Olhar à volta significa muitas vezes um teste de coragem. O mundo, do qual não há como escapar (e nem se quer), mostra tarefas intermináveis, notícias que preocupam e entristecem, factos que deitam abaixo o mais eventualmente imune.
Ocupada com as minhas desilusões pessoais, das quais não faço drama, mas que vivo, sinto que elas são tão pouco! - porque situadas num contexto mais amplo, mesmo que definido pela posição geográfica concreta do meu ser particular no mundo.
Na verdade, nem posso precisar ao que vem tudo isto. São as sensações difusas as que mais me atingem, normalmente. Dizê-las, traduzi-las em palavras é sempre a consciência de um limite que todo o dizer implica pela sua invasão e pela sua arrogância. Há no silêncio uma espécie de pudor que é preciso cultivar, não obstante a necessidade de dizer alguma coisa para tornar o motivo de inquietação existencial verdadeiramente real. Objectivado pelo acto de verbalizar, não só se separa do eu (artificialmente, sem dúvida), mas sobretudo permite o confronto com aquilo em que se transformou. Então, muito mais claro. Ainda que algo se perca irremediavelmente na tradução...
Há, portanto, necessidade de calar, porque o silêncio possui também um profundo significado. Há, todavia, necessidade de dizer, porque esse acto permite uma dinâmica do eu que produz, inúmeras vezes, bons resultados. No limite, é a possibilidade desse dinamismo do ser que se torna libertação.
Mas tudo isto gira à volta, afinal, da importante ideia de Breuer, a de uma terapia pela palavra. Deste modo, é assim que aproveito para elucidar a escolha que fiz quando intitulei este espaço Catharsis. É uma pretensão modesta, evidentemente, realizada à minha medida. A de uma habitante deste planeta, que vive em Portugal e pertence a um modo de ser português, que é afectada pelas consequências de uma existência globalizada, que sente, que pensa, etc... Mas que não é importante. No sentido das importâncias duplamente entendidas, interpretação que deixo ao critério de quem tiver a gentileza de me ler. Para mim, a des-importância reveste-se, antes de mais, do facto de não ter realizado nenhum trabalho verdadeiramente importante na área do processo catártico.
Assim sendo, esta é uma catharsis pessoal, ainda que transmissível por efeito comunicacional. Enquanto inspiração, é antes uma homenagem a Aristóteles, a Breuer, a Freud, a Jung, a Lacan, e a tantos outros (impossível nomear todos...); à totalidade dos que abordaram a temática, desde a origem até ao momento actual. Sendo que o termo terapia, aqui, aplica-se sobretudo com um sentido lúdico e pouco sistemático.
Em jeito de conclusão ( porque os fins são sempre algo flutuantes...): passam por aqui instantes pessoais, momentos de reflexão, tópicos de análise, gostos, pareceres, sentimentos, etc... numa metamorfose blogosférica partilhada. E a partilha é fundamental para toda a catarse.
Obrigada!
[Aproveito também para agradecer ao lugar - AQUI - onde pude tomar conhecimento de possíveis novas imagens (fundos) para blogues, a partir de thecutestblogontheblock.com. Foi muito divertido experimentar possibilidades de renovação. Descobri, entretanto, CuteandCoolBlogStuff, também divertido, noutro estilo.]
Imagem: The Merciless Lady - Dante Gabriel Rossetti
Na verdade, nem posso precisar ao que vem tudo isto. São as sensações difusas as que mais me atingem, normalmente. Dizê-las, traduzi-las em palavras é sempre a consciência de um limite que todo o dizer implica pela sua invasão e pela sua arrogância. Há no silêncio uma espécie de pudor que é preciso cultivar, não obstante a necessidade de dizer alguma coisa para tornar o motivo de inquietação existencial verdadeiramente real. Objectivado pelo acto de verbalizar, não só se separa do eu (artificialmente, sem dúvida), mas sobretudo permite o confronto com aquilo em que se transformou. Então, muito mais claro. Ainda que algo se perca irremediavelmente na tradução...
Há, portanto, necessidade de calar, porque o silêncio possui também um profundo significado. Há, todavia, necessidade de dizer, porque esse acto permite uma dinâmica do eu que produz, inúmeras vezes, bons resultados. No limite, é a possibilidade desse dinamismo do ser que se torna libertação.
Mas tudo isto gira à volta, afinal, da importante ideia de Breuer, a de uma terapia pela palavra. Deste modo, é assim que aproveito para elucidar a escolha que fiz quando intitulei este espaço Catharsis. É uma pretensão modesta, evidentemente, realizada à minha medida. A de uma habitante deste planeta, que vive em Portugal e pertence a um modo de ser português, que é afectada pelas consequências de uma existência globalizada, que sente, que pensa, etc... Mas que não é importante. No sentido das importâncias duplamente entendidas, interpretação que deixo ao critério de quem tiver a gentileza de me ler. Para mim, a des-importância reveste-se, antes de mais, do facto de não ter realizado nenhum trabalho verdadeiramente importante na área do processo catártico.
Assim sendo, esta é uma catharsis pessoal, ainda que transmissível por efeito comunicacional. Enquanto inspiração, é antes uma homenagem a Aristóteles, a Breuer, a Freud, a Jung, a Lacan, e a tantos outros (impossível nomear todos...); à totalidade dos que abordaram a temática, desde a origem até ao momento actual. Sendo que o termo terapia, aqui, aplica-se sobretudo com um sentido lúdico e pouco sistemático.
Em jeito de conclusão ( porque os fins são sempre algo flutuantes...): passam por aqui instantes pessoais, momentos de reflexão, tópicos de análise, gostos, pareceres, sentimentos, etc... numa metamorfose blogosférica partilhada. E a partilha é fundamental para toda a catarse.
Obrigada!
[Aproveito também para agradecer ao lugar - AQUI - onde pude tomar conhecimento de possíveis novas imagens (fundos) para blogues, a partir de thecutestblogontheblock.com. Foi muito divertido experimentar possibilidades de renovação. Descobri, entretanto, CuteandCoolBlogStuff, também divertido, noutro estilo.]
Imagem: The Merciless Lady - Dante Gabriel Rossetti
15 comentários:
Gosto do novo visual e desse sentimento de partilha, que afinal nos faz (faria?, fará?) todos muito mais felizes.
Encontrar e dialogar é sempre fundamental. O contrário de perder e fechar-se sobre si própria/o e as suas crenças.
O blogue está bonito, muito mais alegre, mais aberto, denotando felicidade de viver e dialogar. Parabéns.
Vou passando, como sempre.
Gostei de te ler assim com os teus pontos nos is, quero dizer, com a tua visão entre silenciar e não comunicar e aí perde-se algo ou verbalizar o silêncio e com perdas também.
Dialogar e partilhar pontos de vista é essencial para uma melhor evolução do Eu...
...agora apetece-me dizer "gosto de ti maria"
e o teu blogue, para além de ser CATHARSIS, está com um fundo bonito...como diz o Lauro António está "muito mais alegre, mais aberto, denotando felicidade de viver e dialogar"
obrigada pelo link.
e saio.
beijo grande
terno
E se uma pessoa não reflectir? Não digo ser indiferente, por de nada se aperceber, mas, ao contrário, aperceber-se da sua existência - e até notar como ela molda a consciência ao seu modo de existir -, e se assim se limitar, de quê, porventura, sentirá falta!?
Ontem, na rua, vindo da Cinemateca, - morreu hoje o João Bénard da Costa :( -, vi uma frase dissonante mas quem poderá dizer sem significado? «Corpos inteligentes em Mentes sãs!» :)) Porquê realmente não aderir à inteligência imanente do devir, ainda que persistindo a «procurar a grandeza através do que seja alcançável (Kissinger)»?
Compreendo como a palavra, ao emergir do silêncio, acarreta uma hecatombe de evoluções possíveis de sentido, mas justamente, são 'curvaturas do espaço-tempo' a definir a própria existência.
A verbalização da inquietude gera em quem a ouve a insegurança de poder ajudar mas não a dúvida de conseguir escutar.
Gostei muito de ler este texto. Um texto que disse porque foi dizendo. A palavra tem poder, acho eu. E, verbalizar é outro modo de conhecer, que coadjuva o modo que não necessita de palavras. E, minha cara Ana Paula, ainda bem que podemos acompanhar esta actividade lúdico-catártica(???) de uma pessoa tão interessante.
Ah e vou tentar espreitar os lugares onde existem estas possibilidades de remodelação da assoalhada!!!
beijinho
:))
Gostei tanto deste teu texto, Ana Paula, tanto! Beijinho!
Ana Paula
escreves sempre tão bem, tão profundamente cativante.
Hoje estou com enxaqueca, vou retirar-me, amanhã volto para espreitar os fundos
bj
simpatico o seu lugar :)
eu acabo sempre por ver tanto e nao conseguir dizer nada :))))))
a trapalhada das vidas que nao se entendem:))))))))
saude
c.
Porque podemos sempre fazer essa purga dentro de nós... E isso é que é importante. O mundo pode ser espelho, ou não. Apesar de sermos pequenas partículas inseridos no meio e por entre tantas outras, há sempre um pouco de nós que se transborda. Está bonito o teu espaço, decorado com gosto e, fundamentalmente, tem o valor precioso das tuas palavras. Adorei ler este texto. Frontal. Sentido, mas sempre de "pé no chão". Parabéns Ana Paula.
***
Ai, Ana Paula, nem cabeça tenho para fazer um comentário digno desta publicação tão longe e tão íntima ao silenciar, por ser de uma tão delicada partilha, do seu eu com o "nós". E é difícil fazê-lo assim, mas já nos acostumou à sua forma serena e contida de dizer.
A pintura a acompanhar, juntamente com a voz de fundo e este fundo quente e acolhedor estão perfeitos.
Vou também cuscar, obrigada por mais esta partilha. Tem-me enriquecido muito.
Beijinhos
Isabel
Vim para trás porque nem mencionei o quanto admiro os irmãos Rossetti e como me diz tanto o pré-rafaelismo.
Mais uma vez, obrigada, Ana Paula:))
Ana Paula partilhar emoções, pensamentos, sentimentos e saber que não está sózinha, que muitas pessoas te entendem é muito bom, pois não há solidão.
Adorei tambem o visual e a dica. Um grande abraço, Eliete
querida ana paula, em primeiro lugar quero elogiar o teu blog, cuja nova roupagem lhe assenta muito bem e tem, a meu ver, um toque pessoal mais definido que o anterior, o que permite que o teu leitor esteja ainda mais próximo de ti :) se me permites, vou usar os 2 links que mencionas, para os experimentar, e se me agradar, sou capaz de também fazer uma pequena remodelação n'a tradução. é muito bom mudar de visual e (re)decorar a casa :) em segundo lugar, gostei muito de te ler! a ideia de que há uma terapia aplicada ao ser humano através do poder da palavra é uma verdade que procuro, porque quando escrevo sinto quase sempre que me é benéfico :) e termino, com a fé de que cada um de nós, mesmo sendo um grão no universo, temos um grau de importância perante os outros. votos de um bom fim de semana e um grande beijinho.
É um blogue muito pessoal, o seu, e por isso mesmo , muito coerente. E também por isso gosto de a visitar.
Olhar à volta significa um teste de coragem quase tão grande como olhar para dentro... ;)
Partilhar o que vai por dentro é um acto de amor... de generosidade... e creio estar ainda por inventar meio mais eficaz de libertar os sentires que as próprias palavras, não sei...
Diminuir as perdas que ocorrem nesse mesmo processo de tradução é uma arte que podemos praticar... torna-nos mais generosos!
O silêncio é um luxo a que muitas vezes não nos podemos entregar...
Cada habitante deste planeta é importante... do mais reles ao mais grandioso... das pedras às nuvens, animais, vegetais, fungos ou seres humanos... :)
A catarse pessoal é aquela que cada um de nós melhor preparado vem para realizar e que, por suas vez, melhor consegue levar a cabo... se todos fizéssemos a nossa própria catarse pessoal, conseguríamos finalmente, o paraíso por que tantos procuram...
E a partilha é fundamental para toda a catarse... :)
Adorei.
Beijinhos grandes!
Renovo o meu obrigada! a todos os que por aqui passam :)
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