sexta-feira, 26 de abril de 2013

Liberdade


A presença das formigas
Nesta oficina caseira
A regra de três composta
Às tantas da madrugada
Maria que eu tanto prezo
E por modéstia me ama
A longa noite de insónia
Às voltas na mesma cama
A longa noite de insónia
Às voltas na mesma cama

Liberdade
Liberdade

Quem disse que era mentira
Quem disse que era mentira
Quero-te mais do que à morte
Quero-te mais do que à vida
Quero-te mais do que à morte
Quero-te mais do que à vida

 
A presença das formigas
Nesta oficina caseira
A regra de três composta
Às tantas da madrugada
Maria que eu tanto prezo
E por modéstia me ama
A longa noite de insónia
Às voltas na mesma cama
A longa noite de insónia
Às voltas na mesma cama

 
Liberdade
Liberdade
 
Quem disse que era mentira
Quem disse que era mentira
Quero-te mais do que à morte
Quero-te mais do que à vida
Quero-te mais do que à morte
Quero-te mais do que à vida


Letra e Música: José Afonso
Álbum: Coro dos Tribunais (1974) 

domingo, 21 de abril de 2013

don't worry! be happy :))

o que mais custa entender é a felicidade. o céu azul ofuscado pelo sol impiedoso à semelhança da impiedade na terra quando se cortam os humanos em postas para cozinhar à la carte em lume brando. e todos vivem felizes porque se assim não viverem os deuses podem discernir na tristeza e declaração de insatisfação um hipotético sinal de fraqueza ou... isso. o que mais custa entender é a felicidade diária como se fosse questão de repetição assegurada pelos dias sucessivos do nascer do sol ao sol posto e tudo está no seu lugar porque é assim simplesmente. como se a felicidade não fosse apenas coisa de um instante ou então como se não fosse tudo aquilo que é difícil manter. o que mais custa é a felicidade infeliz. o que mais custa é o canto dos passarinhos como se não povoassem os céus abutres. o que mais custa é a falta de gravidade sem nunca chegar a levitar. o que mais custa é isto tudo repleto de nadas.

Actualidade


Antiguidade


(...) a expressão de Dionísio é verdadeira: ele dizia com efeito que o maior benefício do governo era fazer o que queria com facilidade. Existe portanto um grande perigo que aquele que pode fazer o que quer queira o que não deve.
Plutarco, A Um Dirigente Sem Educação 
 

terça-feira, 16 de abril de 2013

o nosso (às vezes) caviar



caviar

por entre tanta comentação que agora há, deparei-me ultimamente com uma útil informação (não posso precisar vinda de quem, dada a crescente multiplicidade de comentadores existente por estes tempos). mas fiquei a mastigar o caso. ei-la: agora, além de uma esquerda caviar, há também entre nós uma direita caviar. bom, eu até acredito, mas não comento (acho que chega de comentadores, apesar de sempre ter previsto que tal actividade viria a tornar-se uma carreira promissora). limito-me a perguntar: onde é que está o caviar??!!! é que a gente também quer!!!

domingo, 14 de abril de 2013

agora que veio o sol

Shadows and Fog, Woody Allen (1991)

pode dizer-se que vivemos entre sombras e nevoeiro. vem isto a propósito de um filme meu favorito inesperadamente revisto - de Woody Allen. e vem também a propósito desta permanente indefinição em que vivemos aqui por terras lusas - já não sabemos quem é quem nem de que terra é. qual o quadrante onde devo situar aquele? e o outro? tudo se esfuma e não é numa só noite, como no filme. nem num só dia. é mesmo ao longo dos dias, das semanas e dos meses... e cada um pode confundir-se com outro... afinal não estamos sempre aptos ou predispostos a percepcionar tanta complexidade. tanta urdidura. temos de poder confiar nas coisas. é muito importante - diz Kleinman. o problema é que, tal como ali, estamos envoltos em névoas. tal como ali, não sabemos quais as alternativas. e qualquer dia, tal como lá, seremos identificados pelo cheiro. absurdo? sim, mas o universo pode tornar-se eminentemente kafkiano. sombrio e nublado. do mesmo modo, na ausência de algo claro e evidente rompendo o nevoeiro, nada impede que deixemos de acreditar, ao ponto de duvidar da nossa própria existência.
é por estas e por outras que gosto do expressionismo alemão. mesmo revisitado.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

E vós, Tágides minhas...

A filosofia mostra-nos que seria absurdo acreditar que um dia esgotaremos o que é pensável, o que pode ser feito e formado, da mesma maneira que seria absurdo colocar limites ao poder de formação que jaz sempre na imaginação psíquica e no imaginário colectivo sócio-histórico. No entanto, não nos impede de constatar que a humanidade atravessou períodos de enfraquecimento e de letargia, tanto mais insidiosos porquanto acompanhados por aquilo a que se convencionou chamar um «bem-estar material». Na medida em que isso depende, em maior ou menor grau, daqueles que têm uma relação directa e activa com a cultura, no caso de o seu trabalho permanecer fiel à liberdade e à responsabilidade, eles poderão estar a contribuir para que esta fase de letargia seja a mais curta possível.
Cornelius Castoriadis, A Ascenção da Insignificância

terça-feira, 2 de abril de 2013

há mar e mar há ir e voltar

regressar é quase como viver: olha-se para as horas. são seis e meia a madrugada move-se negra hoje o tempo mal se distingue no relógio pequeno em cima da mesa. há tanto para contar mas não vale a pena o tempo é indistinto e o que fosse dito agora já o teria sido num tempo antes ou mesmo escrito por outras mãos com dedos a apertar a caneta vincando o papel de peripécias pensamentos imagens afectos e desafectos e essas coisas todas que fazem vidas.
escrever é sempre um regresso. se há que voltar também há que escrever. só mesmo por isso. já tudo foi dito. enquanto para lá das vidraças o céu se abre em dilúvio e as luzes brancas trilham os céus incendiando o coração em sobressaltos a mente absorve o cansaço da busca da forma para dizer exactamente o mesmo de antes. há seres antiquíssimos a povoar as ideias e os actos do agora. o relógio pode parar mas as horas são de repetição. 
o vento parou não sei porquê e a chuva entretanto inunda a atmosfera de odores misturados a chuva no asfalto a chuva nas ervas selváticas que minam jardins abandonados a chuva nos corpos desprotegidos o óleo na chuva que corre no asfalto.
a subir a serra a subir a serra e a descer a serra tempo de regresso. para cima o ar carregado de névoa. o vislumbre das laranjas pesadas prestes a tombar. o verde molhado português. até à costa junto ao alarido das gaivotas o rio pesado por entre as palmeiras. tempo de regresso tempo de repetir e voltar a dizer com sentido o sem sentido. tempo de deixar amarelecer as imagens e de esperar as flores. o barquinho de pesca oscila na memória e navega devagar no pensamento. até ao mar aberto depois das janelas que a manhã ilumina pouco a pouco até ao cheiro a maresia. ao longe os navios fogem do presente. só depois disso sei que é hora de voltar.

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...