segunda-feira, 28 de abril de 2008

Meredith Monk


Meredith Monk: compositora, cantora, coreógrafa, autora de nova ópera, peças de teatro musical, filmes e instalações.

Do ponto de vista pessoal, o que posso acrescentar acerca dela é que se trata de uma senhora que encanta pela sua transbordante simpatia e simplicidade. E acrescento ainda: pelo que pude conhecer até agora do seu trabalho, considero-o verdadeiramente interessante e muito curioso; sério, divertido e apaziguador de todas as guerras; calmante, relaxante, inovador e abrangente.

Em 1978, formou Meredith Monk & Vocal Ensemble. Com artistas excelentes, ampliou as formas musicais que se propõe explorar e desenvolver.



Alguns factos interessantes acerca do trabalho de Monk (entre muitos outros que poderiam ser assinalados...) :
- Procura explorar a voz como uma linguagem eloquente em si e per si;
- Foi proclamada como "um mago da voz" e "um dos compositores mais cool da América";
- A sua música foi ouvida em vários filmes, tais como La Nouvelle Vague de Jean-Luc Godard e The Big Lebowski de Joel and Ethan Coen;
- Em Outubro de 1999, Monk cantou Vocal Offering para Sua Santidade, o Dalai Lama como parte integrante do Festival Mundial de Música Sagrada em Los Angeles. (...)

Alguns elementos do
Vocal Ensemble:

Theo Bleckmann - vocalista e compositor, actuando no universo do jazz e da música contemporânea. Trabalhou com músicos e compositores como Meredith Monk, Anthony Braxton, Mark Dresser, Dave Douglas, Philip Glass e Sheila Jordan. Interpretando o gangster Dutch Schultz, andou em digressão pela Holanda com The True Last Words of Dutch Schultz, uma nova peça de teatro musical para si criada em colaboração com a realizadora Valeria Vasilevski e o compositor Eric Salzman. Como vocalista convidado, colaborará no próximo CD de Sheila Jordan "Jazzchild", com o Steve Kuhn Trio.

Katie Geissinger - tem trabalhado com Meredith Monk desde 1990, tendo sido aclamada pela crítica pelas suas performances na ópera ATLAS. Actuou na digressão mundial de Einstein on the Beach de Philip Glass e Robert Wilson. Trabalhou com artistas contemporâneos tais como Peter Sellars, Anthony Davis, Lois Vierk, Anita Feldman, John Kelly e Michael Gordon. Cantou na banda sonora de "Kundun" de Philip Glass. É membro fundador do trio vocal feminino Cascabel.

Allison Sniffin - multi-instrumentista, vocalista e compositora. É intérprete regular de Meredith Monk & Vocal Ensemble. Em Nova Iorque actuou com NeWorks, NewBand, Music Under Construction, The Galatea Ensemble e vários outros agrupamentos musicais. As suas composições receberam subsídios pela Guild "Meet the Composer and Concert Artists".

Uma pequena amostra desta música tão especial...




sexta-feira, 25 de abril de 2008

A Liberdade de Abril



25 de Abril


Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen




terça-feira, 22 de abril de 2008

Música sempre



Bernardo Sassetti: um caso sério de talento. Foi o que se tornou evidente (mais do que já o era), ao vê-lo tocar de novo no CCB. Um concerto memorável, onde este excelente músico português acompanhou outros músicos igualmente espectaculares! É de tomar nota do Will Holshouser Trio: Will Holshouser (acordeão), Ron Horton (trompete) e David Phillips (contrabaixo).

Um dos últimos trabalhos de Bernardo Sassetti foi Unreal Sidewalk Cartoon. A nível musical, trata-se de uma explosão de criatividade. Para apreciar devagar, com o ritmo próprio e muito especial da sua exploração dos sons... que chegam e sobram para encantar...




sexta-feira, 18 de abril de 2008

Música em Abril


EM ABRIL

Do céu vem água fresca e cinzenta (sente-se)
à volta a vida é cinzenta fresca (pressente-se)
não se pode não sentir que o tempo é mansidão (assim se escoa...)
desde o lembrar ao esquecer
está tudo na nossa mão
fechada engole o som
aberta todo o devolve
só a música é bem dourada
tudo o resto é um mais nada

À música que respiro
eu não consigo falar
mas ela tudo me diz: escuto a fuga das palavras
quando soa de mansinho
como o tempo: devagarinho

e se isto é A Sensação
e se isto é A Emoção
viver é a descoberta
gravada na intenção de A ouvir
hoje


18, 19 e 20 de Abril : os Dias da Música no CCB




Imagem: Maya Deren (1917-1961). Meshes of the Afternoon, 1943


quarta-feira, 9 de abril de 2008

Rómulo de Carvalho



Um grande humanista, um magnífico poeta, um esplêndido professor, trabalhando na aproximação ao ideal de uma formação integral dos seus alunos.
É importante lembrar quer o cientista, quer o poeta. Concebeu essas duas formas de expressão do real como convergentes na nossa apropriação do mundo. Não superiorizou uma em relação à outra, antes as fundiu, alargando os horizontes da nossa inteligibilidade.

Em carta a Jorge de Sena de 01-07-1958:
"Em conversa dir-lhe-ei que me interessa sobremaneira a História. É tão precária a nossa investigação histórica e tão grosseiros os erros que se repetem, que me lancei às prateleiras dos arquivos em busca de uma fundamentação séria para futuras afirmações. O século a que me dedico é o XVIII, e o assunto é a nossa actividade cultural. A mola impulsionadora destes trabalhos é o interêsse de esclarecer o panorama nacional no momento do surto experimentalista nas ciências físico-matemáticas. Há dez anos que ando nesta faina..."

Entre muitos outros textos interessantes, Rómulo de Carvalho (António Gedeão) deixou-nos "A Ciência Hermética" e "O embalsamamento Egípcio".
No caso do primeiro texto, ele é dedicado, em grande parte, ao conteúdo de um papiro encontrado em Tebas no século XIX. Supõe-se que a sua origem se situe no século III da era cristã.

Ainda sobre o papiro de Tebas, ele documenta a arte de trabalhar os metais segundo as ancestrais técnicas egípcias que se julgavam perdidas para sempre. Rómulo de Carvalho sentia um enorme fascínio pela cultura egípcia e era, em grande medida, adepto da doutrina alquimista. Uma perspectiva curiosa e que, em concordância ou em discordância com ela, os seus escritos convidam a investigar.


É também por essa razão que este texto suscita o meu interesse em particular, precisamente na medida em que se debruça sobre a arte da Alquimia. Esta apresenta uma íntima relação com a nossa actual ciência Química. Mas a sua força de atracção reside, sobretudo, nesse olhar especial do autor, pelo qual ele liga várias áreas do saber, confrontando-se também com elas a partir da sua história. Por motivos idênticos, outros textos seus merecem uma maior atenção. Na verdade, não os conheço todos, mas tenciono dedicar-me à leitura de mais alguns, pelo menos...



"A ciência a que damos hoje o nome de Química chamou-se em tempos remotos, Ciência Hermética, Arte Sagrada, Ciência Divina, Ciência Oculta, Arte de Tote e Arte de Hermes. Todas estas denominações envolveram o estudo primário dos fenómenos químicos numa atmosfera de mistério, o qual, aliás surgiu por si, naturalmente, pela própria índole misteriosa desses fenómenos.»
in A Ciência Hermética, Rómulo de Carvalho


quinta-feira, 3 de abril de 2008

Um poema especial

Admiro imensamente Jorge Luís Borges, mas confesso que nem é o meu poeta preferido. Dele, sem dúvida, prefiro a prosa.
No entanto, é dele um dos meus poemas preferidos, e nem sei explicar com exactidão porquê. Na verdade, embora possamos explicar muitas coisas, encontra-se sempre alguma coisa inexplicável. Muitos dizem que é o amor que assim acontece ser. E penso que esses também estão certos. Mas eu diria que, se há inexplicável que subsiste sempre, ele está contido sobretudo na poesia e na música.
Posso tentar esclarecer tudo acerca de um poema, acerca deste poema, mas o seu toque mágico e especial resiste-me e escapa-se. Não sei porquê, mas há muito tempo que permanece na minha memória, continuando a revestir-se dessa aura especial, sempre que o leio.
Seria imperdoável, do meu ponto de vista (subjectivo, é claro), não o colocar aqui.


Uma rosa e Milton

Das gerações de todas as rosas
Que se perderam no fundo do tempo

Que uma se salve do esquecimento,

Uma sem marca, sem sinal nas coisas

Que foram. O destino me depara

Este dom de chamar a vez primeira

Essa flor silenciosa, a derradeira

Rosa que Milton abeirou da cara,

Sem a ver. Oh tu, pálida ou vermelha

Ou alva rosa de um jardim já apagado,

Deixa magicamente o teu passado

Imemorial e neste verso espelha,

Ouro, sangue, ou marfim ou tenebrosa

Como em suas mãos, oh invisível rosa.

J
orge Luís Borges, El Otro, el Mismo



Imagem: The Sick Rose by William Blake


terça-feira, 1 de abril de 2008

Slavoj Zizek - 2



Transcrição de um comentário (meu) em relação ao texto anterior sobre Slavoj Zizek

"Agradeço a todos o interesse e a atenção dispensada à minha curta alusão a Slavoj Zizek.

Na verdade, gostaria de expressar resumidamente a minha posição face ao autor, sem qualquer pretensão de esgotar o tema. E em resposta à e-ko que deixou ficar uma interrogação no "ar", o que muito me agrada sempre.

A meu ver, o mérito de Zizek consiste em "cozinhar" um ponto de vista que nos perturba, quanto mais não seja porque nos exige a clarificação de certas ideias que defende e que nem sempre nos parecem acertadas, em especial por uma certa incongruência nas análises que faz.
A sua perspectiva filosófica está plenamente imbuída da óptica psicanalítica, em particular da de Lacan. Parece-me que o único sustentáculo da sua filosofia consiste numa reinterpretação lacaniana da realidade, adaptada às sociedades actuais. Se este edifício lacaniano desaparecesse, a construção de Zizek desabava. Isto, sem menosprezar o interesse que Lacan encerra, não nos deixa algo de Zizek verdadeiramente original e inovador.

Por outro lado, trata-se de um autor com predilecção por afirmações bombásticas, o que pode desagradar, porque o provocador, só por si, não favorece por aí além o progresso.

Pontos que nele obtêm a minha adesão:
- é um cinéfilo inveterado, o que me parece uma óptima qualidade;
- pensa o nosso tempo, por ex., a questão da hiperrealidade, excelentemente abordada por Baudrillard, é um tema que dará que pensar no futuro, quanto a mim... e é tema de reflexão para Zizek;
- a forma como tenta chegar ao grande público, o que me parece sobejamente importante.

O que menos aprecio nele:
- a falta de sistematicidade, exigência de qualquer trabalho sério e consequente, em todas as áreas, e na filosofia também. No entanto, muitos foram aqueles que com pensamentos algo caóticos e desorganizados contribuiram para grandes e geniais descobertas, invenções frutíferas e renovação do mundo e das sociedades.

Finalmente, quanto ao facto de ser ou não inovador... é certo que são urgentes ideias novas, mas... como será possível a qualquer um de nós, hoje, pensar mediante a abstracção de todo o passado da humanidade, que é já longo, para acrescentar algo verdadeiramente inovador?! Essa tarefa, agora, é cada vez mais difícil... Deve ser por isso que, em todas as áreas, aquilo a que se assiste é a uma recuperação do passado, desde o campo da filosofia, até ao da moda, etc por aí fora... Porque é, talvez, cada vez mais difícil cortar com toda a tradição e com todo o desenrolar da história, uma vez que ela é imensa. É como querer construir uma cidade nova, a partir de uma já existente.

Apesar da dificuldade em criar algo que seja verdadeiramente inovador, julgo que, ainda assim, algo de novo vai surgindo, mas tudo acontece com pequenos avanços, os quais, por vezes, só se dão ultrapassando muitos retrocessos e períodos de estagnação.

Já me alonguei demais, mas deve-se à consideração que tenho pelas objecções colocadas pelos que aqui passam, aos quais mais uma vez agradeço a oportunidade que me deram de com eles pensar!
Obviamente, todas as minhas afirmações são discutíveis.

Nem com Zizek, nem sem ele, talvez através dele..."


Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...