segunda-feira, 29 de junho de 2009

Prémio Lemniscata - 2



Eis uma dupla distinção Lemniscata para o Catharsis. Desta vez, veio do Arion reloaded. Isto é muito mais do que eu mereceria, atendendo ao que por aqui vou deixando ficar - pequenas divagações. Mas o Vasco, com a sua extrema simpatia, quis atribuir-me esta distinção. O que muito lhe agradeço, retribuindo a simpatia e amizade. Muito obrigada!

Segue-se o texto oficial relativo ao prémio:

O blogue Arion reloaded atribuiu o prémio Lemniscata ao blogue Catharsis

“O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores."

Sobre o significado de LEMNISCATA: “curva geométrica com forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.” Lemniscato: ornado de fitas; Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora).

Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.
Texto da editora de “Pérola da cultura”.

Partilho este prémio com todos os visitantes e comentadores deste espaço. De acordo com as regras, este prémio é para ser atribuído a 7 blogues, os quais, sem qualquer hierarquia definida, passo a nomear:



domingo, 28 de junho de 2009

Porque gosto de cinema

Chove lá fora, o tempo é incerto, o mundo está repleto de efémero, tudo parece acontecer demasiado depressa...
Mas algumas coisas ficam retidas na memória e no pensamento. Este foi um bom-dia-boa-noite, apenas porque vi um bom filme. Daqueles que têm uma história bem engendrada. Daqueles que deixam matéria para pensar. Daqueles que entretêm o tempo todo. Com dilemas éticos e hierarquias de valores. Com acção e suspense q. b.. Refiro-me a State of Play de Kevin Macdonald.



Um filme sobre a amizade e o companheirismo; sobre a competitividade, a ambição e a ética profissional. E também sobre isto: Há ainda um lugar para os jornais, no mundo actual? Vale a pena ter um jornal na mão, e ler o que ele contém? Pode bem dar-se este caso: o de ser um meio de comunicação insubstituível.



Gostei das interpretações todas, no seu conjunto muito equilibrado. Gostei da realização que nos apresenta um mundo nervoso, onde às vezes é preciso parar para pensar. Não é perfeito, claro. Mas é uma lufada de ar fresco, por entre tanto que se vê, sem que nada fique. Talvez passe despercebido entre a oferta actual das salas de cinema. O que será certamente lamentável. Eu anotei a referência AQUI.




Mais sobre o filme

e sobre a série da qual é adaptação


sexta-feira, 26 de junho de 2009

Prémio Lemniscata - 1




D'O Valor das Ideias, blogue de Carlos Santos, chegou até mim este prémio Lemniscata que muito agradeço. Foi, sem dúvida, resultado da simpatia e muita generosidade da parte de quem mo atribuiu. Tanto mais, tendo em conta o nobre princípio que lhe subjaz, só posso ficar imensamente reconhecida por tal distinção. Embora ela se situe para lá do pouco que vou fazendo aqui, aceito o prémio e reitero o meu agradecimento: Muito obrigada!

Seguidamente, apresento-vos o texto oficial que lhe está associado:

O blogue O Valor das Ideias atribuiu o Prémio Lemniscata ao blogue Catharsis

“O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores."

Sobre o significado de LEMNISCATA: “curva geométrica com forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.” Lemniscato: ornado de fitas; Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora).

Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.
Texto da editora de “Pérola da cultura”.

Partilho este prémio com todos os visitantes e comentadores deste espaço. Espero que ele se dissemine o mais possível, considerando muitos outros blogues que o merecem. Mas, de acordo com as regras, este prémio é para ser atribuído a 7 blogues (tarefa difícil, na medida em que há muitos lugares que gostaria de escolher), os quais, sem qualquer hierarquia definida, passo a nomear:





segunda-feira, 22 de junho de 2009

Do perdão

Por motivos pessoais, tenho reflectido acerca do perdão. Trata-se de uma noção estreitamente ligada à doutrina cristã. Eu fui educada para perdoar. Mas... estranho seria não ter tido que me interrogar acerca disto (tal como acerca de tantas outras coisas...), ao longo do tempo.
A visão do ser humano como autómato incomoda-me terrivelmente. É certo que o sucesso da aprendizagem passa por alguns condicionalismos rígidos (em certos casos, verdadeiros mecanismos). Felizmente também há aprendizagens que se desenvolvem mediante uma actividade do sujeito. Claro que a educação que nos é dada é importante. Chega mesmo a ser determinante em muitas situações. Acontece que também nos educamos. Actualmente, situo-me em plena fase de tentativa de auto-educação.
Não é possível desligar o acto de perdoar do seu objecto, ou seja, daquilo que há a perdoar. Presumivelmente, existirão actos imperdoáveis. No limite, todos os actos podem ser perdoados. Mas é evidente que é muito difícil, às vezes mesmo impossível, perdoar efectivamente actos de destruição, de violência, de ódio, etc. Quer praticados de forma gratuita ou premeditada; quer praticados de forma irresponsável, indiferente, inconsciente. A própria inconsciência do acto praticado é insuficiente, inúmeras vezes, para atenuar a sua gravidade, ou a severidade com a qual ajuizamos acerca dele, sobretudo no caso de nos tocar directamente, provocando sofrimento.
Para pensar com todos os dados relevantes da questão (numa abordagem ligeira, obviamente), será preciso analisá-la no sentido inverso, quer dizer, quanto à dificuldade em perdoar que também pode incidir sobre nós e os nossos actos, neste caso, por parte dos outros.
No âmbito de uma leitura que prezo sempre muito, encontrei as seguintes palavras (que introduzem um outro sentido na questão):

«Se não fôssemos perdoados, eximidos das consequências daquilo que fizemos, a nossa capacidade de agir ficaria por assim dizer limitada a um único acto do qual jamais nos recuperaríamos; à semelhança do aprendiz de feiticeiro que não dispunha da fórmula mágica para desfazer o feitiço.»
Hannah Arendt, A Irreversibilidade e o Poder de Perdoar in A Condição Humana

O que se segue a este propósito, no pensar de Arendt, é a diferença radical entre perdão e vingança. Enquanto que esta última nos mantém aprisionados, a capacidade de perdoar liberta-nos - porque introduz uma nova possibilidade de acção (quer para o que perdoa, quer para o que é perdoado). Sendo que a acção é do domínio da pluralidade (há muitos outros que existem connosco). Daí que o perdão só possa acontecer vindo dos outros, não sendo possível, em rigor, o auto-perdão.
Por outro lado, assinala que perdoar é mais fácil pelo amor, acontecendo, neste caso, de um modo distinto, na medida em que ocorre numa esfera privada. Mas, na esfera pública, que é aquela onde podemos manter a esperança acerca da humanidade, e persistir na construção de um futuro melhor, o que o amor não consegue, pode fazê-lo o respeito (pela pessoa, enquanto ser humano que é).

«Portanto, se fosse verdade, como o supõe a cristandade, que só o amor pode perdoar porque só o amor é plenamente receptivo a quem alguém é, a ponto de estar sempre disposto a perdoá-lo, não importa o que tenha feito, o perdão teria de ser inteiramente excluído das nossas reflexões. No entanto, o que o amor é na sua esfera própria e estritamente delimitada, é-o o respeito na esfera mais ampla dos negócios humanos.»
Hannah Arendt, A Irreversibilidade e o Poder de Perdoar in A Condição Humana

Na medida em que não confunda perdão com desresponsabilização (o que seria diametralmente oposto às intenções da autora), identifico-me com estas palavras - constituem fundamento para a minha posição (que não é de agora) contra a pena de morte, por exemplo. No entanto, continuo a tentar... educar-me...



Imagem: Helena Almeida, Sem Título - 1994-95 (detalhe)


sábado, 20 de junho de 2009

O Valor das Ideias

Há algum tempo atrás, quando comecei a visitar o blogue do Carlos Santos, O Valor das Ideias, fiquei imediatamente presa na leitura das suas excelentes publicações. Muitas ideias interessantes, informação útil e estimulante, rigor na análise e na fundamentação. Para mais, tenho enorme curiosidade acerca da Economia, enquanto ciência social e humana.
Penso que muitos gostarão de o visitar e de o ler. Eu acho que vale mesmo a pena!

Aos interessados, deixo ficar igualmente esta sugestão de leitura, muito actual e muito bem escrita no tom cativante do mesmo autor. A editora é a Esfera do Caos. Estou nas primeiras páginas do livro - já me prendeu a atenção. Recomendo também!





Nota
- Agradeço sinceramente ao Carlos Santos: o apoio e as palavras estimulantes que me dirigiu, relativas à minha participação na blogosfera.



quarta-feira, 17 de junho de 2009

sábado, 13 de junho de 2009

Folhetim democrático

Nesta fase pós-eleições europeias, o que não deixa de me inquietar é o elevado nível de abstenção. Este aspecto tem sido sobejamente focado por muitos dos que se preocupam com os factos políticos, mas penso que deverá ser matéria de reflexão ainda mais exaustiva. É a democracia que está em causa, é à democracia que compete auto-analisar-se nos caminhos que actualmente percorre.
Quando se é inquirido com alguma regularidade (como é o meu caso) acerca do significado do acto de votar, da sua importância, do seu valor, é quase impossível o alheamento face à questão. Coloca-se também a exigência de uma resposta positiva e que abra um caminho, ainda que difícil de trilhar, rumo a um ideal democrático que se defende.
Um tema que raro deixa de causar espanto quando se faz referência à Grécia Antiga, enquanto berço da democracia, então directa, é o da sociedade esclavagista onde floresceu esse governo democrático de outrora. Custa a crer: que à esmagadora maioria da população fosse vedado o direito de participação nos assuntos da polis. Tratava-se, portanto, de um governo com uma participação de todos muito relativa. A História dá-nos testemunhos e registos de outros interditos da mesma natureza. Acontece que hoje, no mundo dito civilizado, todos têm a possibilidade de se manifestar através do exercício do direito ao voto. Um direito que preferem não exercer, ou que esquecem ter. Que valor tem ele afinal?
Talvez por isso, esta espécie de comparação que faço, não deixando de ser um muito livre raciocínio analógico da minha parte, impõe-se-me. E coloco a questão nestes termos: até que ponto é hoje a nossa democracia verdadeiramente representativa, se metade (ou mais de metade) da população não se manifesta? Não há como escamotear o problema: o fenómeno não se reduz aos resultados da abstenção nas últimas eleições para o Parlamento Europeu - algo, por sua vez, bastante distante, desconhecido e incompreendido da maioria dos cidadãos. Apesar de, neste caso, a abstenção ter este tipo de justificação (só por si, matéria de reflexão também), o facto é que, em todas as eleições, os níveis de abstenção têm vindo a aumentar nos últimos anos. E não é só em Portugal.

Portanto, várias interrogações se colocam neste domínio. Algumas delas prendem-se, sem dúvida, com o conceito de representatividade democrática: por um lado, quer o cidadão ser representado, ou prefere apenas que lhe resolvam os problemas tout court?; por outro lado, querem os representantes representar de facto, ou preferem representar-se muito simplesmente a si mesmos? A questão é bastante vasta nos seus múltiplos desdobramentos... Certo é que a continuidade efectiva da democracia passa por estes detalhes, aparentemente pouco importantes.

Assinale-se, dada a situação, e sem que seja demais lembrá-lo: é preciso encontrar respostas e descobrir soluções. Uma possível explicação, à qual dou bastante atenção, é a que se refere ao hiato, ruptura ou corte, actualmente existentes entre cidadãos e agentes de governação. As pessoas sentem-se distantes, cada vez mais distantes dos centros de decisão. Raramente sentem que participam no que é importante. Porquê? - devemos perguntar. Será que elas próprias se afastam? Ou será que há toda uma cadeia intermédia, estruturalmente intransponível, entre elas e os seus representantes? Dar-se-á o caso de os motivos residirem nestas duas vertentes da situação? Na medida em que o exercício do direito ao voto já não é suficientemente expressivo da sua participação? A ser assim, atente-se na necessidade de encontrar novas formas de diálogo e de interacção entre os dois lados da vivência democrática. Em última análise, poderá ser determinante criar novos meios de expressão e de intervenção por parte dos cidadãos. Será a blogosfera um desses novos meios? Se ainda não é, poderá vir a sê-lo?

Facto é que, actualmente, a maior parte da aproximação que se faz entre a vida política e a maioria da população acontece via comunicação social. O poder desta dimensão de comunicação massificada é enorme, como todos sabemos. O que é também uma longa história... E não se pode esquecer: maior poder, maior responsabilidade.
Pois acontece que a aproximação existente, nos moldes actuais, tem remetido a actividade política para uma espécie de (tele)novela, administrada a conta-gotas nas nossas existências. Com a algo perversa particularidade de ser uma espécie de (tele)novela, ou folhetim, da vida real. Por muito respeito que se tenha pelo género, ele faz toda a diferença relativamente, por exemplo, a um momento de leitura que exija algum rigor e maior concentração. Mesmo quando se aproxima da dimensão do (tele)romance (atendendo a que a distinção entre novela e romance nem sempre é fixa), a vida política, com as suas vicissitudes, é emitida ao estilo de romance best-seller (com todo o respeito por tais campeões de vendas literárias). Ignorando a seriedade da questão, tal emissão, enquanto forma de entretenimento, alimenta-se deste estilo pré-definido. Infelizmente, também raramente alcança o nível de sátira política e social, o que teria maior valor, ainda assim... Para lá de algumas honrosas e admiráveis excepções, é este o estado de coisas com que nos deparamos, quando procuramos obter alguma informação ou esclarecimento. Resta perguntar: - para quando a nossa interacção com algo mais ao estilo romance premiado pela sua qualidade literária e de intervenção social made in século XXI, contemplando os domínios do rigor e do cuidado na análise, assim como os da invenção-inovação, alargando os nossos horizontes até às diferentes possibilidades de fazer política? Não se exige um estilo épico (não é preciso exagerar), basta só elevar um pouco mais a emissão (e correspondente realidade). E que seja isso aquilo que nos é dado ver, ouvir e conhecer.
Claro que isto é apenas um ponto de vista possível. E eu até li algumas fotonovelas (agora, relíquias simbólicas doutra era de comunicação e entretenimento). Mas, lamento, estou mesmo farta de telenovelas. E também um bocadinho de best-sellers.


Imagem: pesquisa do Google

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Um Memo


Do Deserto do Mundo (CNS), chegou-me um desafio para "Memear". A ideia consiste em escolher um(a) cantor(a) ou um grupo; para cada pergunta, dar como resposta um título ou um trecho das suas músicas e, finalmente, escolher outros blogues para continuar. Tal como a Cristina, também resolvi alterar um pouco as regras - em vez de cantores, escolhi filósofos. Assim sendo, vejamos como ficou:


És homem ou mulher?

"Há um devir-mulher que não se confunde com as mulheres, o seu passado e o seu futuro, e é necessário que as mulheres ingressem neste devir, para escapar ao seu passado e ao seu futuro, à sua história." - Gilles Deleuze

Descreve-te...

"Apesar do mais vivo desejo, não posso efectuar o último, o paradoxal movimento da fé, quer ele seja dever ou outra coisa." - Sören Kierkegaard

O que é que as pessoas acham de ti?

"De facto, o que está à margem da probabilidade produz-se, de tal maneira que também é provável o que está fora da probabilidade. Se assim é, o improvável será provável, mas não em absoluto." - Aristóteles


Como descreves o teu último relacionamento?

"Não há meio algum para julgar. O conteúdo é sempre concreto e por conseguinte imprevisível; há sempre invenção. A única coisa que conta é saber se a invenção que se faz, se faz em nome da liberdade." - Sartre


Descreve o momento actual da tua relação...

"Antes de nos precipitarmos no seio desses combates, cubramo-nos com a armadura dos resultados que acabámos de conquistar." - Nietzsche


Onde querias estar agora?

"O homem, por si só, consegue muito pouco (...): apenas em comunidade, com os outros, é que ele é e consegue muito." - Schopenhauer

O que é a tua vida?

"Se não for por outra coisa, progride para poderes amar." - Séneca


O que pedirias se pudesses ter um só desejo?


"Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre novas e crescentes, quanto mais frequentemente e com maior assiduidade delas se ocupa a reflexão: O céu estrelado sobre mim e a lei moral em mim." - Kant

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E agora... há por aí alguns blogues que queiram dar continuidade a este Memo? Se assim for, todos esses novos Memos serão bem-vindos!


terça-feira, 9 de junho de 2009

domingo, 7 de junho de 2009

Política

Quem procura verdades num contexto sobretudo filosófico, encontra-se, pela própria natureza da sua actividade, num plano que se procura exterior ao domínio político. Mas isso não significa que a sua existência decorra afastada e esquecida da sua posição no mundo "humano, demasiado humano" a que todos pertencemos. Pelo contrário, o exercício concreto da cidadania faz parte do seu plano de acção, o qual se procura distinguir de um exercício teórico e ideal - importante, mas que não abarca todas as dimensões da sua situação no mundo.


É por isso que hoje vou votar,

relembrando as palavras de Hannah Arendt que aqui ficam, não só para reflexão, mas sobretudo para o prazer de acompanhar um bem pensar.




«Sem dúvida que todas estas funções de relevância política são exercidas no exterior do domínio político. Elas requerem distanciamento e imparcialidade, libertação dos interesses pessoais, no acto de pensar e de julgar. A procura desinteressada da verdade tem uma longa história; (...).
Em virtude de ter tratado aqui da política, na perspectiva da verdade, e, portanto, de um ponto de vista exterior ao domínio político, omiti a referência, mesmo de passagem, à grandeza e à dignidade do que nela está implicado. Falei como se o domínio político não fosse mais do que um campo de batalha entre interesses parciais e antagónicos, onde nada mais contaria além do prazer e do lucro, do partidarismo e da ambição de poder. Em síntese, falei da política, como se também eu acreditasse que todas as questões públicas são comandadas pelo interesse e pelo poder, e que nem chegaria a haver esfera política, se não nos sentíssemos compelidos a cuidar das necessidades da vida. A razão para esta deformação é que a verdade factual só entra em conflito com a política apenas a este nível mais baixo dos negócios humanos, tal como a verdade filosófica de Platão chocou com a política, ao nível consideravelmente mais elevado da opinião e do consenso. A partir desta perspectiva, continuamos sem saber qual é o conteúdo actual da vida política - da alegria e da gratificação que emergem do facto de estar na companhia dos nossos pares, da acção e aparição conjuntas no espaço público, de nos inserirmos no mundo, pela palavra e pelos actos, e conquistarmos e conservarmos, assim, a nossa identidade pessoal, iniciando algo inteiramente de novo. No entanto, o que pretendia mostrar aqui é que toda esta esfera, apesar da sua grandeza, é limitada - ela não engloba toda a existência dos homens e do mundo. Ela é limitada por aquelas coisas que os homens não podem mudar à sua vontade. E é somente respeitando os seus próprios limites que este domínio, onde somos livres para agir e transformar, pode permanecer intacto, preservando a integridade e mantendo as promessas. Conceptualmente, podemos chamar verdade àquilo que não podemos mudar; metaforicamente, ela é o solo em que nos movemos e o céu que se expande por cima de nós.»
in Hannah Arendt, Verdade e Política


Imagens: pesquisa do Google

quinta-feira, 4 de junho de 2009

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Tentativa 4 - Castanho


Há um toque de choque
nestes actos serenos

a luz impele a manhã
vem para segredar

posso agora ouvir:
há uma criança acordada
e uma mão levantada para a sustentar

posso agora ver:
há um céu estragado
e um olhar sereno para o consertar


roc... roc... (des) aparafusa (-me)
este céu não tem juízo
pétala do eu a morrer
desmancha a flor que pintei


mas navegar é preciso
e não se pergunte porquê


ponto de encontro: o mar alto
estou numa terra selvagem -
- colibri desnorteado
pretende coabitar
com um corvo acastanhado


Eis que há um toque de sorte
porque vivo e adormeço
num castanho paralelo.


Imagem: Young Lolotte, Modigliani


Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...