«Pousa a caneta, coça a cabeça, exala. Inopinadamente, um versículo esquecido do Eclesiastes emerge clamoroso na sua consciência. E eu dei o meu coração para conhecer a sabedoria, e para conhecer a loucura e os desvarios... Enquanto rabisca as palavras na margem direita do seu poema, pergunta-se se esta não será a mais verdadeira de todas as coisas que escreveu acerca de si mesmo em muitos meses. As palavras podem não ser suas, mas ele sente que elas lhe pertencem.»
in Invisível, Paul Auster
Até que ponto somos invisíveis para nós mesmos?
Invisível: este é o segundo livro mais inquietante que li de Paul Auster. O outro foi Leviathan. Quem gosta do autor (como eu), não pode perder esta que é a mais recente etapa da sua produção literária. Quem não gosta, pode passar a gostar (?).
A narrativa é visceral - o pensamento quase se pode tocar, as personagens (especialmente Adam Walker) existem como corpos que pensam. Quase - porque há a difusa presença de um inatingível.
Confirmo: Paul Auster é um dos meus escritores preferidos.
Para toda a informação sobre o livro e o autor entrar aqui
Imagem: La reproduction interdite, René Magritte - 1937
13 comentários:
Talvez seja um dos grandes escritores contemporâneos... adorei o excerto do "Invisível"! No fundo, todas as palavras nos pertencem... =)
Paula e eu sem tempo para ler...
Lá chegarei.
bjocas
excelente (como sempre....) !
um beijo!
Obrigado pela sugestão!
Mais um livro a descobrir,
o excerto abre o apetite!
Um beijo
José Rui
Ana Paula,
Quanto a Paul Auster, devo confessar que parei no tempo, mais propriamente em 2001, quando comprei o "Timbuktu" (publicado em 1999).
Sobre a questão que levanta, nesta altura já deve ter percebido que, ao apropriar-me de certas formas de pensar e de sentir de autores a quem chamo "almas gémeas", porque correspondem ao meu modo de pensar e de sentir, a imagem reflectida é a de uma multidão sem, no entanto, deixar de conseguir identificar a minha, apesar de muito desfocada.
Um abraço.
Vou ler!
:)
Olá, Ana Paula.:)
Estou a meio deste «Invisível». Embora me apetecesse muito acabá-lo, tive que terminar outras leituras mais urgentes...
O excerto que publica é muito bonito.
Tenho para mim, que os livros também nos lêem e, no meu caso, Auster é o meu autor.
Esta última obra já me fez esquecer «Timbuktu» (que quase detestei...).
Em relação às entrevistas austerianas, prefiro os romances. As declarações do escritor são invariavelmente "circulares", sem novidade. Esta obra, não.
Obrigada por este post!:)))
Abraço.
Volto atrás para dar conta da curiosidade que considero significativa neste «Invisible»: O nome do protagonista - Adão caminhante - que tem tudo que ver com omito de Adão e com o gosto de Auster pelos multiplos significados das palavras... Aquele Peter Aaron, de "Leviathan", com as iniciais do nome do autor...etc...
Daniel: obrigada pela tua atenção a esta minha preferência.
O livro tem muitas passagens belas, profundas e mesmo magníficas.
É um livro inquietante.
Beijinhos
Violeta: eu sei como é; tempo é coisa que também me falta. Lá coloquei este livro à frente de outros, porque me "inquietou" :))
Um abraço.
Olá, Frioleiras :))
Obrigada pelas tuas palavras. Um beijinho grande.
José Rui: agradeço a atenção. Acredite, o livro ainda é melhor. Mas inquietante :)
Abraço.
Olá, Josefa :)
Obrigada pela atenção.
Tenho que confessar, logo eu que gosto tanto do Auster, ainda não li o Timbuktu. Acho que agora vem aí o filme...
Concordo quanto às "almas gémeas": é reconfortante encontrá-las. Mas também eu procuro a minha imagem, no meio da multidão, e acho excelente o modo como coloca o problema: a imagem apresenta-se muitas vezes bastante desfocada.
É uma ideia inquietante, esta, e desassossegada :)
Um abraço.
Vasco (vbm): óptimo! Gostava muito de saber a tua opinião.
Um abraço.
Austeriana: à medida que ia lendo o livro, pensava em inquiri-la acerca dele, o que pensa deste novo romance do Paul Auster... Bom, era o entusiasmo da troca de ideias consigo sobre este autor que ambas apreciamos :)
Será um prazer saber a sua opinião posteriormente.
Acho que Auster também é o meu autor. Consegue envolver-me numa série de construções mentais interessantíssimas e até divertidas. Isto, por um lado. Por outro, há uma preocupação latente com questões éticas e morais, as quais aborda de forma excelente e inquietante.
Tem razão, há essa vertente do jogo, e um simbolismo que perpassa todas as suas narrativas, o que é bem interessante analisar. O Adão caminhante (Adam Walker) faz todo o sentido em "Invisível".
Também concordo consigo quanto às entrevistas: o registo é sempre o mesmo, o Paul Auster, parece-me, não quer dizer muito. Não quer explicar nem revelar. O forte está nas histórias que conta.
Portanto, sem dúvida, reconcilio-me, hoje, plenamente com o autor, depois de ler este seu livro. Acho que conseguiu fazer algo novo, dentro do seu estilo inconfundível.
Isto já vai longo - é o gosto pela leitura e debate :)
Eu é que agradeço a atenção.
Um abraço.
Ana Paula
Sem dúvida, despertou-me o interesse.
Vou ver se leio e se descubro a minha invisibilidade, da qual já desconfio há muito.
Um abraço e bom fim de semana.
ANA PAULA: li o "Timbuktu" e o "LEVIATHAN"...DESCOBRI UM ESCRITOR -ESCRITOR! VOU à FNAC procurar o "INVISÍVEL". Como ainda o não li, não digo nada, ainda!
BJS DE LUSIBERO
Agradeço a sua sugestão.
bjs
Li. Gostei. Talvez mais do que outros dele. Claro, a sua escrita é fluente e agradável. Mas, os seus enredos recorrem, por sistema, ao fantástico, ao improvável, ou simplesmente ao acidente, o que lhe permite mudar o ritmo da narrativa, o cenário ou o conteúdo da história... Gosto mais da complicação séria, desatada nó a nó... mas isso é mais difícil. Talvez escolhesse uma ou outra frase do conto, como a mais impressiva, embora simples :) Talvez a edite no 'experimental' :)
Abraço, Paula.
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