Os quadros de Francis Bacon são inegavelmente espantosos e geniais. Vejo neles movimento e metamorfose. Mas, é-me sempre difícil olhá-los. Suponho que deva dizer, neste caso, "ainda bem". De algum modo (ou modos), torna-se explícito o horror que há no mundo, o horror que há no humano, sem que a sua revelação se torne limitação. Pressinto como que um potencial de horror nos seus traços, para lá do que é imaginável por mim, no instante em que os observo e vejo...
Outras imagens há, nas quais o potencial de horror se auto-limita pela sua crua exposição, concretizada nos mais ínfimos detalhes. Ou seja, de certa forma, o que era apenas uma hipótese algo indefinida, imaginada e pressentida, numa pintura de Bacon, torna-se visão gritante da realidade. Com a sensação de que para lá do que se vê então, não pode existir mais nada (?). Perante ela, a dor indescritível de ver, e a consciência de que o choque talvez seja necessário à acção.
Imagem: pintura de Francis Bacon
Outras imagens há, nas quais o potencial de horror se auto-limita pela sua crua exposição, concretizada nos mais ínfimos detalhes. Ou seja, de certa forma, o que era apenas uma hipótese algo indefinida, imaginada e pressentida, numa pintura de Bacon, torna-se visão gritante da realidade. Com a sensação de que para lá do que se vê então, não pode existir mais nada (?). Perante ela, a dor indescritível de ver, e a consciência de que o choque talvez seja necessário à acção.
Imagem: pintura de Francis Bacon
11 comentários:
Um artista que muito admiro! Ele conseguia captar e representar o lado negro do ser humano, o desmembramento do ser, a deformação... tudo tão poético quanto extravagante, e por vezes polémico! =)
Ana Paula
A vida, ás vezes, torna-se num quadro de horrores difíceis de observar...
Bjs e boa Semana
Sentido... e sim, a acção é frequentemente reacção.
Um abraço.
Olá Ana,
Obrigada pelas suas visitas, de que eu estou sempre à espera!...
Compartilho o que diz sobre o pintor Bacon e subscrevo a exploração detalhada e repetida até à exaustão, pelos abutres da desgraça!...
Bjs e uma boa semana,
Manuela
«é-me sempre difícil olhá-los (...)»
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Eu não os olho.
Tal como não o faço
para os da Paula Rego.
Mas, confesso, não tenho
o sentido das cores e das formas
para os apreciar na expressividade
que porventura retratam e eu não olho.
Ana Paula uma ótima reflexão sobre este momento tão triste e difícil para toda a humanidade.
Um beijo, Eliete
Ou sempre a mesma questão no que diz respeito à Arte e à Vida - o que é que imita o quê?
Beijinho, Ana Paula.
Também concordo que, por vezes,"o choque", é necessário à acção. No caso da arte, "chocar" é cada vez mais difícil. O mercado de arte acaba por integrar também o "chocante", transformando-o em algo rentável. Veja-se a vigília de Pasolini em relação à sua criação cinematográfica ao abjurar a "trilogia da vida", considirando-a passível de comercialização vulgar. Daí ter chegado ao desespero lúcido de "Salo". Isto quer dizer quer dizer que a vigilância, o distanciamento e o não deslumbramento perante o que é criado são atitudes fulcrais para que o acto de criação seja o menos possível integrado em sistemas de vida nos quais não acreditamos. Reeditei o "poema colectivo", lembra-se?... Será curioso relê-lo algum tempo depois. Tudo de bom.
Não sou um grande admirador da vida e da obra deste autor. Se calhar por ter sido uma pessoa doente, desde pequeno, transmitiu muita tristeza e as decadências humanas para as telas.
A arte não se discute, ouve-se dizer muitas vezes. Bom acho que se deve discutir, o que também me parece é que não deixa de ser menos arte, com menos valor artístico, só porque a minha sensibilidade me empurra para mais para outros géneros.
O seu contributo foi grande.
Um abraço
Muito obrigada pelas vossas apreciações.
Toda esta situação me levou a interrogar-me, mais uma vez, acerca da complexa relação entre ética e estética, acerca da minha relação com as imagens...
Mas, sobretudo, importa ajudar o Haiti. Agora, e no futuro - para a sua reconstrução.
Abraços :)
parabéns pelo post genial
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