É excelente quando se vê obra feita, quando à volta tudo gira num esplêndido carrossel de conforto e alegria. Sem dúvida, o ideal é uma vida neste tipo de mundo, onde o sucesso é uma constante e o desenvolvimento uma realidade. Pese embora a constatação, que pode estragar o perfeito retrato, de que só alguns podem usufruir desse mundo (e restaria saber a troco de quê...).
Se quanto a este legítimo desejo (o de uma vida boa) não há que colocar objecções, o mesmo não acontece quando subsistem questões. Neste tipo de mundo, supostamente paradisíaco, elas são incómodas, já que se temem perturbações no melhor dos mundos possíveis. Portanto, dizem alguns, o melhor é não as colocar. No entanto, dirão outros, é urgente trazê-las para perto da vida.
Uma questão é: se tudo está bem, importa saber quais os meios para alcançar o paraíso? - está tudo bem, é o que basta? - será que é preciso mais para o progresso da humanidade? Sim, porque se trata de um mundo humano. E pouco desta condição é algo simples, directo e linear. Afinal, o que é o progresso?
Um caso:
«A história do papel de Suharto na Indonésia também levanta a questão delicada de saber se quem está de fora devia fazer alguma coisa contra a corrupção. Apesar da aparente corrupção do regime de Suharto, o país conseguiu uma notável taxa de crescimento económico de 6 por cento ao ano durante os trinta e dois anos do seu reinado, tornando o país um dos grandes casos de sucesso da história moderna (...). Embora o clã de Suharto se tenha apoderado de mais do que devia ser a sua parte, as taxas de pobreza caíram dramaticamente nos anos em que governou e os programas de educação pública, de saúde e de planeamento familiar foram bastante expandidos. Havia riqueza que chegasse para que um pouco se reflectisse no indonésio comum.
(...) em geral, os países corruptos não crescem depressa, mas a Indonésia de Suharto foi uma excepção.
(...) Para o melhor e o pior, o regime de Suharto era conhecido por manter o controlo sobre os subornos, removendo a incerteza que é parte natural de quase todos os negócios ilícitos. Nas palavras de um executivo estrangeiro com décadas de experiência de negócios em Jacarta, "havia um preço para tudo e toda a gente o conhecia e sabia o que obtinha pelo que pagava". Pelo contrário, o mesmo executivo lamentava que na Indonésia pós-Suharto de hoje, "em vez disso, exista o caos".
(...) Apesar de todos os seus defeitos, Suharto impôs uma disciplina draconiana e estabilidade a um país que antes conhecera o caos, e é difícil adivinhar o que poderia ter acontecido sem a sua liderança. Na década que decorreu desde que Suharto perdeu o poder, emergiu uma democracia vibrante, que ainda não conseguiu as taxas de crescimento económico do tempo da ditadura corrupta de Suharto.
No entanto, é provável que isto não deva mudar a nossa posição geral sobre a redução da corrupção. São poucos os países corruptos com o sucesso económico da Indonésia de Suharto. De qualquer forma, o êxito da Indonésia estraga um pouco o argumento a favor dos benefícios de acabar com a corrupção. Os decisores políticos e as instituições de ajuda ao desenvolvimento gostam de receitas de acção simples, mas infelizmente o mundo é complicado e ambíguo. (...)»
[*leituras para escapar ao tédio das belas fotografias (a classificação é minha)]
Imagem DAQUI
Se quanto a este legítimo desejo (o de uma vida boa) não há que colocar objecções, o mesmo não acontece quando subsistem questões. Neste tipo de mundo, supostamente paradisíaco, elas são incómodas, já que se temem perturbações no melhor dos mundos possíveis. Portanto, dizem alguns, o melhor é não as colocar. No entanto, dirão outros, é urgente trazê-las para perto da vida.
Uma questão é: se tudo está bem, importa saber quais os meios para alcançar o paraíso? - está tudo bem, é o que basta? - será que é preciso mais para o progresso da humanidade? Sim, porque se trata de um mundo humano. E pouco desta condição é algo simples, directo e linear. Afinal, o que é o progresso?
Um caso:
«A história do papel de Suharto na Indonésia também levanta a questão delicada de saber se quem está de fora devia fazer alguma coisa contra a corrupção. Apesar da aparente corrupção do regime de Suharto, o país conseguiu uma notável taxa de crescimento económico de 6 por cento ao ano durante os trinta e dois anos do seu reinado, tornando o país um dos grandes casos de sucesso da história moderna (...). Embora o clã de Suharto se tenha apoderado de mais do que devia ser a sua parte, as taxas de pobreza caíram dramaticamente nos anos em que governou e os programas de educação pública, de saúde e de planeamento familiar foram bastante expandidos. Havia riqueza que chegasse para que um pouco se reflectisse no indonésio comum.
(...) em geral, os países corruptos não crescem depressa, mas a Indonésia de Suharto foi uma excepção.
(...) Para o melhor e o pior, o regime de Suharto era conhecido por manter o controlo sobre os subornos, removendo a incerteza que é parte natural de quase todos os negócios ilícitos. Nas palavras de um executivo estrangeiro com décadas de experiência de negócios em Jacarta, "havia um preço para tudo e toda a gente o conhecia e sabia o que obtinha pelo que pagava". Pelo contrário, o mesmo executivo lamentava que na Indonésia pós-Suharto de hoje, "em vez disso, exista o caos".
(...) Apesar de todos os seus defeitos, Suharto impôs uma disciplina draconiana e estabilidade a um país que antes conhecera o caos, e é difícil adivinhar o que poderia ter acontecido sem a sua liderança. Na década que decorreu desde que Suharto perdeu o poder, emergiu uma democracia vibrante, que ainda não conseguiu as taxas de crescimento económico do tempo da ditadura corrupta de Suharto.
No entanto, é provável que isto não deva mudar a nossa posição geral sobre a redução da corrupção. São poucos os países corruptos com o sucesso económico da Indonésia de Suharto. De qualquer forma, o êxito da Indonésia estraga um pouco o argumento a favor dos benefícios de acabar com a corrupção. Os decisores políticos e as instituições de ajuda ao desenvolvimento gostam de receitas de acção simples, mas infelizmente o mundo é complicado e ambíguo. (...)»
in Raymond Fisman, Edward Miguel, Gângsteres Económicos - Corrupção, Violência e a Pobreza das Nações *
[*leituras para escapar ao tédio das belas fotografias (a classificação é minha)]
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9 comentários:
Nalguns países asiáticos não há crescimento do PIB sem corrupção, ou, há crescimento do PIB apesar da corrupção?
Ai Ana Paula que me deixou matéria para reflectir, ou, como dizem os outros "vale a pena pensar nisto"!
Um beijinho.
Um dia havemos de ser
crianças
Mas que não haja confusão quanto ao sucesso económico e o regime que governa o país... lembrem-se que Hitler sanou as finanças da Alemanha, fez baixar o desemprego de 6 milhões para 300 mil em apenas 6 anos, e no entanto a história veio a conhecer o maior desastre que a humanidade já viu!
Deus nos livre de alguma vez alguém como ele vir a conseguir o que ele conseguiu, e ter as suas ambições!
Lembra-me Voltaire quando dizia na sua magistral obra "Cândido ou o optimismo": “É tudo para o melhor no melhor dos mundos possíveis".
Bem, tudo tem o seu preço, não é verdade? Muitos são aqueles que preferem entregar a sua liberdade em troca de protecção, em troca de um mundo que seja "o melhor dos mundos possíveis" – que não existe, Cândido descobre-o da pior maneira, alguém há-de descobrir a terrível verdade um dia.
De qualquer das formas: que país não vive amedrontado na corrupção?
=)
Falemos dos´da casa.
Concelho de Oeiras: uma vergonha!
Dizem os Oeirenses:
- Meteu ao bolso, mas fez obra!
E o sr. lá está, feliz e contente no púlpito que tanto gosta e não quer largar.
Vá-se lá saber porquê!!!!!!!
Pergunto eu:
- Os senhores políticos não são trabalhadores por conta de outrém?
- Normais trabalhadores, remunerados pelo seu trabalho?
Então, qual é a duvida?
Não será apresentar, obra?
(Ouvi dizer em surdina, que alguns também são comissionistas, esqueceram-se foi de se colectar...)
Um abraço
Percebo o dilema, Ana Paula, mesmo quando se põe a uma escala micro duma autarquia.
Ana Paula
Agradeço as visitas que tem feito ao meu blog, eu também tenho visitado o seu. Depois de ler uns assuntos e outros, os mesmos suscitam-me mais reflexão, que um comentário.
Há blogs que seleccionamos para distrair o espírito, há outros que nos transmitem conhecimentos, o seu é um deles e feliz o momento em que o encontrei neste imenso mundo virtual.
Sobre este seu post, considero que o «paraíso» é inatingível e que não há regra sem excepção. Tudo é muito complexo, para ser catalogado, não lhe parece? O que é bom...o que é mau...o que o bom pode ter de mal...o que o mal pode ter de bom...
Sou um bocado «despistada» a escrever, quando releio o que escrevo, muitas vezes digo para mim própria, que «pretuguês»!...Agradeço as suas visitas, mas nem sempre estou de cabeça fresca...
Beijos e até já...
Querida Ana Paula
Ando para aqui com pouco tempo e um pouco..."não sei descrever".
Diria muito sobre este post mas tento em conta a hora, que ainda tenho que escrever umas coisitas e que hoje resolvi espetar a faca de serrilha no dedo, deixando-o estaçalhado - o que dificulta o teclar - fico-me por esta frase "infelizmente o mundo é complicado e ambíguo. (...)»...
Ah! gostei da tua classificação.
;)
Li por alto.
É um tema difícil.
Mas certo é: a política
não pode subsumir-se na moral.
O mais é: ser acertada e dar fruto.
Os grandes sistemas de moral
também são discutíveis...
De Kant a Mill,
de Hobbes a Espinosa,
como traçar o melhor caminho?
Acho muito humano, o utilitarismo,
gosto do pragmatismo de Peirce,
e hei-de sempre banhar-me
no naturalismo da razão
de Espinosa.
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