quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Desabafos existenciais portugueses

Tenho acompanhado atentamente os acontecimentos de alto nível que se dão neste país que é o meu. Um país que amo com todos os seus defeitos e limitações. Um país que sinto ser um lugar do mundo muito especial, com gente fraterna e hospitaleira, calorosa como o nosso sol quase -permanente. E continuo a acreditar no crescimento civilizacional das gentes portuguesas. Porque sou uma optimista. Mas, um(a) optimista informado(a) pode tornar-se pessimista. Pois bem, a solução será a desinformação?! O que sempre reneguei?! Como manter-me informada sem ficar contaminada pela falta de elevação dos acontecimentos pseudo-importantes deste país?!
Falta de elevação consiste, na minha modesta óptica de observadora interessada nos rumos do meu país; dizia eu, a elevação é algo, ou um caminho, que nos possa conduzir à resolução de problemas reais, concretos e inadiáveis. Pois, mas quando procuro ouvir (ou ler) os ilustres da nossa praça, há tudo menos essa orientação. É como se toda uma teia-imbróglio nos aprisionasse num nível comezinho de análise deste nosso viver conjunto. Claro que os seres humanos são seres cheios de desejos, plenos de vontade de poder, contraditórios e contaminados pelo erro. Mas, este tipo de condução de um país, estratégica ou espontaneamente atrofiado, dá vontade de fugir. O ar está saturado. As altas esferas apresentam sintomas preocupantes. Provavelmente, as baixas esferas mergulham de modo ainda mais profundo na apatia e no desencanto.
Portanto, depois de ter obtido informação de todos os quadrantes, vou tentar descansar de tantos conteúdos desinteressantes. Desligo a televisão, ignoro jornais. Tenho a firme crença de que não serão as questiúnculas e os ambientes de suspeição a levar o país a reduzir o déficit e a criar empregos. Muito menos estas histórias intermináveis, do foro político, jurídico e institucional, que nos são reveladas, sem nunca apresentarem solução.
Como é possível... num território tão virado ao mar, e com uma imensa e disponível largueza de horizontes, uma tal permanente auto-flagelação do conceito de "ser português" - assim?! Portugal, infelizmente, parece aquele pianista sem inspiração que só sabe bater na mesma tecla.
Olho à minha volta... e é só quando vejo tantos a lutar e a trabalhar, que ainda acredito sermos capazes de composições tão excelentes quanto originais.

Interrogo-me: muito mais seria de dizer?
Foi Wittgenstein que o afirmou, e consola-me relembrá-lo: "Acerca daquilo de que se não pode falar, tem que se ficar em silêncio."

16 comentários:

Maria Josefa Paias disse...

A Ana Paula tocou na "tecla", pelo menos na minha. Porque acompanho com muito interesse o resultado do trabalho dos nossos cientistas, jovens e menos jovens, dos prémios que recebem pela importância prática do resultado das suas investigações, e muitas outras áreas de trabalho criativo, igual ao que de melhor se faz no mundo, é que não me deixo abater pelas tricas jornalísticas, a que aliás não ligo há quase oito anos, porque é desperdício de tempo e me falta a paciência. Abordo o que vejo e ouço da maneira como o vejo e ouço, sem intermediários, a não ser com a ajuda de um ou outro filósofo que possa ilustrar melhor do que eu o que penso sobre o assunto.
Um grande abraço.

Lina Arroja (GJ) disse...

Ana Paula, levanta muito bem a questão da informação que desinforma. Eu acredito acredito em Portugal e sei que os portugueses são um povo cheio de qualidades. O drama é que ficámos no sec.XVI. Numa mais fomos grandes e passámos a viver das glórias passadas, tal e qual as famílias que uma vez sem bens, continuam a viver com o peito inchado e orgulho no nome, esperando que algum familiar bondozo o ajude. A nossa necessidade de manter as aparências molda-nos o espírito criativo, empreendedor e impede-nos de recomeçar com a cabeça erguida. Perdemos a auto-estima com muita facilidade. A Igreja católica, tem tido um papel relevante que só nos têm atrapalhado. E não é uma questão de fé, mas de pensamento e de espírito de sacrifício. A certeza de que seremos absolvidos e a esperança de entrar no glorioso paraíso.

Eliete disse...

Ana Paula é triste constatar que o seu desabafo é também nosso, talvez do planeta e não só dos portugueses-nossos irmãos. O Brasil um país tão lindo e tão amado por nós ainda é um gigante adormecido.Beijos, Eliete

Susn F. disse...

Vamos lutando pela criatividade, deixando de lado as coisitas pequenas que não nos levam a lado nenhum. Só nos desgastam.
Desligar a televisão é um bom princípio.

beijinhos Ana

lobices disse...

...e se todos eles ficassem em silêncio, talvez o ruído fosse mais audível e nós perceberíamos o seu significado...
...assim, fica a ambiguidade...
...beijinho

A disse...

Será alguma coisa ligada ao inconsciente colectivo português?
É que, se olharmos para trás no tempo, encontramos este clima de intrigueira e de "diz que disse" a distrair-nos do que interessa. Devemos debater, sim, muito, mas sobre o que está verdadeiramente em jogo.
Uma das vantagens das afirmações de Wittgenstein é que são sempre discutíveis e o confronto de raciocínios e de argumentos raramente faz mal, seja a quem for. Desde que estejamos de boa fé, é saudável trocar ideias, repito, desde que haja boa fé...
Obrigada pela oportunidade de pensar alto neste assunto e de trocar ideias sobre ele :))
Abraço.

Ricardo António Alves disse...

Muito bem rematado com o Witt.
Agora a brincar: quando jogava ao berlinde, às altas esferas chamávamos abafadores :|

via disse...

somos uns chatos! queixosos e lamuriantes, pois tá tudo mal, se está calor é o calor, se for frio é o frio, e se for não sei quê, não interessa, é mau...bolas!

vbm disse...

O Presidente enredou-se na sua própria personalidade rústica e desconfiada. Mais lhe valia ter emitido comunicados sucintos, através da Casa Civil, na oportunidade dos 'eventos' jornalísticos, distanciando-se assim das manobras partidárias que lhe pareceram estar a 'cercá-lo'. Geriu mal os seus silêncios. Forçado a explicar-se, é compreensível não ter conseguido ser claro, pelo infundado dos seus atávicos receios e pela contraditória profusão de consequências que a sua própria inabilidade gerou. É pena, os mais competentes não terem uma voz audível e ponderada nas questões da coisa pública.

Fred Matos disse...

"...só quando vejo tantos a lutar e a trabalhar, que ainda acredito sermos capazes..."

Seja com for, você ainda tem esperança. Isso é bom.
Ótimo fim de semana.
Beijos

observatory disse...

POIJÉ.

e mais?

este espaço geografico tem tanta coisa...

suba a bragança
suba a tormes
suba a TUY
suba a miranda
suba a COMPOSTELA
suba ao porto
suba a BILBAO
suba...
e vai ver que neste país nosso
temos muito para contar :))))
justificamos as dores.
sabemos porque abrimos a boca.
por nos faltar tanto...
restam-nos os amores perdidos
abertos pelos cantinhos dos lençois.
amores safados e bonitos.

a cultura portuguesa ainda tem muito FERRO dentro.


BJºC.:)

observatory disse...

ps: a foto la de cima :))))
continua muito bonita :))))

C. disse...

Temos uma ferida narcísica!
E o mar... caustica, mas não cura. Hoje, só é bom para ir a banhos, mesmo em dias de nevoeiro :-)

Quanto à citação do Wittgenstein... compreendo-a no contexto da uma subjectividade. Mas justamente no contexto político actual, acho que não se disse tudo o que podia (e deveria) ter sido dito. Neste campo das coisas públicas, haverá lugar ao inefável?

Um abraço e parabéns pelo "post" (não atino com a tradução para esta palavra :-)).

Frioleiras disse...

melancolia, não sei mas, Ana Paula..............
eu não acredito

em nada de bom que venha de nós.........

conheço demasiado bem o meio universitário e de investigação (por gente muito próxima de mim) e
conheço bem o Portugal destes tempos de começo do séc XXI e nada de bom antevejo em relação a este País.

e o facto de estar virado para o mar, de ter céu sempre azul, sol sempre presente............... ajudou e muito a termos as nossas costas viradas à civilização europeia (de que sou completamente fã) e de descansar à sombra da bananeira.
Não, não concordo contigo.
Infelizmente já não admiro este País que é o meu............ infelizmente e com muita pena....

Por um triz não votei... e votei num partido apenas pelo seu leader, porque gosto de pessoas corajosas... apenas por isso e para não me juntar à multidão de ausentes do dever cívico. Mas... tudo me dá uma grande pena e gosto amargo.

Nada disto já me importa...

e as 'tolices' ditas pelo nosso PR... deixaram-me................envergonhada.

Tenho pena , muita pena mas é esta a crua verdade.

É tudo uma bandalheira e eu detesto anarquias e bandalheiras......

um beijo amigo e desculpa-me a minha desilusão ... de tudo o que me rodeia................................................

mdsol disse...

Muito bom, querida Ana Paula.

Sem ligares comuns levas-nos a pensar um pouco além daespuma e do que por aí se diz atrto e a direito. E identifico-me muito com a tua postura a um tempo optimista e realista. Que é mais rica do que o pessimismo militante que tudo tolhe. Aliás, o que dizes é de quem, apesar da descrença pontual, acredita nas potencialidades ascencionais de cada um e de todos. Sem cinismos nem posturas de Maria vai com as outras...
Gostei mesmo muito.
beijinho
:))

Teresa Santos disse...

Li, algures que a causa de tudo isto, do nosso comportamento, (incluindo o diz que diz...) desencanto, etc. deve-se ao facto de não termos feito o luto pelo período salazarista. Será?!

Tens um Abraço no meu blog.

Beijinho e bom fim-de-semana

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