade. De facto, há algo por detrás de tudo isso - talvez conheças o chamado Clube de Bilderberg, que Martin Estulin tenta desvendar. Só há pouco conheci o seu "O clube de Bilderberg - toda verdade". Li, mas não consegui ler mais, pois fiquei estarrecido, mas é meu dever divulgar, para quem não conheça esse título e esse autor. Deixo aqui informação
http://ferrao.org/2008/06/daniel-estulin-clube-bilderberg-os.html
http://www.danielestulin.com/
"download" do livro aqui http://inerte.horabsurda.org/?p=2122

É importante divulgar.

Vai longo este comentário, pelo que peço desculpa. Essa gente sinistra não conhece uma mão noutra mão enlevando nelas um ameno crepúsculo solar outonal; não gostam de um sorriso franco e luminoso, têm-lhe medo, sorriamos um sorriso com o que tu, Ana Paula, exprimes na tua foto do Perfil. Estás linda! Abraço e continuação de boa semana. José Marinho.

Unknown disse...

Querida Ana Paula

li com agrado a tua reflexão serena. depois já não consegui ler todos os comentários, não por causa deles, mas de mim, que sinto um cansaço infinito sobre esta matéria e sofro infelizmente de um pessimismmo crónico que não é o teu. e ainda bem!
por mim, tenho-me lembrado imenso do nosso fabuloso Padre António Vieira: "ou é o sal que não salga a terra, ou a terra que se não deixa salgar" (citei de cor). hoje, eu diria "e" em vez de "ou".

um beijo e obrigada

Manuela Freitas disse...

Olá Ana Paula,
Andou-se anos e anos a praticar erros sobre erros, todos participaram, agora a solucção não vai chegar de bandeja, com tanta coisa a precisar de mudar! Se pudessemos regressar a Abril e começar tudo de novo!?...
Será que Sócrates vai sair, como outros o fizeram?..Não estou muito convicta do que seria melhor!!!!Quando só vejo o pior, não vejo o que será o melhor!!! .
Bjs,
Manuela

anamar disse...

Ana , entre o que escreveste e o que li de comentários, sei que vou dormir(???, pis sou insone)... mais enriquecida...
:))
Ana

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