quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Anti-tertúlia

«Vendo a mulher que o fruto da árvore devia ser bom para comer, pois era de atraente aspecto, e precioso para esclarecer a inteligência, agarrou do fruto, comeu, deu dele a seu marido, que estava junto dela, e ele também comeu.» - Genesis

José Saramago afirmou que escrever o seu último livro foi um acto de liberdade. Excelente! Toda a boa literatura deve sê-lo, pois nada deverá amarrar uma mão com desejo de escrever. Nem a nossa outra mão.

Por outro lado, fico com pena de não ter tempo para discutir verdades de fé e verdades de razão com o Nobel da Literatura português. Talvez fosse uma conversa interessante, mas não tenho tempo. Lamentavelmente, não tenho tempo. Nem eu, nem o Saramago, que tem mais que fazer...
Como é sabido, livros semi-proibidos têm grande poder de atracção. Já não pegava na Bíblia há imenso tempo (embora a conheça razoavelmente bem), mas hoje reli um bocadinho do Genesis (bem sei que foi a correr...). Espero que não me faça mal, até porque, em tempos, li o Evangelho Segundo Jesus Cristo deste escritor - todo!, e não notei qualquer efeito pernicioso. Do que não gosto mesmo nada, e noto que me faz muito mal, é da ideia de livros na fogueira. Felizmente, são coisas do passado... É por estas e por outras que até gosto de viver no século XXI. A liberdade é uma coisa muito bonita. É por isso que ora trabalho, ora leio. Quando tiver umas férias, prometo que leio o Caim.


Imagem: pesquisa do Google


15 comentários:

via disse...

também tenho curiosidade, o tema é suculento!e o livro é maneiro (o que no saramago é qualidade).bjo

Miguel Gomes Coelho disse...

Felizmente há luar...
ou melhor,
existem, ainda, pessoas que lutam contra a modorra dos nossos dias.

Fred Matos disse...

"Do que não gosto mesmo nada, e noto que me faz muito mal, é da ideia de livros na fogueira."

Está dito e muito bem dito.

Beijos

maria joão carrilho disse...

Gosto das histórias da bíblia. Convida-me para a tertúlia e aparece.bjnhos.

Teresa Santos disse...

Olá Ana Paula,

Toda esta história à volta de Saramago já me causa um certo incómodo.
Não gosto do homem, da sua escrita, estilo, ar de superioridade.
Sabes? Abomino, mas visceralmente, todos aqueles que se julgam superiores ao outro, sejam Nobel, não-Nobel, não interessa.
Não consigo ler nada dele. Já fiz várias tentativas, mas em vão. O único livro que li, e com muito agrado, foi o primeiro que publicou intitulado "Manual de Pintura e Caligrafia", não sei se conheces. Ali tinhamos uma escrita honesta, limpa, escorreita, sem tiques de superioridade.
Para ser bom é necessária uma certa humildade. Ora esta virtude não faz parte dos seus atributos. Resultado: afirmações/opiniões infelizes, (embora tenha, obviamente todo o direito de as fazer) sobre problemáticas extremamente delicadas, sejamos crentes ou não.
Só que se quer ser respeitado tem que respeitar. Tão simples como isto.
Abraço, Amiga, e desculpa este arrazoado, mas o homem tem o dom de me irritar sobremaneira...

Paulo disse...

Ana Paula, permito-me duvidar do interesse em discutir questões de fé seja com quem for, sobretudo se for com alguém que considere que a sua (mesmo que seja a ausência da dita) é superior, melhor ou mais accertada do que a do outro.
Em todo o caso, para mim a questão no caso Saramago/Caim/Biblia tem mais a ver com a forma como as afirmações foram feitas do que com o direito de as debater.
Subscrevo o seu repúdio pelas fogueiras para livros, para que possamos, também, ler e discutir apenas pelo imenso prazer que isso dá. Não por fé. :)

Manuela Freitas disse...

Olá Ana Paula
«Não há machado que corte a raiz ao pensamento...» Lembrei-me do poema e da canção.
Não gosto muito do estilo de escrita de Saramago. Quando comprei o «Memorial do Convento», desisti, depois mais tarde acabei por ler, com grande esforço devido a não ter pontuação, mas até o considerei um bom livro, embora de escrita muito maçadora. Quando escreveu o Evangelho, pela polémica que suscitou, li o livro e agora estou com vontade de ler o Caim, estas polémicas acabam por funcionar como marketing, não é? Gosto de livros que agitem um bocado as águas. Considero um disparate os católicos terem reagido da forma como reagiram. Relativamente a Saramago, talvez fosse longe demais, podia ter sido mais contido, a liberdade também implica responsabilidade e respeito.
Um grande abraço

Patriota disse...

Olá Ana Paula, distante permaneci nestes dias! Contudo regressei, eu, e o Saramago, parece! =)
Pois pergunto: Que melhor maneira para promover um livro, do que causar polémica?
A religião é um ponto forte (não discuto), Saramago talvez saiba, ou talvez o seu intelecto seja movido a outros fascínios... sabe-se lá!
Eu até gosto dos livros dele, li somente dois: "Memorial do Convento" (clássico obrigatório a todos os estudantes que se prezem) e o "Levantado do Chão" (belo, na minha honesta opinião) talvez um dia ganhe coragem e leia o tão polémico Evangelho...

foi bom reler este blog!! =)

Ricardo António Alves disse...

É bem verdade, Ana Paula, não há nada como ler -- e depois opinar.
E viva a liberdade :|

Nilson Barcelli disse...

Não li ainda este livro do Saramago. Mas, provavelmente, será como o Evangelho Segundo Jesus Cristo, isto é, nada ofensivo.
Sou agnóstico, mas discordo da forma como são ditas certas coisas contra as religiões. Porque cada cada pessoa com fé acredita num Deus diferente, o seu...
Beijos.

vbm disse...

A única acusação ao José Saramago que me deixa um pouco hesitante é a que denuncia ser a sua declaração uma propaganda à venda do livro... ou seja, não a questão em si, polémica, de destituir a religião, mas sim o o interesse prático de que se fale do livro para mais vender!

Bom, apesar disso, considero, por um lado, que é legítimo ele desejar que o livro se venda; e, por outro, tem todo o direito de não aceitar as lições da Bíblia.

Aliás, a minha própria experiência, em muito jovem, de leitura da Bíblia foi mesmo a de achar que o livro era realmente uma história horrorosa de maldades, assassinatos, traições, maus costumes e enorme deslealdade e falta de fé!

Também, gostei de ler "O Evangelho, segundo Jesus Cristo" e ri-me a bom rir, de Jesus, casado com Maria Madalena, sentado à soleira da porta, desesperado, mãos na cabeça, a imaginar o seu deprimente futuro: - «Oh, meu Deus, o que vai ser de mim!» LOOLL

Sobre o estilo-Saramago, é uma questão de entrar no ritmo da oralidade das frases: gosto! E os dois livros que mais gostei dele - não li todos - foram o "Levantados do Chão", que foi uma grande e grata surpresa e "O Ano da Morte de Ricardo Reis".


Abraço,
Vasco

José Marinho disse...

...apesar deste século andar com aliberdade algo ameaçada. Ao ler esta edição lembrei-me do "Cântico do Cânticos" - um bálsamo, um dos mmais belos e intensos poemas da História Humana. Tudo de bom.

A disse...

Continuo a não entender como se pode opinar sobre um livro que ninguém leu! Parece-me, no mínimo, extraordinário!
Quanto ao Nobel, as declarações dele, essas sim, são muito discutíveis, sobretudo porque além da falta de educação, nada trouxeram de novo.
Sou totalmente a favor da liberdade de opinião. Sou completamente contra a ofensa gratuita.
Um abraço.

Ana Paula Sena disse...

Muito obrigada a todos os que aqui deixaram expressa a sua opinião sobre este episódio "Caim".

Quando afirmo que não tenho tempo para discutir o assunto, refiro-me não só a algumas condicionantes de natureza temporal-pessoal,mas, sobretudo ao facto de considerar que qualquer discussão séria sobre o assunto implicaria a leitura e análise documentada da Bíblia. Mas não só, implicaria o aprofundar do tema a partir da leitura de muitos autores. Ou seja, adorava estudar o assunto, mas não tenho tempo.
Se tivesse, procuraria desde já alguma coisa nesse âmbito para um Mestrado, por exemplo.

Abraços gratos a todos :)

Unknown disse...

Claro e conciso: subscrevo em baixo, se me permites.

beijo

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...