quinta-feira, 1 de julho de 2010

Que data?

"A memória tem o hábito (pelo menos, a minha memória) de organizar por categorias, e não por datas. É como se uma secretária imemorial tivesse arrancado os acontecimentos da sua sequência normal para, em seguida, arquivá-los debaixo de cabeçalhos tais como «Ramanujan», «A Guerra», «O Caso de Russell», de maneira que agora, para poder observar claramente a cronologia, primeiro tenho de desenterrar de cada ficheiro os pormenores pertinentes de um momento e, em seguida, colocá-los lado a lado dos detalhes de um outro momento, desenterrados de outro ficheiro."
David Leavitt, O Escriturário 1ndiano

4 comentários:

Joaquim Maria Castanho disse...

Décimo Oitavo Cálice

Quando até a literatura é estrangeira
Na regra dos noves fora mais antiga
É condição redobrada ser a primeira
A contar de quanto trauteio a cantiga
De ficar absorto a soletrá-la pertinaz
Já que o corpo por repouso tudo aceita
Incluindo ler, que só à mente deleita,
Seja a tarde longa e calma ou fugaz
Que sempre voará se no fazer apraz.

Medido o tempo por esta clepsidra
Onde cada segundo é uma frase lida
A pingar da pipeta do entendimento
Tece enredos quem só decepa a Hidra
Lhe sega as cabeças do medo à vida
Tira à serpente gigante o tormento
E lhe dá em troca o jeito sagaz melado
De um S com asas dito voo soletrado
E no sibilo de uma língua enrolado.

A primeira letra de um nome, portanto
Só anda repetido adiante, se avança
Revestido na aliança serena do canto
Em que o compasso é passo e balança
Braço dado fazendo do par a esperança
Deste Alentejo como um lamento cantado
Na sesta amena ao ritmo arado do beijo
Que é outro tanto do canto do S no desejo.

Boca a desenrolar-se é só mandorla da fé
Num zero que a cabala indica, mas que é
O seixo do ábaco se a unidade multiplica
Por dez, por cem, por mil e até o infinito
Estica, dando ao ver o que só se acredita
Existir, sendo esse anel o aro de espírito
Suficiente à matéria como forma de lente
Prà visão num oito alcançar o ponto fito
Que nunca é visto só pelo olhar da gente.

Quem já viu longe e para lá do horizonte
Que a eternidade tem por coisa tão certa
Como uma árvore, colina, rio, ou monte
Habitado por família unida, sã e desperta?
Então, esse sabe até reconhecer a aresta
Que há no distante Sol cuja seta acerta
Raio de alerta e sobre a alma o rio apresta
Ao tempo contínuo, sem fim, sólida ponte!

Mar Arável disse...

Somos memórias selectivas

enclavinhadas

na memória

mdsol disse...

A memória e as suas questões: um fascínio.


Beijinho, Ana Paula
:)))

Há.dias.assim disse...

A forma como organizamos as nossas memórias apresenta-se, por vezes, de uma forma extraordinária...

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...