sábado, 21 de janeiro de 2012

falando de frio

O Norge em Spitsbergen (Maio de 1926)

«Não podemos deixar de relembrar que, enquanto todas estas peripécias tinham lugar, uma violenta caldeirada política começava a levantar fervura. Desde 1922 que a Itália se tornara um país fascista; de resto, a palavra foi ali criada (de fascio, palavra italiana que significa "feixe" ou "unidade"). O seu fundador foi Benito Mussolini, um homem com todas as características do que aí vinha: autoritário, vaidoso, impiedoso, populista e não muito inteligente. A Itália de Mussolini tornou-se uma ditadura precoce (a par do regime salazarista em Portugal), proporcionando um molde aproximado a Hitler e Franco, alguns anos mais tarde.
No entanto, ao princípio o movimento fascista parecia mais inócuo do que mais tarde se revelaria. Em 1922 os fascistas marcharam sobre Roma, armados apenas do seu entusiasmo pela Itália gloriosa de um passado remoto. (...)
Mas o fascismo não degenerou em ditadura de um dia para o outro, e mesmo depois da suspensão das liberdades civis (por exemplo, das eleições multipartidárias e da liberdade de imprensa), muitos continuaram a acreditar que se tratava de medidas temporárias numa época atribulada. Junte-se a isto o fascismo ter levado forte alívio económico a muitos italianos pobres. Num país profundamente católico, em que a Igreja e o Estado estavam em conflito desde a reunificação, no século XIX, o fascismo conseguira uma reconciliação. Com a sua obsessão pelas glórias do passado, o fascismo conseguira reanimar o orgulho nacional italiano. 


Quando Umberto Nobile sobrevoou o Pólo Norte num dirigível, em 1926, o feito simbolizou o reforço do amor-próprio de que o país estava muito necessitado. De tal maneira que, dois anos mais tarde, quando Nobile se despenhou ao tentar uma aterragem no Pólo Norte (provocando muitas mortes, incluindo a do pioneiro Roald Amundsen, que comandou o grupo de salvamento), uma surpresa desagradável esperava-o no regresso a casa. Em compensação por todos os riscos que correra, foi publicamente humilhado e expulso do exército, tendo-lhe sido retiradas todas as condecorações. Só por pouco escapou à prisão. O fascismo não tolerava o fracasso.»
O Grande Inquisidor, João Magueijo



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