sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Playtime


Tudo tem o seu tempo e as suas formalidades. Entretanto, enquanto se espera, é possível inquirir e avaliar pequenos detalhes da realidade, aparentemente sem importância: a ergonomia das cadeiras, a consistência dos seus materiais, ou mesmo a segurança do chão que vamos pisando... Assim o entendeu Monsieur Hulot. De facto, há preocupações indubitavelmente preferíveis à observação de uma série de hipocrisias do mundo.

Playtime de Jacques Tati (1967)







14 comentários:

Porfirio Silva disse...

Peço desculpa pela interrupção.
Este é um "desafio" para esta casa: 10 livros que não mudaram a minha vida (sabe-se lá por quê).

Ana Paula Sena disse...

Porfírio: não interrompe, mas se assim fosse, seria sempre uma excelente interrupção :)

Muito obrigada pelo desafio. À volta de livros (até dos que nada mudaram na minha vida) circularei em playtime...

vbm disse...

:) Exacta a tua descrição do que fez Hulot, enquanto esperava :) Gostei também do porteiro de idade,
a fumar o cigarro e a acolher Hulot, mas atrapalhado pelos sinais ininteligíveis do painel dos inquilinos! :) Os passos mecânicos a ecoar no longo corredor envidraçado e desértico até pareciam anunciar uma inevitabilidade desagradável! lol

O meu neto mais novo (2 a 3 anos) adorava [agora não está cá] os trailers do Mon Oncle e sua música - melhor dizendo, adorou-os durante um tempo, depois, mais tarde, suplicava que não lhos mostrasse mais! lol

anamar disse...

Grande verdade , Ana Paula...
E deixe-me partilhar consigo...
Em Abril, a cinemateca de Paris, dedicou uma bela exposiçao a J. Tati.

Delirante ver a "ergonomia" do filme passada em maquetes e a roupa e outros objectos,usados no "Play Time" e não só...
Delirantemente actual a hipocrisia dos seres vista por JT...
Um beijinho
Ana

Paulo disse...

Olá, Ana Paula. Vi pela primeira vez Jacques Tati há muitos anos, quando Playtime passou nos cinemas em Portugal. Apesar de ser muito jovem, ou talvez por isso, pareceu-me uma crítica conservadora à modernidade (ainda para mais fui vê-lo numas férias em Lisboa, vindo da "provincia"). Hoje, revendo-o, acho que foi um visionário. É uma crítica, mas a uma certa ideia de progresso (sobretudo na arquitectura e no design) que fecha as pessoas em gaiolas de vidro claustrofóbicas, as senta em cadeiras humilhantes ou as faz andar num chão inseguro. A utilização do som e os gags acentuam de forma inovadora para a época a mensagem de Tati. Numa certa medida, mara mim, retoma Os Tempos Modernos de Chaplin. O filme terá sido um fracasso porque, como em tantas outras coisas na arte e na vida, estava contra a corrente. Belo post.

jorge manuel brasil mesquita disse...

porque não sermos todos os que tropeçam nas inconfidências diárias, senhores e senhoras hulot, para descobrirmos no cosmopolitismo urbano, a ciência exacta das deficiências culturais do humanismo, talvez, irradiando sinais de decadência. Graças a todos os Hulots deste mundo tenho descoberto as férias de mim mesmo.

Biblioteca de Oeiras, 12/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita
www.fisgasdotempo.blogspot.com com um link para o gomosdotempo.blogspot.com

Ricardo António Alves disse...

Genial, o Tati! Um dos filmes da minha vida é «As Férias do Senhor Hulot».

Manuela Freitas disse...

Olá Ana Paula,
Há coisas bem mais interessantes, do que aquelas que parecem Interessar!?...
Play-time,Le vacances de Mr. Hulot Mon oncle...
Com Mr.Hulot o mundo era bem mais interessante...na minha opinião claro!...
Beijinhos,
Manuela

PS. Hoje no meu blogue escrevi sobre «Todas as cartas de amor são ridículas...Como é que um homem como Pessoa podia ter escrito cartas de amor tão ridícula?
Claro, não podiam ser cartas de amor se não fossem ridículas dizia Àlvaro de Campos...
Se puder veja no blogue o comentário muito básico que eu fiz!!!

partilha de silêncios disse...

É uma grande verdade, "há preocupações indubitavelmente preferíveis à observação das hipocrisias do mundo"

Vou estar ausente nas próximas semanas, aproveito para lhe desejar um Natal muito Feliz.

beijinhos

Violeta disse...

Ana PAula
tens sempre a mensagem certa para enviar...
Bjocas

Martinha disse...

Maravilhoso porque nos transporta para os tempos em que havia tempo para observar as pequenas coisas que nos rodeiam.
Um abraço.

Anónimo disse...

E essas "preocupações", parecendo ínfimas, não o são. Há pormeneores básicos para o bem estar do ser humano que este mundo ocidental 2009 anos depois ainda não consegue dar resposta porque não quer: falaste na "ergonomia das cadeiras" - repare-se no mobiliário escolar, por exemplo, são um incentivo à indisciplina e à falta de concentração. Tati, com o Sr. Hulot, foi mestre na observação de pormenores do quotidiano que equecemos. Por isso ele é tão peculiar, tão actual e tão subtilmente contundente. De outro modo, noutro domínio humano, lembro-me da observação do quotidiano por Eric Rohmer. Uma boa e pertinente escolha. Tudo de bom e boa semana.

Miguel Gomes Coelho disse...

Ana Paula,
O que eu me diverti a ver este filme...
O seu comentário está perfeito.
Ainda hoje não perco um "Jacques Tati". Aquele olhar mudo que se faz ouvir mais do que se falasse...
Ainda aqui há tempos deu o "Há festa na aldeia " uma perfeita maravilha.
Um abraço

Unknown disse...

Oh, Tati! Sou fã incondicional e o "Playtime" é uma obra-de arte perfeita.

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