Pode o futuro não nos interessar, perante a urgência do presente? As questões relacionadas com a chamada teoria da evolução das espécies também podem fazer pensar o futuro. Pelo menos, foi nessa linha que Filipe Duarte Santos desenvolveu a sua comunicação intitulada "Sustentabilidade, Cultura e Evolução".
O conceito de sustentabilidade (como preocupação que surge nos finais do século passado) é considerado pelo autor um dos mais debatidos no século XXI, e não pode deixar de suscitar a minha atenção. Foi nesse sentido que me deparei com a referida comunicação, integrada num conjunto de textos reunidos sob o título «A Urgência da Teoria».
A tese apresentada por Filipe Duarte Santos (de quem vale a pena conhecer mais...) é a de que, após um percurso evolutivo dominado por transformações biológicas, o ser humano atingiu um singular patamar de desenvolvimento, no qual a evolução cultural se sobrepôs à biológica. Ou seja, a nossa civilização alcançou a possibilidade de "aliviar" as pressões que determinam a selecção natural. O futuro evolutivo da espécie humana dependerá, portanto, da nossa capacidade para adaptar a evolução cultural aos condicionalismos que nos são impostos. Segundo palavras do autor, estamos prisioneiros da nossa cultura. Trata-se de saber para onde é que ela nos conduz...
Aqui fica o registo de um tema que me parece extremamente interessante. Através de um autor que o tem investigado e debatido.
«(...) nos 250 anos que nos separam do início da revolução industrial, a população humana aumentou por um factor de 8,3 até atingir valores da ordem de 6600 milhões, na actualidade.
A evolução recente deste e de outros indicadores globais indicia riscos significativos de insustentabilidade da nossa civilização num futuro mais ou menos próximo. Será que a nossa cultura saberá mitigar estes riscos e assegurar a continuidade da sua evolução? Ou será que há um elemento degenerativo que nos irá conduzir para crises e rupturas? Há algo de misterioso no nosso sucesso que não desvendámos ainda. O caminho provavelmente não é irreversível, mas não o conhecemos. Essa é a razão que torna tão importante pensar o nosso futuro colectivo.
Será que a nossa espécie irá evoluir biologicamente para se transformar em algo como um super-homem capaz de encontrar novos paradigmas de progresso sustentável? Um dos mecanismos mais importantes de especiação é o isolamento geográfico de populações em condições ambientais diversas. Presentemente, no caso do Homo sapiens, não é efectivo porque construímos uma sociedade global com fortíssimo contacto e procriação entre todos os grupos populacionais. (...) sobretudo nos países desenvolvidos, os avanços da medicina e da assistência à saúde, aliados a uma cultura de solidariedade e segurança social, asseguram a sobrevivência de quase todos e não apenas dos mais fortes e adaptados. Assistimos, pois, a um relaxamento das pressões que determinam a selecção natural. Tal não significa que a espécie humana não evolua biologicamente, mas apenas que na fase actual essa evolução assume formas subtis por estar fortemente mitigada (Balter, 2005).
Quanto à evolução futura do Homo sapiens, ela irá depender em grande parte das condicionantes externas e internas à sociedade humana.
(...) Quanto mais estável e seguro for o futuro, menor a probabilidade de evolução biológica do Homo sapiens. Face aos actuais cenários socioeconómicos e ambientais futuros, é possível que nos próximos séculos se assista a um esgotamento do modelo de uma evolução cultural mais ou menos contínua. Tudo depende de conseguirmos ou não adaptar a nossa evolução cultural aos condicionalismos que nos são impostos, em última análise, pela natureza e leis que a regem. Estamos manifestamente prisioneiros da nossa cultura e das imensas capacidades que ela tem revelado em tornar admirável o nosso modo e a nossa qualidade de vida, embora estes benefícios estejam muito longe de abranger a totalidade da população humana.»
Imagem: pesquisa do Google (arte dos primatas)
O conceito de sustentabilidade (como preocupação que surge nos finais do século passado) é considerado pelo autor um dos mais debatidos no século XXI, e não pode deixar de suscitar a minha atenção. Foi nesse sentido que me deparei com a referida comunicação, integrada num conjunto de textos reunidos sob o título «A Urgência da Teoria».
A tese apresentada por Filipe Duarte Santos (de quem vale a pena conhecer mais...) é a de que, após um percurso evolutivo dominado por transformações biológicas, o ser humano atingiu um singular patamar de desenvolvimento, no qual a evolução cultural se sobrepôs à biológica. Ou seja, a nossa civilização alcançou a possibilidade de "aliviar" as pressões que determinam a selecção natural. O futuro evolutivo da espécie humana dependerá, portanto, da nossa capacidade para adaptar a evolução cultural aos condicionalismos que nos são impostos. Segundo palavras do autor, estamos prisioneiros da nossa cultura. Trata-se de saber para onde é que ela nos conduz...
Aqui fica o registo de um tema que me parece extremamente interessante. Através de um autor que o tem investigado e debatido.
«(...) nos 250 anos que nos separam do início da revolução industrial, a população humana aumentou por um factor de 8,3 até atingir valores da ordem de 6600 milhões, na actualidade.
A evolução recente deste e de outros indicadores globais indicia riscos significativos de insustentabilidade da nossa civilização num futuro mais ou menos próximo. Será que a nossa cultura saberá mitigar estes riscos e assegurar a continuidade da sua evolução? Ou será que há um elemento degenerativo que nos irá conduzir para crises e rupturas? Há algo de misterioso no nosso sucesso que não desvendámos ainda. O caminho provavelmente não é irreversível, mas não o conhecemos. Essa é a razão que torna tão importante pensar o nosso futuro colectivo.
Será que a nossa espécie irá evoluir biologicamente para se transformar em algo como um super-homem capaz de encontrar novos paradigmas de progresso sustentável? Um dos mecanismos mais importantes de especiação é o isolamento geográfico de populações em condições ambientais diversas. Presentemente, no caso do Homo sapiens, não é efectivo porque construímos uma sociedade global com fortíssimo contacto e procriação entre todos os grupos populacionais. (...) sobretudo nos países desenvolvidos, os avanços da medicina e da assistência à saúde, aliados a uma cultura de solidariedade e segurança social, asseguram a sobrevivência de quase todos e não apenas dos mais fortes e adaptados. Assistimos, pois, a um relaxamento das pressões que determinam a selecção natural. Tal não significa que a espécie humana não evolua biologicamente, mas apenas que na fase actual essa evolução assume formas subtis por estar fortemente mitigada (Balter, 2005).
Quanto à evolução futura do Homo sapiens, ela irá depender em grande parte das condicionantes externas e internas à sociedade humana.
(...) Quanto mais estável e seguro for o futuro, menor a probabilidade de evolução biológica do Homo sapiens. Face aos actuais cenários socioeconómicos e ambientais futuros, é possível que nos próximos séculos se assista a um esgotamento do modelo de uma evolução cultural mais ou menos contínua. Tudo depende de conseguirmos ou não adaptar a nossa evolução cultural aos condicionalismos que nos são impostos, em última análise, pela natureza e leis que a regem. Estamos manifestamente prisioneiros da nossa cultura e das imensas capacidades que ela tem revelado em tornar admirável o nosso modo e a nossa qualidade de vida, embora estes benefícios estejam muito longe de abranger a totalidade da população humana.»
in "Sustentabilidade, Cultura e Evolução", Filipe Duarte Santos
Imagem: pesquisa do Google (arte dos primatas)
10 comentários:
Fiquei memso interessada.
Obrigada pela informação.
Fragmento muito sugestivo. Oiço-o sempre com interesse, fiquei com vontade de o ler.
"Há algo de misterioso no nosso sucesso que não desvendámos ainda. O caminho provavelmente não é irreversível, mas não o conhecemos. Essa é a razão que torna tão importante pensar o nosso futuro colectivo."
Pois... não sabemos onde tudo isto nos vai leva!
O desenvolvimento sustentável é um caminho para preservarmos o sistema terra/homem, mas não sei se isso será sustentável para toda a humanidade. A selecção "natural", penso, que far-se-á sempre: natural em detrimento dos mais fracos ou artificial em favorecimento dos mais ricos, a evolução/adaptação continuará e isso faz parte da evolução cultural da Humanidade.
Penso eu!!
este tema é quase inesgotável e nos tempos de hoje bastante oportuno que se debata.
Um beijo
bom fim de semana
Eu rio-me sobre a nossa propria arrogância de nos titular Homo sapiens sapiens...
.
.
.
e assim nos esgotamos
de nós mesmos
.
.
bjo grande
Eu, que tenho uma admiração enorme pelo CERN não gostei da revolução industrial.
(As incongruências dum ser humano!)
a questão é que somos incapazes de pensar assim num tempão...o tempo grande da evolução não é pensável de forma clara, ficamos assim enevoados, seria até engraçado que retrocedessemos para os bichinhos, nem era mau.
Gostei muito de ler! Obrigada.
Não creio que o homem evolua para um super-ser.
Preferia ver-nos evoluir para a ternura, a iluminação interior... a solidariedade...
Um beijo
em azul
Um post para reflectir...
Obrigada.
"Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras."
Agradecia que passasses pelo MM para recolher o Prémio que foi atribuído a este Blogue.
Um beijo ;)
É sempre bom reflectir
àcerca do minuto que se segue
sendo certo que nós mesmo seremos diferentes amanhã
e pelo que se vê ainda bem
digo eu Pitecantropo
que ainda vos recordo
prisioneiros
Não leve a mal - vou aceitar
a sua proposta de leitura
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