The Ides of March (2011) é um filme de George Clooney, e bastante interessante. Faz um retrato algo impiedoso dos bastidores das campanhas eleitorais para a presidência dos EUA. Nesta reconstituição, estamos na fase das primárias. A luta renhida para ser escolhido e ficar à frente passa por cima de escrúpulos e dilemas. O objectivo é apenas um: ganhar. Numa época em que a credibilidade daqueles que se dedicam à política é posta em causa, George Clooney não está com contemplações, e mostra que chegar ao poder não é brincadeira nenhuma. É caso sério, realmente: a partir do momento em que todos estão focados no objectivo primordial, os obstáculos só existem para ser ultrapassados. O resto são efeitos colaterais.
A visão de Clooney, certamente realista, mostra que o poder tem um preço elevado: é preciso "vender a alma ao diabo" e viver no permanente sobressalto da traição - que pode chegar de onde menos se espera. O terreno é pantanoso e venenoso, como é de prever, se envolve poder. E é caso para dizer, aqui, que os fins justificam os meios. Justificarão? Se sim, até que ponto? Pode muito bem ser até às últimas consequências.
Um pormenor que retive, porque sempre foi um aspecto que me intrigou (até certo ponto), foi a importância dada a números. Numa campanha eleitoral, um candidato deve apresentá-los. Isso dá-lhe credibilidade, pois apresenta-nos uma imagem de cuidado, rigor e informação/preparação. Muito bem. Mas, se as coisas forem como o filme mostra, estes números tão sonantes, e gráficos e coisas do mesmo tipo... fabricados para o efeito, não representam necessariamente a realidade. Por tudo isto, e muito mais - veja-se, por exemplo, "o espalhar notícias", jogadas de informação e contra-informação, entre muitas outras hábeis estratégias; pergunto: não estará na altura de mudar alguma coisa nessa nobre actividade que é (deveria ser) a política? Sobretudo, ao constatar-se/constatarmos que estes métodos não têm dado lá muito bons resultados - para não dizer péssimos. É que se tudo isto é mesmo assim, e só pode ser assim (?), no mínimo, o que se espera de quem chega ao poder, depois de se despedaçar todo para lá chegar, é que faça alguma coisa, concreta, de jeito.
Além da competente realização de George Clooney, o filme tem várias excelentes interpretações. Destaco a de Ryan Gosling/Stephen Meyers, cujo trabalho pode ser também avaliado em Drive (2011) - actualmente em exibição, e vencedor do prémio de melhor realizador no Festival de Cannes.
Um filme diferente, um papel diferente - em ambos os casos, igualmente duros.
3 comentários:
Boa noite,
A Ana Paula é especial nos seus textos.
Adoro lê-la... e pensar que sem o saber - mas digo-lhe -, tem tantos pontos comuns comigo (até Cesário Verde!).
Talvez daí, tanta química musical, literária... cultural, me prende a atenção nas suas atividades escritas!
Um dos pontos comuns que deverá desconfiar é Mr. Holmes e toda a atmosfera que impregna o seu outro Blogue.
O autor (ou pai) de Sherlock Holmes, é uma figura que admiro para além da ficção (...)
De facto, há pessoas insubstituíveis, por mais que digam que os cemitérios estão cheios desse pessoal.
Talvez por isso, as coisas no mundo não estejam a correr nada bem!
Não arranjaram substitutos à altura, para os que se foram...
Amitié...
César
César, o que é bom nisto dos blogues é saber que temos como leitores pessoas a sério, como é o caso do meu caro amigo! De outro modo, escrever seria um acto incompletíssimo. Muito obrigada por acompanhar o Catharsis!
Infelizmente, estou em fase de pouca inspiração sherlockiana :)) mas, há sempre aquela ideia do eterno retorno, sobretudo do que é da nossa eleição...
Um abraço.
Olá Ana Paula. Queria muito ir ver este filme (e outros). Mas tenho tido tão pouco tempo para ir ao cinema ou para visitar as "casas" dos amigos... Um bom Natal para si.
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