sábado, 13 de junho de 2009

Folhetim democrático

Nesta fase pós-eleições europeias, o que não deixa de me inquietar é o elevado nível de abstenção. Este aspecto tem sido sobejamente focado por muitos dos que se preocupam com os factos políticos, mas penso que deverá ser matéria de reflexão ainda mais exaustiva. É a democracia que está em causa, é à democracia que compete auto-analisar-se nos caminhos que actualmente percorre.
Quando se é inquirido com alguma regularidade (como é o meu caso) acerca do significado do acto de votar, da sua importância, do seu valor, é quase impossível o alheamento face à questão. Coloca-se também a exigência de uma resposta positiva e que abra um caminho, ainda que difícil de trilhar, rumo a um ideal democrático que se defende.
Um tema que raro deixa de causar espanto quando se faz referência à Grécia Antiga, enquanto berço da democracia, então directa, é o da sociedade esclavagista onde floresceu esse governo democrático de outrora. Custa a crer: que à esmagadora maioria da população fosse vedado o direito de participação nos assuntos da polis. Tratava-se, portanto, de um governo com uma participação de todos muito relativa. A História dá-nos testemunhos e registos de outros interditos da mesma natureza. Acontece que hoje, no mundo dito civilizado, todos têm a possibilidade de se manifestar através do exercício do direito ao voto. Um direito que preferem não exercer, ou que esquecem ter. Que valor tem ele afinal?
Talvez por isso, esta espécie de comparação que faço, não deixando de ser um muito livre raciocínio analógico da minha parte, impõe-se-me. E coloco a questão nestes termos: até que ponto é hoje a nossa democracia verdadeiramente representativa, se metade (ou mais de metade) da população não se manifesta? Não há como escamotear o problema: o fenómeno não se reduz aos resultados da abstenção nas últimas eleições para o Parlamento Europeu - algo, por sua vez, bastante distante, desconhecido e incompreendido da maioria dos cidadãos. Apesar de, neste caso, a abstenção ter este tipo de justificação (só por si, matéria de reflexão também), o facto é que, em todas as eleições, os níveis de abstenção têm vindo a aumentar nos últimos anos. E não é só em Portugal.

Portanto, várias interrogações se colocam neste domínio. Algumas delas prendem-se, sem dúvida, com o conceito de representatividade democrática: por um lado, quer o cidadão ser representado, ou prefere apenas que lhe resolvam os problemas tout court?; por outro lado, querem os representantes representar de facto, ou preferem representar-se muito simplesmente a si mesmos? A questão é bastante vasta nos seus múltiplos desdobramentos... Certo é que a continuidade efectiva da democracia passa por estes detalhes, aparentemente pouco importantes.

Assinale-se, dada a situação, e sem que seja demais lembrá-lo: é preciso encontrar respostas e descobrir soluções. Uma possível explicação, à qual dou bastante atenção, é a que se refere ao hiato, ruptura ou corte, actualmente existentes entre cidadãos e agentes de governação. As pessoas sentem-se distantes, cada vez mais distantes dos centros de decisão. Raramente sentem que participam no que é importante. Porquê? - devemos perguntar. Será que elas próprias se afastam? Ou será que há toda uma cadeia intermédia, estruturalmente intransponível, entre elas e os seus representantes? Dar-se-á o caso de os motivos residirem nestas duas vertentes da situação? Na medida em que o exercício do direito ao voto já não é suficientemente expressivo da sua participação? A ser assim, atente-se na necessidade de encontrar novas formas de diálogo e de interacção entre os dois lados da vivência democrática. Em última análise, poderá ser determinante criar novos meios de expressão e de intervenção por parte dos cidadãos. Será a blogosfera um desses novos meios? Se ainda não é, poderá vir a sê-lo?

Facto é que, actualmente, a maior parte da aproximação que se faz entre a vida política e a maioria da população acontece via comunicação social. O poder desta dimensão de comunicação massificada é enorme, como todos sabemos. O que é também uma longa história... E não se pode esquecer: maior poder, maior responsabilidade.
Pois acontece que a aproximação existente, nos moldes actuais, tem remetido a actividade política para uma espécie de (tele)novela, administrada a conta-gotas nas nossas existências. Com a algo perversa particularidade de ser uma espécie de (tele)novela, ou folhetim, da vida real. Por muito respeito que se tenha pelo género, ele faz toda a diferença relativamente, por exemplo, a um momento de leitura que exija algum rigor e maior concentração. Mesmo quando se aproxima da dimensão do (tele)romance (atendendo a que a distinção entre novela e romance nem sempre é fixa), a vida política, com as suas vicissitudes, é emitida ao estilo de romance best-seller (com todo o respeito por tais campeões de vendas literárias). Ignorando a seriedade da questão, tal emissão, enquanto forma de entretenimento, alimenta-se deste estilo pré-definido. Infelizmente, também raramente alcança o nível de sátira política e social, o que teria maior valor, ainda assim... Para lá de algumas honrosas e admiráveis excepções, é este o estado de coisas com que nos deparamos, quando procuramos obter alguma informação ou esclarecimento. Resta perguntar: - para quando a nossa interacção com algo mais ao estilo romance premiado pela sua qualidade literária e de intervenção social made in século XXI, contemplando os domínios do rigor e do cuidado na análise, assim como os da invenção-inovação, alargando os nossos horizontes até às diferentes possibilidades de fazer política? Não se exige um estilo épico (não é preciso exagerar), basta só elevar um pouco mais a emissão (e correspondente realidade). E que seja isso aquilo que nos é dado ver, ouvir e conhecer.
Claro que isto é apenas um ponto de vista possível. E eu até li algumas fotonovelas (agora, relíquias simbólicas doutra era de comunicação e entretenimento). Mas, lamento, estou mesmo farta de telenovelas. E também um bocadinho de best-sellers.


Imagem: pesquisa do Google

23 comentários:

maria vital disse...

Olá Ana Paula

...eu também estou farta de telenovelas.

Li o teu texto atentamente e na verdade a democracia terá de ser melhor e mais democracia, melhor e mais cidadania.

Ouvi no 10 de Junho o brilhante discurso de António Barreto. Nele AB assinala bem os pontos onde a nossa democracia falha: na falta de justiça, na falta de exemplo dos políticos.

"Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo “ethos” deveria ser o de servir.

Dê-se o exemplo e esse gesto será fértil! Não vale a pena, para usar uma frase feita, dar “sinais de esperança” ou “mensagens de confiança”. Quem assim age, tem apenas a fórmula e a retórica. Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível, e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo de honestidade e verdade, e a corrupção diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á. Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança e de investimento e a economia sentirá os seus efeitos.

Políticos, empresários, sindicalistas e funcionários: tenham consciência de que, em tempos de excesso de informação e de propaganda, as vossas palavras são cada vez mais vazias e inúteis e de que o vosso exemplo é cada vez mais decisivo. Se tiverem consideração por quem trabalha, poderão melhor atravessar as crises. Se forem verdadeiros, serão respeitados, mesmo em tempos difíceis.


http://educar.wordpress.com/2009/06/11/discursos-antonio-barreto/

Um beijinho grande

:)

ARTISTA MALDITO disse...

Olá Ana Paula

De facto há cada vez uma maior distanciação dos cidadãos relativamente à participação nos actos eleitorais. É o desencanto generalizado, já não há políticos, mas profissionais especializados em máquinas partidárias. A esses não posso conceder-lhes a minha confiança.

Tem um selinho carioca para si, Ana Paula.

Um bom fim-de-semana e beijinho grande
Isabel

vieira calado disse...

Obrigado pelas suas visitas à minha astronomia.

Volte sempre!

Bjs

vbm disse...

Há por certo um grau técnico de abstenção que pode aceitar-se como normal e sem significado político: - inscritos que já morreram, ou que emigraram, ou que viajaram, ou que estão doentes ou simplesmente idosos já sem disposição senão de se absterem. É possível que essa situação normal represente 1/5, 1/4 ou 1/3 do eleitorado. Mas uma abstenção de 1/2, 2/3 ou 4/5 sem dúvida não apenas indicia mas comprova não haver democracia política nenhuma! O terreno está livre para a manipulação de massas seja para a abstenção seja para qualquer irracional iniciativa demagógica.

Porcelain disse...

Acho que uma pequena minoria da pessoas sabe realmente aquilo que quer, seja lá em relação ao que for. E dessa pequena minoria, existe ainda uma minoria menor que de facto quer ser representada, sendo que todo o resto do pessoal prefere que lhe resolvam os problemas sem terem de se estar a chatear muito. Quanto aos representantes, acho que querem, principalmente, representar-se a si próprios, mesmo os mais bem intencionados.

Definitivamente, a blogosfera parece-me ser daquelas pequenas coisas capazes de causar uma revolução no mundo... acho que pode muito bem ser, de facto, um importante meio que dá a qualquer um a oportunidade de se exprimir, e de intervir, por escrito, tornando a sua marca muito mais profunda e mais vinculativa do que quando simplesmente brada aos céus que isto ou aquilo está mal.

De facto, pode muito bem ser que este afastamento dos cidadãos da vida política tenha a ver com a forma como ela nos é apresentada... além de profundamente aborrecido, este espectáculo é também algo deprimente, connosco a olhá-los fazendo as suas exibições circenses no meio do gentio, e sabendo tão bem que tudo aquilo não passa de uma verdadeira teatrada de mau gosto e fraca qualidade. Já que todo o discurso do político assenta na demagogia, uma vez que, pondo de parte a questão da falta de honestidade política, o cidadão comum dificilmente consegue ter a noção dos meandros do poder em que decorre a acção política, pelo que é impossível um político ter um discurso fontal, honesto e sincero para as massas, submersas num mar de ignorância (pensam eles, por um lado; e por outro, nada fazem para alterar esta realidade; pelo contrário, até convém).

Há certas partes deste mundo que me complicam com os nervos... e esta é uma delas.

Eu acho que a democracia é um bom sistema precisamente porque, minimamente, responsabiliza; ainda que pouco, acaba por implicar minimamente as pessoas na vida política e pelo menos obrigá-las a pensar um pouco... nem que seja mesmo só um pouco.

O facto de a maioria não estar representada, no final das contas, se calhar nem é assim tão mau... afinal, desde quanto é que as maiorias estão certas? :D

beijinhos!

Anónimo disse...

Os cidadãos comuns, ao abdicarem dos direitos que tanto custaram alcançar por outros tantos cidadãos comuns, esquecem que estão a confirmar todas as expectativas daqueles que nunca lhes quiseram ver reconhecidos esses direitos. A gaita é que há uma série de cidadãos comuns que estão bem cientes dos seus deveres de cidadania e acabarão, mais tarde ou mais cedo, por levar por tabela. Beijo!

Violeta disse...

Ana Paula
Como sempr eo teu post foi oportuno e tocou na ferida. A democracia está em perigo? será que as pessoas têm a noção do que é a democracia, querem-na realmente?
Ontem enquanto caminhava pelas ruas da cidade onde vivo, olhei para uma fonte e na parede estava escrito "Votar é mijar contra o vento".
Não sei a idade da pessoa que a escreveu mas a verdade é que fiquei a pensar na juventude e na democracia. Hoje leio o teu post...

observatory disse...

que lhe parece?

acredita nos poderes da democracia?

hmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm.

ha quem tenha valores e continuada participaçao social e nao vote.

acredite :))))

o que me está a preocupar é esta crescente sociedade do recibo verde e a sua incapacidade de se indignar.
a democracia é algo interessante mas...

corremnos o risco da domesticaçao. rola bobyyyyyyyyy!

2€ e meio a hora para trabalhar agarrado a um telefone. 10 e 12 horas de exploraçao?
por favor ana. acorde.

porque acha que a sociedade actual caiu nesta especie de "anarquismo" capitalista? porque eles sabem que para manter contente o grande "bando" de gnus e zebras basta a ilusao de participaçao... o direito ao voto... um apartamento... umas ferias no brasil e um côco com uma palhinha? é assim que sociedade democratica domestica as pessoas. eles cultivam o individualismo do "home cinema" e "café nespresso em casa" com receio da "proletarisaçao"... da associaçao, da organizçao dos desgraçados do recibo verde.

este mundo é comandado pelos donos de supermercados e centros comerciais e fnacs e merdas do genero...


eu tenho a obrigaçao moral de instruir os meus filhos para a desobediencia civil. eu tenho a obrigaçao moral de lhes explicar como se diz nao. ja nao estamos em tempo de meias tintas

nao ha outro meio de o fazer

anaaaaaaaaaa... :)

é urgente uma revoluçaaaaaaaaaao.



voce é boa menina :)))))

bjº com estima

c.


ps: nao me fale em teenovelas. os gajos da governança sao uns sacanas. a comunicaçao social esta refem. quer que lhe dê exemplos de favores feitos a politicos e politicas.:)? eu abro a boca e faço do seu blog um dos mais famosos e visitados. é so eu abrir o livro e amanha cai o carmo e a trindade :))))) aiiiii ana.
e almoços em casa de conhecidos industriais e presidentes de associaçoes empresariais? que tal que tal que tal?:))))))

a ana estava a falar de ...? ja nao me lembro?

lobices disse...

...grato pelas visitas amáveis
...um abraço
...quanto a este seu texto... concordo... também acho que é telenovela a mais...

Ricardo António Alves disse...

Tantas questões, Ana Paula!...
Aqui está um bom exemplo do exercício da cidadania -- que só a democracia permite :|

observatory disse...

my gooooooooooooooooooooooooood


nao percebi :)))))))))))))))))))))


de repente ficou tudo muito estranho :(((((((((((((((((((((((

via disse...

é mesmo um folhetim a politiquice, um folhetim até no modo como adivinhamos o que se segue!

ARTISTA MALDITO disse...

Olá Ana Paula

Muito perto já do fim do ano lectivo venho desejar-lhe um bom início de semana, que seja sereno e passe rapidamente, como passam estas tardes de Primavera.

Beijinhos com o frenesim de uma marginal a preparar-se para o S. João,
Isabel

ze disse...

A mim não me incomoda nada o nível da abstenção, incomoda-me sim muitas das interpretações (convenientes) que se fazem dela.
Que (convenientemente) esquecem que uma boa parte (a maior?) da responsabilidade desse desinteresse não está na democracia, mas antes em quem está a votos.
Que considero serem “coisas” bem distintas.

Sobre a pertinente questão levantada sobre o “valor” do voto, parece-me que tem pouco para muita gente, cuja maior mas não exclusiva amostra é precisamente o grupo composto por quem se abstem.
Mas também outro grupo difícil de quantificar, daqueles que impelidos pelo “dever” cívico, se resignam a votar no “mau”, com medo que o “muito mau” ganhe.
É uma escolha “contra” e não “a favor”, que me incomoda mais que a abstenção, no contexto da construção de uma democracia funcional.
Um (mau) sintoma cultural, mais difícil de modificar.
E claro que (quase) todos se esquecem de informar (convenientemente) o valor e significado da opção voto em branco.

E ainda e sobre Representatividade,
Em quem se vota?
Quem vota as “listas” e respectiva hierarquia?
Esse voto tem “mais” valor que o “nosso”?
Em caso afirmativo, há tal como nas democracias primitivas, cidadãos com diferente “valor”?

mdsol disse...

Muito bem Ana Paula. A falta de participação é um problema que nos deve msmo inquietar. A abstenção tem certamente causas muito diversificadas. mas tu tocas num ponto muito importante. O afastamento do cidadão comum com o exercício do poder político. Por isso esta democracia imperfeita deveria caminhar no sentido da participação. E renovar-se em formas que impliquem mais o cidadão comum.
beijinho
:))

Frioleiras disse...

talvez porque trabalhei 'milhares' de anos na maior firma de informática conhecida...
talvez porque, ao longo desses anos, fui assistindo ao desenrolar dos progressos dessas máquinas que hoje até já as crianças dominam, talvez porque estive, nesses anos, sempre nas horas laborais com um ecran quase pregado ao nariz....

nunca pude,

em casa, suportar uma TV. Nem sequer um notíciário . prefiro ler as notícias (as que me interessam) num jornal.

A una concessão é ao mezzo, um canal que me permite ver ao pormenor os gestos dos 'meus' músicos a 'fazerem' a sua música...

lembro.me, há muitos anos de ter visto a gabriela cravo e canela. era jovem e seguia- porque... a jovem brasileria que a interpretava (não me lembro agora do nome mas é muito conhecida) namorou o Mauro Vilar que também, mais tarde, foi meu namorado.......... coisas da juventude a que acho graça.

gostaria de achar também graça a tv e a certo tipo de cinema. era decerto mais feliz porque tinha um leque maior de distracções..........

mas... não sou capaz!

Patriota disse...

Vivemos num país onde alguns cidadãos ainda mantêm a velha mentalidade ancien régime ( o tempo da "outra senhora"; o "botas" - como quiserem!!)de que o Estado deve tomar todas as decisões por eles (cidadãos); de que o Estado tem de pensar por todos; o Estado resolverá (bem ou mal) todos os problemas..etc... - e eles, cidadãos nada fazem. Conheço gente que é assim... :/ É assustador...
E não significa democracia governo do povo? Demo (povo) e cracia (governo) - o poder do povo!!!... é curioso, porque quando os pais fundadores dos EUA elaboraram a primeira constituição da nova nação, a palavra "democracia" não aparecia em nenhum lado - o conceito restringe-se, amolda-se a determinadas épocas e indivíduos...

Ana Paula Sena disse...

Muito obrigada a todos, pela sua participação activa na reflexão sobre o tema :)

Ao tomar nota do que se passa actualmente no Irão, a necessidade de defender uma verdadeira democracia ainda me parece mais premente.

Ana Paula Sena disse...

Observatory:

Ponderei acerca das questões que refere. De todas elas, há uma à qual sou especialmente sensível. É a que se prende com a noção de desobediência civil. Efectivamente, trata-se de um conceito que, no meu ver e no meu sentir, deve utilizar-se com particular cuidado e delicadeza. Trata-se, inclusivamente, de um tema que faz parte do programa de Filosofia no secundário, quando se abordam questões como maiorias, minorias, tolerância, etc...
E desobediência civil.

Assim sendo, é uma ideia importante, mas que será completamente desvirtuada, caso não se exponha e se analise com o rigor que se impõe. Significa isto o seguinte: apelar à desobediência civil tout court, é subverter o sentido dessa forma de intervenção social. É preciso acrescentar que há vários níveis de desobediência civil, e que os mais extremos e radicais só se justificarão em casos igualmente extremos e radicais. Esta adenda, que pode ser até o próprio corpo da questão, é determinante para a interiorização cívica do conceito de desobediência civil.

Espero que não leve a mal. De facto, não concordo inteiramente consigo. E depois, eu sou professora, como sabe. É matéria sensível, para mim.

Acrescento ainda que, de acordo com as minhas convicções, as revoluções não resolvem grande coisa no mundo. São apenas meios de alternar com mais do mesmo. Isto porque a verdadeira revolução está por fazer: a revolução de mentalidades. As minhas convicções são, portanto, diversas: acredito na democracia como melhor forma de governo; acredito num possível progresso do mundo e da humanidade, mas enquanto processo.

De qualquer forma, muito obrigada pela sua intervenção.

Evidentemente, as pessoas não estão sempre de acordo.

A demora na publicação do seu comentário deve-se ao facto de eu ter entendido que o deveria publicar em simultâneo com o respectivo contraditório.
Enfim, trata-se do meu espaço...

Renovo os meus agradecimentos, a si e a todos, pela intervenção.

observatory disse...

oh!

ta a ver?

a revoluçao de mentalidades.




nao gosto da palavra obediencia. nao a devo a ninguem. nem no estado fascista a pratiquei :))
nem a deus ana nem a deus a devo:)))

sabe uma coisa? nunca bati num filho. nunca tratei mal as mulheres que amei. esfarrapo-me pelos amigos. dou sangue pelos desgraçados... :)ajudo os meus colegas... vizinhos. tenho uma monumental lata. digo o que me apetece... que mais posso querer?
morro sem dinheiro mas sem pesos de consciencia
sabe o que me perguntou o mario cesariny um dia? se eu tinha um jazigo de familia. sabe o que lhe respondi? que nao tinha onde cair morto :)))))
é o que nos resta. uma certa liberdade praticada :))))


claro
concordar comigo?
era o que faltava

a amizade nao justifica penitencias de opinião :)))

nunca.

vbm disse...

Fui ler o comentário do observatory, por causa da tua resposta. Compreendo que a ideia da «desobediência civil» deva revestir-se de uma prudente gradação que proporcione os efeitos de rejeição à gravidade das causas de repúdio. No entanto, o moderno «pão & circo» de alienação das massas contra o qual se insurge o observatory é tão repulsivo que merece uma denúncia em larga escala e medidas de retaliação adequadas.

Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) disse...

es triste, muy triste, la incapacidad de los ciudadanos para indignarse ante esta democracia de pacotilla.

convengamos todos en que la democracia, ésta democracia tal y como está concebida no funciona, desencanta al pueblo porue nuestros gobernantes no están para atender las demandas de los más débiles.

la democracia no es tal mientras consienta la gran desigualdad entre rico y pobres.

no podemos hacer nada si no es mediante nuestro rechazo, nuestra abstención.

y Europa se va absteniendo poco a poco.

las ideas de aquéllos sabios de las polis griegas se esfumaron en la Antigua Grecia.

las democracias actuales son un acopio de falsos demócratas sin ideales y sin voluntad de tenerlos.

yo....PASO

y me abstengo. POR SUPUESTO.

Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) disse...

www.portugalespana.blogspot.com

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...