terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo de Brian Selznick



O mais recente filme de Martin Scorsese, Hugo ou A Invenção de Hugo (2011), deve ver-se. Mas é justo assinalar o livro que está na base do filme: The Invention of Hugo Cabret (um belo lugar para visitar, este site), de Brian Selznick. As ilustrações são magníficas e a história é cativante - consiste numa belíssima homenagem a George Méliès, ao cinema e à sua história. É também uma inesperada visita ao mundo fascinante dos autómatos (bonecos mecânicos) pelos quais ele se interessava, e um dos motivos da admiração que sentia por Robert-Houdin. É igualmente homenagem ao famoso filme de Méliès, Viagem à Lua (1902), considerado o primeiro filme de ficção científica.
O que conheço do livro resume-se ao que encontrei por aqui, mas é mais do que suficiente para o considerar um objecto muito apetecível. Como cheguei a ele? Através do filme. Mas isso é outra história. O livro contém um magnífico trabalho de ilustração e as suas imagens também devem falar...




uma pérola musical para o carnaval

 


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Kryptonite


Estava eu a pensar... dado que é uma coisa que costumo fazer volta e meia... e vieram-me os super-heróis à ideia. Pois. Eu adorava ler estas histórias aos quadradinhos quando era miúda. E claro que o gosto pelos super-heróis ficou para sempre. Ora, quando agora atento bem nessa minha atracção pelas histórias do Super-Homem e outros (vários outros), percebo que a parte mais gira, a mais gira mesmo, a melhor, a mais cativante... era quando o Super-Homem perdia os poderes. Por causa da malvada kriptonite. Claro, isto deve estar ligado, de algum modo, ao meu interesse por pedras. E por tudo o que vem do espaço. Mas, acima de tudo, o melhor de tudo, parece-me, é ter tomado consciência de que não há ser humano valente e corajoso que não transporte consigo um qualquer calcanhar de Aquiles. E não é que reside precisamente nisso o seu maior encanto?! Ah, não restam dúvidas, adoro super-heróis com kriptonite.

Lágrimas na chuva


Um livro de ficção científica, que recorda em parte Blade Runner (1982). Os problemas são do futuro, mas tão actuais como o presente.

Elescanova (2013-2104) era a líder e fundadora do partido, Regeneração. Defendia que todos os males do mundo eram resultado do abandono das utopias e da rendição aos abusos do capitalismo. Embora garantisse  que tanto o marxismo como o modelo soviético estavam obsoletos, reivindicava a criação de uma frente comum revolucionária para acabar com as desigualdades do mundo. No seu ensaio Minorias Responsáveis e Massas Felizes, pedra angular da sua ideologia, Elescanova propunha uma sociedade governada pelos mais aptos e pelos mais sábios, semelhante à República de Platão mas reforçada pelos avanços científicos: "Poder-se-ão mesmo potenciar as grandes qualidades dos novos dirigentes a partir do próprio zigoto por meio de técnicas eugenésicas(...) A Ciência e a Consciência Social Unidas para Criar os Super-Homens e as Supermulheres do Futuro."
O regeneracionismo ou aristopopulismo, como imediatamente foi denominado, propagou-se rapidamente em todo o mundo, sobretudo quando, a partir de meados dos anos sessenta, diversos países implementaram a cobrança do ar puro e os cidadãos com menos recursos se viram obrigados a emigrar em massa para as zonas mais contaminadas. Mas não foram só os setores economicamente débeis que adotaram as doutrinas de Elescanova. Partidos poderosos de diversos países e de diferentes ideologias, da extrema-esquerda à extrema-direita, juntaram-se à líder russa formando, em 2077, o Movimento Internacional Aristopopular (MIA), antiburguês, antirreligioso e anticapitalista, embora, paradoxalmente, o MIA dispusesse de capital considerável.
Um movimento destes deseja, naturalmente, dominar o mundo, mas talvez a Terra não lhes parecesse um lugar com muito futuro. Fosse por isso, fosse pela notícia de que os labáricos iam construir um reino flutuante, a verdade é que a primeira decisão do MIA foi a de criar a sua própria plataforma extraterrestre.
Rosa Montero, Lágrimas na Chuva


domingo, 19 de fevereiro de 2012

o movimento da concentração

Estação de Churchgate (Bombaim, Índia)  - fotografia de Sebastião Salgado

Levada por um pequeno grupo de amigos, tive há pouco tempo oportunidade de observar o movimento da noite lisboeta. Quando estamos algum tempo sem passar por certos lugares, o olhar é sempre comparativo em relação ao passado, mesmo que não longínquo, neste caso. Serviu esta pequena saída para aprender um pouco mais sobre mix's e remix's (dado que já sei alguma coisa sobre o assunto através de alunos - a música tem hoje um suporte informático de potencialidades praticamente infinitas). Mas serviu também para apreciar (e ponderar sobre) o movimento da multidão. A sua atracção pela concentração. Olhando as pequenas ruas nocturnas literalmente inundadas pelas gentes, é impossível não associar tal visão a essa outra tão similar, a que nos é dada num ambiente de transportes/trânsito em hora de ponta. Todavia, a situação, neste caso, é outra: supostamente, as pessoas pretendem divertir-se, distrair-se, rir, conversar, e desenvolver uma série de outras actividades afins. Horas de lazer, e de prazer. No entanto, parece que tais objectivos se perseguem seguindo exactamente a mesma forma, aquela que é impossível evitar nas grandes cidades em determinados contextos. E, pelos vistos, também neste. Ou seja, a verdadeira noite animada, a fantástica noite, é aquela que consegue alcançar o nível mais alto no que toca a densidade populacional. Será porque existe cada vez mais gente? Será porque há cada vez menos espaço para cada um? Sabemos, existem ainda lugares pouco habitados no planeta. Ninguém quer ir para lá. Somos mais felizes concentrados. Assim parece. E a própria solidão deve viver-se por entre a multidão.

opções

às vezes gosto de clareza. às vezes gosto de ser clara. e outras vezes não. o reflexo do mundo que há em nós talvez. o reflexo do mundo que há em mim. o mundo aparece-me exactamente assim. há um poder ser dito. e um indizível. há um nomear claro. e um inominável obscuro. toda essa zona que resiste ao esforço da razão não deve necessariamente iluminar-se. umas vezes sim. outras vezes não. acontece a claridade do raciocínio penetrar o que se esconde. então todo o cuidado é pouco. o que existe nessa outra dimensão pode de repente desaparecer. e então tudo é morte pela palavra. ou tudo é morte pela razão.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

topologia

ao correr do mundo ao correr da pena há sempre um lugar certo onde devemos situar-nos. importa saber qual é e ter noção exacta dele para não incorrer em equívocos ocupando o lugar errado. o lugar que não nos pertence logo não é o nosso na era internet é aquele situados no qual não podemos cumprir a ligação que pretendemos estabelecer no complexo encadeado de relações em que estamos mergulhados. nunca deixa de me surpreender verificar que há tanta gente que desconhece o seu lugar. é efectivamente tarefa difícil reconhecê-lo continuamente e mais ainda permanecer por lá não cedendo à tentação de pular elos e ocupar o tal lugar errado onde a função que desempenhamos fracassa. posso esquecer-me ocasionalmente do meu lugar acontece aos melhores e também aos piores mas regra geral sei exactamente qual é. não é nenhum lugar especial mas como todos os lugares ocupa espaço. procurarei assegurar que só me encontram por lá aí exactamente aí ou aqui em suma no lugar certo. mas falhar é uma possibilidade que permite uma eterna correcção... ou melhor uma permanente actualização. acho que gosto mais de reajuste. enfim qualquer coisa disso. do que até se conhece mas sempre se procura. até lá.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Tempos Difíceis


«Era uma cidade de tijolo vermelho, melhor, de tijolo que seria vermelho se o fumo e as cinzas o tivessem consentido: assim, era uma cidade vermelha e preta, como o rosto pintado de um índio. Era uma cidade de máquinas e de altas chaminés, das quais saíam sem cessar serpentes intermináveis de fumo. Tinha um canal negro e um rio poluído por tintas mal cheirosas, e imensas pilhas de edifícios cheios de janelas, onde todo o dia havia estremecimentos e onde os êmbolos das máquinas a vapor subiam e desciam ritmadamente. Tinha várias grandes ruas, todas parecidas umas com as outras, e muitas ruas pequenas, ainda mais parecidas entre si, habitadas por gente também toda igual, que entrava e saía à mesma hora, fazendo toda o mesmo barulho no pavimento, para irem fazer o mesmo trabalho e para quem cada dia era igual ao anterior e ao seguinte, e cada ano idêntico ao último e ao próximo.
Estes atributos de Coketown eram na maior parte inseparáveis da indústria que a sustentava (...).
Não se via nada em Coketown que não fosse severamente laborioso. Se os membros de uma seita religiosa ali construíam uma capela - como tinham feito os de dezoito seitas - transformavam-na num grande armazém piedoso de tijolo vermelho. Todas as inscrições públicas eram iguais, pintadas em severos caracteres pretos e brancos. A prisão podia ter sido o hospital e vice-versa, ou as duas coisas ao mesmo tempo, ou qualquer outra coisa. Realidade, realidade, por toda a parte no aspecto material da cidade; realidade, realidade, por toda a parte, no imaterial. A escola do senhor M'Choakumchild era toda ela realidades; nas relações entre trabalhador e patrão tudo era realidades; e tudo mais era realidade desde a maternidade até ao cemitério, e o que não se pudesse exprimir em números ou provar que se podia comprar mais barato e vender mais caro, não era, nem nunca seria realidade!»
Charles Dickens, Tempos Difíceis


domingo, 5 de fevereiro de 2012

SNS

É talvez preciso permanecer cerca de oito horas nas urgências de um hospital, como foi o meu caso recentemente - ainda que não por causa de mim, directamente - para entender a real importância do SNS. A taxa moderadora é, como se sabe, de 20 euros. Mas o tudo que ali vai parar é que é o busílis da questão. Pessoas de todos os géneros, de todas as condições socio-económicas; sobretudo, pessoas com todo o tipo de doenças. O leque é tremendamente vasto. Infelizmente (ou não), não é nada que eu não conhecesse já muito bem. No entanto, passado um tempo, olho agora todo o ambiente de forma mais radical: pode uma sociedade verdadeiramente humana dispensar-se de prestar os cuidados essenciais aos seus elementos mais desfavorecidos? Que conceito temos hoje de saúde pública? Poderemos aceitar que estes cuidados - que fazem parte certamente do nível mais elementar do que consideramos qualidade de vida (é verdade, as pessoas ficam doentes) - subsistam como mero resíduo incómodo e inestético (no sentido mais amplo) da sociedade? Quem pode mune-se de camas confortáveis, de belas cadeiras estofadas e de pesados cortinados, amortecendo a existência do sofrimento? E é tudo? Qual é, afinal, o mínimo digno e dignificante do ser humano que deveremos assegurar em caso de doença de qualquer um? Eu sei que estas são perguntas cuja resposta é sempre difícil e pouco consensual. Mas penso cada vez mais no caso. A saúde é um bem prioritário e nenhum país civilizado pode deixar de fora os seus habitantes mais desprotegidos. O combate face às desigualdades mais extremas (o real e não o demagógico) tem lugar certamente em várias e múltiplas frentes. A verdade é que, por muitas razões, mais do que meramente subjectivas, não vivemos todos a saúde (e a falta dela) da mesma maneira. E é difícil aceitar resignadamente essa dura realidade.
Conclusão: "acende-se" muita coisa em nós sentados prolongadamente numa dura cadeira.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Darkness - pura alquimia


a vida não é toda um longo passeio claro, pois não?




I caught the darkness, it was drinking from your cup
I caught the darkness drinking from your cup
I said "Is this contagious?"
You said "Just drink it up"

I got no future,
I know my days are few
The present's not that pleasant
Just a lot of things to do
I thought the past would last me
But the darkness got that too

I should've seen it coming
It was red beyond your eyes
You're young and it was summer
I just had to take a dive

Winning you was easy, the darkness was the price.
I don't smoke no cigarette, I don't drink no alcohol
I ain't had much love again
But that's always been your call
Hey I don't miss it baby
I got no taste for anything at all

I used to love the rainbow
And I used to love the view
Another early morning, I'd pretend that it was new
But I caught the darkness baby
And I got it worse than you

I caught the darkness, it was drinking from your cup
I caught the darkness drinking from your cup
I said "Is this contagious?"
You said "Just drink it up"



Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...