sexta-feira, 29 de março de 2013

O Amigo

(...) o amigo é pois o outro si mesmo - Aristóteles

trata-se de um pequeno texto de Agamben sobre 'o amigo', 'a amizade'. interessante, parece-me, no tempo dos milhares de amigos do FB, repensar: 'o que é um amigo?'. Agamben parte de um texto de Aristóteles sobre o mesmo tema (da Ética a Nicómaco) para nos levar a pensar 'o amigo' como aquele que existe sem ser exactamente um outro, mas sim enquanto um modo de ser 'nós mesmos', ou seja, nas palavras de Agamben, o amigo é um tornar-se outro do mesmo, ou ainda, a amizade é esta des-subjectivização no próprio coração da mais íntima sensação de si. afinal, esta problemática do amigo conduz-nos à chamada filosofia primeira. mas mais não digo, o texto aí está (facto notável, neste Portugal às vezes tão pequenino) à disposição de leituras e leituras...
é de ler e ficar a pensar, para depurar os horizontes.

direitos (ainda) humanos

Roland Topor (1938-1997), Droit à la paresse - 1989

um verso e meio de Hélia Correia

com votos de Boa Páscoa a todos e, em especial, ao colega e amigo que me sugeriu a poesia. Obrigada!

Nós, os ateus, nós, os monoteístas,
Nós, os que reduzimos a beleza 
A pequenas tarefas, nós, os pobres
Adornados, os pobres confortáveis.
Os que a si mesmos se vigarizavam,
Olhando para cima, para as torres,
Supondo que as podiam habitar,
Glória das águias que nem águias tem,
Sofremos, sim, de idêntica indigência,
Da ruína da Grécia.

Hélia Correia in A Terceira Miséria 

segunda-feira, 25 de março de 2013

Algarve

Praia da Rocha - foto AP

O Algarve é grande pelas flores pelas rochas pelas árvores pela luz. Tem praias nuas tem água à temperatura de não ter frio tem figos como ninguém tem tem casas caiadas de azul como ninguém tem tem Dom Rodrigos tem tem amêndoas como ninguém tem tem cheiro a caravelas tem tem, e o corridinho tem ou não tem?
(...)
Uma noite de luar na Praia da Rocha é espectáculo que deve ser visto pelo menos duas vezes na vida - a praia acorda de entusiasmo e fica a bailar com as ondas - a luz quebra-se na espuma e as rochas admiram-se de tanta brincadeira. 
Ruben A., Páginas (VI)

sábado, 23 de março de 2013

bem pequeninas estórias

era uma vez uma mulher
e um homem
com palavras
e disseram-se muitas
as dele tinham muitas qualidades
as dela pendiam p'ras virtudes

usaram palavras doces
amargas frias ternas e fraternas
palavras apaixonadas corpóreas pesadas e sonoras
brincaram palavrosamente
por longos tempos em construção
e até fizeram coisas sérias
porque não? 

um dia quase gastas as palavras
alheios à escassez de tudo
fez-se um pequeno silêncio
cortado pela experimentação

decidiram então
usar a linguagem técnica
num território por explorar
ele disse
quero-te porque és sustentável
ela volveu
aqui tens o gráfico da tua atenção
no corrente ano
intensidade e duração
há uma quebra aqui meu plafond
bem sei
respondeu-lhe ele
podemos negociar
sugeriu ela
não quero ser-te um imposto

e assim se aproximaram
do amor financeiro
ou das finanças do amor
mas eis que surgiu economicamente
um grande silêncio

andam agora a inventar palavras
e
se bem me lembro
os grandes silêncios são muito palavrosos

AP 

redução à sensação

Manhã no mar a olhar para a terra, manhã na terra a olhar para o mar, dias de fantásticas miragens, sem lemes na embarcação, sereias só na imaginação, toninhas a dançar, e o escaler começa a afastar-se. (...)
Não importa dias de férias, dias feriados, dias infinitos, tanto faz chegar tarde como não chegar, é preciso é estar. Sensação boa, livre, mesmo para quem não tem um tostão.
Ruben A., Páginas (VI)

impossíveis

em busca da linha do horizonte que nunca se alcança...



segunda-feira, 11 de março de 2013

...há sempre problemas com qualquer coisinha


d'O Ingénuo

Sam Francis, Heart Stone (1963)

Em dois dias a doença tornou-se mortal. O cérebro, que se julga ser a sede do entendimento, foi tão violentamente atacado como o coração, o qual é, dizem, a sede das paixões.
Que mecânica incompreensível submeteu os órgãos ao sentimento e ao pensamento? Como é que uma simples ideia dolorosa é capaz de perturbar a circulação do sangue? E como é que o sangue, por sua vez, conduz todas estas perturbações ao entendimento humano? Que fluido desconhecido é esse, cuja existência é certa, que mais rápido, mais activo do que a luz voa em menos tempo do que um pestanejar de olhos por todos os canais da vida, produz as sensações, a memória, a tristeza ou a alegria, a razão ou a vertigem, lembra com horror o que se quer esquecer e tanto faz de um animal pensante um objecto de admiração como um motivo de piedade e de lágrimas?
Eis o que pensava o excelente Gordon; e esta reflexão tão natural, raramente feita pelos homens, nada furtava à sua compaixão; pois nada tinha de um desses filósofos que fazem tudo para ser insensíveis. 
Voltaire, O Ingénuo

domingo, 10 de março de 2013

dancemos a valsa com Bashir

tenho andado a ver o filme... pode ver-se completo ou em vários segmentos para legendas em português (de fraca qualidade, ainda assim úteis).
a nossa memória tem razões que ela própria desconhece. 




sexta-feira, 8 de março de 2013

pois

 continuo a gostar de ser mulher e tenho imenso que fazer 


Cindy Sherman, Untitled Film Still nº 10 - 1978


domingo, 3 de março de 2013

Red Shoes (1948)





Stéphane Hessel [1917-2013]

Stéphane Hessel

 93 anos. De certo modo, é a derradeira etapa. O fim já não está muito longe. Tenho a sorte de poder aproveitar para recordar o que serviu de base ao meu envolvimento político: os anos de resistência e o programa elaborado há sessenta e seis anos pelo Conselho Nacional da Resistência!
Stéphane Hessel, Indignai-vos! 

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...