segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

À moda antiga




Ainda em matéria de fé, é imperdível Dúvida. Mas quem queira assistir a um filme com efeitos especiais, ou com rasgos de glamour, não deverá ir vê-lo. Quem deseje narrativas enfeitadas não vai encontrar nada disso (e todos estes anseios são legítimos, mas, neste caso, sairiam frustrados). Porque este é um filme à moda antiga. Do princípio ao fim, o ambiente é austero e realista. O trabalho de realização eclipsa-se (com propósito), ficam os actores e as suas absolutamente magníficas e espectaculares interpretações!



Pena que, mesmo assim, o filme não aprofunde a questão do papel social da Igreja. Ontem, como hoje, a repensar. Embora a reflexão esteja sempre presente (e isto, passando-se o enredo nos anos 60 - EUA): modernização das práticas e rituais, abertura de espírito (face ao extremado puritanismo), celibato, crises de fé ...etc.
Há uma abordagem igualmente muito interessante e profícua acerca da educação.

Tudo começa com a dúvida, constrói-se dela... e termina nela. A cisão interior do ser humano começa quando a dúvida se introduz no âmago da certeza. Na verdade, honestamente, ninguém escapa da vivência de ambas.
Esta atmosfera de profunda inquietação respira-se em cada rosto e seus detalhes, focados sem fugas. Com extrema intensidade. Os diálogos profundos prolongam e sedimentam a estrutura psicológica das personagens. Magistral trabalho de interpretação! A nível de todos os actores. Não pude deixar de ficar algo boquiaberta com esta Meryl Streep transcendendo-se a si própria. Isto é arte, isto é ciência, isto é técnica, isto é vida!
Quanto a outras actrizes, Amy Adams e Viola Davis, projectam-se na mesma dimensão de excelência. No caso de Philip Seymour Hoffman, sei que sou algo suspeita. É um dos meus actores preferidos actualmente. Desde que vi o seu papel em Capote.



Um excelente filme. Certamente, um dos melhores do ano. Na verdade, trata-se da adaptação cinematográfica de uma peça de teatro, a qual foi também um sucesso - para saber mais, ver AQUI



À saída, ouvi algumas pessoas comentar que o filme era um pouco "pesado". O que quer que isso signifique, concordo. Mas, para mim, essa é uma boa qualidade. O que é importante, inquietante e interpelador, não pode deixar de possuir, efectivamente, algum "peso".

Finalmente, um outro aspecto poderoso: enquanto se assiste ao desenrolar da história, nunca nos são dadas certezas de nada, cada vez nos vamos impregnando mais de insidiosas dúvidas. O paradoxal: pela dúvida se constrói a fé (?).


Imagens: pesquisa do Google

9 comentários:

ARTISTA MALDITO disse...

Olá Ana Paula

Imagens austeras, o "peso" da dúvida a contrastar com a desejada leveza da fé, ou da iluminação das incertezas que a acompanham. Um filme a ver, sem dúvida.

Beijinho e bom início de semana, com menos chuva e mais luz,
Isabel

Mié disse...

Vou vê-lo. Já tinha lido sobre ele e fiquei interessadíssima e agora mais ainda.

O tema da Fé é-me muito "familiar" digamos assim.

Um beijo

enorme

Anónimo disse...

Despertaste-me a curiosidade. Beijinho!

Anónimo disse...

estou curiosíssima com este filme, porque tenho admiração pela actriz e os sentidos muito aguçados depois de ler este post :) beijo, ana paula.

Anónimo disse...

Ficou a curiosidade para o filme: Assim tenha eu tempo. Editei algo que gostavas que visses, pois parece-me que não está nas melhores condições técnicas. Tudo de bom e continuação de boa semana.

Violeta disse...

Paula
Obrigada pelo teu testemunho. Ando tão arredia das salas de cinema... lá irei, lá irei.
bjs

Frioleiras disse...

grata pela sugestão..........

partilha de silêncios disse...

Obrigada pela sugestão. É um que pretendo ver.

bjs

via disse...

vi a peça, com o diogo infante e a eunice e achei inquietante.inquietante porque ficamos na dúvida, porque não sabemos vedadeiramente o que pensar, porque aqui o juízo se nos recolhe! ou ver o filme certamente! Bom fim-de-semana!

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